Merveilles escrita por Jibrille_chan


Capítulo 4
Capítulo 4




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Eu estava perdido,sem noção nenhuma do que fazer. Nestas horas minha solidão se faz um problema. Talvez por isso mesmo tenha pegado esse telefone e ligado pra pessoa menos indicada para me socorrer num momento como esse.

- Moshi moshiiiii...

- Közi. - Ele ficou em silêncio um pouco quando reconheceu a minha voz, talvez pensando porquê eu estaria ligando pra ele no dia de folga da banda.

- Aconteceu alguma coisa, Mana-chan?

- ...

- Você está em casa?

- Hai.

- Então... Espera um pouco que já já eu passo aí, okkay?

- Hai.

É, talvez ele seja a pessoa que mais me conheça mesmo. Ou talvez seja devido ao nosso grande tempo de convivência, mas o fato é que eu não conseguia esconder as coisas dele, fossem sérias ou banais. Às vezes isso me incomodava um pouco, o fato de saber que havia alguém capaz de ver através da minha máscara de seriedade. Outras vezes, como agora, saber disso era meu único consolo.

Tive de esperar uns vinte minutos antes do porteiro anunciar a sua chegada. Fiquei me perguntando o que ele estaria fazendo para demorar tanto, mas há coisas que não devemos saber, sob nenhuma circunstância.

- O que aconteceu? - perguntou, assim que eu abri a porta.

- Olá, Közi.

- Ah, olá. Mas o que aconteceu?

Dei espaço para ele entrar, que foi prontamente atendido. Suas feições expressavam uma preocupação sincera, o que me alegrou. Fazia muito tempo que ninguém me expressava tal preocupação.

- Ah... Eu não sei como te contar.

- Que tal pelo começo? - ele arqueou uma sobrancelha, sentando-se no meu sofá sem esperar pelo convite.

- É que... Eu não sei bem como começou. - ele me olhava daquele jeito que eu menos gostava, aquele olhar penetrante que podia ver dentro de mim.

- Posso deduzir o que se passa? - ergui as sobrancelhas.

- Pode.

- Você está estranho. Digo, mais do que o normal. - fechei a cara pra ele, mas ele continuou. - Eu te conheço a muito tempo, e essa é a primeira vez que te vejo assim.

- Assim como?

- Mais distraído, e às vezes ficando até vermelho.

- ...

- Quê foi?

- Desde quando você me conhece tanto? - ele começou a rir.

- Você é mais transparente do que pensa, Manabu.

Franzi o cenho ao ouvir meu nome inteiro. Fazia realmente muito tempo que eu me acostumara apenas com "Mana", que quase havia me esquecido dessa última sílaba. Continuei a encara-lo, como que esperando que ele continuasse.

- Eu acho... Que você se apaixonou pro alguém, e não faz a mínima idéia do que fazer com esse sentimento. Estou certo?

Abaixei a cabeça, como que consentindo. Quando percebi, estava sendo abraçado por ele.

- Ai ai ai, Mana-chan. Você entrou em território desconhecido, ne? Mas o que você mais precisa é ser sincero, tanto com a pessoa como com você mesmo.

Ele ficou assim, me abraçando e afagando os meus cabelos, àquela hora soltos. Sentado ali, eu percebi que os meus sentimentos pelo Közi eram... fraternais. Havia muito tempo que eu não me comunicava com a minha família, preocupado com a banda e tudo mais, e havia me esquecido de como era essa sensação de ter alguém com quem contar. Közi me soltou devagar, sorriu e levantou-se pronto para ir embora.

- Bom, já fiz minha boa ação do dia. Agora quem tem que fazer alguma coisa é você, Mana-chan. Tchauzinho!

E, sem dizer mais nada, saiu porta a fora. Por mais que ele me conhecesse, eu nunca o conheceria por completo. Havia uma parte dele que eu nunca conheceria, assim, eu sempre me surpreenderia.

**********

- O que é isso?

- É uma letra nova. Gostaria que desse uma olhada.

O ensaio havia terminado e Gackt ainda estava na minha sala, me entregando uma folha de papel um tanto quanto rabiscada.

- Eu não tive tempo de passar a limpo. Espero que dê pra ler...

- Não, dá sim. Eu... Vou levá-la pra casa e depois eu te digo o que eu aço e se eu consigo montar alguma melodia em cima dela.

- Estarei esperando então. - ele sorriu daquele jeito meigo todo dele e saiu, me deixando sozinho com aquele pedaço de papel.

A caligrafia dele era muito bonita, toda delicada e rebuscada. Olhei para o nome da música, e acabei pronunciando em voz alta, sem perceber.

- Premier Amour...

Meu francês podia não ser dos melhores, mas eu sabia o que aquelas duas palavras significavam. "Primeiro Amor". Deveria entender uma indireta direta? Ele me parecia ser mais profissional que isso. Continuei olhando para aquele título que me intrigava, e me lembre das palavras de Közi.

Nem mesmo eu sei o que deu em mim, só sei que saí correndo, indo de encontro ao estacionamento, onde ainda via a silhueta dele se dirigindo para o carro. Ainda bem que os meus sapatos não eram barulhentos, para que ele não percebesse que eu me aproximava.

Parei de correr, ofegante a um meio metro dele, e sem nem mesmo me dar conta, a minha mão agarrou o pulso dele, e ele se virou, surpreso. Ficamos nos encarando por alguns minutos, mas as palavras não se fizeram necessárias. Só o simples fato de eu estar ali e não o deixar ir já era a resposta que ele queria de mim. Ele sorriu novamente e acariciou meu rosto.

- Você não quer que eu vá embora?

Segurei a mão dele que me acariciava e o puxei em direção a mim. Ele entendeu o recado prontamente. Quanto tempo ficamos naquele estacionamento? Isso é relativo. Alguns diriam meia hora, mas eu digo que foi uma eternidade, uma eternidade que pra mim parecia o paraíso.


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