Impensável escrita por TheBlackWings


Capítulo 1
First Chapter - Prologo




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Seria mais um dia comum como qualquer outro se não fosse por ele. Como todo outono, as pessoas enchiam as ruas da cidade. Conversavam, olhavam vitrines, comiam, batiam fotos. As folhas secas caiam cobrindo o chão de ocre, deixando um ar de que o tempo parava e voltava todo ano ao mesmo exato momento.

Já fazia três anos que Ikki vivia naquela cidade. Mais precisamente desde o fim da batalha nas doze casas. Athena havia permitido aos cavaleiros que seguissem suas vidas e foi isso que fez. Havia passado por tantas coisas, boas e ruins, tinha certeza que o que precisava era recomeçar num lugar novo. E o mundo tem estado em paz desde então.

Foram três anos de esquecimento. Não houve contato entre os cavaleiros de bronze. Claro que nenhum tinha conhecimento do paradeiro de Ikki, como era preferível pelo próprio. Aquela cidade era perfeita. Nem muito grande, nem muito pequena. Um pequeno centro comercial e turismo, o que o permitia ver muitas pessoas de muitos lugares. E foi naquele mesmo fervor que já havia se acostumado que o viu.

Havia acabado de se sentar em uma mureta perpendicular a via que levava ao porto e mais procurada pelos turistas exatamente pela grande quantidade de Maples que tingiam a cidade de tons quentes com suas folhas. Ficava afastado apenas observando. Casais asiáticos com máquinas fotográficas penduradas no pescoço olhavam vitrines, jovens faziam pose frente às arvores ou tentavam pegar os detalhes das fachadas antiquíssimas dos prédios.

Entre tantas faces diferentes, uma figura se destacou para Ikki. Foi como um vulto, de passos largos. Usava uma jaqueta escura sobre uma camiseta cinza-claro e jeans. Tinha um cigarro pendurado nos lábios. Seus cabelos eram curtos, encaracolados e esverdeados. Jamais o reconheceria se Shun não tivesse o fitado diretamente.

Ikki já imaginava como o irmão teria descoberto seu esconderijo – embora tenha levado três anos para isso – porém não pode perguntar a ele. Da mesma forma como Shun olhou diretamente para ele, não diminuiu seu ritmo, olhou para outro lado e seguiu com seus passos longos seguindo a estrada. Não o viu?

Decidiu não o seguir. Já estava quase escurecendo. De qualquer forma, sabia que ele estava ali o procurando, não iria demorar a aparecer. E quando isso acontecesse iria lhe dar um sermão por estar fumando.

No dia seguinte sem noticias dele. Começou a cogitar ter se enganado, afinal a distância entre eles era grande o suficiente e havia muitas pessoas ali. Só pensou ter o visto ao ver seu rosto. Seus olhos. E pensando bem, não tinha mais certeza se era realmente ele. Ainda bem que não o seguiu.

Já estava se convencendo de ter delirado quando passava pela praça a beira do rio. Era de manhã. A praça era na verdade uma área verde minúscula entre o rio e uma avenida. Apenas bancos de cimento semicirculares e árvores, e bem mais descuidada do que o resto da cidade. Não era um ponto turístico, era apenas onde as pessoas podiam ver um amanhecer sem-graça.

Novamente, não o reconheceria. Suas costas formavam um arco sobre as próprias pernas sentado no banco, inclinado para frente e apoiado nos próprios joelhos. Diria que estava vendo o sol nascer, mas isso foi há horas atrás. A mesma jaqueta de ontem. Hoje pensou o quanto aquela pessoa não parecia com seu irmão.

Como se estivesse lendo sua mente, o rosto do jovem se virou quase que completamente em sua direção. Uma mecha do seu cabelo curto caiu sobre o rosto. Era ele. Era seu rosto, seus olhos. Não estava olhando para Ikki, havia apenas observado alguns pássaros que fizeram uma revoada logo ao seu lado. O cigarro que pendia entre seus dedos foi recolocado na boca. Voltou a olhar as águas turvas.

Fênix resolveu por fim ao jogo de gato e rato. Cogitou ir em sua direção, parar em sua frente. Novamente ele previu seus movimentos. Shun levantou e girou em sua direção. Agora vinha em sua direção, metros de distância, mas estavam frente a frente. A distância diminuiu e então ele passou reto pelo irmão mais velho.

Atônito, Ikki o seguiu com os olhos. Atravessou a avenida até sumir nas ruelas entre os prédios.

Relembrou varias vezes. Olhava em direção a grade na borda do rio, sem perder Shun de vista. O viu levantar se devagar, virar para ele e começar a andar. A direção de seus olhos mudou do chão para os lados lentamente e parou em Ikki, para em seguida mudar outra vez de direção.

Mas era Shun. Não tinha mais duvidas. Mas como poderia ser. Não o reconheceu, ou o ignorou? E seus olhos, o que ouve com eles?

Era ele. Eram seus olhos, mas não completamente. Ou talvez tenha sido apenas sua impressão, pode ter se enganado por causa de sua expressão. Lembrava-se do irmão com a mesma expressão esperançosa, às vezes uma tristeza sutil. Como Ikki, também havia passado por muitas dificuldades. Sua bondade não se encaixava com um cavaleiro que precisava ter a frieza para tirar a vida do inimigo. Sofria com isso. Mas na sua frente viu um rosto sem emoções.

Decidiu segui-lo, mas o perdeu de vista completamente. Quando o localizou era o inicio da tarde, andejava agora do outro lado da cidade. Saia de um café mais afastado do centro. Acendia um cigarro quando notou Ikki parado ao seu lado.

A cena se repetiu. Ambos se encararam. Dessa vez Shun não se moveu, apenas guardou o isqueiro no bolso da calça. Ikki poderia ficar horas tentando enxergar através da expressão em seu rosto.

-Veio até aqui e finge que não me conhece? – Falou, seco como sempre. – Posso saber o que esta acontecendo?

A expressão do cavaleiro de Andrômeda mudou de desinteresse para estranheza. Sua cabeça se inclinou quase que imperceptível. Ikki ficou mais nervoso com aquilo

- Shun? É mesmo você? – A última pergunta de Ikki parece ter iluminado a face do irmão. Seus olhos se abriram como se tivesse descoberto a identidade de seu inquisidor. A face sem emoções então forçou um sorriso largo. Ikki viu naquele sorriso pura ironia.

- Claro – Respondeu. – Eu sou Shun.


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Notas finais do capítulo

Este capítulo é apenas o gatilho da história. O próximo será bem maior.

Esta história foi escrita em um mês (quase que exatamente). Ela nasceu numa madrugada sem pretensões.

À princípio, possui quatro capítulos completos e tentarei postar semanalmente.

Se a historia lhe cativar, por favor aproveite para comentar coisas agradaveis enquanto não se sentir obrigado a expressar seu ódio por mim.