Mestiça escrita por AninhaPah


Capítulo 1
Mudança




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Minha nova casa estava próxima. O carro vermelho, com detalhes em preto nas janelas, era alugado para aquela viagem. Não era grande coisa, mas me sentia segura lá dentro. Não consegui reparar muito no ambiente, estava com os fones de ouvido me promovendo uma nova embriaguez sonora, ao som aleatória de um rock antigo, do qual não me lembrava o nome. Só me lembro de ter visto alguns gatos na calçada, correndo em direção a uma casa velha, com musgo por toda a estrutura frontal, ainda de madeira, que se destacava como relíquia em meio ao design do bairro. De vez em quando, me esquecia das pessoas que estavam comigo, enquanto planejava mais uma loucura de verão.

Uma mulher de cabelos escuros com mechas fortemente chamativas, aparentando ter pouco mais de vinte e cinco anos, estava ao volante com um sorriso animado e uma voz angelical que sempre chamava minha atenção, quando me chamava para fazer alguma pergunta.

Pouco depois, lembrei-me de que era apenas minha mãe, sendo ela mesma. Meu tio havia cuidado de tudo para que minha estadia fosse agradável na nova moradia. Não era bem o lugar que eu planejaria estar – não o visitava a muito tempo – só estava esperando o momento certo para abrir a porta, correr para o aeroporto e pegar o primeiro avião para casa.

–Forks era minha casa quando nasci. Fiquei lá até meus cinco anos, então vendemos nossa casa e fomos para Miami. –respondi para ela, sem me importar muito com o assunto – Ainda me lembro disso.

–Filha, acha que poderia sorrir um pouco? Não é tão ruim assim. – seu sorriso ao me dizer aquilo, era muito intimidador

–Quando chegarmos, posso pensar nisso.- me virei novamente para a janela, procurando alguma lembrança boa daquele lugar – Não prometo nada.

–Como quiser. Mas ainda seria muito mais amigável com um sorrisinho. – ela continuava com semblante exuberante, me fazendo repensar um pouco e exibir um sorriso tímido, ainda sem encará-la – Viu como foi fácil?

Continuamos a viagem em silêncio, apenas tentando aproveitar ao máximo aquele último momento juntas, antes de que chegássemos lá e eu tivesse de dizer adeus ao meu antigo eu.

A música acabou, o que era uma pena, já que eu amava aquela música. Estávamos em um lugar conhecido, agora. A casa da senhora Brown, que amava usar um vestido de tons diferentes de marrom e fazia os melhores cookies daquela parte de Seattle. Também reconheci a casa do Sargento Morgan, não que o nome dele fosse esse, mas era sinal de respeito para com seu costume, que pronunciássemos seu sobrenome ao falar com ele.

Estava a poucas casas da minha futura prisão, mas não queria pensar nisso agora, era muito ruim reconhecer a derrota.

–Estamos chegando, por quê não resolve logo aparentar felicidade? Estamos perto de casa ainda. – minha mãe ainda estava sorrindo, o que fazia muito, mas parecia inquieta – Olha, parece que chegamos, vou estacionar próxima a garagem.

–Tudo bem. – resolvi responder, demonstrando que não estava totalmente morta no banco de trás- Tem certeza que não precisa de mim em casa?

–Não vamos começar com isso agora, não é, lindinha? - desligou os olhos de mim, engatando o carro e puxando a alavanca que abria o porta-malas – Não vai descer?

Não queria abrir a porta, estava olhando para aquela casa de tijolos á vista, uma varanda antiga e um jardim muito bonito. Desconfiei do fato das flores estarem tão lindas nessa época seca do ano, mas resolvi encarar minha realidade opressora.

Peguei minha mochila bege, repleta de coisas pessoais para mim e me dirigi ao porta-malas, pegando minhas duas malas, uma vermelha com rodinhas e uma preta de mão, que estavam mais leves do que me lembrava. Fechei o mesmo e fui para a calçada, carregando-as em direção à porta do carro.

–Mamãe te ama muito, filha. – agora, a voz de tristeza era transparente, o que me deixava feliz em saber que ela se importava – Se comporte.

– Também te amo. – hesitei por um momento em sair de lá, para ver sua partida sem mim – Aproveite suas férias de mim. – meu sorriso falso estava sendo útil, afinal.

O carro começou a se afastar, mas parecia que eu mesma estava sumindo em um movimento involuntário. Olhei para todos os lados e percebi que não havia movimentação. Que maravilha, era uma cidade fantasma.

Virei-me para trás e comecei a andar em direção à porta. Bati algumas vezes, mas de nada adiantou. Meu tio devia ter saído para seu trabalho de corretor. Sorte que me lembrava perfeitamente de quando vinha aqui e tinha de pegar a chave embaixo do tapete que se encontrava em frente a soleira da porta. Fiquei surpresa em ver que ainda estava lá, exatamente como me lembrava.

Coloquei a chave no lugar após abrir a porta, olhando em volta rapidamente para reconhecer o perímetro e me prontifiquei em ver meu novo quarto. Subi as escadas e encontrei o antigo quarto de meu primo. Parecia limpo, mas sabia que tudo estava embaixo da cama ou atolado no guarda-roupas. Resolvi ficar lá, como ele tinha se formado e ido morar fora, não precisaria da vista privilegiada para os campos Sollarius, de que seu quarto oferecia.

Desfiz as malas, procurando um canto naquela bagunça e peguei minha toalha e o sabonete que comprei para essa viagem, indo ao banheiro para refrescar minhas ideias e me preparar para o primeiro dia em uma nova cidade.

Após o banho quente e demorado que me senti no direito de usufruir, andei de toalha pela casa, para me arrumar em meu novo quarto. Parecia a primeira vez que eu estava sozinha. Tive de revirar tudo a procura de uma roupa confortável, mas percebi que minha mãe havia colocado roupas de garotinha na minha mala. Agora, parecia um pesadelo. Abri o tenebroso guarda-roupas de meu primo e encontrei coisas úteis, pelo menos para meus planos. Peguei minha calça jeans azul favorita, uma blusa do time preferido do meu primo, um par de meias brancas e meu tênis de sempre. Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo, ainda úmido e desajeitado. Lembrei do livro que estava lendo e peguei-o de dentro da mochila, juntamente com meu CD player, indo para a frente da casa, procurando uma boa sombra para recostar meu ser e ler sem interrupções.


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