Quando faltava uma hora para dar meu horário eu já estava a caminho do hospital, assim que cheguei fui direto para minha sala, Jessica me abraçou e depois já me passou tudo o que tinha que ser feito. O hospital estava em seu ritmo normal, a diretoria por outro lado estava num ritmo acelerado, Edward não pode almoçar comigo e eu acabei me juntando a Alice em um restaurante ali por perto. Não consegui disfarçar para Alice, ela sempre mantinha um olhar de desconfiança no rosto quando eu dizia que estava apenas cansada da viagem. A tarde não foi diferente, não houve nenhuma emergência e nenhuma cirurgia, apenas consultas e pacientes na UTI. Assim que deu a hora de ir para casa, Edward veio até a minha sala para que pudéssemos ir embora juntos, em todo o percurso até a cobertura ele me contou sobre a correria do seu dia, e disse que as primeiras semanas seriam assim, o hospital estava muito mais conhecido após a premiação, e consequentemente o trabalho aumentara. Em todo o trajeto eu o ouvia e respondia coisas que ele me perguntava, algumas vezes percebi o olhar desconfiado de Edward sobre mim exatamente igual ao de Alice.

Quando chegamos a cobertura tudo ocorreu normalmente, eu terminei de arrumar as malas e encontrei os presentes que havia trazido, depois nós dois tomamos banho enquanto Claire terminava o jantar, e jantamos juntos também, assim que terminamos Edward pediu licença para fazer uma ligação a Carlisle e eu fui para seu quarto.

Não conseguia entender o que estava havendo comigo, eu estava tremendo e sentia minhas mãos geladas, eu estava com muito medo de dizer toda a verdade a Edward. Eu poderia adiar mais um pouco, mas isso tornaria tudo pior, agora que as fotos do evento em Londres estavam na internet era provável que James tivesse visto e ele acabaria com tudo quando chegasse. Eu não tinha para onde correr. Eu não tinha a quem pedir socorro, ninguém podia me ajudar agora. Eu quis gritar, eu quis desaparecer, correr para o mais longe de Edward, mas eu não podia. Parecia que minhas pernas pesavam o suficiente para não me deixarem sair do lugar, hoje mais do que nunca eu queria meus pais vivos, queria Nessie comigo, ela era a única coisa boa que havia em mim, um anjo, ela era a luz. Senti que as lagrimas corriam livremente, nem pensei em esconde-las, logo quando eu visse Edward estaria chorando novamente, meu peito parecia que ia rasgar ao meio ou parecia que havia um buraco gigante, eu não estava conseguindo respirar muito bem, mas tentei encontrar meus pulmões para pelo menos continuar respirando bem.

E então ele entrou no quarto, estava sereno, cansado pelo trabalho, estava tudo normal com ele, mas quando ele se virou para mim, um choque atravessou seu rosto.

—Bella? Você está chorando... –ele correu para perto de mim e me abraçou. –Ei... Me diga o aconteceu, eu fico agoniado te vendo assim meu amor. –ele tentava limpar minhas lagrimas.

—Edward...

Eu me senti pior ainda com todo o cuidado dele, eu não merecia nada que vinha dele.

—Você está diferente desde a hora que chegamos de viagem, eu não quis tocar no assunto, preferi deixar você no seu espaço imaginando que você estaria bem... Mas agora te encontro assim... –seu rosto lindo estava contorcido.

Não havia mais tempo. Ele tinha que saber. Tomei toda a coragem e força que restavam em mim e comecei.

—Eu preciso te contar Edward, uma coisa. –ele parou e me olhou. –Uma coisa muito importante, sobre meu passado. Isso está me matando Edward, eu estou sufocada, não aguento mais, você precisa saber.

—Me conte, então.

Suspirei fundo e comecei.

—Quando meus pais morreram... Eu me tornei vamos dizer que apenas uma sombra, eu era uma pessoa vazia, você pode imaginar Edward, uma menina tão nova, mas em um estado tão péssimo? Eu não falava muito dentro de casa, tinha pesadelos e isso assustava demais Sue. Eu as vezes via ela chorando, ela se desculpava por estar fracassando com Charlie e René, mas ela não tinha culpa alguma. Eu questionava tudo em minha vida, o porquê de tudo, eu realmente dei trabalho para ela e ela sempre me deu amor, até nos meus piores erros, ela me deu amor. Ela me levou para tratar com profissionais, houve uma melhora, eu passei a ficar mais com Jacob e depois de alguns anos Leah se mudou para o mesmo bairro que moravamos, então ficávamos e brincávamos os três, mas eu nunca falava. Eles sempre me estimulavam a falar, quando fiz 15 anos, eu lutei para mudar isso e houve 80% de melhora. –parei de falar por um tempo, Edward pegou a minha mão me encorajando a continuar, eu ainda não podia olhar em seus olhos, e olhei para nossas mãos juntas em meu colo.

—Quando completei 18 anos, como toda menina conheci um rapaz pelo qual me apaixonei. Ele se chamava Alec, ele era uma ótima pessoa, me ajudou mais ainda a passar pelos problemas, tudo na minha vida estava melhorando, eu consegui passar na faculdade de medicina o que era meu sonho e o que eu tinha prometido aos meus pais... Alec podia ser uma boa pessoa, mas tinha uma família a qual eu podia jurar que Alec não pertencia, ele era a única pessoa boa entre eles. Tudo sempre dava certo para ele, ele tinha um emprego bom, estava na faculdade, tinha alguns amigos e tinha a mim. Mas eu tenho certeza, a pior coisa que ele poderia ter ele tinha, que era a família, os irmãos James e Laurent sempre tiveram muita inveja de Alec e queriam tudo o que era dele. James era o mais doentio deles e era obsessivo por mim, ele sempre me encurralava, Alec me mantinha o mais longe possível dele. Quando estávamos completando seis meses de namoro eu descobri estar gravida. –neste momento eu parei de falar, eu não chorava mais, mas Edward parecia ter virado um fantasma de tão branco que estava. –Edward tudo bem?

—Tudo bem, continue, por favor.

—Tivemos a nossa filha, e eu nunca vi James ficar tão transtornado como estava. Um certo dia tudo aconteceu. James e Laurent armaram uma emboscada para o irmão e para mim, eu não consigo nem me lembrar do que aconteceu Edward, sei que eles mataram Alec e me doparam. Quando acordei foi a coisa mais terrível que e já vi na vida, Alec estava ao meu lado, morto cruelmente por várias facadas na barriga, e a faca estava em minha mão, mas eu nunca poderia ter feito aquilo, então tudo começou a entrar em ordem em minha cabeça quando vi James sentado olhando tudo aquilo. Ele me ameaçou aquele dia, se eu não ficasse com ele pelo resto da minha vida, ele iria me incriminar e eu seria presa por assassinato, e perderia a guarda da minha filha que nem havia nascido ainda. Eu sabia quem havia o matado, mas não tinha provas contra James, a faca continha minhas impressões digitais, ele se preocupou em armar tudo até os últimos detalhes, e como a família de Alec já era conhecida pela polícia eles nem se atentaram muito ao caso. –suspirei e prossegui. –Vim para Nova York com James e minha filha, eu era obrigada a morar com ele, Sue, Billy, Jacob e Leah, sempre souberam dessa história, mas eles não podiam me ajudar, a única forma de me ajudar foi quando Sue proporcionou que Renesmee morasse com ela. Se eu não fosse morar com James, ele faria o pior, e eu não suportaria perder minha filha para aquele assassino, eu sacrificaria minha vida se fosse preciso. Jacob me prometeu que acharia provas e que tudo voltaria ao normal na minha vida. –eu ri sem graça.

—Renesmee?

—Minha filha. –Edward assentiu. –Renesmee com o passar dos anos desenvolveu um tipo de doença respiratória, eu sempre mando parte do dinheiro para o tratamento dela.

Edward ainda me fitava, meus olhos se encheram de lagrimas novamente, ele finalmente sabia tudo agora, eu não sabia o que esperar, Edward não revelara nada em sua expressão.

—Fale alguma coisa. –eu pedi por fim.

—Sua história é parecida com a minha.

Eu não disse nada.

—Você tem provas contra James? Bella, isso é muito sério, uma pessoa foi assassinada.

—Edward, eu sei, acredite eu sei, eu presenciei a morte varias vezes com as pessoas ao meu redor. Mas, infelizmente eu não tenho como provar minha inocência. Na verdade, há uma forma. –ele me fitou novamente. –O irmão Laurent me procurou depois de três anos, dizendo que ele tinha uma gravação de como tudo ocorreu, mas ele não poderia me dar, porque isso o jogaria na cadeia, ele só usaria a filmagem se caso James o incriminasse. Depois disso, Laurent sumiu, Jacob ainda mantem uma busca por ele, mas é difícil, eu já contratei um detetive, mas não pude o manter por muito tempo.

—Bella, eu estou meio atordoado. –ele se levantou da cama e foi para a parede de vidro que dava visão de Nova York.

Longos segundos se passaram, ficamos em silencio por todo o tempo.

—Eu entendo Edward, é uma historia e tanto.

—Quantos anos Renesmee tem?

—6 anos.

—Por que você não me contou que tinha uma filha? –ele disse visivelmente abatido.

—Eu não sei.

—Acho que mereço uma resposta melhor.

—Eu não sei Edward, por medo? Insegurança? –ele virou para mim, seus lindos olhos verdes brilhando de raiva.

—Medo Isabella? Medo de que? Eu por algum acaso fiz algo para que você tivesse medo de mim? –ele gritou.

—Você nunca fez algo que eu tivesse medo de você. Eu tive medo de te perder.

—Me perder... –ele riu sarcasticamente.

—Me perdoe, Edward. –eu implorei.

—Esse tal de James, ele mora aonde hoje?

—Naquele apartamento onde você foi me buscar uma vez. –eu sussurrei.

—PUTA QUE PARIU. –ele gritou com raiva e eu me encolhi. –Puta que pariu, Isabella. Como você pode? COMO VOCÊ PODE MENTIR PARA MIM ASSIM? VOCÊ ESTAVA COM OUTRO HOMEM E COMIGO AO MESMO TEMPO!

—Edward me escute...

—Você transava com ele também? –essa me ofendeu profundamente, como ele poderia pensar isso?

—Você tem o direito de estar bravo, irritado, com raiva de mim, a merda que você quiser Edward, mas eu não admito que você fale assim comigo! Eu não sou nenhuma vadia que transa com dois ao mesmo tempo. –eu falei com raiva. Ele me olhou e eu pude ver um lampejo de arrependimento em seu rosto.-Desde o momento que conheci você minha vida inteira mudou, Edward, só existe você. E só vai existir você.

—Eu não sei o que pensar.

—Você não acredita em mim?

—COMO ACREDITAR EM VOCÊ? Você esconde uma filha de mim, e tem outro homem!

—Eu não tenho outro homem. –eu tentei não alterar meu tom de voz. –James nunca foi meu homem, você não ouviu nada do que eu disse?

—Por que você não contou antes tudo isso?

—Eu tive medo, Edward. E se eu te perdesse?

—Pelo menos nosso relacionamento não teria sido na base da mentira.

—Não é uma mentira. –eu corri até ele e segurei seu rosto perto do meu. –Nunca foi uma mentira. Eu te amo mais do que tudo.

Vi seus olhos verdes se derreterem um pouco ao meu toque, mas ele tirou minhas mãos do seu rosto e seu olhar era duro novamente.

—Onde James está? Como foi possível você passar todo esse tempo comigo se esse homem te ameaça?

—Ele está na América do Sul. Jacob me ajudou muito com isso. Ele viu que eu realmente tinha me envolvido com você.

—Como você superou tudo isso? Como você conseguiu ficar sem sua filha?

—Eu não sei, vivendo um dia de cada vez? A saudade e muito ruim. O que eu mais quero é trazer ela de volta. E eu só superei quando te conheci, você me salvou Edward.  

Ele virou o rosto e ficou de costa para mim.

—Como você conseguiu esconder tudo isso de mim?

—Edward... –eu gemi.

—Eu quero um tempo, Bella. –ele se virou para mim novamente. –Um tempo para pensar em tudo isso.

Eu já sabia que ele pediria isso, mas isso não era tão ruim assim, era?

—Acho que posso conviver com isso.

—Eu quero realmente um tempo, Bella. Eu não quero que você fique aqui.

Senti como um soco em meu estomago e cruzei os braços na tentativa de proteger meu coração. As lagrimas desciam silenciosamente, era difícil ver Edward através da grossa camada de lagrimas.

—Edward não faça isso comigo, por favor. Eu não posso ficar longe de você.

—Bella, não vejo como isso pode ser diferente. Eu não quero que você fique aqui.

—V-v-você não quer? –eu gaguejei.

—Não. –ele disse frio.

—Tudo bem, eu vou embora, se isso for melhor para você.

—É o melhor para o momento, Bella. –ele suspirou meu nome.

Eu paralisei por um momento, não sabia quando o veria novamente, seria difícil ficar sem Edward, mas era o mínimo que eu podia fazer depois de despejar tanta coisa em cima dele. Seus tão lindos olhos verdes, continham uma mistura de raiva e confusão, seu maxilar estava travado e sua expressão era dura, mas ainda assim ele era o homem mais bonito que existia e eu o amava mais do que eu podia explicar. Guardei o máximo possível de sua feição, ele não aceitaria que eu o abraçasse para guardar o calor do seu corpo contra o meu e o conforto do seu abraço. Tentei reunir o máximo de forças para sair dali, dei dois passos para a porta, e me virei, eu precisava saber de uma coisa antes de partir.

—Eu... é ... Q-q-quanto tempo vamos ficar assim? –minhas palavras eram murmúrios.

—Eu não sei, Bella. –ele disse visivelmente triste, eu assenti e senti que as lagrimas não paravam de cair. –Vou pedir para Andrew te levar aonde quer que você for.

Não disse nada contra, qualquer coisa para mim, nesse momento não importava.

—Bella? –eu me virei novamente com esperança. –Não faça nada que comprometa sua vida, certo? Se cuida. Tenha cuidado. –ele disse meio agoniado, como se aquilo lhe causasse uma dor grande.

Como ele poderia exigir alguma coisa de mim nesse momento? Mas aqueles olhos verdes... eu não poderia negar nada a eles.

—Tudo bem. –eu disse simplesmente.

Sai de seu quarto sem olhar para trás, não me preocupei em pegar nenhuma roupa, pois tudo o que estava ali era o que Alice havia comprado para mim.

Ao descer as escadas, olhei para aquela sala imensa e para a cozinha onde há algumas horas compartilhávamos de um maravilhoso jantar. Andrew já me esperava junto a porta, sua expressão era indecifrável como sempre. A dor era tão grande que eu desconhecia, parecia que estava anestesiada. Já havia passado por diversas dores, mas a qual eu estava sentindo agora, era irreconhecível. Era semelhante a dor que senti quando tive que me despedir de Nessie, uma parte de mim havia ficado com ela, e agora a outra parte com Edward. Eu não estava mais inteira e não estaria até ter ele de volta.

Andrew abriu a porta do carro para mim, e não trocamos nenhuma palavra, quando ele entrou no carro também e eu lhe pedi para que me levasse para casa de Leah. Por todo o caminho eu olhava Nova York toda iluminada e cheia de vida, enquanto eu havia perdido minha luz e minha paz, e me sentia morta por dentro. Talvez minhas ações fossem exageradas, afinal ele havia um pedido um tempo... se talvez eu pudesse acreditar nisso... Mas eu vi sua expressão, ele estava muito magoado comigo. Eu o havia traído, não o traído fisicamente, mas traído sua confiança, traído o que eu lhe prometera, que nunca mentiria para ele. Ele havia perdido a confiança em mim também. Eu era um fracasso total. E talvez tivesse perdido o amor da minha vida.

Assim que Andrew me deixou na casa de Leah, segundos depois Jacob abriu a porta para mim, ele olhou em meu rosto e pela sua expressão já havia entendido tudo. Ele me puxou para um abraço apertado, e me manteve perto de si, enquanto passávamos pela sala, se Jacob não tivesse me sustentado eu tinha caído, pois não sentia meu corpo. Jacob me fez sentar no sofá, e se sentou ao meu lado, mantendo minha cabeça em seu ombro.

—Jacob? Quem era na porta? –ouvi a voz de Leah, enquanto ela descia as escadas.

—Acho que temos visita. –ele disse no momento que ela entrou em nosso campo de visão.

—Bella!

—Oi Leah, desculpe vir sem avisar vocês, mas é que... –eu não consegui terminar de falar.

Lagrimas me invadiram de novo, eu arfei com a dor que me dilacerava por dentro. Nesse momento Leah também me abraçava, nenhum dos dois me perguntaram qualquer coisa e por um momento deixei que eles ficassem comigo, tinha medo de ficar sozinha e a dor acabar comigo de vez.

Depois de uns minutos consideráveis Leah me ofereceu algo para comer, mas eu não conseguia engolir nada, eu só queria tentar ao menos dormir, então meus amigos preparam uma cama improvisada no sofá onde eu estava bem confortável e me deixaram sozinha para que eu pudesse dormir, coisa que eu duvidava que aconteceria.

Assim que fiquei sozinha a dor me invadiu com tudo, e eu me permiti pensar o que eu estaria fazendo agora se estivesse com Edward. Talvez estaríamos fazendo amor como todas as noites, ou eu estaria abraçada a ele, enquanto dormíamos. Eu sabia que alguma coisa ruim estava para acontecer, eu sentia falta dele mesmo estando poucas horas longe, ali no escuro, sozinha, eu me permiti pensar que tudo iria acabar bem no final, ele iria voltar para mim... a dor era menor quando eu pensava assim. Foi a primeira noite que passei em claro.