Entre Anjos escrita por BernardoAziz


Capítulo 6
Ops! Casa errada?!




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Os dois agora se dirigiam de volta à casa de Phillip. A garota de longos cabelos ondulados está pensativa e o rapaz que caminha ao seu lado também parece preocupado. Agora a névoa já se dissipara, mas a paisagem ainda transparece um quê de melancolia. O sol ainda não aparecera por completo por estar encoberto por espessas nuvens cinza. Essecéu cinza parece ter saído de dentro dos olhos de Ariel, pensa ele. As pessoas andam despreocupadamente nas ruas trajando roupas bem agasalhadas, os tons sóbrios dominam a paisagem. Ela de repente parece despertar de seus pensamentos:

–Vou voltar ao local onde encontrei você. Talvez consiga alguma pista dos rebeldes que destruíram o local. Você viu que meu mestre Rafael me quer ainda no caso. Não posso perder mais tempo, já passei muito tempo desacordada, agora preciso correr atrás do prejuízo. - ela parecia determinada. Seus olhos possuíam uma centelha que transmitia confiança.

–Acho uma má ideia ir sozinha ao observatório. - interrompeu, Samuel. - Você não é páreo para vários diabões, moça. Se ainda estiverem rondando o local, você será capturada e aí já viu, se ferra pra valer! Acho melhor você esperar pelos reforços que o teu chefe prometeu. - conforme o tempo passava e o convívio dos dois continuava, ela se irritava mais e mais com ele. Ele parecia buscar contrariá-la de propósito. Não concordavam em nada.

–Você é uma pedra no meu caminho, garoto. Não vou perder mais tempo além do que já perdi. Cada minuto é importante e eu sei que os tais reforços não chegarão hoje, as coisas lá em cima também pecam pela burocracia. Sendo bem otimista, talvez demore uma rotação completa da Terra. E a cada minuto passado o rastro daqueles desgraçados está ficando mais fraco.

–Tenho que admitir que o que você tem de bonita tem de teimosa, credo! É melhor esperar. Você ainda não está totalmente recuperada, Ariel. Deixa de ser tão marrenta! - Ele não entendia porque se preocupava tanto com ela, talvez fosse gratidão pelo fato dela tê-lo tirado do local que agora era apenas um monte de escombros.

–Olha aqui seu fedelho mortal! - ela agora parara de andar e se colocara na frente de Samuel encarando-o com intensidade, quase encostando seu rosto ao dele. Seus olhos cintilavam. - Eu sou uma agente investigadora e essa é a minha missão! Tenho que conseguir informações que nos ajudem a localizar o desertor. Não vou ficar aqui perdendo meu tempo discutindo com um idiota que não entende nada sobre a guerra que faço parte.

Ao terminar de esbravejar aquelas palavras, voltou a caminhar, agora em passos mais rápidos e largos. Ele percebeu que nada que ele dissesse a faria mudar de opinião ou a afastaria de seu objetivo. Apesar dela ser altamente esquentada ele admirava sua determinação e sabia que não conseguiria deixá-la ir sozinha ao local do ataque rebelde. Achou por bem parar de tentar fazê-la esquecer aquela ideia e concentrou-se então numa forma de convencê-la a deixá-lo ajudar em mais essa missão. Sabia que ela em princípio não queria a sua colaboração, nem tampouco sua companhia. Era fato: os dois não conseguiam se entender. Mas ele sentia que tinha o dever de ajudar naquela guerra que envolvia também seu planeta e, por consequência, as pessoas que ele amava e se preocupava.

Durante o caminho de volta, fixado nas bancas de jornais, vários diários ainda estampavam como machete principal notícias sobre o suposto atentado ocorrido na UvA. Até aquele momento nenhum grupo terrorista havia se pronunciado, mas era quase uma unanimidade entre as autoridades que se tratava mesmo de puro terrorismo.

Passados apenas mais dez minutos desde a última rusga entre eles e os dois já estavam chegando à casa onde estavam instalados. Ela nem esperou Samuel abrir direito a porta e já foi logo entrando no imóvel, ainda estava visivelmente irritada. Tão logo entrou no quarto onde estivera aqueles dois dias desacordada, deu de cara com um homem enrolado apenas em uma toalha. O homem não entendera nada e ficou parado perplexo observando aquela linda moça na porta de entrada do quarto.

–Mas que merda é essa?! - esbravejou o rapaz. - Como pode se ir entrando desse jeito na casa dos outros? - o rapaz se chamava Phillip. Era o dono da casa onde Samuel levara a moça. Ariel permanecia imóvel.

–Acho que eu te devo umas explicações, Phillip. - falou Samuel entrando também no quarto e retirando Ariel da presença do amigo. - Espera aí que volto logo... - falou puxando a moça pelo braço.

Ariel ficou paralisada, sem saber como agir diante daquela situação. Não esperava encontrar outra pessoa no quarto, tão pouco um homem de toalha. Não fosse Samuel tê-la arrastado para fora do quarto, provavelmente ainda estaria parada sem ação frente ao agora identificado dono da residência.

–Aquele era o Phillip, dono desta casa. - tentava explicar Samuel o porquê de haver mais uma pessoa no imóvel. - Não sabia que ele chegaria hoje, pelo que ele me falou, só estaria de volta a Amsterdã amanhã. - ela ouvia a explicação de Samuel sem tentar dissimular a irritação por ter passado por uma situação daquelas.

–Eu me recuso a ficar perto de você mais um minuto que seja! Você tem o dom de me irritar, Samuel. Por que você não me avisou que havia outra pessoa na casa?

–Mas não havia! Ele deve ter chegado agora de viagem. E também não deve estar entendendo nada.

–Pois bem, só quero os jornais desses dias que fiquei inconsciente e que falam do incidente no observatório e vou partir logo desse lugar. Você pode pegá-los lá no quarto, por gentileza? - tentava ainda manter a civilidade.

–Não sei se você lembra, Ariel, mas você tem ordens expressas de seu superior para fazer minha segurança até que esta história de Izacael esteja resolvida. - ele tentava um argumento que a obrigasse a continuar aceitando a sua companhia. - Se você tem mesmo que voltar lá no observatório eu vou contigo. Não sei o que pode me acontecer se estiver sozinho e for encontrado pelos rebeldes.

Ela parou um momento, meio descrente, como se estivesse lembrando de uma incômoda obrigação que até há pouco não a preocupava. Realmente tinha como missão fazer a segurança de Samuel e, se tivesse que sair em busca de pistas, teria que aceitar, mesmo a contragosto, a companhia de seu protegido.

–Pois que seja! Então apresse-se que não quero ficar mais nenhum minuto que seja neste lugar. Algo me impele a procurar o quanto antes por informações de nossos inimigos. - ela já parecia mais calma e resignada em sua situação.

–Deixe-me então pegar os tais jornais e explicar o que aconteceu ao dono da casa. Prometo ser rápido. - deu um sorriso com os olhos, desses que expressam contentamento, e voltou para dentro do cômodo onde estava Phillip.

Tão logo Samuel entrou, Phillip começou a falar:

–Mas que safado! É só eu deixar as chaves de minha casa contigo e você trata logo de trazer uma garota aqui pra dentro. E logo uma gata daquelas! Tá podendo, hein garanhão! - ele exibia um sorriso maldoso.

–Deixa de ter a mente suja, Phillip. Não é nada disso que você está pensando. Ela é somente uma amiga e tivemos que ficar aqui por causa de um imprevisto lá na minha casa. Mas pode ficar tranquilo que estamos de saída.

–Que nada, Samuel. Não se faça de rogado! Podem ficar pra terminar sei lá o quê vocês estavam fazendo aqui. Só não esqueça de arrumar a cama e lavar as cobertas. - falava tudo isso ainda com o sorriso maldoso nos lábios.

–Ah! Esquece... não adianta nada tentar falar contigo. Estamos de saída, depois tento explicar melhor quem é ela.

–Antes de você sair, me conta o que diabos aconteceu lá no observatório da universidade? Graças a Deus que você não estava lá na hora, hein? Quando soube do atentado fiquei preocupado contigo, por isso mesmo resolvi voltar antes. Só passei em casa pra tomar um banho e trocar de roupa e, tão logo terminasse tudo, já ia atrás de você. Por que diabos você anda com o telefone desligado, homem?! Tentei ligar várias vezes desde ontem quando fiquei sabendo do desastre e simplesmente não consegui. - Phillip era o melhor amigo de Samuel em Amsterdã. Os dois se conheciam já há dois anos quando Phillip viajou para um seminário de astronomia no Brasil e ficou hospedado na casa dos pais de Samuel a convite do próprio.

–Eu estou sem meu aparelho celular, acho que o perdi, e, como você já pôde observar, não estava em casa nesses últimos dias.

–Sei,... você quase me mata de preocupação, jongen– era assim que Phillip chamava seu amigo. - Pensei que você estivesse entre os mortos no atentado, mas vejo que me enganei. Na verdade você estava aqui em casa acompanhado daquela gostosa ali,... mas que filho da mãe!

–Phillip, você tá viajando, cara. Mas não posso perder tempo agora tentando te explicar algo que eu nem sei ao certo como começar a fazê-lo. Quando as coisas se acalmarem, eu prometo que te conto tudo. Inclusive quem é aquela garota lá na sala.

–Tudo bem. Se você não está à vontade pra falar sobre ela,... mas fica tranquilo que eu entendo você, aliás, acho até que você demorou tempo de mais pra deixar a Vanessa pra trás. E, cara, essa gata é muito mais bonita. Você mandou muito bem!

Samuel nem tentou mais negar as suposições de seu amigo, sabia que não adiantaria nada. Ao invés disso simplesmente pegou os jornais no quarto deu meia volta e saiu.

–Você é um cabeça-dura! - disse ao colega de toalha enquanto saía porta afora.



**********

Os dois demoraram pouco mais de quarenta minutos para chegarem ao local do ataque rebelde. Tiveram que pegar o metrô já que Samuel estava sem sua moto que fora deixada no estacionamento da faculdade quando da fuga improvisada na sexta-feira e que agora deveria ser somente um monte de ferro retorcido.

Ao chegarem no local, a expressão desesperada de Samuel demonstravam toda a sua indignação com o cenário deixado pelos assassinos. Ainda haviam faixas listradas em preto e amarelo limitando a área de acesso ao público, mas o movimento de curiosos havia diminuído consideravelmente. Havia apenas uns poucos policiais guardando o local e uns veículos pertencentes à impressa fazendo a cobertura das investigações. Algumas flores e cartazes foram deixados por alguns populares comovidos pela tragédia. Dentre os cartazes deixados, havia um grande cartaz pendurado entre dois postes de iluminação que teimavam em ainda permanecerem de pé que dizia: Dood aan moordenaars! (Morte aos assassinos!). Samuel também desejou a mesma coisa.

No local do prédio onde antes funcionava o observatório da UvA havia em seu lugar apenas uma enorme cratera.


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