O Misterioso Mundo de Julia escrita por Perugia


Capítulo 5
Chuva de Lágrimas - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é uma continuação do anterior, a todos uma boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/468346/chapter/5

O que aconteceu ao certo com a pequena Julia ainda era um mistério, após seu grito desesperado Jorge e Ana entraram correndo em seu quarto, pedindo explicações pelo acontecido, mas a pequena estava extremamente abalada e não conseguia dizer nada, apenas gemia e soluçava encolhida em baixo dos cobertores.

Ana sentou-se ao seu lado enquanto Jorge em pé ao lado da cama observava a cena.

– Julia fale comigo, o que aconteceu, anda me fala – disse chacoalhando-a com ambas as mãos.

Apenas o choro abafado acompanhado de soluços ecoava no silêncio do quarto, cortado apenas por um trovão ou outro.

– Julia! – gritou Ana descobrindo-a e lhe abraçando contra o peito – calma querida, mamãe está aqui, ninguém lhe fará mal, agora tente contar pra mim o que aconteceu.

Julia estava abalada, tentou balbuciar algo, mas sua voz não saiu, temeu que tivesse ficado muda, o desespero começou a tomar conta de si, tentou engolir o choro e tentar falar algo novamente, desta vez com muito sacrifício conseguiu se comunicar.

– A velha...

– De novo com essa história Julia, essa mulher não existe – repreendeu Ana – você tem que esquecer isso querida, é tudo coisa da sua imaginação.

– Não mamãe, ela quer me fazer algo... ela apareceu no meu sonho, e-eu acho que ela está me observando agora – disse por fim, olhando para todas as direções procurando a estranha figura.

– Julia, relaxe, eu e seu tio estamos aqui do seu lado, ninguém lhe fará mal.

– É isso mesmo, minha sobrinha querida, se alguém aparecer aqui eu quebro minha guitarra em sua cabeça – retrucou Jorge tentando conforta-la.

Enquanto isso a tempestade rugia lá fora, o vento zunia pelas frestas da casa causando um barulho realmente irritante. De repente um trovão ensurdecedor estourou, e quase que como consequência a energia acabou.

– Já estava esperando por essa, também com essa chuva demorou até muito pra energia cair – comentou Jorge sentindo-se uma espécie de vidente.

A escotofobia tomou conta de Julia, seu coração disparou, começou a suar frio e sua respiração se tornou curta e rápida, pensou em correr, mas tremia tanto que seu corpo sequer reagia a seus estímulos cerebrais. Sentiu a escuridão tomando conta de si, invadindo sua mente, sentiu-se indefesa, até o ar ficou mais frio e difícil de respirar, temeu que a velha estivesse ali do seu lado, pronta pra lhe fazer algo e esse pensamento lhe atormentava.

Poucos segundos após a queda da energia um relâmpago iluminou o quarto e Julia mergulhou novamente em seu pesadelo. No exato momento ela pensou ter visto o vulto da velha na janela, podia ter sido coisa pouca, mas foi o suficiente para desencadear um surto.

– Mãe é ela! Na janela, olha, olha, não deixe que ela me pegue, por favor não deixe! – gritou em desespero deixando as lágrimas caírem novamente.

– Calma Julia eu estou aqui, calma querida – reconfortou lhe Anna beijando sua testa e enxugando suas lágrimas.

– Mãe não deixa, ela está aqui, ela vai me pegar, ela vai me pegar...

– Pai! Trás aquele seu lampião velho aqui, rápido! – gritou Jorge.

Em poucos segundos Venâncio apareceu com seu velho lampião iluminando o quarto, com um sorriso orgulhoso no rosto por ser uma pessoa precavida.

– Eu ouvi alguém me chamar ou estou ficando louco? – disse o velho em um tom zombeteiro.

– Isso não é hora para brincadeiras pai, Julia não está bem – repreendeu-lhe Jorge.

– Ó desculpe-me, o que aconteceu com a minha netinha?

– Eu não sei ao certo, aparentemente ela está delirando, e a mamãe onde está?

– Retirou-se para o quarto depois do que aconteceu – respondeu fitando a filha propositadamente. Ana fingiu não ver o olhar do pai, engoliu o orgulho e continuou a acariciar a filha lentamente.

Julia tremia encolhida sob o peito de Ana, afogada entre seus soluços, seu olhar estava profundo e sem brilho, mas ainda assim alerta, o direcionava para os mais diversos pontos do quarto procurando algo, ou melhor procurando a velha. Ana sentiu que era hora de agir, precisava tomar uma decisão, e está não seria ficar ali parada com a filha, precisava fazer algo, mas o que exatamente? Não poderia deixar a filha naquela situação, começou a sentir um aperto terrível no peito que atrapalhava fortemente seus pensamentos. No fim, pensou por um instante, cogitou algumas possibilidades e por fim falou.

– Jorge pegue Julia no colo, e leve-a para o carro, vamos leva-la para o Hospital Municipal de Boa Ventura.

– Você tem certeza disso? – respondeu incrédulo.

– Absolutamente, e além do mais eu quero confirmar algumas coisas com o doutor Magalhães.

– Você que manda – disse pegando a garota no colo e descendo as escadarias, logo após partindo em direção a garagem acompanhado de Ana e Venâncio.

Jorge acomodou Julia e Ana no banco traseiro do Ford Mustang 1966, abriu a garagem, sentou-se no banco do motorista, deu partida no carro e perguntou

– E você pai, não vem com a gente?

– Melhor não – disse o velho – eu vou ficar aqui com a minha velha, amanhã se a chuva passar eu dou um jeito de aparecer por lá, e tomem muito cuidado com a estrada, não deve estar nada boa com essa chuva.

– Obrigado pai, vou indo nessa, Julia está mesmo precisando de ajuda.

– Espere! – exclamou Ana – Pai se puder me fazer um favor, fale com a mamãe que sinto muito pelo ocorrido, e quando puder, lhe pedirei perdão.

– Eu sei minha filha, sua mãe as vezes fala demais, eu que o diga para aguentar quarenta e nove anos de casado com aquela vitrola, e tenho certeza que ela também está ressentida com isso, agora vá que já está tarde.

– Obrigado pai, tchau.

Jorge saiu cantando pneu da garagem e pegando a estrada enlameada que culminaria na cidade, deixando Venâncio para trás acenando e desejando boa sorte a todos. Enquanto isso no banco de trás Julia continuava trêmula no colo de Ana balbuciando palavras sem nexo enquanto uma o outra lágrima escorria pelas bochechas.

–Velha... verdade... papai...

Esta última palavra, chamou a atenção de Ana, mas resolveu não perguntar nada, a única coisa que podia fazer no momento era conforta-la com seu calor e torcer para chegarem logo no hospital. Enquanto isso a chuva caia forte contra o carro e a estrada ruim parecia tornar a viagem impossível, por um instante temeu ter tomado uma decisão ruim, começou a sentir-se angustiada, e se ficasse presa na estrada embaixo dessa chuva toda com sua filha nesse estado. Mas Jorge soube intervir na hora certa.

– Não se preocupe maninha, não vou deixar que nada aconteça a pequena Julia e custe o que custar, chegaremos neste hospital, de uma maneira ou de outra.

De uma certa forma isso confortou Ana, e então puderam seguir viajem enquanto a chuva lavava tudo, estrada, plantações, colinas, e, por um instante ela desejou que a chuva lavasse toda tristeza de seu interior, mas percebendo que isso não aconteceria, despertou de seu sonho e torceu para que a viagem acabasse logo, enquanto acompanhava as gotas da chuva baterem contra os vidros do carro e os relâmpagos iluminarem a paisagem numa esplêndida dança da natureza.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Escotofobia - A escotofobia é o medo irracional à escuridão.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Misterioso Mundo de Julia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.