Fighting The Storm escrita por bitte_me


Capítulo 1
Fighting the storm


Notas iniciais do capítulo

As partes em itálico são flashbacks.



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O volume do som estava alto, e ele se distraia cantando, enquanto preparava algo para comer. Sequer reparou que lá fora, o céu avermelhado, livre de lua e estrelas, denunciava a tempestade que logo cairia. Sequer reparava que o forte vento fazia sua pequena plantinha emborcar, quase tocando o chão, e que isso poderia – facilmente – quebrá-la.


E então, houve um estampido quando o céu foi cortado por um veloz raio. No mesmo instante, grossas gotas pesadas começaram a cair. O som da chuva ainda era abafado pela alta música, e o distraído garoto não a percebera.


Outro estalo, e a luz da casa piscou. Espiando pela janela da cozinha, viu o céu desabar do lado de fora. A chuva era forte, e varria o que estivesse ao seu alcance. E nessa categoria, encontravam-se suas rosas.


Justo aquelas rosas, que lhe dera tanto trabalho para plantar. Que demorara um bom tempo para se adaptar ao clima e, finalmente, florescer. Justo aquelas, que seriam o presente de seu irmão. As rosas de Tom.


-Merda! – ele exclamou, largando de qualquer jeito o que fazia.


Correu para a porta, pegando um casaco qualquer para cobrir seus cabelos. A porta aberta com violência fez um estrondoso barulho ao se chocar contra a parede, tendo seu eco prolongado por um trovão. Seus pés descalços corriam pelo alagado jardim, sujando a barra de sua calça. De uma de suas calças preferidas. Mas ele não se importava, seu foco era apenas um: salvar as rosas.


Parado em frente ao canteiro, encontrou-o do modo como temia: completamente alagado.


-Vocês não podem morrer! – ele gritava, deixando com que a água da chuva, que caia-lhe sobre a face, se misturasse com as lágrimas.


As pesadas gotas caiam sobre as delicadas pétalas, forçando-as para baixo e, às vezes, perfurando-as.


-A natureza quer acabar com o que eu fiz pra você Tommy... – choramingou, tentando amparar as pétalas que se soltavam e caiam.


Encarou as possibilidades. Se as podasse agora, pela manhã estariam mortas, secas.  Se as deixasse aqui, pela manhã estariam mortas, destruídas, afogadas.


O casaco que outrora lhe cobria os cabelos já estava completamente encharcado, como ele. Os fios negros escorridos sobre o rosto, grudados na pele de sua bochecha e pescoço, os olhos borrados, criando caminhos negros por suas bochechas, as roupas pesadas. Um lampejo azul cortou o céu e segundos depois, fez-se ouvir o som de sua chegada a terra. Bill estremeceu. Odiava tempestades. Odiava relâmpagos e trovões.


**


O forte vento fazia as árvores  se curvarem e arranharem o vidro da janela. As gotas de chuva batendo no telhado com força causavam um barulho alto. Um rápido raio cortou o céu, e o trovão que se seguiu fez o pequeno esconder-se sob os cobertores. Ele tremia de medo e frio, e um nó cada vez maior se formava em sua garganta, indicando que logo choraria.


Antes que as coisas piorassem, ele escorregou para fora da cama, trazendo o fofo travesseiro consigo. Abraçou-o fortemente contra o peito e, em passos largos e apressados, pôs-se a andar, rumo ao quarto ao lado.


-Tommy? – chamou, abrindo uma fresta da porta.          


-Eu sabia que você viria. – o gêmeo murmurou, fazendo o mais novo sorrir.


Outro raio cortou o céu, e antes que o barulho causado pelo mesmo pudesse ser ouvido, o pequeno correu para a cama, metendo-se sob as cobertas. Enterrou a cabeça no peito do irmão, estremecendo quando o trovão soou.


-Bill, você já tem 14 anos, não é velho demais para ter medo de tempestades?


Bill bufou.


-Eu nunca vou deixar de ter medo.


-E eu sempre vou estar aqui, para te proteger. – sussurrou Tom, em seu ouvido, selando-lhe os lábios carinhosamente e seguida, sabendo que só assim ele conseguiria se acalmar e, finalmente, dormir.


**


O som de mais um trovão despertou Bill de seus pensamentos. Com a visão turva pelas lágrimas, viu o forte vento atingir a roseira, sacudindo-a, e fazendo com que mais pétalas caíssem.


-As rosas do Tommy não! – exclamou.


Correu de volta para a cozinha, criando uma trilha de barro por onde passava. Passou a mexer nas gavetas e nos armários, impacientemente, jogando tudo no chão, até encontrar o que tanto procurava.


Voltou para o alagado jardim, desenrolando a lona preta que trouxera. Com certa dificuldade, sendo atrapalhado pelo vento, estendeu-a sobre seu canteiro, fixando-a no chão com montinhos de pedras. Sob ela, lá estava ele, mantendo um das pontas levantadas, ou poderia matar as rosas abafadas.


Assim era melhor. As gotas de chuva não incidiam mais sobre elas, e o vento podia ser controlado por ele, dependia apenas da quantidade em que a improvisada barraca era aberta.


-Vocês vão sobreviver, não vão? Vocês são fortes, irão conseguir. Vamos lá, eu preciso de vocês. – a voz saia embargada, e as gotas que molhavam o chão não eram provenientes da chuva, e sim de suas lágrimas.


**


-Por favor, Tommy, não vai... Não me deixa aqui sozinho... – o moreno pedia, manhoso.


-Eu preciso ir Bill. Você sabe que eu te levaria comigo se pudesse. Mas você está doente, tem que descansar. Sua voz é importante, você não pode arriscar assim.


-Eu sei, eu sei. – bufou, cruzando os braços sobre o peito.


-Não seja bobo, é só trabalho. Prometo que volto amanhã mesmo.


-Promete?


-Prometo. Prometo também que vou cuidar de você, mesmo de longe. Vou cuidar de você sempre, onde quer que eu esteja. – respondeu, aproximando-se.


Seus olhos queimaram ao se cruzar, e seus lábios conectaram-se em seguida, em um beijo calmo. Um ato que, silenciosamente, dizia “eu te amo”. Mas, havia um gosto estranho ali. Diferente. Algo como despedida.


Porém, nenhum dos dois se importou, realmente era uma despedida. Que uma viagem que duraria pouco tempo. Ou deveria durar.


**


Bill persistiu ali, protegendo com ardor as rosas, durante toda a madrugada. O forte vento e os altos barulhos causavam-lhe medo, mas ele não podia desistir. Ele não podia se entregar e deixar com que morressem. Elas eram importantes para ele. Elas eram importantes para Tom.


**


-Isso pode parecer gay, mas eu adoro rosas. – o mais novo riu sobre o seu peito – Adoro o cheiro delas, a textura das pétalas, as cores fortes...


-Rosas vermelhas?


-De preferência.


O moreno ergueu a cabeça, nivelando seus rostos.


-Significam paixão. – sussurrou.


Tom sorriu, puxando o rosto de Bill para si e beijando-lhe os lábios.


**


A chuva se esvaiu pela manhã, assim que surgiram no horizonte os primeiros indícios de alvorada. Bill colocou a cabeça para fora, constatando que o claro céu estava limpo. Retirou a improvisada proteção que montara, deixando os mornos raios solares incidirem sobre as flores, renovando-as. Fechou os olhos, voltando o rosto em direção ao sol, e deixou co que o calor tomasse conta de seu corpo, bordando um fraco sorriso em seus lábios.


Sentindo-se completamente realizado, ele sequer percebeu que dormira na banheira, enquanto tomava banho.


**


-Eu te trouxe rosas. Rosas vermelhas, que eu mesmo plantei. – seu tom de voz soava vitorioso – E elas me deram um trabalhão Tommy, quase morreram essa noite. São muito cheirosas. Lembram-me você.


Bill pousou o lindo bouquet de rosas vermelhas sobre a gélida lápide branca.


-Eu enfrentei uma tempestade sozinho essa noite. Pra salvar as rosas, sabe. Mas, às vezes, principalmente quando trovejava, eu sentia você lá, comigo. Você prometeu cuidar de mim sempre, onde quer que você estivesse. Eu não esqueci. Eu sinto sua falta... – murmurou.


“TOM KAULITZ


IRMÃO. AMIGO. AMOR.”


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