Yellow escrita por Rowena Ravenclaw


Capítulo 2
City of angels


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo: 30 seconds to mars - City of Angels
http://www.youtube.com/watch?v=5iui9qr6aOw
—> Cada capítulo tem uma música tema, da qual um trecho será colocado no final :D
Espero que gostem, boa leitura!



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No fim Snowbridge não era tão ruim. Tem até praia! Ok, tirando o fato de ser bastante pequena, e fazer frio (tipo, muuuito frio) quase todos os dias do ano, parecia ser uma cidade legal de se morar. Tá bom, na verdade, eu tinha gostado se saber que aqui quase nunca faz calor.

Eu gosto de frio. Problem?

Snowbridge é uma pequena cidade litorânea no norte da Inglaterra. Mais ou menos dez mil habitantes. Um lugar tranqüilo, esquecido pelo tempo... É a cidade em que minha avó materna Meredith nasceu, foi ela quem nos convenceu a vir para cá.

Nossa família precisava de uma vida nova, mamãe precisava recomeçar. Se continuássemos em Londres, ela não encontraria um jeito de esquecer o papai.

Já fazia três anos desde que ele se fora em um acidente de carro. Ele era um empresário bem sucedido, dono da maior salina do Reino Unido, um homem muito ocupado, mas que nunca deixava de se dedicar á sua família. Ele era o melhor pai do mundo, dizer adeus foi a coisa mais difícil que fizemos.

Mas era preciso seguir em frente, então decidimos nos mudar, já que tudo em nossa antiga casa lembrava o papai.

Esther, minha mãe, vendeu todas as ações de nossa empresa e o dinheiro arrecadado daria para que vivêssemos bem para sempre. Mas ela gostava de trabalhar, era dentista. Resolveu então abrir um consultório odontológico em Snowbridge. Meu irmão Matt e eu apoiamos totalmente. Sabíamos que trabalhar a ajudaria a cicatrizar as feridas.

Então nos mudamos hoje de manhã. Eu já estava terminando de guardar as coisas da última caixa de papelão em meu novo quarto, que eu tinha que admitir que era um arraso. Aliás, toda a casa era um verdadeiro arraso! Enorme, em estilo vitoriano, com um lindo jardim. Da minha varanda dava para se ver a praia, o Oceano Atlântico ali, pertinho de mim.

Eu realmente queria ser feliz aqui.

Coloquei o retrato de papai em cima do criado mudo, para que todos os dias eu pudesse acordar e vê-lo ali com seu sorriso enorme, abraçando a todos nós. Eu sabia que aonde quer que ele estivesse, estaria nos protegendo.

Tudo pronto. Meu novo quarto, minha nova casa, minha nova vida.

Resolvi ir até o quarto de Matt, e ver se ele já tinha terminado de arrumar as coisas dele.

Bati na porta que estava aberta, e assim que ele me viu abriu seu enorme sorriso.

– Scarl! Veio me ajudar? – Perguntou em meio sua pilha de livros.

Matt tinha dezenove anos, e era estudante de Medicina em uma famosa universidade em Londres. Mas como nos mudamos, ele transferiu seu curso para Carlisle, que ficava a poucos quilômetros de Snowbridge.

Tinha cabelos pretos como os do papai, e os olhos azuis cinzentos de mamãe. Seu sorriso era idêntico ao do papai, grande e acolhedor. Sua personalidade também era bastante parecida com a do papai, ele estava na maioria das vezes sorrindo, sempre conseguia ver o lado bom das coisas. Era o melhor irmão mais velho que alguém poderia ter.

– Vim. Eu sabia que você ainda não iria ter terminado. – Andei até onde ele estava.

Suas roupas estavam todas espalhadas em cima da cama, seus livros da faculdade esparramados pelo chão... Hmm, Matt não é muito bom em organização.

– Na verdade eu mal comecei.

– Tá bom, só porque eu sou uma ótima irmã, vou te ajudar aqui.

Ele sorriu e me jogou um beijo.

Uma hora e meia depois já havíamos terminado. Organizamos os livros na estante por assunto, colocamos suas roupas e sapatos no closet, arrumamos a cama, e colocamos os objetos pessoais em seus devidos lugares.

Passar o tempo com Matt não era esforço nenhum, depois de terminado o serviço, nos jogamos em sua cama e ficamos conversando pelo resto da tarde. Relembrando os momentos de quando éramos pequenos, das visitas á casa da vovó Meredith em que ela sempre fazia deliciosos cookies com pedacinhos de chocolate, e de quando saíamos para pedalar pelas ruas de Londres.

– Nós podíamos fazer de novo Scarl! Vamos pedalar? Sair por aí, e conhecer a cidade. Ir até a praia... – Ele sugeriu entusiasmado.

Matt era mesmo incrível! Sair para pedalar me parecia ser uma ideia maravilhosa. A vista do crepúsculo na praia deveria ser perfeita.

– Como antigamente? – Perguntei erguendo uma sobrancelha.

– Como antigamente. – Prometeu ele.

O abracei e em seguida me levantei.

– Vou trocar de roupa e vestir um casaco! – Falei enquanto saía.

Lá fora deveria estar frio. Então visto um casaco nude, calça jeans, calço um tênis com estampa de oncinha e coloco uma boina. Pego meu celular e saio.

– Estou pronta! – Grito para Matt.

– Já estou indo. – Ele responde.

Matt sai de seu quarto. Ele também colocou roupa de frio, e vem sorrindo para mim.

– A mamãe e a Margareth estão lá embaixo arrumando algumas coisas no jardim. Temos de avisar á elas que vamos sair. – Disse enquanto passava um braço pelo meu ombro.

Margareth trabalhava conosco desde que éramos bebês. Sempre cuidou de nós, e como não era casada e nem tinha família em Londres, se mudou conosco. Nós éramos sua única família. Era uma mulher de quarenta e poucos anos, mas nunca aparentaria ter essa idade. Era alta e atlética, tinha longos cabelos caramelados que sempre estavam trançados, e olhos castanhos escuros. Era uma pessoa muito doce.

Descemos as escadas e fomos até o jardim. Elas estavam plantando crisântemos rosados em um canteiro, e estavam todas sujas de terra. E estavam tão concentradas que nem ouviram nossa chegada.

– Vocês estão parecendo duas porquinhas! – Matt zombou.

Nós rimos e mamãe respondeu:

– Plantamos flores a tarde inteira, mas já estamos terminando.

– O jardim ficará uma beleza! – Complementou Margareth.

– Tenho certeza que sim. – Disse Matt.

– Aonde vocês vão? – Perguntou mamãe.

– Pedalar por aí. – Respondi sorrindo.

– Pedalar? Faz tanto tempo que vocês não saem para pedalar! – Ela exclamou admirada.

– Hoje bateu aquela nostalgia das vezes em que pedalávamos livres pelas ruas de Londres, então lá vamos nós reviver os velhos tempos. – Disse Matt orgulhoso de sua ideia brilhante.

– É isso aí. Vamos pegar as bicicletas, Matt? – Olhei para ele.

– Yeahh baby! Vamos lá. – Respondeu humorado como sempre.

– Tomem cuidado! E voltem para o jantar! – Recomendou mamãe.

Pegamos as bicicletas e Matt encheu os pneus que estavam murchos. Montamos e então, saímos pedalando pelas ruas de Snowbridge.

Era um momento de pura felicidade. Ríamos sem parar, os cabelos voando com o vento frio batendo em nossos rostos.

Um tentando ultrapassar o outro. Matt ganhando, é claro.

Nos sentíamos completos, finalmente.

Ao chegarmos a praia, descemos das bicicletas e nos sentamos em um banco de madeira na calçada para admirar a vista.

Não éramos os únicos ali. Muitas outras pessoas estavam pela praia, alguns sentados na areia, casais namorando, pais brincando com seus filhos. Jovens se divertindo com coisas banais, jogando água uns nos outros... Deviam ter a minha idade.

O mar azul, as ondas quebrando suavemente, um lindo farol ao longe. O sol se pondo e tingindo a vista de alaranjado. Me aconcheguei no abraço de Matt e sabia que não precisávamos de nenhuma palavra.

A sensação de paz que nos preencheu, não era sentida há tempos...

E foi nesse cenário de felicidade plena que o vi pela primeira vez.

Ele estava caminhando na areia com um outro garoto, eles iam na direção da roda de adolescentes.

Tinha cabelos lisos castanho-escuros, olhos da mesma cor. Um sorriso perfeito e encantador. Ele andava despreocupado, com as mãos nos bolsos do moletom preto que vestia, rindo de alguma coisa que o outro garoto falava.

Até que seu olhar se encontrou com o meu, e por mais que me senti constrangida por ter sido pega encarando-o não consegui desviar o olho. Senti um arrepio por todo o corpo e minhas pernas de repente ficaram bambas. Ele encarava de volta.

Desviei o olhar morrendo de vergonha, escondi o rosto nos braços de Matt e não o tirei de lá até ter certeza que ele já não me olhava mais.

– Lindo não é?! – Perguntou Matt olhando o horizonte.

O garoto estava de costas para mim agora, conversando com os outros jovens do grupo.

– Perfeito. – Respondi. Mas não sabia se me referia a vista ou ao garoto que acabara de acordar as borboletas que dormiam em meu estômago.

“Perdido na cidade dos anjos

Lá no conforto dos estranhos

Me encontrei nos alpes queimados

Na terra de um bilhão de luzes

Uma vida, um amor...”


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Notas finais do capítulo

Até o próximo *---* Comentem se quiser!



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