Uma triste chuva caia no Santuário. O céu escuro deixava tudo num tom cansado. Poucos soldados e amazonas insistiam em treinar sob a garoa, e esses pararam para ver o retorno dos cavaleiros da Alemanha. Do grupo de quase vinte homens, apenas dois cavaleiros voltavam, a passos lentos e exaustos. Nas mãos de Dohko o troféu da vitória humilhante, a jovem que sequer sabia do que estava acontecendo dormia enrolada na capa do cavaleiro de libra.

Nas escadarias enquanto subiam às doze casas, os cavaleiros de ouro surgiam de suas casas para prestar condolências à deusa, e acompanhavam-nos até o mestre. Vários soldados, cavaleiros e aspirantes os observavam nas escadarias, sentados nos degraus e alguns até ajoelhados em homenagem. Sorriam e mostravam alegria por terem novamente sua deusa protegendo-os. Mas os cavaleiros dourados não estavam contentes. Sabiam que a perda de tantas vidas não deveria ser comemorada.

No fim das escadarias, três cavaleiros esperavam ansiosos. Seiya, Shiryu e Hyoga estavam parados, observando a subida do cavaleiro de libra. Dohko os fitou, com a expressão séria. Mesmo felizes por Saori Kido estar salva, sabiam do sacrifício de Jabu, Ichi, Nachi, Ban, Geki... e Ikki. Observaram o comboio passar por eles, em silêncio.

Chegando ao topo, os cavaleiros de ouro ficaram em frente ao templo do mestre enquanto apenas Dohko e Mu seguiam levando a jovem. Já haviam passado vários dias dês de que haviam saído do santuário, e todos esperavam o triunfante retorno do grupo de uma missão relativamente simples. Porém, por mais que a recompensa tenha sido válida, nenhum cavaleiro ali estava feliz.

Se aproximando das acomodações da Deusa, várias servas de vestidos longos e brancos surgiram trazendo roupas e remédios para acolher a menina. Libra deixou-a sobre a cama de pedra onde logo foi cercada pelos cuidados das mulheres. Seguiram então, ao encontro do Mestre que os esperava junto à estátua de Athena.

A chuva fina parecia não incomodar o jovem mestre, que continuava a observar o horizonte. Seus cabelos azulados livres do elmo caiam sobre sua roupa úmida e seu rosto triste. Imóvel, somente reagiu ao notar a presença dos cavaleiros de ouro. Ao se virar, já estavam de joelhos.

- Já disse que não precisa disso, Dohko de Libra. – Falou, forçando algum animo. – Eu que deveria lhe prestar condolências.

- Não diga isso mestre. – Se levantaram. Libra Notou a expressão do jovem mestre, era como se ele soubesse tudo que aconteceu. Antes que ele disse-se algo, Mu começou a noticiá-lo dos ocorridos. – A missão mudou os rumos. Não estávamos preparados o suficiente para o inimigo, e perdemos todos os cavaleiros e soldados. – O mestre não respondeu. Todos ficaram em silêncio aguardando-o. Saga voltou a observar o horizonte por um tempo, enquanto a garoa continuava a cair sobre eles.

- Esta é uma guerra, e perdas são inevitáveis. – levantaram o olhar para o mestre novamente, este continuava de costas. – Todo homem que morreu no campo de batalha ao lado de vocês sabia que esse seria seu fim, e foi por vontade própria.

Concordaram com um sinal de cabeça. Mesmo jovem, o cavaleiro de gêmeos era sábio e ponderado, não é a toa que as pessoas de rodório o tratavam como um Deus.

- Graças a eles, recuperamos Athena. E agora sim estaremos prontos para enfrentar Hades.

Com o retorno de Athena, todos os cavaleiros se sentiam mais seguros. Mesmo estando sob alerta, todos haviam recuperado o espírito de luta e estavam confiantes. O Santuário ganhou vida novamente.

Os cavaleiros que estavam espalhados pelo mundo começaram a reunir-se na terra natal dos Santos de Athena. Vindos de todos os cantos, se concentravam aumentando o movimento nas terras antes tão paradas. O povoado de Rodório jamais havia visto tamanha massa se cavaleiros se dirigirem o local.

Movimento parecido era visto em outro lugar, porém não tão intenso. Várias pessoas se dirigiam a um lugar esquecido na Alemanha. Sem motivo aparente, as pessoas se dirigiam até um castelo enorme e fantasmagórico, que abria suas portas a cada pessoa que chegava. No alto, eram observados pela jovem anfitriã, parada sob a sacada de uma torre do castelo, em silêncio.

- Mais alguns espectros chegaram. Isso é um bom pressagio para nós. – Falava para um espectro próximo. Ajoelhado, um espectro jovem a ouvia tranquilamente. – Os espíritos dos espectros estão se desprendendo do selo e localizando suas reencarnações. O selo está perdendo seu poder.

- Siim, senhorita Pandora!! – O espectro de voz felina concordou ainda ajoelhado. – Mas...

- Mas o quê, Chesire?

- Senhorita Pandora... Se o selo não esta selando o espírito de Senhor Hades, está selando o que?-

- Esta selando seu cosmo, está limitando demais o poder de nosso senhor, por isso ele permanece no Inferno, até que todo seu exercito esteja aqui.

- Ahh então é isso, Senhorita Pandora! Por isso nosso senhor não vem até a Terra. – Conclui o jovem. - Senhor Hades mantém seu corpo protegido nos Campos Elisios, e o hospedeiro...

- Mais espectros chegaram, Chesire. – Pandora o interrompeu, como se não estivesse ouvindo as palavras do espectro. – Devo avisar os senhores Hypnos e Thanatos que o exercito está quase completo.

- Sim senhorita.. – Disse, observando a jovem passar por ele e a seguiu pelo corredor escuro.

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Mais um dia se foi e a noite cobriu tudo, porém a luz da lua impedia a escuridão de engolir tudo a sua volta. Dava um ar místico a todas as coisas, o bosque, o lago, o castelo esquecido pela civilização. As pedras que formavam a torre daquela tamanha construção eram frias e transmitiam umidade. O frio era quebrado pelo calor dos castiçais acesos encima dos móveis pesados e antigos. A luz da lua invadia pela sacada e pelas janelas sem cortinas, que formavam a sombra de uma silhueta sentada no batente da janela.

Shun parecia distante, observando o céu perdidamente. Usava uma camisa branca envelhecida de meia manga, que deixava à mostra as velhas ataduras negras que cobriam até o cotovelo. Os cabelos balançavam com a leve brisa. Seus olhos reluziam com a luz do luar, mas eram tristes. No fundo de seu coração, não estava naquele cômodo, naquele castelo, e sim em um lugar distante, há anos atrás...

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- Já estamos chegando. Não foi tão demorado assim. – A voz do homem que andava pouco na frente o alertou. Em volta deles, um paraíso sobre a terra. As arvores e flores coloriam um cenário fantástico, digno de historias e mitologias. Pilares antigos cobertos por trepadeiras que coloriam com flores vermelhas um campo aberto. Nenhuma nuvem no céu azul e o sol brilhava fortemente. Era belíssimo.

Para completar o cenário, grandes ruínas surgiam ao fundo de algumas árvores. Era possível ver a carcaça de uma igreja em estilo gótico, esquecida no tempo. Aproximaram-se pelo caminho difícil até estarem frente à entrada da enorme construção. Restavam apenas as ruínas das paredes do local: O teto desabara; uma das grandes portas de madeira estava aberta, e a outra sucumbira ao poder o tempo; varias plantas cresceram nas pedras daquilo que era uma igreja há muito tempo.

- Aqui está. – Comentou o homem a sua frente. Usando uma roupa negra com os cabelos dourados sobre as costas, virou-se para ele agora. – Creio que está curioso em entrar, não é Shun?

- Sim, mestre Hypnos. – Respondeu o jovem. De roupas parecidas, negras com alguns detalhes brancos, parecia um garoto de dez anos no máximo. Mesmo ainda criança, tinha uma postura respeitosa. – Bastante.

O homem esboçou um sorriso satisfeito, se virando novamente para as ruínas. Em sua face, uma estrela de seis pontas em sua testa estava semi escondida pelo cabelo. Ambos subiram a antiga escadaria de pedra, adentrando o local.

A luz do sol iluminava o centro das ruínas, pouca coisa restara. O Salão principal estava desolado, apenas as pareces e algumas colunas resistiram firmes. Andando mais ao fundo, passaram pelos resquícios de uma porta de divisão. O cômodo a seguir era comprido e tinha parte do teto conservada.

- Aqui era o centro do antigo Império de Hades.  – Falava Hypnos ao jovem. Agora ambos pararam logo após a porta. No fundo do cômodo, um trono semi destruído perdurava imponente protegido por parte do teto inteira. Shun olhava as coisas em volta admirado. Nas paredes, cores se misturavam formando figuras e paisagens. O deus continuou explicando.

- Alone, o antigo hospedeiro de Hades, era um grande pintor. Gostava de desenhar imagens e representar seus espectros nas paredes desta igreja. – Falava, enquanto o jovem aprendiz ouvia atentamente. – Pode ir olhá-las se quiser.

Foi isso que ele fez. Andava junto às paredes que conservavam precariamente as marcas de pintura. O mestre o observava no mesmo lugar próximo da entrada. A tinta estava descascada e parte do reboco despencou, porém ainda eram visíveis as linhas e cores. Reconhecia algumas sapuris e outras não. O primeiro era um espectro alto e forte, outro menor, porém também imponente. Eram tantos que não havia fim. Andava os observando atentamente, a passos lentos, até que ele parou diante de uma ultima figura.

Travou-se frente a tal representação. Não moveu mais os olhos. A figura de um espectro jovem e forte, de sapuris agressiva, prendeu sua atenção. Tinha grandes asas, e o rosto expressava ódio e desinteresse. Seus olhos eram fundos, e pareciam que o encarava de volta. Só sabia que aquele olhar lhe era muito familiar.

Acordou do transe quando a mão do mestre tocou seu ombro. Não havia visto se aproximar. Sem tirar os olhos da imagem, questionou-o.

- Quem é esse espectro?

- Este é Kagaho de Benu. Era um dos mais fiéis espectros de Imperador, mas acabou traindo o exército de Hades. Foi deserdado, por isso não reencarnará como espectro.

Um raio de luz iluminou a imagem, vindo de uma fresta quebrada do teto. Seus olhos ainda se encaravam, silenciosamente como em um embate invisível. Os cabelos curto-azulados do espectro se misturavam com o azul dos olhos. A resposta veio como o raio de luz. Os olhos de Shun se arregalaram com tal revelação.

- Ikki... –

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Foi trazido de volta a realidade com o som de batidas na porta de madeira. Logo depois, a jovem de cabelos negros surgiu no cômodo.

- Ai está você. Estamos ocupados com os novos espectros chegando e você ai parado... – Disse, se aproximando. Shun esboçou um sorriso para Pandora. Esta notou o olhar distante dele. – O que foi?

- O que foi o que? – Disse, direcionando o olhar novamente para a paisagem. A jovem parecia entender. Conhecia Shun dês de o próprio havia chegado ali, naquele castelo, há seis anos. Um garoto triste de cabeça baixa e roupa esfarrapada, mas de coração puro como água de um rio cristalino. Pensou em tocar no assunto, na luta contra o irmão, mas sabia que era inútil. Sempre que o assusto surgia, ele mudava.

- O que houve com Athena? – Shun perguntou, pegando-a desprevenida. – Já sabem quem foi o responsável?

- Não. – Disse, se lembrando de Chesire surgindo em seus aposentos para noticiar-lhe do desaparecimento. De inicio, deduziu-se que o cavaleiro de Fênix a havia levado, mas os deuses gêmeos pareciam saber mais sobre isso. – Os senhores Hypnos e Thanatos não falaram mais sobre isso.

Se fez silencio novamente, ficaram ali olhando o luar por um tempo. Mesmo sem dizer nada, pareciam em sintonia. Ambos se entendiam sem dizer uma palavra. De certa forma obscura como tudo ali, pareciam irmão e irmã de verdade.

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E assim se formou. Em cada canto do planeta, uma formação diferente, duas forças que cresciam e se fortaleciam, para que um dia se chocassem e explodissem juntas, dando inicio a uma guerra terrível.

Na Grécia, a jovem Athena era instruída pelo mestre e Dohko, mesmo tardiamente. Os cavaleiros eram treinados e preparados dia após dia para o inesperado a qualquer momento, enquanto na Alemanha cada vez mais inimigos se juntavam ao grupo. Sapuris negras surgiam mais e mais em torno do castelo.

No interior do local, se reuniam em torno de um corredor profundo com um trono vazio no fim sob alguns lances de escada. Parados, em pé e alguns em reverencia. A frente deles, com sua sapúris brilhante e sombria, Shun jazia ajoelhado em reverencia frente aos deuses gêmeos parados de pé junto ao trono, eram as autoridades maiores ali. Atrás deles, o som da harpa que pandora tocava se espalhava e se expandia por todo o castelo.

O som das liras das musas também enchia o templo da deusa Athena. As varias mulheres que dançavam e tocavam, alem de organizar o local de forma carinhosa para a jovem Deusa. Sob o templo, a estátua da Deusa zelava pela região silenciosa, e sob seus pés a jovem de cabelos roxos esvoaçantes estava de pé, com um vestido branco decorado de ouro. A sua frente, sob o olhar atento do mais sábio cavaleiro de ouro, Dohko de libra, o grande mestre estava ajoelhado em reverencia. Os cabelos azuis também voavam com a brisa, e seu rosto baixo foi levantado pelas mãos da deusa. O cosmo cálido da garota o acolhia, e sentiu que atingia o âmago de sua alma. Era o mesmo que sentia no selo que carregava consigo, porém muito maior. Sentiu aquele cosmo livrá-lo aos poucos de todo o mal que guardava em si.

Saori sorria calidamente para o seu seguidor, da mesma forma que Pandora sorria, discretamente enquanto tocava sua Harpa, observando de canto Shun que também sorria para ela. Mesmo em meio ao clima severo e respeitoso no local. Hypnos de um lado, tocando uma flauta ricamente ornada com asas e Thanatos, junto à pandora dedilhava uma lira decorada com uma cabeça de dragão. O tempo passava rapidamente enquanto ambos os lados evoluíam cada dia mais.

Nada poderia adiantar o momento esperado, o dia D do inicio de tal enfrentamento terrível. Um dia onde o planeta pararia para observar tamanha desgraça que lhe seria imposta. Distante de ambos os lados, no lugar onde o tempo parou, a terra nunca explorada, um cosmo surge crescente.

O selo de 243 anos caiu.

O céu escureceu.

Athena observava séria o céu, enquanto pandora sorria para o luar.

- Hades está pronto.