–Thalia! –A professora gritou meu nome pela décima vez. Mandei uma última piscadela para Malcom e me virei para encarar a senhora Dodds.

– Sim?

– Picasso é considerado um dos maiores pintores de que século? – A velha coroca sorriu malignamente. Mordi meu lábio pensando em qualquer coisa pra dizer. Aparentemente, não havia nada que eu pudesse fazer para melhorar a situação.

Ironicamente, uma mão se ergueu no ar. Quando focalizei meus olhos alguns centímetros abaixo dela, rolei os olhos.

A velha sorriu orgulhosa.

– O senhor Castellan sabe a resposta? – Indagou, sentando-se naquela abominável mesa de carvalho que ficava no canto da sala. Apoiou a cabeça na mão.

O loiro certinho ergueu se da mesa. Bagunçou seus cabelos loiros e se levantou, acenando que sim.

A professora cruzou as pernas, pedindo que ele se aproximasse e falasse. Apesar de ter 40 anos, a Sra. Dodds SEMPRE se insinuou pro Castellan. Não que eu preste atenção, é claro.

– Século XX, Senhora.

A professora lançou um olhar prazeroso para o loiro. Depois olhou rigidamente pra mim e sorriu. Lá vem merda.

– Thalia, você vai ficar depois da aula com o Luke. Que tal? Não é uma ótima ideia, meu aluno exemplar? –Ela fez questão de fazer a saia se levantar um pouquinho ao se erguer. Vaca.

– Eu não acho que seja uma boa ideia, se me permite contestar...

Levantei-me, disposta a me divertir com a situação.

– Esse é o seu problema, Luke. Ninguém te deu permissão pra nada. Inclusive pra nascer. Pra me magoar. E pra pegar a minha irmã.

Resumindo a história: Eu namorei Luke de mentira, uma vez. Na verdade, era só pra fazer ciúme no meu ex e tals. Já deu pra notar que não rolou. Fizemos um acordo: Eu não ficaria com ninguém enquanto estivesse fingindo e ele também não. Mas o fato é que aquele aborto de Hera me traiu (Tecnicamente sim. Porém não, já que éramos de mentira) com a minha irmã. Naquela época, eu era um pouco ingênua. E isso acabou com toda a minha ingenuidade. Luke havia dito que eu podia confiar nele pro que der e vier e a idiota aqui acreditou.

– Estou dentro, Professora. – Luke me fuzilou com o olhar e voltou ao seu lugar.

***

Já era uma hora da tarde quando eu saí de casa. Tentei me arrumar o mínimo possível: Blusa um pouco larga, calça jeans e o cabelo preso em um rabo de cavalo frouxo. Minhas mechas azuis caiam por cima da minha bochecha levemente pálida, e me deixava com aparência razoável.

Eu ainda me lembrava onde ficava a casa de Luke. Nós tínhamos sido melhores amigos, mais isso não vem ao caso.

A casa ficava no fim da rua, e tinha três andares.

– Thalia! – Exclamou May, a mãe que aquele babaca não merece. – Pensei que nunca mais te veria aqui. Continua de mal com o Luke?

Mordi o lábio e assenti de leve.

– Ele está aí?

– Sim, você conhece a casa. Vai em frente.

Agradeci e subi as escadas.

***

Bati os pés de frustração ao chegar à porta do quarto de Luke. Então me dei conta de que não sabia o quê dizer quando entrar.

– Vamos Thalia. É só... O Luke.

Concordei com mim mesma e empurrei a porta com força. Havia cadernos e livros por toda parte e o próprio Luke estava esparramado no chão, lendo um deles. Estava sem camisa e água escorria por seu peitoral. Seu rosto não parecia muito concentrado.

– Oi – Sussurrei.

– Oi Lia.

– Não me chame de Lia. Você perdeu toda e qualquer intimidade comigo.

– Beleza Lia. –Ele se levantou e me encarou. A sensação de estar sendo avaliada era péssima.

***

– Vamos lá, Thalia! Repita comigo: Picasso é considerado um dos principais artistas do século XX!

– Picasso é considerado um dos principais artistas do século XX! – gritei incapaz de conter um sorriso. Luke também sorria. Estávamos jogados na cama dele, jogando videogame enquanto pronunciávamos frases aleatórias e históricas.

– Parabéns. Acho que a senhora Dodds tem uma concorrente...

– Só que não. Por que alguém ia querer ser uma velha metida a inteligente e que se insinua pra garotos bonitos?

– Você me acha bonito? – Ele perguntou, maliciando cada piscada minha.

Corei instantaneamente.

– Não foi isso o que eu quis dizer.

– Mais disse.

– Tá vendo! Vou cair fora, Castellan.

Pulei da cama e calcei meus chinelos do chão. Estava pronta pra sair, quando meu corpo foi puxado para trás. Meu corpo estava pressionado contra o peitoral de Luke.

– Precisamos conversar. Não acha? – Ele cochichou no meu ouvido. Eu bufei.

– Não temos nada pra conversar. Você já me deu a sua aulinha chata. Vai catar Afrodite, blz?

–Você acha que eu dei em cima da sua irmã? Não seja idiota Thalia. Sabe que eu nunca menti pra você, gata. Eu prometi...

– Você por acaso cumpriu?

– Fiz mais que isso – Ele saiu de trás de mim e abriu a porta, me deixando livre pra ir. – Eu me apaixonei por você, sua idiota.

Encarei seus olhos azuis piscina, tentando acreditar na intensidade com que aquelas palavras me atingiram. Aproximei-me da porta. Meu cérebro me dizia para aproveitar a chance e cair fora. Mais como sempre, o coração falou mais alto.

Toquei na maçaneta e tranquei a porta. Os olhos de Luke encontraram os meus. Dei um sorriso de canto. Ele estava me fazendo um pergunta silenciosa e eu nunca deixaria de aceitar.

Observei Luke se aproximar de mim. De uma hora para outra minhas pernas estavam em sua cintura. Uma de minhas mãos passeava pelo seu pescoço enquanto a outra apalpava seu peitoral. E assim, do nada, nossos lábios se tocaram.

– É bom saber que eu posso confiar em você, Lia – Ele cochichou, quebrando o beijo com um sorriso.

– Não me chame de Lia – Repreendi, socando seu peito.

– Ai!

Interrompi seu gemido unindo nossos lábios novamente. Sabe, nunca gostei tanto de você Sra. Dodds.

Mas você continua sendo um aborto de Hera.