Distance escrita por Gustavo Henrique


Capítulo 8
Capítulo 8 — Eterno.




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We knew this day would come,

we knew it all along

How did it come so fast?

This is our last night but it's late

And I'm trying not to sleep

Cause I know, when I wake

I will have to slip away

And when the daylight comes

I'll have to go

But tonight I'm gonna hold you so close

Depois de uma árdua batalha, Breu fora derrotado por Jack, auxiliado pelos guardiões, Norte, Coelhão e Fada do Dente, e por todas as crianças que puderam encontrar. Humilhado, o bicho papão foi lançado de volta ao seu esconderijo, onde permaneceria por muito tempo, esquecido por todos.

Finalmente, estava tudo em paz.

— Jack? Está tudo bem? — A Fada indagou, quando observou o amigo encarando o ambiente, com o olhar perdido. Seu pensamento estava distante.

— Não é nada — respondeu, mantendo os olhos na neve. Agachado, sentia a precipitação gelada caindo sobre si e sobre a cidade, tingindo a vista de branco. Apesar de ter achado aquilo estranho, Fada resolveu deixá-lo, pensando que talvez estivesse apenas cansado. Mal sabia ela, porém, que o garoto encarava a neve para lembrar-se de uma pessoa.

. . .

Jack e Elsa estavam realmente apaixonados. Depois do beijo, eles experimentaram, verdadeiramente, a felicidade. Ninguém sabia, no entanto, que os dois se encontravam escondidos. Para o povo e para a irmã, Elsa era uma rainha solitária, dedicada ao seu reino e à si mesma.

Tornaram-se amantes em segredo. Compartilhavam histórias, confissões, sentimentos, tudo o que apenas o outro pudesse entender. Quando estavam juntos, o coração batia mais forte e a respiração era mais pesada, e a angústia que sentiam quando estavam separados era mais do que podiam suportar. Amaram-se, pura e intensamente.

Até que o tempo começou a mostrar seus efeitos.

Quando as primeiras rugas surgiram na pele da amada, Jack notou que o que mais temia estava acontecendo. Possuía poderes fantásticos, era verdade, mas nada podia fazer contra o tempo. Era incontrolável, indomável, implacável. Decidiu, então, que deveria aproveitar cada segundo ao seu lado. Cada momento era valioso, imprescindível. Passou a fazer de tudo para que tivessem um ao outro.

Ouvira, certa vez, que a morte sorria para todos os homens, e a única coisa que eles eram capazes de fazer era sorrir de volta. O problema é que Jack só sorria quando ela estava presente.

Mas, por mais que o espírito não quisesse, o tempo passou.

Décadas se passaram.

Elsa estava sentada em seu quarto, coberta por um vestido sutil de cor anil. A pele, ressecada, ainda tinha o mesmo brilho elegante e belo de sempre, e os olhos azuis, apesar de cansados, eram determinados. Depois de tanto tempo, Frost ainda a achava a mulher mais linda que vira na vida.

— Jack... — ela disse, com dificuldade — Você me promete uma coisa?

— O quê?

— Promete... que vai me esquecer?

— Te esquecer?

— Sim... Você vai passar um bom tempo aqui. Sem mim.

Sem ela.

Droga! Preciso de mais tempo!

Jack segurou as lágrimas. Encarou a rainha com um olhar triste e disse:

— Você sabe que é impossível. Eu te amei, te amo, e continuarei a te amar. Nem mesmo uma eternidade vai mudar isso. — Mostrou-lhe os dentes brancos, mesmo que não houvesse motivo algum para sorrir.

Elsa fechou os olhos, mostrando um sorriso tímido e, sem perceber, deixou que os olhos lacrimejassem. Segurou as mãos do espírito e sussurrou, com ternura:

— Eu te amo, Jack Frost.

Jack segurou a sua mão entre as dele e encostou nela a própria testa. Fechou os olhos e lembrou de tudo que passaram. Todo o amor que sentiram. Toda a felicidade que partilharam. Tudo o que significavam um para o outro.

— Eu também te amo, Elsa.

Quando abriu os olhos, no entanto, Elsa repousava, serena. A vida a abandonara. O coração não batia mais acelerado. A respiração não era mais pesada.

A angústia, porém, viveria com ele para sempre.

Jack soltou a mão da amada e beijou suavemente sua testa, deixando, finalmente, as lágrimas percorrem seu rosto. Admirou uma última vez a imagem inerte da rainha antes de deixar o quarto.

. . .

— Jack? — A Fada o trouxe novamente para a realidade, tirando-o do transe de sua própria imaginação. — Vamos? — Frost notou que os outros guardiões seguiam seu caminho e que deveria fazer o mesmo. Depois que o inimigo fora vencido, não havia muito mais o que fazer por ali. Logo deveriam voltar aos seus afazeres, a cuidar das crianças, como estavam destinados a fazer.

Levantou-se. O pequeno esforço, aliada às lembranças que o atingiram, trouxeram-lhe um certo desconforto. O vento sacudiu seus cabelos brancos e, depois de observar a cidade, passou a refletir sobre si mesmo. O porquê de ter sido escolhido como guardião. O porquê de estar ali. O porquê de a ter conhecido. Recordou-se da sua expressão alegre, do seu sorriso bobo e de seu olhar compenetrado. Ao sorrir de todas aquelas memórias, percebeu, ali, que a angústia não seria a única coisa que o acompanharia dali pra frente.

O amor que sentia também seria eterno.


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Notas finais do capítulo

FIM! Curtiu? Comente, favorite, recomende! :D