Lightning Hunter escrita por LauC


Capítulo 17
Capitulo 17


Notas iniciais do capítulo

Boa noite galera! Eu não morri só para deixar bem claro, apenas tive um surto de preguiça e muita, mas muita falta de criatividade, por isso que não postei Quente como falei. E sei que deve ter pessoas com raiva por causa disso, e peço desculpas! Esse cap, foi um pouco enrolado para escrever e demorado. Já expliquei os motivos, mas para mim antes vale demorar para escrever do que escrever um cap de merda. E esse cap. prestou até kkkk.
Enfim, leiam aí, digam o que acharam, amanha mesmo ou daqui a pouco ( se não pegar no sono) posto o novo cap. pq estou super empolgada pelo o que está por vim. Na verdade o proximo e esse eram para ser apenas um capitulo, só que ia ficar mega gigante e então resolvi corta-lo no meio. Para alegria de voces kkkk.



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A quinta- feira amanheceu como qualquer outro dia. Rei e eu fomos para a escola, pegamos o máximo de anotações possíveis para o nosso simulado semana que vem, Richie não apareceu na nossa sala, acho que ele ficou depressivo com o soco de Rei. Confesso que esse pensamento me fez rir na hora do intervalo. Durante a tarde, estudamos e estudamos. Química, Física e por aí vai.

Às vezes me esqueço que estou no ultimo ano do ensino médio. Todas essas missões e lutas fazem parecer que tenho mais do que 17 anos. Na verdade, no começo essas missões eram até divertidas de fazer, porque eu adorava ser uma fora da lei e fazer a policia ficar com raiva. Lembrei-me da primeira vez que passei a perna em um policial, não era a lightning Hunter ainda, era apenas uma criança aprontando por aí.

Meu pai tinha viajado para negociar alguma coisa e eu fiquei em casa com alguns capangas. E quando menos eles esperavam, desapareci de casa e fui para a rua com o Skate em mãos. Andei horas a fio, apenas olhando as coisas, até que vi dois garotos conversando, não eram tão mais velhos do que eu, talvez uns dois ou três anos. Eles estavam encostados em um muro e olhando para o outro lado da rua, onde tinha dois policias conversando.

Aproximei-me com cuidado e me misturei entre as pessoas que passavam na rua que era movimentada, parei dois passos a trás deles e escutei a conversa. Eles estavam fazendo piadinhas sobre o chapéu dos policiais e começaram a fazer apostas para ver quem conseguiria pegar um dos chapeis. Eles não tinham muito dinheiro, mas pelo o que vi tinham juntado 5 S’s. Eu sei, não é muito, mas queria me aproximar deles de alguma forma.

Então parei do lado deles e levantei o Skate. “Se eu for eu ganho a aposta?” perguntei. Os meninos olharam desconfiados, mas apostaram que eu não conseguiria pegar, dei um sorriso de canto e pisquei para eles. “Esperem para ver”. Corri e subi no skate, atravessei a rua e passei pelos policiais, os dois nem ligaram, fiz um retorno e acelerei o passo na direção deles, os dois olharam para ver se eu não desviaria o caminho e acelerei passando no meio deles, levantei a mão e peguei um dos chapéus, o homem se virou rapidamente com as mãos na cabeça e coloquei o chapéu em mim.

Desci do skate e abri os braços, fiz uma dancinha de “ venha pegar” e ele veio atrás de mim, corri com o skate nas mãos e peguei velocidade, subi e olhei para trás o policial ainda estava correndo atrás de mim, saí da calçada e entrei na rua, havia poucos carros na rua, desviei deles e dei a volta no quarteirão até ele sumir de vista, voltei para a mesma rua e cutuquei um dos meninos nas costas. Eles me chamaram de louca, mas adoraram a ousadia, e no final peguei os meus 5 S’s.

Quando eles foram embora depois de um tempo, os dois policiais se reuniram novamente e começaram a subir à rua, em direção as lojas de roupas. Corri atrás deles e coloquei o chapéu de volta na cabeça do policial, girei o skate e fiz um Ok com o polegar, os dois policiais cruzaram o braço com raiva e balançaram a cabeça.

Pena que as coisas não estavam mais tão divertidas. Olhei para a minha perna direita e revirei os olhos.

─ Eu não aguento mais estudar ─ Falei fechando o meu livro de Física. Esperei alguma reclamação vim de Rei, e olhei para o lado, ela já estava no quinto sono. Já fazia 3 dias que estávamos estudando direto. Hoje por assim dizer era Sexta, 20 horas. ─ Depois fala de mim.

Fiquei de pé e segurei Rei nos braços, minha perna latejou como peso e segurei-a com mais força, deitei-a na cama e a cobri com um lençol. Voltei para a sala e guardei os livros e cadernos. Coloquei um copo de água e bebi em um gole. Estava cansada, mas sem nenhum pingo de sono. Pergunto-me porque lembrei daquele dia logo agora. Passei a mão na nuca e suspirei.

─ Acho que vou dar uma volta ─ Entrei no quarto e troquei os shorts e a camisa folgada, por uma calça preta, regata branca e um casaco preto de capuz, calcei os tênis azuis, meti o celular no bolso e saí de casa.

Havia vários carros nas ruas, andei calmamente pela calçada, passei pelas lojas de roupas e de comidas. Minha perna direita reclamava por não esta usando a bengala, mas eu acho que precisava me acostuma com aquela dor, já que achava que ela não iria desaparecer. Mas a realidade não me deixou ir muito longe, escalei o parapeito de um supermercado e relaxei a perna.

Não dava para ver as estrelas de onde estava, muita luz artificial impedia isso. Mas a brisa noturna era boa, fechei os olhos e deixei o vento me abraçar. Aquilo era refrescante e antes que notasse, acabei tirando um cochilo e só acordei quando escutei um barulho que era muito familiar. Dei um pulo ficando de pé atenta, e vi dois caras saindo do supermercado, um com a arma na mão e o outro com um saco de dinheiro. Acho que o supermercado estava lucrando bem.

Os dois entraram em um carro cinza e dispararam rua acima, escutei o barulho de sirenes e olhei para trás, parece que acionaram o alarme a tempo, pois vinham duas viaturas da policia. Um homem careca saiu do supermercado, bem na hora que uma das viaturas parou.

─ Eles fugiram em um carro cinza ─ Disse nervoso, um dos guardas falou no comunicador e a outra viatura passou na frente.

─ Tem mais detalhes? ─ Perguntou um dos policiais.

─ Era um Golf cinza, sem placa ─ Gritei, os dois olharam para mim e cerraram os olhos. Mas o policial falou alguma coisa no comunicador e voltou a olhar para mim.

─ Poderia ter feito algo né, Lightning Hunter ─ Disse descendo do carro e colocando as mãos na cintura. ─ Ou você só sabe cometer crimes?

─ Como sabe que sou eu? ─ Perguntei o encarando de olhos azuis.

─ Só conheço uma pessoa de preto que fica em telhados ─ Disse dando de ombros.

─ Isso é verdade ─ Concordei dando de ombros. ─ E respondendo a sua pergunta. Esse não é o meu trabalho.

Dei um passo para trás e gritei com um sorriso no rosto.

─ Se não for ajudar seus parceiros, eles vão fugir!

Desci do telhado e comecei a correr na direção que tinha ido o carro. Cheguei á um cruzamento e não vi nada, fechei os olhos e me concentrei, virei o rosto para a direita e escutei um barulho de sirene ao longe. Respirei fundo e apertei o passo, corri o mais rápido que podia, minha perna reclamou, mas a animação superava a dor.

Os sons da sirene foram aumentando. Escalei um prédio e cerrei os olhos, localizei o carro há vários metros de mim, olhei para as ruas em volta e calculei qual o melhor trajeto que ele iria e qual era o melhor para eu alcança-lo.

Desci do prédio e caí de joelhos no chão, minha perna direita tremeu e respirei fundo.

─ Aguenta aí ─ Falei e comecei a correr novamente. Ignorei a dor e me concentrei, cortei rua atrás de rua, e a sirene foi ficando mais alta. O capuz tinha caído e meus cabelos balançavam ao vento. Senti uma linha de suor percorrer o meu pescoço e senti um sorriso surgir em meu rosto.

Dobrei para a direita e entrei na rua principal, coloquei o capuz de volta na cabeça e olhei para o lado, carros passando e mais a frente consegui ver o pisca da sirene. Apertei o passo quando um sinal estava quase abrindo e entrei na rua, escalei um carro e depois outro, até chegar no da frente. O sinal abriu e o carro disparou, mais a frente estava o carro da policia e o dos ladrões.

Me abaixei e coloquei meu rosto na janela do motorista, ele tomou um susto e quase bateu o carro.

─ Ohhh, cuidado aí cara! ─ Gritei por causa do vento.

─ Que diabos você está fazendo?

─ Segue o carro da policia! ─ Gritei ignorando a pergunta dele.

─ E por que eu faria isso? ─ Gritou com as sobrancelhas levantadas.

─ Por que eu posso fazer você dar uma voltinha no hospital, agora corre!

Ele engoliu em seco e pisou fundo no acelerador. Eu não ia machucar ele, apenas uma leve chantagem. Rapidamente ele alcançou o carro da policia que estava logo à frente.

─ Fique do lado! ─ Ele obedeceu e acelerou, os policiais estavam tão atentos com a perseguição que não me viram pulando em cima do teto do carro deles. O carinha freou o carro e olhou para mim de olhos arregalados, dei um sorriso e um Ok para ele.

Fiquei de pé sobre o carro e olhei para o carro dos fugitivos, estavam próximos. Massageei minha perna e engoli em seco. Isso seria divertido. Senti a mesma sensação que senti no dia que peguei o chapéu. Afastei os pés e tomei impulso, pisei sobre o capo do carro e pulei em direção ao Golf.

O Golf estava mais longe do que eu pensava, de forma que tive que realizar uma façanha para cair no teto dele. Estalei o dedo e fiz o carro desligar para diminuir a velocidade e usei eletricidade para fazer meu corpo parar em cima do carro. Os ladrões deram uma acelerada no carro e eu fiquei de pé.

Olhei para frente e depois para trás, os dois policiais olharam para mim sem entender nada. Coloquei minhas mãos na cintura e fiz uma dancinha para eles, quase pude escutar a musica Chain Hang Low do Jibbs na minha cabeça. Dei uma batinha na janela do motorista e os ladrões olharam com medo para mim, e a primeira coisa que fizeram foi apontar a arma na minha direção.

─ Relaxa ai brother! ─ Gritei, e eles cerraram os olhos. ─ Vou ajudar vocês a fugirem.

─ Cara abaixa a arma, ela é a Lightning Hunter ─ Disse o motorista. E o outro fez que sim e guardou a arma. ─ Ela vai ajudar a gente. A grana tá no papo.

─ Eu conheço essa cidade como a palma da minha mão, daqui a 4 quarteirões vocês virem a esquerda, que vai dar em um atalho para a principal ─ Falei.

─ Beleza! ─ Disse o motorista. Fiquei de pé no carro e olhei para trás, um dos policiais estava com a arma na mão e eu levantei as duas mãos. O cara estava dirigindo bem rápido, olhei para as ruas passando e sorri ao ver que ele de fato iria dobrar na rua que indiquei, me abaixei e na hora que fez a curva, estalei o dedo e despejei eletricidade em todo o carro, fazendo os dois apagarem e o motor desligar, e o carro bater de frente ao muro.

Era um beco sem saída, fiquei de pé e desci do carro, abri a porta e tirei os dois de dentro, coloquei o saco de dinheiro no colo de um deles e escutei um carro parando logo em seguida. Olhei para trás e duas viaturas pararam. Os policiais desceram do carro com as armas em mãos, notei que um deles era o policial que falou comigo no supermercado e ele levantou as sobrancelhas.

─ Peguei os ladrões para vocês ─ Dei um sorriso de canto e cruzei os braços. ─ Eles não vão acordar tão cedo.

─ Pensei que esse não era o seu trabalho ─ Disse o policial.

─ Yeahh, mas estou legal hoje ─ Falei olhando para ele.

─ Você faz o que quiser, não é? ─ Disse cruzando os braços.

─ Claro ─ Dei de ombros e abri o casaco.

─ Não se mexa ─ Disse um outro policial. Olhei para ele e sorri. As luzes dos carros e dos portes apagaram e eu me mandei. Olhei de longe eles prendendo os dois ladrões e indo embora. Fiz o meu caminho de volta para casa, entrei silenciosamente e para minha sorte Rei ainda estava dormindo, preparei um sanduiche para comer, toda aquela corrida tinha me dado fome, tomei remédio para dor na perna e um banho. Despois disso me aconcheguei ao lado de Rei na cama.

Não consegui dormir direito, pois minha mente sempre levava ao mesmo sonho dos últimos dias. Era a mesma sequencia de imagem, meu pai e a mulher conversando, uma sala branca com uma mesa de alumínio e vários livros. E a frase se repetindo milhares de vezes na minha cabeça, estava ficando louca com o “Observe tudo, sinta tudo, cada detalhe é importante, como está chave”.

Sentei na cama e esfreguei o rosto, um profundo suspiro saiu do meu peito e olhei para o lado, Rei dormia profundamente, seus cabelos ruivos caídos sobre o seu rosto calmo. Tirei uma mecha do seu rosto e dei um sorriso de canto, peguei o meu celular e vi as horas, estava cedo ainda. Coloque os pés descalços sobre o chão frio e fui até a janela, olhei para as casas e escutei o silencio da noite.

Sentei na beirada da janela e fiquei ali observando a cidade por muito tempo, o tempo que fosse necessário para limpar minha mente de tudo. Ao longe vi uma luz de um holofote, estava tendo alguma festa por lá. Passei a mão no meu cabelo e encarei minhas tatuagens do braço. Respirei profundamente e levantei o olhar para o céu sem estrelas. Escutei Rei se mexendo na cama e uma brisa entrou no quarto. E a próxima coisa que senti foi algo me envolvendo, relaxei nos braços de Rei e ela me deu um beijo no ombro.

─ Sem sono? ─ Perguntou com a voz um pouco rouca.

─ Uhum ─ Respondi e beijei sua mão. ─ Te acordei?

─ Mais ou menos ─ Disse dando um sorriso de canto ─ A cama ficou fria.

Dei uma risada com aquilo e me virei para ela, o quarto estava escuro, mas eu podia muito bem ver seus olhos castanhos. Coloquei uma mão na sua cintura e a outra na nuca, trouxe o seu rosto para mais perto e beijei seus lábios lentamente, envolvi minha mão em seus cabelos, minha língua brincou com a sua, em uma dança calma e romântica, igual à valsa. Retirei sua camisa e a deitei na cama.

Suas mãos tocaram minhas costas e eu retirei minha blusa, senti o seu toque sobre as minhas cicatrizes e tremi, abri os olhos e me deparei com olhos vermelhos brilhando, Rei deu um sorriso tentador e levantei uma das sobrancelhas. Pressionei meus lábios contra os seus e a beijei mais profundamente, nossas línguas pareciam tramar uma batalha para ver quem dominaria quem. Meu coração batia em um ritmo inconstante, e meu peito parecia que estava em chamas, afastei-me o suficiente para respirar e percebi que Rei fez o mesmo.

Coloquei minha mão no seu rosto e encarei aqueles olhos brilhantes, dei um sorriso e a beijei novamente, mas dessa vez não parei, suas mãos brincavam em volta do meu corpo, mordi seus lábios e deslizei a língua por eles, toquei seu queixo e desci até o seu pescoço. Brinquei com a sua tatuagem provocando arrepios, sua pele parecia que estava pegando fogo, as mãos dela acariciavam minhas tatuagens me fazendo ter a mesma sensação que a dela, Rei tinha uma obsessão por elas. Dei um riso e prendi as suas mãos sobre a sua cabeça, beijei-a novamente e mais uma vez tramamos aquela batalha, mas então Rei fraquejou e eu a dominei.

Meus lábios percorreram todo o seu corpo, tracejei uma linha desde seus ombros até a sua barriga, beijei cuidadosamente a sua cicatriz e escutei um gemido abaixo de mim, nunca pensei que meu corpo ficaria tão feliz em escutar esse barulho. Seus olhos estavam fechados e sua pele arrepiada. Ela era minha, apenas minha.

Escutei meus pensamentos com um sorriso nos lábios e percorri todos os cantos daquele lindo corpo com minha boca e mãos. Dei o máximo de prazer que poderia dar a pessoa que amava, não sei quanto tempo se passou, apenas sabia que o sol já estava nascendo, enchendo o quarto de luzes douradas. Rei estava exausta e me olhava com um brilho nos olhos do qual nunca tinha visto antes em toda a minha vida, meu coração bateu rapidamente reconhecendo que estava com a pessoa mais do que certa para mim. Afastei uma mecha de cabelo que estava sobre o seu rosto, dei um sorriso de felicidade e olhei para os seus olhos, nos encaramos por um momento em silencio, quase enxergando a alma uma da outra e encostei minha testa a sua.

─ Eu te amo ─ Sussurrei enquanto fechava os olhos. Rei deu um grande suspiro e engoli em seco, não sabia qual seria a sua reação, na verdade nem tinha pensado antes de dizer isso, apenas tinha saído. Abri os olhos e Rei me olhava com um sorriso enorme, seus olhos tinham tornado a serem castanhos, ela me puxou para um beijo lento e enterrou o rosto nos meus cabelos negros, que caiam ao lado do meus rosto. Não precisei escutar nenhuma palavra de sua boca, apenas a abracei e descansei sobre a cama.

Em poucos minutos adormeci em seus braços e tive uma “boa noite de sono”. Acordei com o cheiro de comida, e não tem jeito melhor de acordar do que sentindo um cheiro bom, esfreguei os olhos e notei que já era de tarde, ou ao menos 1 hora da tarde, a janela do quarto estava fechada e a cortina estava impedindo da luz do sol invadir o quarto. Espreguicei-me e sentei na cama, cocei a nuca e puxei o lençol para me cobrir, o quarto estava frio.

─ Está fazendo o que? ─ Perguntei alto.

─ Almondegas! ─ Respondeu.

Levantei da cama e fui até o banheiro, escovei os dentes e fui tomar um banho, lavei meus cabelos e fiquei brincando com a espuma do shampoo por alguns minutos e me enxaguei, peguei a toalha, sequei meus cabelos e depois me enrolei nela. Dei uma piscada para o meu reflexo no espelho e saí, peguei um par de roupas limpas e fui até a cozinha.

O cheiro estava bem melhor, dei um beijo na sua bochecha e olhei para o que Rei estava preparando.

─ Tá com uma cara ótima ─ Falei olhando para as almondegas.

─ Espero que o gosto esteja o mesmo ─ Disse me dando um olhar divertido.

─ Aposto que vai estar ─ Comentei dando uma piscadinha, andei até o sofá e liguei a Tv, estava passando o jornal, nada de sério tinha acontecido nos últimos dois dias.

─ Mas então ─ Rei começou a falar, virei o rosto na sua direção e esperei ─ O que vamos fazer hoje?

─ O que quiser ─ Respondi dando de ombros.

─ O que eu quiser? ─ Disse pensativa, levantei as sobrancelhas esperando algo estranho vim. ─ Não faço ideia.

─ Não? ─ Perguntei surpresa. Ela concordou com a cabeça. ─ Que tal cinema? Ou uma volta no parque?

─ O parque é uma boa opção ─ Falou colocando a mão no queixo. ─ Sua perna aguenta a caminhada?

─ Claro que aguenta ─ Revirei os olhos para aquela pergunta, ia doer um pouquinho, mas valeria a pena.

─ Então, não vamos estudar hoje?

─ Não, amanhã revisamos tudo ─ Desviei o olhar da Tv e dei um sorriso para ela. ─ Vamos tirar o dia de folga.

─ Estamos precisando mesmo ─ Disse sorrindo de volta. O almoço demorou uns 10 minutos para ficar pronto, nos servimos e as almondegas estavam uma delicia. ─ Sabe, apesar de meu almoço está uma delicia, sinto falta de comer a sua comida.

─ Dá próxima vez eu cozinho ─ Prometi balançando o garfo na sua direção.

─ Beleza.

Lavamos os pratos e ficamos no sofá descansando, até dá umas 15 horas, e então arrumamos uma mochila com um lençol, alguns sanduiches e suco, uma almofada pequena e saímos de casa. Rei levou a mochila nas costas sem nenhum problema, enquanto eu andava com minha terceira perna.

O Parque ficava longe de onde morávamos, esperamos por um ônibus e 15 minutos depois descemos na parada, que ficava a 4 ruas do parque. As ruas por ali não eram tão movimentadas, de forma que a área tinha um ar diferente, mais calmo e limpo, apesar de saber que não era tão limpo quanto minha mente imaginava.

Conforme nos aproximávamos, as cerca de madeira que envolvia o enorme parque aparecia. Diferente de alguns parques que possuíam grades de metal em volta ou daqueles que não tinham nenhuma, a cerca de madeira dava um ar totalmente diferente ao local.

─ Estou começando a achar que foi uma boa escolha em vir para cá ─ Comentei. Rei concordou com a cabeça e andamos lentamente em direção à entrada. A entrada em si era simples, havia uma pista asfaltada a esquerda e a direita um gramado bem verde, e no meio dele o nome “ Skill Park” feito em madeira.

─ Por acaso trouxe o celular? ─ Perguntou Rei, fiz que sim com a cabeça, meti a mão no bolso da calça e o entreguei. ─ Acho que devemos bater algumas fotos para comemorar o nosso dia de folga.

─ Não seria uma má ideia ─ Falei dando de ombros e indo para perto da placa. ─ Afinal, não é todo dia que temos um dia calmo.

─ Com toda a certeza ─ Disse sorrindo, um casal se aproximou conversando e Rei acenou para o rapaz se aproximar. ─ Pode bater uma foto nossa?

─ Sem problemas ─ Respondeu o rapaz, Rei correu ao meu lado e deu um enorme sorriso para a câmera, e eu apenas dei um sorriso normal. ─ Prontinho.

─Valeu ─ Rei pegou o celular de volta e segurou o meu braço esquerdo. ─ Vamos continuar o passeio.

A pista conforme andávamos, ia se estreitando e entrando em uma floresta mais fechada. Havia ciclistas, skatistas e várias outras pessoas andando por lá, então depois de uma caminhada de 5 minutos a pista acabou e um longo caminho de madeira se abriu diante de nós, era como uma passarela no meio da floresta, tanto o piso quanto os parapeitos eram feitos de madeira, as arvores de troncos marrons e as folhas verdes faziam uma linda paisagem.

Rei pediu para tirar uma foto dela, e depois foi a minha vez. Algumas pessoas olhavam para gente como se fossemos turistas no local, e a cada olhada apenas riamos. A madeira abaixo de mim fazia um Toc quando a minha bengala batia no chão, o que era estranhamente engraçado, por que meio que me senti uma velha. Era um longo caminho por ali, um grupo de jovens passou pela a gente e dois garotos deram um olá com as mãos, o que fez nós duas levantamos as sobrancelhas.

O caminho foi se abrindo e então entramos no centro do parque, onde a pista de asfalto ia no meio, enquanto que a esquerda tinha uma grande extensão de grama, com varias arvores, bancos e mesas de madeira. E a direita alguns metros de gramado com arvores, até chegar ao lago, que era envolto da mesma cerca de madeira que envolvia todo o lado externo do parque.

Rei estava adorando bater fotos do lugar. Andamos calmamente pela pista, sentamos um pouco em um dos bancos que ficava sobre a sombra de uma árvore, relaxei o peso da perna e apreciei a paisagem.

─ Definitivamente foi uma boa escolha ─ Rei sussurrou ao meu lado. Dei um sorriso e segurei a sua mão, ela olhou para baixo e depois para mim, me deu um beijo na bochecha e levantou o celular batendo uma foto.

Ficamos vários minutos no mesmo lugar, até que levantei e estendi minha mão para ela, e recomeçamos o nosso passeio. Em um momento da caminhada a trilha se aproximava do lago e nos permitia ver a água de mais perto, alguns casais e familiares, andavam de barcos pedalinho com formatos de gansos e barcos no lago.

Andamos mais um pouco para enfim chegarmos ao lugar que gostava mais. Depois do lago a trilha se bifurcava, uma iria dar a volta em todo o parque e terminava na entrada do mesmo, e o outro, o da esquerda, iria levar para um campo com várias árvores altas. Acenei para pegarmos a da esquerda e entramos na trilha que se fechou com árvores densas ao redor por alguns minutos e logo se abriu em um campo com várias árvores de folhas amarelas, lembrando muito como as árvores ficam no outono, tinham poucas pessoas ali e a maioria estava fazendo um piquenique sobre as sombras das árvores.

─ Sempre me esqueço como aqui é bonito ─ Comentou Rei pegando o celular.

─ Pois é ─ Concordei, olhei em volta e puxei a mão de Rei, caminhamos sobre a grama verde e as folhas amarelas até um lugar mais distante e bem refrescante. ─ Vamos ficar aqui.

─ OOOh, ótimo lugar ─ Disse largando a mochila no chão.

─ Valeu ─ Dei um sorriso e coloquei as mãos na cintura. O lugar era perfeito, estávamos sobre a sombra de uma das árvores amarelas, a frente dela tinha outras árvores que se misturavam com as de folhas verdes, o que dava um tom totalmente diferente dos outros. Ajudei Rei a estender o lençol na grama e nos deitamos.

Ficamos deitadas apreciando a paisagem por um longo tempo, afinal, estava tão bom ali que não me importava de ser 16 horas da tarde ou 21 horas. Minhas costas estavam encostadas no tronco da árvore e o ombro de Rei tocava o meu gentilmente, passei a mão em seus cabelos vermelhos e ela suspendeu o olhar em minha direção. Mandei um sorriso de canto para ela e segurei o seu queixo.

Dei uma rápida olhada para trás e não vi ninguém próximo da gente, trouxe seus lábios para os meus e beijei carinhosamente, as mãos de Rei tatearam sobre o lençol a procura do celular e depois de finalmente acha-lo começou a tirar uma sequencia de fotos de nós nos beijando. Eu pouco me importei, estava mais preocupada com outra coisa, depois de uma serie de fotos, segurei a sua mão e coloquei o celular de lado.

Rei levantou as sobrancelhas e se moveu, sentando no meu colo, encarei os seus olhos castanhos, envolvi a sua cintura com e diminui a distancia entre nós. Rei me beijou com afinco, uma de suas mãos subiram até a minha nuca e eu sorri, ela deu um sorriso também e beijou o meu pescoço, fechei os olhos por um momento e virei o rosto. Aquilo era bom, muito bom.

Abri os olhos novamente e percebi que tinha um casal nos observando não muito longe, enquanto arrumavam o lençol na grama. Dei uma gargalhada alta, fazendo Rei parar o que estava fazendo e olhar para mim sem entender, apesar de estar com um sorriso no rosto.

─ Temos audiência ─ Falei inclinando a cabeça para o lado, Rei seguiu a minha dica e nós duas encaramos o casal que estava nos encarando de volta, Rei levantou a mão e deu um tchauzinho para eles, os dois acenaram de volta totalmente envergonhados e nós duas caímos na risada.

Deitamos no lençol rindo por um bom tempo, até que senti a minha barriga doendo e não era de rir. Olhei para Rei que tinha lágrimas nos cantos dos olhos, toquei o seu rosto e ela me observou atentamente, beijei a sua testa e sentei.

─ Acho que está na hora de comermos esses sanduiches ─ Falei puxando a mochila.

─ Eu tinha até mês esquecido deles ─ Disse se sentando também. Tirei os sanduiches e o suco, que não estava mais tão gelado quanto antes. Tinha ao todo 6 sanduiches, entreguei um para ela e peguei um para mim.

─Devíamos fazer mais isso ─ Comentou dando uma mordida no sanduiche de atum com salada. ─ Acho que nunca me diverti tanto quanto hoje.

─ Tenho que concordar ─ Dei uma mordida no meu e olhei para as arvores balançando ao vento.

─ A nossa vida é tão bagunçada que as vezes esqueço que somos adolescentes ─ Disse, olhei para ela surpresa, pois tinha pensado isso a pouco tempo, Rei estava olhando para frente, não olhou para mim, mas tinha quase certeza que ela sabia que eu a estava observando. ─ E que não aproveitamos a vida o tanto quanto deveríamos.

Fiz um sinal positivo com a cabeça e olhei para o céu azul, um vento nos envolveu por um momento, fazendo os nossos cabelos sacudirem. Comi o resto do meu sanduiche rapidamente e dei um gole no suco de laranja.

─ Yeah, mas somos quem nós somos ─ Falei olhando para as árvores, dessa vez foi a vez dela de me encarar, mantive meu rosto reto e suspirei. ─ Cada um tem as suas oportunidades na vida, nós apenas não fomos tão abençoadas quanto os outros.

Dessa vez olhei para ela de canto e ficamos nos encarando por alguns segundos, eu sabia que ela tinha entendido o que eu tinha dito. Nenhuma de nós nasceu e cresceu com uma família, a rua foi a nossa casa, e por mais incrível que pareça, nossos destinos se entrelaçaram, antes inimigas mortais, agora amantes, lutamos para ter o que conquistamos, apesar de não ser muito. Fizemos merdas, sim, mas foram essas merdas, essas experiências de merdas, que nós tornaram o que somos hoje. Rei respirou fundo e pegou outro sanduiche, comemos em silêncio até que todos os sanduiches acabassem. Deitamos abraçadas no chão e adormecemos.

Acordei com um vento frio nas pernas, pisquei e percebi que não estava mais tão claro quanto antes, era por volta das 18:30. Inclinei-me e dei um beijo na ruiva ao meu lado.

─ Ei acorda ─ Falei tocando o seu ombro, ela se mexeu e me deu um olhar com sono. ─ Nos dormimos, já é 18:30.

─ Humm ─ Se sentou e esfregou os olhos, enquanto ela ainda acordava, guardei nossas coisas na mochila e a ajudei a levantar, dobrei o lençol e ela pegou a mochila de mim, segurei a minha bengala com punho de metal e partimos.

Não havia mais tantas pessoas no parque, a maioria estavam indo embora, as luzes estavam acessas e estava frio. Pegamos o caminho de volta e chamamos um taxi para voltar para casa. Como tínhamos acabado de acordar não dormiríamos mais tão cedo hoje, ficamos assistindo filmes e jogando jogos idiotas, mas a melhor brincadeira foi a que jogávamos um dado e devíamos seguir o que o dado dizia. Vamos apenas dizer que foi um jogo muito malicioso. Só então, capotamos na cama, que por sinal era de solteiro, e fiz uma nota mental de ter que ir comprar uma de casal.

No dia de domingo não saímos de casa, Grey apareceu para ver se estávamos estudando realmente, disse que não poderia nos ajudar com muita coisa, pois tinha esquecido de quase tudo, mas tentava ajudar quando dava, ficamos conversando horas a fio com ele. Grey estava sendo um bom funcionário na loja, o chefe se impressionava com a habilidade dele de consertar os equipamentos eletrônicos, mal sabia ele que ele tinha poderes.

Se bem que seria totalmente normal ter um funcionário com poderes na nossa cidade, afinal ela era tão grande como New York, de forma que era mais difícil você encontrar alguém que não tinha poderes. Apesar de terem muitos também, que vinham de outros países em busca de um emprego melhor, aventura e até mesmo na esperança de conseguirem algum tipo de poder.

O dia foi, a noite veio, e assim mais um dia terminou. Acordei com a luz do sol atravessando a cortina do quarto, levantei da cama e olhei as horas, Rei estava dormindo profundamente, toquei os seus ombros e beijei sua bochecha.

─ Tome o seu banho, vou preparar o café da manhã ─ Sussurrei no seu ouvido, deu um sinal positivo com a cabeça e sai do quarto, peguei os ingredientes para fazer panquecas e comecei a preparar a massa. Escutei Rei ligar o chuveiro e cocei a nuca o dia provavelmente seria longo hoje, de manhã teríamos aula e de tarde o simulado.

Depois de alguns minutos terminei de preparar as panquecas e as coloquei na mesa, junto com o café com leite, Rei foi comer e eu fui tomar um banho rápido. Foi mais um banho de gato mesmo, vesti o meu uniforme, afrouxei a gravata um pouco e coloquei a jaqueta por cima. Sentei-me e tomei café com Rei, que estava comendo muito devagar me esperando, depois apenas engoliu tudo rapidamente. Escovamos os dentes e botamos o corpo para andar em direção ao colégio.

A manhã foi calma, tivemos algumas mudanças nos horários das aulas, trocaram historia por química, física por educação física, acrescentaram informática. Conversamos um pouco com Dana e Beatrice, e ficamos sabendo que amanhã seria o aniversário de 50 anos da cidade, a data que nós duas esquecemos por completo, não teríamos aulas amanhã por causa do festival que teria na cidade.

Quando ficamos sabendo disso, Rei e eu apenas nos entreolhamos, amanhã seria um ótimo dia para ficar em casa, a cidade estaria cheia de policiais e agentes, e eu tinha uma leve sensação de que estariam esperando por algum tipo de tragédia, vinda por mim principalmente. Apesar de não ter nenhum plano para amanhã, a não ser fingir que estava ocupada em casa.

A tarde chegou e nos dirigimos para a uma sala de aula no primeiro andar do colégio, havia mais duas outras pessoas lá, dois garotos, um de cabelos pretos, com escuras olheiras, parecia que não tinha dormido há dias. E o outro tinha os cabelos castanhos que batiam no ombro, olhou para nós, e pude perceber que ele estava muito pálido, seus lábios estavam brancos, quase abri minha boca para perguntar se ele estava bem, quando a professora de química entrou na sala com 4 blocos de cadernos com umas 20 paginas cada, olhou para cada um de nós e suspirou.

─ Bem, vejo que todos estão aqui, como o caso de vocês é especial, possuem o direito de fazer um simulado, então respondam, me entreguem e caiam fora ─ Disse entregando um caderno para cada um de nós e se sentando na mesa da frente. “Simpática” foi o que consegui pensar, ela deu um aceno e abrimos o caderno.

Comecei por física, então história, química e todas as outras matérias. Depois de algum tempo, esfreguei as costas e com a caneta na boca li a primeira questão de Habilidades. A escola tinha uma matéria especifica para alunos com poderes, que servia como base para treina-los e a terem responsabilidades, só que bem, como nos meus dados da matrícula não constavam que tinha poderes, não precisei pagar essa matéria, consequentemente Rei também. Só achei estranho o fato de ter que responde-las, mas as fiz mesmo assim.

Depois de umas 3 horas de prova, nós quatro entregamos os cadernos e fomos embora. Nos duas debatemos algumas questões em meio ao caminho de casa, comemos um lanche no meio do caminho e ficamos assistindo alguma coisa na Tv. Mas na maior parte do resto do dia, somente dormimos, o cansaço dos estudos finalmente nos alcançou.

A próxima coisa que escutei foi uma explosão, dei um salto da cama e levantei os punhos, meus olhos ficaram azuis e olhei em volta rapidamente, a porta do quarto estava fechada, Rei estava sentada na cama igualmente assustada, então de novo ouvimos outra explosão e puxei a cortina da janela.

─ Malditos fogos de artificio! ─ Exclamei com raiva ao ver a fumaça.

─ Ahh ─ Gemeu Rei deitando de volta na cama. ─ Que horas são?

─ Deixa eu achar o celular ─ Falei olhando para o chão e o vendo debaixo da cama. ─ Três da tarde.

─ Tudo isso?

─ Tudo isso ─ Repeti e deitei de volta na cama, passei meu braço por cima dela e encostei meu rosto no seu pescoço. ─ Vamos voltar a dormir.

─ Uhum ─ Concordou se aconchegando em mim. Depois de alguns minutos peguei no sono novamente e alguma coisa começou a tremer a minha frente. ─ Que diabos é isso?

─ Hã? ─ Perguntei sonolenta

Rei se afastou e tateou a cama a minha frente. Abri os olhos lentamente e a vi com o meu celular nas mãos, com uma cara levemente irritada.

─ Que foi?

─ Mensagens e ligações ─ Disse mexendo no celular. ─ De Dana.

─ Dana? O que ela quer? ─ Perguntei abraçando o lençol que me cobria. Rei leu as mensagens e suspirou.

─ Está chamando você para ir ao festival, Beatrice está lá também.

─ Nem a pau ─ Falei virando o rosto para a janela e outro fogo explodiu.

─ Ela ainda diz que quer conversar a sós com você ─ Dessa vez olhei para Rei com a sobrancelha levantadas e ela olhou para mim com uma raiva estampada. ─ O que diabos ela quer falar com você a sós?

─ Eu vou saber ─ Falei sentando na cama rapidamente e dando de ombros. ─ Talvez ela tenha descoberto que sou a Lightning Hunter, ou quer saber como que eu não reprovo nas matérias.

─ Ou quer se declarar para você ─ Disse me olhando com olhos de águia.

─ Definitivamente não ─ Cortei ficando de pé, ajeitei minha camisa amassada ─ Isso é mais provável de ser a Cloe do que Dana.

Rei me olhou ainda com mais raiva e eu respirei fundo, passei por ela e fui até o banheiro.

─ Não importa, eu não vou mesmo assim ─ Falei alto, enquanto lavava o rosto na pia. ─ Sem dizer que aquele lugar vai estar cheio de policiais.

Enxuguei a cara na toalha e parei na porta do banheiro, Rei estava digitando algo no celular.

─ O que está digitando? ─ Perguntei me aproximando e parei ao lado dela. Rei tinha acabada de apertar enviar.

─ Eu disse que você iria ─ Disse olhando para mim.

─ O quê? ─ Exclamei alterada. ─ Não vou pra lugar algum.

─ Vai sim ─ Disse colocando a mão no meu ombro e me entregando o celular. ─ E eu também, quero saber o que ela tem a dizer, pra depois chutar a bunda dela.

Olhei para o rosto dela para ver se estava falando serio e seus olhos estavam vermelhos. Merda. Fui até o guarda-roupa e escolhi alguma roupa, larguei-a sobre a cama e Rei entrou no banheiro.

Depois de vários minutos estava nós duas descendo a rua em direção ao centro da cidade. Rei estava de jeans, uma camisa vermelha de manga curta e uma jaqueta branca, tênis vermelhos. Já eu estava com uma camisa de manga cumprida preta e branca, jeans e tênis azul. Rei andava emburrada ao meu lado, mas não soltava a minha mão nenhum minuto.

O centro da cidade estava tomado por pessoas, havia lojas de roupas abertas, muitas barracas de comida e bugigangas em diversas ruas, vimos algumas viaturas da policia estacionadas nas esquinas, andamos por mais uns 5 minutos e localizamos Dana com Cloe, e Beatrice com Logan, um pouco mais adiante vi Gaby, a garota do teletransporte, comprando um churros. Nenhum deles tinham nos visto ainda e continuei a minha averiguação no local.

E parece que tinham colocado um localizador na minha cabeça, pois comecei a achar pessoas até demais. Em uma barraquinha de tiro estava Sam, sua cabeleira loira estava escondida sobre um chapéu preto, como se sentisse a minha presença olhou na minha direção e eu larguei a mão de Rei imediatamente. Ele deu um sorriso para mim e acenou com a cabeça, engoli em seco e fingi não o ver.

Não muito distante dele, estava Phanix conversando com uma garota de cabelos longos, seu cachecol vermelho envolta do seu pescoço elegantemente, a garota parecia se divertir com o que ele estava dizendo, dois policiais passaram por eles e ele olhou na minha direção. E virei o rosto. Eu não queria ter que encontrar com mais ninguém, mas parecia que quanto mais eu pedia para não achar, mais eu reconhecia alguém.

Dei um passo para o lado permitindo que dois caras passassem pela gente, e percebi que um deles era o Detetive Borns, seus olhos cerrados me observaram por um decimo de segundo e continuou a seguir o seu caminho. Olhei para o ultimo lado que não tinha olhado e senti um arrepio percorrendo minhas costas, quando meus olhos se encontraram com os da Diretora dos Agentes, seus olhos verdes brilhantes me encararam por um tempo e deu um sorriso. Ao seu lado estava Ice falando alguma coisa para ela.

Pelo amor de Deus!! Quanto tempo eles demorariam pra perceber que aquele local estava cheio de criminosos?

─ Sora? ─ Escutei Rei ao meu lado, olhei pra ela nervosamente e limpei o suor que escorreu pela minha nuca. ─ Tudo bem?

─ Não ─ Sussurrei, tinha a sensação de que todos estavam me encarando ─ Mas vamos logo, antes que eu surte.

Andei a passos apressados até onde estavam Dana e os outros, eles deram um sorriso ao me verem, e deram um sorriso falso para Rei. Rei deu o mesmo tipo de sorriso, acho que o sentimento era reciproco.

─ Então, como estão? ─ Perguntei.

─ Bem ─ Disse Beatrice.

─ O festival está massa ─ Completou Logan cruzando os braços.

─ Tem o que para fazer aqui? ─ Perguntei por educação, por que meus sentidos estavam loucos apitando para arredar o pé o mais rápido possível.

─ Comer ─ Respondeu Gaby se aproximando de nós, Rei e ela se encararam por um momento e engoli em seco, com medo de as duas se matarem ali mesmo. Mas Gaby deu um aceno com a cabeça, como se dissesse “beleza?” e Rei fez o mesmo, respondendo “tudo”.

─ Tem alguns jogos, videogames mais adiante ─ Disse Cloe, seus olhos azuis me deram um sorriso e eu cocei a nuca, olhei para Rei que observava tudo.

─ Acho que vamos comer alguma coisa primeiro, certo Rei? ─ Perguntei colocando a mão no seu ombro. Ela levantou o olhar para mim e abriu a boca para falar algo e eu a puxei pela mão. Andamos rapidamente até uma barraca de espetinho.

─ Por que diabos está tão nervosa? ─ Falou curiosa e irritada.

─ Não sei se notou... quero 3 espetinhos ─ Pedi ao cara que estava cuidando da barraca, e voltei a falar para ela. ─ Mas esse lugar está cheio de tiras, agentes, e claro os gangsters que eu trabalhei. Então, yeah, eu estou nervosa de que a qualquer momento uma bomba estoure no meio de tudo isso. ─ Sussurrei alterada no seu ouvido. Virei para o cara que estava com os espetinhos levantados na minha direção e os arranquei da sua mão, entreguei-os para Rei e tirei o dinheiro do bolso.

─ Serio? ─ Disse surpresa com a minha reação.

─ Serio ─ Falei cruzando os braços a frente do corpo, Cloe e os outros se aproximaram da gente e peguei um dos espetinhos.

─ Então, o que querem fazer? ─ Perguntou Cloe olhando para nós. Dei de ombros e Rei engoliu o que estava mastigando.

─ Jogos?

─ É uma boa ideia ─ Concordou Logan dando um sorriso de canto. ─ Estou a meia hora querendo ir naquele jogo ─ Disse apontando para o jogo de tiro, Sam não estava mais lá.

─ Então vamos para lá ─ Disse Bea o arrastando naquela direção. Olhei para Rei e ela já estava devorando o ultimo espeto, acenou com a cabeça para segui-los e o fiz.

─ Relaxa ok? ─ Sussurrou aproximando o seu rosto do meu. ─ Não vou deixar nada acontecer com você.

─ Se você diz ─ Dei um sorriso de canto para ela e tentei manter meus nervos no lugar. Logan tinha comprado algumas fichas, Dana e Gaby, jogaram também. O jogo era simples, quem acertasse mais latinhas ganhava um premio, e o premio máximo era um PS4. Quem começou foi Logan, ele acertou cerca de 21 latinhas.

─ Nada mal ─ Disse Gaby dando um tapinha no seu ombro. ─ Mas aprenda com as melhores. Rei e eu observamos a competição entre eles, a cada tiro certo fazíamos uma exclamação de surpresa, apenas pra entrar no tom da diversão. Gaby acertou cerca de 25, Dana fez 29, até mesmo Beatrice tentou, acertou 25. Olharam para Rei e eu e estenderam duas fichas.

─ Sua vez ─ Disse Logan estendendo uma ficha para mim, olhei para a mão dele e dei um sorriso sem graça.

─ Tem certeza? ─ Perguntei, ele fez que sim com a cabeça, tomei a ficha da sua mão e peguei a arma, que era uma espingarda. Era um pouco pesada, mais nada que não tenha usado antes. Olhei para Rei e ela estava com outra na mão. ─ Você vai primeiro ou eu?

─ Você primeiro ─ Disse dando um sorriso.

─ Ok ─ Falei e fiquei em posição. Olhei para as latinhas e levantei o braço, não demorei a pensar muito, puxei o gatilho, uma latinha caiu, movi alguns centímetros para o lado e atirei novamente. Dei um passo para o lado e continuei a atirar nas latinhas, quando as balas acabaram, o dono me deu mais, teria o tanto de balas fossem necessárias até errar. Tinha perdido a conta de quantas tinha acertado, e só parei quando um dos meus tiros passou a centímetros de uma latinha, o que foi até razoável, porque comecei a ter vislumbres do dia que fomos sequestradas e o monte de caras que tinha matado. Limpei o suor na minha testa e abaixei a arma. ─ Acho que agora errei. Quantas latinhas?

─ Uau ─ Ouvi Cloe dizer as minhas costas, virei para ela e dei um sorriso.

─ 54 ─ Disse o dono da barraca, olhei para ele, tinha uma expressão surpresa no rosto. ─ Um recorde.

─ Ha! ─ Rei exclamou se aproximando do balcão ─ Espero que o senhor tenha balas e latinhas o suficiente.

Entreguei a arma para o dono, e ele começou a colocar de volta as latinhas rapidamente, Rei lançou uma piscadela para mim e dei um sorriso de canto. Eu era boa com armas, mas era ela que tinha uma Desert Eagle.

Rei foi mais rápida do que eu, ela recarregava e apertava o gatilho sem pensar duas vezes, seus braços e pernas se moviam com rapidez em uma posse impecável. Em poucos segundos vi várias latinhas caindo no chão, Rei tinha um sorriso no rosto, outras pessoas se juntaram para ver o que ela estava fazendo. Cruzei os meus braços e observei todos ficarem surpresos com a sua habilidade. E então ela deu um ultimo tiro que acertou duas latinhas ao mesmo tempo. Se virou para trás e deu um sorriso desafiador.

─ Aprendam com a melhor ─ Disse. E então todos bateram palmas. Tinha derrubado todas as latinhas, o que eram cerca de 80.

─ Caramba, você é ótima! ─ Dana disse totalmente surpresa.

─ Ótima é pouco ─ Concordou Gaby com a mesma reação.

─ Onde aprendeu a atirar assim? ─ Perguntou Bea.

─ Por aí ─Disse entregando a arma e tirando uma nota de 20 S’s do bolso, entregou ao dono da barraca. ─ Pelos tiros, agora acho que vou querer o premio máximo.

─ Você mereceu garota ─ Disse o dono pegando a caixa do videogame, Rei segurou a caixa, abriu a tampa e deu um sorriso orgulhoso.

─ Valeu ─ Agradeceu.

─ Eu me sinto um inútil ─ Logan comentou, Beatrice o abraçou e nós começamos a rir. E partimos para a próxima barraca de jogos, no meio do caminho, falei para Rei que iria guardar o PS4 em um guarda volumes de uma loja, e assim o fiz, guardei a chave no bolso da calça e marchei na direção do grupo com a minha bengala. Eu sabia dizer pelo olhar deles, que achavam estranho a bengala, mas eu nada podia fazer a respeito disso.

Entramos em uma rua que a atração eram jogos eletrônicos, mais o que mais atraia gente era os de dança. Dessa vez quem chamaram a atenção foi Dana e Cloe, Rei perdeu na segunda partida para Dana, para sua raiva, e eu nem cheguei a tentar por causa da perna. No final quem ganhou foi Cloe.

Nos divertimos em várias outros equipamentos, comemos e enchemos a barriga de refrigerante até que chegamos ao final da atração dos jogos, que era uma luta, o vencedor levava mil S’s.

─ Nossa, eu não pensei que veria isso aqui ─ Disse Beatrice cruzando os braços e olhando um grupo de homens se inscrevendo.

─ Pois é, eu também não ─ Dana olhou em volta e pegou um panfleto da mão de alguém. ─ Aqui diz que só pessoas que não são agentes podem participar.

─ Que pena ─ Gaby disse dando de ombros. Rei e eu nos entreolhamos, e olhei para o começo da rua, tinha uma barraca de doces lá.

─ Vamos comer alguma coisa? ─ Perguntei olhando para Rei. ─ Tô afim de comer algo doce.

─ Porque vocês não participam? ─ Perguntou Dana olhando para nós duas.

─ Não, valeu ─ Respondemos em sintonia.

─ Tem certeza? Ganha mil S’s ─ Disse Logan olhando para mim.

─ Na, minha perna não está muito legal para isso ─ Falei balançando a bengala.

─ Que pena ─ Disse Gaby ─ Ouvi falar que você é muito boa em luta, mas nunca vi pessoalmente.

─ Sei me virar um pouco ─ Respondi dando de ombros. ─ Um pouco aqui e lá.

─ Ela já impediu um assalto no restaurante ─ Falou Cloe, olhei para ela ficar quieta e Rei se mexeu ao meu lado.

─ Golpe de sorte ─ Comentei.

─ Porque não tenta uma luta só? ─ Pediu Logan. Olhei dele para Rei, ela não sabia o que falar também. Dana e Bea deram de ombros, mas apostava que elas queriam ver. Olhei para minhas roupas, não me atrapalhariam muito, e não iriam expor minhas tatuagens. Dei um suspiro desistindo e fiz que sim com a cabeça.

─ Só uma luta ─ Falei.

─ Só uma ─ Falaram, escrevi o meu nome na lista e esperamos alguns minutos até que começaram a chamar as duas pessoas ao ringue. Demorou uns 12 minutos para chegar a minha vez, era eu contra um garoto que aparentava ter a minha idade. Ele deu um riso quando viu que iria lutar contra uma garota e dei de ombros.

O juiz apitou sinalizando o começo da luta e o rapaz veio para cima de mim, percebi na hora que ele tinha algum tipo de habilidade, mas não descobri qual era, desviei do seu soco me abaixando e empurrei o peito dele para trás, afastei meus pés e dei um chute no seu rosto, o garoto caiu no chão e verifiquei se ele estava bem. Ele fez que sim com o polegar e sorri, desci do ringue e parei ao lado de Rei.

─ Deu nem para suar ─ Comentei cruzando os braços, Rei deu um sorriso orgulhoso e os outros me olharam surpresos e empolgados. A medida que os minutos se passavam, eu esqueci que estava no meio de um festival com milhares de tiras ao redor, e apenas segui com as lutas, tive o cuidado de não machucar ninguém seriamente e nem de me expor. E nisso acabei que forçando a minha perna direita e indo para a final da luta. ─ Bem..... acho que vou parar por aqui.

─ Nem pensar, ganhe logo esse dinheiro ─ Disse Cloe cruzando os braços, chamaram o meu nome e o de outro cara, ele era o dobro do meu tamanho e largura.

─ Pensando bem, acho melhor desistir ─ Falei olhando para o cara subindo no ringue.

─ Vá logo ─ Me empurraram degraus acima e entrei no ringue. Rei fez um aceno com a cabeça, mandando seguir em frente, e olhou em volta, ela estava observando se havia mais agentes e policiais por perto. Enquanto estava distraída o juiz iniciou a luta e tive que dar um passo ligeiro para trás, o vento a minha frente mudou e percebi que tinha sido o seu punho que passara ali.

Levantei minhas sobrancelhas surpresa e desviei de um golpe. Dei passos rápidos para trás e levantei os punhos, vamos nessa então. O cara veio para cima, abaixei minha cabeça e desferi um soco no seu abdômen, chutei a sua perna e o fiz cair no chão de joelhos, e antes de dar o meu ultimo golpe, ele me jogou para trás, cai de costas no chão e rolei quando ele veio para cima. Joguei minhas mãos para frente e dei uma estrela, fiquei de pé e minha perna estava começando a chiar.

Olhei para o cara e respirei fundo, Rei fez um ok com o polegar e eu avancei, dei dois socos rápidos no seu peito, defendi um de seus golpes e chutei o seu joelho, ele cambaleou e eu rodeei o seu corpo, minha perna esquerda o empurrou para frente com força e ele se virou com raiva, mas antes de qualquer reação, girei e o atingi em cheio no rosto. Ele caiu no chão apagado, minha perna direita latejou e me equilibrei sobre a outra perna.

Anunciaram a ganhadora e ganhei as mil pratas. Acho que foram as mil pratas mais facéis de toda a minha vida. Peguei o cheque e arranquei o povo de lá o mais rápido possível, para caso alguém me procurar não encontre nem rastros da minha sombra.

Posso dizer que nos divertimos bastante, comemos, rimos, fizemos algumas piadas, basicamente foi o segundo dia de uma vida adolescente normal. Posso dizer que pelo o sorriso de Rei ela estava adorando, batia fotos aqui e acolá. Minha paranoia diminuiu bastante depois de um tempo, e parecia que agora não havia mais tantos policiais quanto no começo.

Cloe, Beatrice e Gaby decidiram ir ao banheiro, enquanto que Logan tinha ido comprar água em uma barraca. Dana, Rei e eu ficamos sentadas em um dos bancos da praça, Rei cutucou a minha mão e olhei para ela, ela acenou para Dana e eu sabia o que ela queria que eu fizesse, se levantou em um pulo e deu um sorriso para mim.

─ Volto em um minuto ─ Disse se afastando rapidamente, sem me dar tempo para impedir. Dana acenou com a cabeça e ficou em silencio, e após o que se pareceu uns 2 minutos, esfreguei a minha nuca e suspirei.

─ Então ─ Comecei a dizer, Dana levantou as sobrancelhas. ─ Você disse que queria falar comigo?

─ Ah ─ Deu um sorriso sem graça e coçou a nuca. ─ Não era nada. Na verdade foi Cloe que mandou escrever aquilo, disse que a faria vim para cá.

─ Ah... entendo ─ Falei e respirei devagar. Ufa, nada do que se preocupar. ─ E funcionou.

─ É, funcionou ─ Disse sorrindo e cruzando as mãos, olhou para a bengala que estava entre nós duas ─ E a sua perna? Como está?

─ Minha médica disse que vai ficar boa com o tempo, mas eu não acredito ─ Passei a mão na minha perna direita. ─ Tem vezes que ela está boa, e outras que apenas é insuportável andar sem apoiou.

─ Está doendo agora?

─ Uhum, aqueles chutes que eu dei, forçou um pouco.

─ Por que não toma remédios para dor? ─ Perguntou preocupada.

─ Eu sinto que ela não vai curar tão cedo, e os remédios vão somente me fazer ficar viciada ─ Respondi dando de ombros.

─ Entendo.

─ Pois é, mas fazer o quê? ─ Olhei para o lado e Rei veio correndo uma maçã do amor, quase que me engasgo com a saliva. Logan vinha logo atrás acompanhado das meninas, se aproximaram e então voltamos a andar em meio às barracas.

Quando deu exatamente 19 horas, começou a ter umas apresentações no centro do festival, eu já estava exausta de ficar rodando para cima e baixo com eles, apesar de ter sido divertido. Eles queriam ficar ate o final do festival, mas meus sentidos diziam que já era hora para se retirar e assim falei que precisava dar um descanso para a minha perna, e felizmente ninguém discordou disso.

Acompanhei Rei até o guarda volumes da loja, e retirei a chave do bolso, foi então que notei que ela era muito parecida com a chave que mantinha no cofre, junto a foto que meu pai deixou. Fiquei encarando a chave de cor bronze por um decimo de segundo, quando o sonho me invadiu.

Estava tendo a mesma sequencia de imagens, meu pai e a mulher conversando, sala branca, livros, a frase “Observe tudo, sinta tudo, cada detalhe é importante, como está chave”. Então a visão mudou para uma memória que eu tinha lembrança, estava agora no depósito que meu pai e eu usávamos para treinar. Seus olhos cinza como os meus, roupas rasgadas e cabelos ensopados. E Carlos, o melhor amigo do meu pai, sentado sobre uma lata observando nosso treinamento.

Não fazia ideia do motivo de ter lembrado isso agora, revirei a chave nas mãos e bati com a mão na testa. Rei estava me olhando totalmente confusa ao lado.

─ Como não lembrei disso antes? ─ Fale em voz alta. ─ O depósito de treinamento, é claro! Ainda existe.

─ Do que diabos você está falando? ─ Perguntou Rei.

─ Nós precisamos ir para casa agora ─ Coloquei uma mão no seu ombro e ela acenou com a cabeça, destranquei o guarda volumes e peguei o PS4. Agarrei a mão de Rei e fizemos o caminho mais rápido para casa, depois de uns minutos, estava destrancando a porta da frente e correndo banheiro a dentro.

─ O que diabos está acontecendo? ─ Rei vinha ao meu alcanço logo atrás, ignorei a sua pergunta e levantei o azulejo, digitei a senha do cofre e o abri, estavam um bolinho de dinheiro, um cartão, peguei a foto e as chaves, e as observei. ─ Vamos, Sora, esse suspense está me mantando.

─ Ok ─ Falei me sentando no chão do banheiro e focando minha mente para uma explicação. ─ A muitos dias eu venho tendo um sonho com o meu pai e uma mulher, eles estão sempre conversando e rindo em uma sala branca. Primeiramente esse sonho não fazia sentido para mim, e no sonho meu pai sempre falava a mesma frase, essa frase ─ Entreguei a foto para ela, ela leu o verso. ─ Ele me deixou de herança, apenas essa foto e essa chave.

─ Certo ─ Ela olhou para mim como se ainda não estivesse entendo nada.

─ É simples, muito simples, apenas tinha esquecido ─ Falei abrindo os braços, levantei a chave na direção dela. ─ Essa chave abre alguma coisa que está nesse depósito que treinávamos sempre, e eu tinha esquecido o endereço do depósito, do qual lembrei minutos atrás.

─ Como você esquece uma coisa assim? Você sempre teve essa chave?

─ Sim ─ Falei sem jeito. ─ Sei lá como pude esquecer algo como isso, muitas lutas, muitas preocupações, sem dizer que o deposito mudou de nomes várias vezes. Vai saber.

─ Certo. Então nós vamos nesse depósito agora? ─ Perguntou devolvendo a foto.

─ Se quiser pode ficar ─ Digo ficando de pé e fechando o cofre.

─ Nem pensar ─ Disse batendo o pé.

─ Então vamos embora.

Saímos sem mais nem menos, a foto e a chaves no meu bolso, todo o resto ficou para trás. O caminho era longe de onde estávamos, mas não conseguimos chamar um taxi, se bem que a minha empolgação era tanta que volta e outra eu estava correndo pela calçada, ignorando a dor na minha perna.

O depósito não ficava no mesmo bairro do qual morávamos antigamente, nunca entendi o motivo, talvez seja para não levantar tantas suspeitas. Ele ficava em um dos bairros da periferia, em uma zona sem uma gangue dominante. As ruas estava vazias, talvez estivessem todos no festival ou intocados em casa. Parei bruscamente na frente de um portão de ferro, com correntes em volta dele, Rei parou ao meu lado e olhou em volta.

─ Parece abandonado ─ Sussurrou ela ao meu lado. Acenei com a cabeça e escalamos o portão, meu pés pousaram do outro lado e esperei por Rei, e então continuamos a andar. Não havia cachorros, carros, nada. Somente uma grama muito alta envolvia o lugar, paramos na frente da porta do prédio, antigamente era prateada, agora tinha se tornado uma mistura com ferrugem. Segurei a maçaneta da porta e ela abriu com um rangido que fez meus ouvidos chorarem. ─ Isso parece mais velho do que eu acho que você sabe.

─ Não duvido nada ─ Concordei. Olhei para dentro e estava totalmente escuro, e antes que pudesse me repreender por não ter trazido uma lanterna, Rei ligou o flash do seu celular. ─ Valeu.

─ De nada ─ Disse me entregando o celular e entramos no depósito abandonado. Ele se estendia por um corredor, e uma súbita falta de ar nos envolveu, por causa da quantidade de poeira, havia papeis no chão, alguns ratos correram a nossa frente, teias de aranha caiam desde o teto e atrapalhavam o nosso caminho. Rei estava quase colada ao mim, e eu não discuti, aquele lugar estava com um ar aterrorizante.

Vimos ao fim do corredor uma cadeira de madeira, ela estava bastante velha, mas por incrível que pareça não estava coberta de poeira como todo o resto, o que me fez pensar se havia alguém sentando nela recentemente, mas preferi não comentar. Demos mais alguns passos e entramos no espaço do qual usávamos para treinar.

Levantei o celular e tentei iluminar o máximo que podia, o que não foi muito. Tinha caixas velhas espalhadas e outras empilhadas, alguns latões caídos no chão, mais papeis, restos de algo que se parecia uma cadeira, mais poeira, barulhos de ratos andando. Estava completamente diferente de quando treinavamos. E era obvio, passaram-se muitos anos desde então. Só pensava que alguém ou alguma empresa estivesse usando esse lugar, mas pelo visto não.

─ Vamos ver se achamos algo que se encaixe com essa chave e vamos dar o fora daqui ─ Falei, Rei acenou com a cabeça, ela não estava tão empolgada quanto eu.

─ Se lembra de algum canto especifico? ─ Perguntou.

Olhei em volta e tentei lembrar.

─ Mais ou menos ─ Respondi andando em direção aos latões caídos no chão. Tirei a foto do bolso e olhei para os latões, tinha as mesmas cores. ─ Estranho, se alguma outra pessoa tivesse usado esse lugar, os latões não seriam os mesmos.

─ Vai saber, talvez todos os latões sejam iguais ─ Disse Rei colocando as mãos na cintura ─ Mesmo assim não parece que vinham usando esse lugar.

─ É ─ Estendi o celular para ela e levantei um dos latões ─ Ilumine aqui.

Levantei a foto e comparei o antigo com o novo, se pareciam, mas não tinha nada que pudesse enfiar a chave. Meu pai não me daria uma chave que não abrisse nada, e muito menos me mandaria para um lugar apenas para recordar lembranças, tinha alguma coisa que estava deixando passar. Cocei o meu queixo e forcei a minha vista a prestar atenção aos detalhes, me aproximei da parede que havia logo atrás dos galões e passei a mão sobre ela.

Estava suja de poeira, tateei a parede mais um pouco e senti uma diferença na parede. Era uma linha que se estendia até em cima, um pouco mais alta que eu. Acenei para Rei se aproximar e ela iluminou a parede, de fato ela tinha uma falha. Bati com o punho na parede e escutei um som levemente oco, o que quer que seja, estava bem disfarçado. Não havia nenhuma fresta que pudesse enfiar a chave. Olhei para o chão e caminhei até o latão que tinha levantado, Carlos estava sentado em cima dele na foto, talvez estivesse escondendo algo, afastei o latão e me agachei, o chão estava empoeirado também, mas era oco.

─ Foque aqui Rei ─ Pedi e ela se aproximou, procurei alguma beira ou algo que pudesse puxar e encontrei um pedaço desgastado, segurei aquela parte e tive que usar mais força do que imaginava para tirar aquele pedaço do chão. A luz iluminou o chão e algumas baratas saíram de lá, o que fez com que nós duas déssemos um passo para trás. Quando todos os possíveis insetos saíram, me agachei novamente e vi uma fechadura bronzeada no chão. Tirei a chave do bolso e a encaixei no lugar, olhei para Rei que fez um Ok com a cabeça e girei a chave.


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Notas finais do capítulo

Então povo o que acharam? Sei que pela demora não sou digna de bons comentários e nem de comentários :V, mas como sei que o coração de vcs é bondoso, espero que comentem. Reclamem e façam o que quiserem kkkkk. Bjus e até o proximo que vai revelar muitas coisa.

PS: Como sou sacana, vou postar o prox cap. se tiver mais do que 3 comentários, nada de ler e não aparecer hsuahsuasa.

Alguns links dessa budega não foram então vou colocar aki pra vcs.

*Passarela de madeira - http://www.hoteisembariloche.org/wp-content/uploads/2011/10/parques-de-bariloche3.jpg

*Lago - http://ranzi.com.br/wp/wp-content/uploads/2013/10/parqueEngenho1g.jpg

* Arvores de folhas amarelas - http://www.fondosdeescritorio10.com/wp-content/uploads/2008/12/parque_en_otono.jpg



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