Escarlate escrita por Pichu


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Curta, boba, e algo que eu queria dizer faz tempo sem saber como.



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Eu queria falar sobre porquês, e sobre a mania ridícula que temos de querer cartesianizar a vida. Eu queria falar sobre dias chuvosos e sua melancolia introspectiva. Eu queria falar sobre acasos e como as coisas aparentemente insignificantes podem provar-se explosivas. Mas, na verdade, acho que só vou falar sobre ela – o resto é coadjuvante, é cenário. E nem sobre ela inteira, veja bem: quero falar sobre suas unhas.

Eu sei que parece tolice, mas juro que unhas podem provar-se importantes.

Pois bem, era um dia chuvoso (como você talvez tenha, num surto de sagacidade, deduzido pelo primeiro parágrafo). Era um dia chuvoso, e todos evitavam ficar qualquer segundo além do necessário fora do castelo.

Um mar de capas negras acotovelava-se nos corredores. Espremi-me entre elas, tentando chegar à minha sala de feitiços, e trombei com uma garota que vinha em sentido contrário. Ela derrubou os livros que carregava (e eu gostaria de ressaltar que eram muitos. sim, ela também carregava uma mochila.) e imediatamente abaixou-se para pega-los, murmurando uma série de coisas não-tão-lisonjeiras. Ajoelhei ao seu lado com um pedido de desculpas constrangido. Ela me encarou, suspiro e sorriso tímido, e alguma coisa pareceu estalar em mim.

Agora, me desculpe pela quebra de expectativas, mas eu não fiquei hipnotizado pelos cachos ruivos, pelas sardas delicadas, ou até mesmo por aqueles gigantescos olhos azul-anil. Foram as mãos.

Aquele era um dia de cinzas: a chuva parecia ter lavado todas as cores do céu, do chão, das pessoas. Nuvens carregadas. Terra molhada. Capas escuras. E no meio daquilo tudo, no meio da multidão capa-vestes-chapéus-pretos, ela tinha pintado as unhas de vermelho. Talvez não tivesse chamado tanta atenção em qualquer outro lugar, em qualquer outro dia. Mas ali chamava. Era quase um holofote.

Um viva aos pequenos atos de rebeldia.

Ela pegou o último livro das minhas mãos, me tirando do meu transe. Eu devia estar com uma cara bem idiota, já que a Weasley me encarou com curiosidade.

‘Obrigada,’ disse baixinho, e com isso saiu, a pilha apertada ao peito, os cabelos balançando.

Agora eu poderia tentar continuar te contando um monte de idiotices apaixonadas. Ou falar do dia seguinte. Ou até mesmo começar uma reflexão sobre a inexorabilidade do destino e detalhes como mediadores. Mas quer saber? Não é importante.

Ela tinha as unhas vermelhas num dia chuvoso. E justo por esse não ser de forma alguma um bom motivo pra se apaixonar por alguém, foi o melhor motivo do mundo.


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Notas finais do capítulo

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