Entrei na sala do Fury e fiquei em pé esperando ele falar. Ele olhou pra mim com aquela eterna expressão séria.

– Bom dia, Agente Johnson.

– Bom dia.

– Tomei minha decisão, você ficará suspensa das missões por dois meses. Pode treinar aqui normalmente, porém não participará das missões.

– Por dois meses? – era muito tempo, considerando que fazia tempo que eu não saía realmente em missão, mas pouco tempo comparado ao que achei que seria.

– Seria mais tempo, mas me convenceram de que não poderia ficar tempo demais afastada, pois sua presença é importante nas missões.

– Steve te convenceu disso?

– Não. Quem me convenceu foi Natasha Romanoff.

Minha vontade era gritar “O QUÊ?!”, mas como eu estava demonstrando total tranqüilidade, achei melhor apenas assenti com a cabeça.

– Volto pra minha casa ou continuo dormindo aqui?

– Faça como achar melhor.

– Ok. Obrigada. – me virei e saí.

Era absolutamente inacreditável que Natasha me defendesse, Fury só podia estar brincando. Em todos os anos em que eu estava na S.H.I.E.L.D., eu e ela só trocamos farpas, não acredito que ela achava que eu fazia falta nas missões.

– Ei, Kelly! E então, como foi? – disse Steve quando me viu andando pelo corredor – Que cara é essa?

– Estou surpresa.

– Com o quê?

– Natasha convenceu Fury a me dar uma punição mais leve. Disse que sou importante nas missões.

– Não acredito, sério mesmo?

– Sério! Ainda não creio.

– Esse é o início de uma bela amizade.

– Ha-ha-ha, engraçadinho.

– Ué, por que não?

– Não estou dizendo que não, nem que sim.

– Olha ela ali. – falou olhando para Natasha que passou rapidamente do outro lado do corredor – Vai falar com ela.

– Ok. – saí andando. Ela entrou na sala de treinamento e eu a segui.

– E aí, Romanoff!

– Oi, Kelly. – disse se virando para mim.

– Me deixa perguntar.. Você me defendeu? Disse ao Fury que faço falta na missão?

– Sim. Surpresa?

– Muito! Achei que você agradecia aos céus por não me ter por perto.

– Bom, no começo sim, mas até que você não é tão ruim assim.

– Olha, ainda estou surpresa.

– Acha que te odeio ou algo assim?

– Você não morre de amores por mim que eu sei.

– Mas também não quero te matar. Creio que isso seja recíproco. – isso me fez rir.

– É recíproco sim. Bem, obrigada.

– Por nada. – nesse momento o Capitão América passou na frente da porta e notei Natasha olhando para ele.

– Lindo, não? Steve é um amor.

– Ah.. Sim, ele é legal.

– Só legal? – ela me olhou com cara de “aonde você quer chegar com isso?” e eu ri – Cruzes! Estamos nos dando bem, é o apocalipse.

– Quer ser minha inimiga mortal?

– Não precisa. – me virei para ir para casa, finalmente – Tchau, Romanoff.

Ok, aquilo já estava estranho. A última coisa em que eu cogitava era ser amiguinha da Viúva Negra, pensei que nunca conviveríamos pacificamente, mas era bom que não fosse assim, ela também não era tão ruim assim.

Não lembro quanto tempo se passou, mas eu não tinha voltado às missões ainda, quando um dia liguei a TV e vi Thor em Greenwich. Seres de outro mundo haviam atacado novamente, e Thor havia salvado a Terra. Foi só isso que absorvi. Me peguei pensando em tudo o que houve entre mim e Loki, não que eu não pensasse nisso, mas dessa vez fui tomada por uma saudade to forte que fez meu coração apertar.

No fim da semana fui ensaiar – depois de muito tempo – a música da Katy Perry novamente. Dancei pensando em Loki, aquela música era para ele. Quando voltei Thor estava na minha casa me esperando.

– Oi! Quanto tempo, Thor!

– Oi, Kelly.

– Pra você é Agente Johnson. – respondi sorrindo e ele deu um sorriso triste, fiquei preocupada – aconteceu alguma coisa?

– Sinto muito em ter que lhe dar essa notícia.

– Que notícia? Você está me assustando, fala!

– Loki. Ele... Ele está morto.

Fiquei sem chão. Thor não podia estar falando sério, me recusei a acreditar e não consegui conter meu choro.

– Thor, me diz que isso é mentira – eu estava soluçando de tanto chorar.

– Infelizmente não é. – me abraçou – Sinto muito.

Ele me explicou tudo o que acontecera no mundo sombrio, e de como Loki ajudou. Fiquei orgulhosa dele, mais ainda quando Thor me disse que ele morreu ao salvá-lo. Eu sabia que Loki não o ajudara por amor ou algo assim, mas o importante é que ajudou.

Liguei para Steve após Thor ir embora e ele veio à minha casa. Não escondeu o alívio por um grande vilão ter morrido, mas ficou triste por me ver triste daquele jeito. Eu não era uma pessoa que demonstrava sentimentos, e nunca havia chorado na frente de ninguém, nem mesmo dos meus pais ou de Steve.

– Tudo o que eu não queria era ver você assim, Kelly... – ele disse me abraçando.

– Você nunca me viu assim, Steve.

– Nunca vi e não queria ver. Dói ver você sofrendo, e eu não posso fazer nada.

– Você aqui já basta. – ele passou horas comigo ali, mas depois teve que ir. Foi bom, pois além do apoio dele eu precisava ficar um pouco sozinha.

Chorei tudo o que tinha para chorar, lavei meu rosto e me olhei no espelho. “Pronta para seguir”, pensei. Minha tristeza não havia passado, e não passaria, porém ninguém era obrigado e me aguentar choramingando pelos cantos. Bem, talvez Steve sim, porque era meu melhor amigo. Mas os outros não. Sabem o que eu disse sobre não entrar em desespero, ser fria e demonstrar segurança? Exatamente isso.

Uns dias depois, voltei para casa depois de longas horas treinando, entrei no meu quarto e meu coração quase parou. Minha respiração falhou, e eu não sabia se ria, se falava, se corria, se gritava ou se... respirava. E só um ser produzia aquele tipo de efeito em mim, só uma pessoa me deixaria estática daquele jeito.

Falei, mas não sei como minha voz saiu.

– Loki?!