Eu não conseguia dormir, rolei na cama dezenas de vezes, os trovões lá fora me faziam saltar cada vez. Os raios faziam o quarto inteiro se iluminar e meus olhos abrirem. Chuvas, tempestades, eu tinha certeza que não era meu dom, minhas emoções estavam estáveis. Não havia o porque disso acontecer, além disso, eu controlava a terra, não o céu.

Vejo sombras de alguém caminhando no corredor, levanto e nas pontas do pé abro a porta. Steve andava, já de costas para mim, com calças largas e blusa justa. Relaxei por não ser a única incomodada pela chuva.

–Steve. -o chamei.

–Ei. Não consegue dormir? -girou os calcanhares para me ver.

–Não, nem um pouco. Você também não?

–Fiquei congelado por 70 anos, dormir é a ultima coisa em que penso. -brincou mesmo sendo algo serio, eu ri pelo nariz. Saio do quarto e aproximo dele.

Envolvo meus braços em sua cintura e descanso a cabeça em seu ombro. Abraços era algo definitivamente nosso, com Steve é capaz de preferir o conforto dos seus braços aos seus beijos. Não que os beijos fossem ruins, mas era algo especial para mim. Ambos sabíamos o quanto eu me sentia bem em abraços.

–Você precisa descansar, vou com você para seu quarto. -disse o Capitão.

Reviro os olhos e o puxo com a mão, pisando pesado, de volta ao buraco negro. Eu tinha medo dos raios atingirem o alto da torre. Deito na minha cama e o chamo para fazer companhia.

–Como vai me fazer dormir? -questiono desafiadora.

–O que quer que eu faça? -ele abre um sorriso.

–Quero uma história sobre a guerra.

–Porque sobre a guerra? -estranhou me observando.

–Parece tão interessante.

E era verdade, saber que Steve viveu dois períodos da história do mundo me deixava curiosa. Me virei de frente para ele, apenas esperando iniciar e sorri sem mostrar os dentes convencida.

–Ok. Que tipo de história?

–Qualquer tipo, gosto de histórias românticas ou de ação.

–Não tem casos desse tipo.

–Claro que tem. -insisti obviamente. -Me conte sua história então.

–Novamente?

–Sua história é inspiradora. Você é um verdadeiro herói. Gostaria de ter essa coragem e paciente que teve, mas eu não consigo.

Steve riu pelo nariz e contou sua história novamente para mim. Eu rescreveria toda ela em meu diário e ele se tornaria não só o cara que eu gosto, mas também um ídolo. Adormeci depois de um certo tempo e não acordei de novo. Meu sono pesado foi interrompido com alguém entrando no quarto. Meus olhos se abriram lentamente e fechei desistindo da ideia.

–Parece que o capitão acostumou com a nossa época. Antes do casamento não pode não em? -escutei a voz irônica de Stark e no fundo risadas do Clint.

Estava me preparando para levantar e fechar a porta. Mas deparei com a situação em que estava, aconchegada no peito de Steve.

–Deixe os dois em paz. -Clint fechou a porta zombando, porém no fundo eu agradeci.

–Desculpa por isso. -Rogers falou com aquele típico nervosismo de garoto conservado. -Eu tentei ir, mas fiquei com medo de atrapalhar seu sono.

–Steve, não tem problema. Eu devo agradecer a você por ontem a noite. Realmente me ajudou muito. -digo carinhosamente erguendo minha coluna disposta a levantar. -Você dormiu?

–Eu não durmo faz...alguns meses. -hesitou um pouco.

–Você não pode fazer isso. Um super soldado precisa de um tempo para si.

–Um pouco difícil Flyer. -sorriu torto.

–Estou falando serio. Já pensou em tirar férias? Você ficou 70 anos congelado e não teve tempo para respirar.

Minha expressão era de seria e preocupada e a dele era deslocado. Talvez nunca tivessem falado aquilo para ele, porque, infelizmente, não ligavam para o seu bem estar e sim apenas ao bem estar físico. Além disso o Capitão não tinha amigos para ajudá-lo a se cuidar nesse novo tempo, a maioria deles já se foram.

–Você acha que quando tudo isso acabar, ainda seremos o que somos agora? -perguntou serio tocando meu queixo com a mão.

–Já estávamos juntos antes de perder a memória, porque não? -retruquei e ele desviou o olhar incomodado. -Promete que mesmo separados, vai ter um tempo pra si?

–Prometo. Eu vou tomar um banho. -fugiu do assunto parecendo um pouco magoado, ele não sabia disfarçar.

Assenti com a cabeça. Rogers não merecia mais uma decepção amorosa em sua vida. Mas estava marcado, quando minha memória voltar a funcionar, seremos inimigos e ficaremos separados, cada um em uma parte do mundo. Ele infelizmente sabia disso e eu também. Peguei meu diário e não parei de escrever por nem um minuto, no final sublinhei "estou apaixonada pelo Capitão, mas não há nada que possa fazer para não magoá-lo."

Tomei meu banho e vesti roupas novas disponibilizadas por Pepper. Eu havia demorado um tempo, provavelmente por isso batiam na minha porta.

–Calma, já estou indo. -digo calmamente terminando de secar meu cabelo.

Abro a porta e deparo com o Steve, ele estava preocupado com alguma coisa.

–O que foi?

–A casa do Stark em Malibu foi atacada. Sua organização sabe que você está na Terra e estão a sua procura.

–Ela sabia... -pensei alto.

–Quem sabia? -estranhou.

Encostei na escrivaninha do meu quarto pensativa. Agora as coisas faziam mais sentido para mim. Mas as ligações eram confusas e transitavam em minha mente. Ergui o olhar para o Capitão.

–Minha irmã gêmea disse que se eu estivesse na Terra ela saberia, por isso conseguiu localizar a ilha flutuante da SHIELD. -expliquei. -Porque se eu voltasse, nenhum terremoto ou blackout aconteceria aqui.

–Gabriella.

–Como você sabe o nome dela?-franzi a testa e deixei de lado. - Além disso, ALRS sabe que estou com os Vingadores.

–Por isso atacaram a casa do Stark a sua procura. -completou e imediatamente falou alertado. -Precisamos ir embora daqui.

Sentei na cama, era muita coisa para absorver. Essa guerra era maior do que pensei. São duas equipes se enfrentando, eu sou do time inimigo e possuo informações importantes, mas devido a amnésia esqueci tudo.

–Isso tudo é loucura.

–Calma, você não pode ficar nervosa se lembra? -ele agachou no chão e passou as mãos em minhas costas, olhei em seus olhos e assenti rapidamente.

–É difícil, não vou conseguir parar de pensar nisso até tudo se resolver.

O vaso de margaridas no meu quarto explodiu, meu corpo tremeu com o barulho. Desvio meu olhar do seu e quando volto percebo que estamos próximos demais. Seus lábios tocaram os meus de leve, me fazendo derreter. Senti a penteadeira contra minhas coxas. Eu preferia seu beijo do que o abraço. Ou não... Os dois eram maravilhosos.

Sua mão me puxa pelo pescoço para mais perto, enquanto as minhas estão entrelaçadas sobre seus ombros. A sensação é tão boa, que nem parecia ser o Steve conservado. O nosso impulso faz, sem querer, minha coluna se curvar para trás.

–Desculpe. -pediu timidamente.

Não sabia se o pedido de desculpas foi pelo beijo intenso ou porque ele me fez quase cair.

–Não precisa se desculpar.

–Preciso sim, eu me descontrolei. -seus olhos eram repletos de culpa por algo tão simples e comum atualmente. -Tenho que falar com você mais tarde.

Bateram na porta de leve e fui abrir. Natasha me encarou com seus olhos sérios e reparou Steve no fundo do quarto.

–O Agente Coulson quer falar com vocês dois. -avisou e deu as costas.

Lancei um olhar confuso a Steve e segui a ruiva pelo corredor, o Capitão ia atrás. No hall da Torre Stark vários agentes recolhiam caixas de papelão, fora isso, estava deserto. Furry observava Nova York pela varanda e apenas olhou para trás quando Nathasha chamou sua atenção.

–Tem um assunto confidencial a tratar com vocês. Por enquanto não poderão revelar a ninguém, até tiverem minha permissão. -o tapa olho falou sério.

–Onde estão os outros? -perguntou Steve.

–Estão sendo transferidos para uma base de localização secreta da SHIELD. -explicou. -Retornando ao assunto, o Presidente dos Estados Unidos quer ter uma reunião imediatamente com vocês.