Distance escrita por Gustavo Henrique


Capítulo 4
Capítulo 4 — A Rainha e o Piano




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/467926/chapter/4

"If all the roads were paved

With ice that wouldn't thaw or crack

I could skate from Maine to Nebraska

Then on to Alaska and back

Cuz you keep me warm"

Jack passeou a noite toda pela cidade, fazendo nevar por onde passava. Invadiu a casa das crianças e viu que, até lá, o homem de areia fazia seu trabalho. Assistiu os sonhos de muitas, lembrando como a inocência gerava imagens tão incríveis. Passou horas absorto no que fazia que nem percebeu quando o dia amanheceu.

Voltou até o castelo e não encontrou Elsa na cama. Fazia sentido, o sol subira já fazia algum tempo. Por isso, seguiu os corredores para achá-la no Salão Principal, comendo com Anna o café da manhã.

— Dormiu bem, Elsa?

— Dormi. — A garota respondeu, mas com uma expressão angustiada. Tivera um sonho estranho na última noite e precisava sanar suas dúvidas com alguém. A irmã parecia conhecer as histórias e lenda do povo, então decidiu arriscar. — Anna...

— Sim?

— Você já ouviu falar de algum Jack Frost?

O garoto andava sobre os móveis, mas se assustou ao ser mencionado e caiu, fazendo um som surdo que só ele poderia ouvir.

— Não, nunca. Por que?

— O nome surgiu na minha mente enquanto dormia.

Ela sonhou comigo?

— Talvez seja o nome do seu prometido? — Anna sorriu, tirando sarro da irmã — O destino trabalha de maneiras misteriosas.

— Pare com isso. — respondeu, ríspida. — Não tenho tempo para isso. Tenho um reino para tomar conta.

— Não existem reis e rainhas à toa, irmã — Anna fez questão de enfatizar as duas palavras.

Elsa não respondeu. Não havia a mínima chance de se envolver com alguém, não agora. Seus sentimentos, seu coração, estavam mais confusos do que nunca. Não sabia quem era, quem deveria ser, quem diria com quem passaria seus dias.

As duas terminaram a refeição em silêncio e seguiram caminhos diferentes depois disso. Elsa não fazia por mal, só que sabia que afastava a irmã com a rispidez de suas respostas. Agia assim desde sempre e não tinha mínima ideia de como mudaria seu comportamento. Depois de se separarem, a loira precisava de um tempo a sós. Subiu as escadarias com calma e o espírito a seguiu, curioso.

A garota adentrou em um dos cômodos e Jack o fez alguns segundos depois. Viu que ela estava sentada de frente a um grande piano de calda, de madeira bem polida e marrom, muito bem conservado. Viu, também, que a sala era pequena, se comparada às outras que haviam no castelo, mas os adornos de ouro e outras pedras preciosas nas janelas, pilastres e no lustre denunciavam o dedo nobre na decoração. Fora o piano, o cômodo não tinha nenhum móvel.

Era lindo.

Elsa fechou os olhos e esticou os dedos, passando-os levemente sobre a borda das teclas. Não queria apenas tocar o piano, mas sentí-lo em cada nota. Movimentou as mãos, emitindo uma música solene, calma, e cantou.

Don't let them in, don't let them see

Be the good girl you always had to be

Conceal, don't feel, don't let them know

Well now they know

Fez uma pequena pausa, com um longo suspiro. Subiu as mãos ao rosto e Jack notou uma lágrima percorrer a pele macia da garota. Com os olhos bem abertos, ela continuou, mas em um ritmo bem mais lento e triste.

Let it go, let it go

Can't hold it back anymore

Let it go, let it go

Turn my back and slam the door

Dessa vez, não pôde conter o choro.

O que faria dali em diante? Como seria uma boa rainha para seu povo? Poderia fingir o quanto pudesse, ainda carregava uma maldição consigo. Não podia se aproximar daqueles que amava, com medo de machucá-los. Era uma bomba relógio, vira isso na última vez que fora posta a prova, e isso a aterrorizava. Ficaria sozinha, mesmo que lutasse com todas as suas forças.

Antes de Elsa continuar a música, Jack decidiu agir. Flutuou sobre o piano e, com um movimento de cajado, pequenos flocos de neve começaram a cair sobre os dois. No ar, Jack desenhou formas alegres, sorrisos e risadas, que passaram a rodear suavemente o conjunto, alegrando o ambiente. A loira ficou maravilhada e as lágrimas pararam. As mãos, antes nas teclas, agora estavam erguidas no ar, fazendo contato com a neve.

De que adiantava tanta preocupação? Daria um jeito, tinha que acreditar que daria. Controlaria seus poderes. Não ficaria sozinha.

Elsa voltou os dedos ao piano e continuou a cantar, mas dessa vez alegre e decidida.

And here I stand

And here I'll stay

Let it go, let it go

The cold never bothered me anyway

Sentia-se melhor. Depois de tudo que aconteceu, sentia-se novamente confortável. Parou, no entanto, para refletir: não tinha feito nada daquilo.

Então, quem tinha feito?

— Jack... Frost? — disse, em voz alta, envergonhada com o fato de estar conversando sozinha.

Ela está dizendo o meu nome?

O garoto se movimentou o máximo que pôde, pulou, correu, balançou os braços, mas, como esperava, ela não conseguia vê-lo. Pensou, pensou e pensou.

Isso!

Jack sentou-se ao lado de Elsa, também encarando o piano. Usando o cajado e sua magia do frio, congelou levemente o ar em cima das teclas, em sequência, e as notas começaram a sair. A garota se assustou, mas não se moveu. As notas saíam, uma a uma, e a melodia tomava conta de seus ouvidos.

— Quem é você? — Perguntou mais a si mesma do que a qualquer outro.

Não houve resposta. A música continuou por mais alguns segundos, e Elsa manteve os olhos fechados para apreciar completamente a música. Quando o piano parou de entretê-la, sorriu, impressionada com o que acabara de acontecer.

Encarou o cômodo vazio, na esperança de receber as respostas que queria. Mas nada. Somente o silêncio.

— Espero que você esteja aqui. — comentou, com os olhos baixos e o sorriso triste. — Estou cansada de estar sozinha.

Levantou-se, tímida, e caminhou lentamente até a saída. Olhou para o piano uma última vez e fechou as portas.

— Vou mudar isso. — o espírito sussurou, para não se esquecer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aeeehoo! Mesmo esquema, elogios, críticas, sugestões, só comentar! See ya!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Distance" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.