Doce Inverno de Eternas Lembranças escrita por ju_mysczak


Capítulo 2
Apenas o outono




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/469232/chapter/2

O clima pesado do outono era extremamente irônico comparado à leveza adquirida pela natureza. Ciel se esforçava em não ligar para aquele sentimento que forçava seu peito, que o rasgava por dentro trazendo lágrimas aos seus olhos e palidez à sua pele. Mas precisava ser forte! Precisava vencer aquele lado humano que ainda restava em seu interior, precisava mata-lo. É apenas o outono, é apenas a estúpida melancolia do outono.

Seu corpo se inclinou levemente para frente quando a carruagem parou. Mãos fortes seguravam as suas enquanto descia. Aquelas mãos sempre o seguraram, sempre foram sua força no mundo. E jamais o deixariam cair.

Caminhou sobre a grama úmida, passando pelas lápides comuns, pelos anjos e santos de pedras. Nenhum deles era verdadeiro, ninguém ali merecia ser guardado por anjos, com poucas exceções. Chegou à área restrita e esperou Sebastian abrir o pesado cadeado do portão de ferro. As corretes ao chão, voltou a andar, toda sua atenção voltada àquele clima doce, uma cena muito doce. Tão doce quanto a morte.

Sebastian novamente se prontificou para abrir as grossas portas de madeira, dando espaço para seu mestre entrar, conduzindo a curta marcha solene até o túmulo de seus pais, protegido sob um teto abençoado. Com um terno sorriso, depositou a coroa de flores que mandara o mordomo preparar sobre a mãe e uma única flor sobre a de seu pai, pois este não era de exageros. Ajoelhando-se, alisou a pedra fria e escura que cobria os restos mortais de sua família. Você merece os anjos, mamãe. Você merece toda uma escolta de santos para lhe proteger. Mas e você papai? Está pagando por seus pecados? Emitiu um soluço curto e reprimido.

– Estará me esperando no inferno?

O ódio subitamente o corrompeu por inteiro, fazendo-o tremer. Um soco irrefreável atingiu a flor com espinhos, fincando-os em seu pulso e punho. A dor lhe deu paz momentânea, quase beirando ao prazer. O mordomo, que até então apenas observava percebeu o momento de interferir.

– Venha, jovem mestre. Terei de cuidar destas feridas.

Com todo o cuidado levantou o garoto em seu colo e refez o caminho à carruagem. Ciel admirava o sangue pingar sem ao menos reclamar de sua posição. O cheiro penetrava as narinas de Sebastian, mas para o mordomo era fácil controlar o impulso, a tentação. Sabia que não era assim para o garoto. Ele se destruía por dentro cada vez que tentava se mostrar forte, que impedia as lágrimas de cair e fugia dos braços acolhedores de que precisava. Não como se isso realmente importasse. Afinal, sua alma torna-se apenas mais apetitosa para alguém como eu. Para um akuma.

Uma única pétala caiu, quase tão pequena e frágil quanto a mão que a soltou. Uma pétala amarela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Algum comentário? :/