O dia seguinte amanheceu agitado. Todos haviam acordado com um grito, vindo direto de um dos quartos. A direção do orfanato foi chamada, e todos os alunos foram encaminhados para o jardim.

Os cochichos então começaram.

_O que houve?

_Você viu o que aconteceu?

_Eu estava tomando banho quando...

_Veio do quarto da Anna, não é?

_Não vejo Higor, espero que ele esteja bem.

_Yuri não está aqui também?

_Por que...

_MAS QUE PORRA TA ACONTECENDO AQUI? _ Mello era quem havia gritado e Matt estava logo ao lado dele, segurando em seu ombro para não cair de sono _ Alguém aqui sabe quem foi que gritou mais cedo? Aquela maldita voz quase estourou meus tímpanos!

_Acho que foi a Anna, Mihael _ Uma garota falou, como se fosse a presidente estudantil de algum colégio caro.

_Não te dei intimidade para dizer o meu nome, te dei? _ Rosnou. A garota se encolheu pelo tom de sua voz, envergonhada _ Não faço ideia quem é essa Anna. Mas não importa quem foi, eu vou dar uma surra nessa desgraça!

_Mello, fale mais baixo, por favor _ Matt bocejou, finalmente ficando inteiramente em pé.

_Ah, desculpa, Matt. Você está bem?

_Hm? Sim, por que?

_Você estava agindo estranho ontem, tem certeza de que está bem?

_Er, estou... E é você quem está agindo estranho agora, todo preocupado...

_Eu... Eu não estou preocupado!

Os dois coraram, não se olhando mais nos olhos por causa da vergonha. As conversas já tinham continuado, mas nenhum deles percebeu. Até que Ben chegou, abrindo caminho até ficar frente à frente com Mello e Matt, sua expressão não era das melhores.

_Onde está Beyond?

_Não sei _ Mail respondeu simples

_Não faço ideia onde aquele demônio está, talvez tenha se perdido no meio do caminho, do jeito que ele é distraído _ Mihael resmungou com rancor.

_É sério, não estou o encontrando. E se ele tiver alguma coisa haver com aquele grito? Vocês sabem como ele é instável...

_Peraí, peraí _ Mello agitou as palmas das mãos para Ben e lhe lançou um olhar incrédulo _ Você está dizendo que aquele túmulo de gente pode ter atacado, assim de repente, alguma outra criança?

_Sim, vocês sabiam que ele escondia uma faca embaixo do travesseiro, não é...?

_Sim, o que tem? Todo mundo deve ter uma para se defender _ Mello falou como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo, apesar de não ser.

_É... Mas quando acordei, vi que ele não estava em lugar nenhum e a faca tinha desaparecido.

_Você está falando sério? _ Matt se manifestou, meio alterado _ Você realmente está culpando Beyond de matar alguém? Vocês sabem que ele nunca faria isso! _ Mail viu as expressões que seus amigos fizeram e ficou exasperado _ Qual é! Só eu aqui que acho isso? Mihael, se lembra de quando éramos pequenos? E o Beyond te machucou sem querer? Ele chorou e pediu desculpas, porque estava realmente arrependido! Eu vi o quanto ele ficou assustado vendo o seu sangue. Depois daquilo, eu nunca mais duvidei que ele fosse uma má pessoa. Ele nunca machucaria alguém!

_Agora que você falou, eu me lembro dele me observando preocupado enquanto os monitores cuidavam do meu machucado... Mas eu fiquei com tanta raiva dele naquela hora, que nunca realmente pensei naquilo direito. Você está certo, Matt. Eu o julguei errado por causa da personalidade meio sinistra dele...

_Pois eu não me convenci _ Ben reclamou _ Beyond cresceu, ele pode ter mudado. Estou neste orfanato faz pouco tempo, mas sempre vi a indiferença nos olhos dele quando outras crianças se machucavam gravemente. Para mim, ele é culpado.

_Não importa. Eu acredito no Matt _ Mihael franziu a testa _ Se ele diz que é impossível Beyond machucar alguém por querer, então é mesmo impossível! Aliás, nem mesmo sabemos se alguém se machucou. Sei lá, talvez a tal da Anna tenha só visto uma aranha.

_Não chamariam a direção e nos colocariam para fora somente por causa de uma aranha _ Ben pareceu pensativo _ Deveríamos perguntar à algum adulto, ou procurar por Beyond...

_O que tem o Beyond?

Os três viraram-se e avistaram a pequena pessoinha que estava ali, os encarando como se fossem três desconhecidos.

_Nate! Você está bem? _ Mello sorriu

_Acordar com um grito e logo depois ver essa sua cara feia não é um bom dia para se ficar bem, não acha?

_Ora, seu moleque... _ Rosnou entre dentes, mas Near o ignorou.

_Matt, você viu o Beyond?

_Estávamos agora mesmo dizendo que talvez devêssemos ir procura-lo. Desculpe, mas não o vemos desde que acordamos.

_A faca embaixo do travesseiro dele também sumiu _ Ben acrescentou, apenas para poder colocar sua teoria em primeiro plano novamente.

Nate arregalou os olhos.

_Ele pode estar em perigo _ Após dizer isso, saiu correndo.

_...

_Cara... Não havia pensado nisso... _ Matt parecia perplexo

_Você não deveria ter contado isso à ele, Ben! _ Mello reclamou _ Se acontecer alguma coisa com ele, a culpa vai ser sua!

_Calma, Mello, aposto que Beyond só foi ao banheiro ou algo assim _ Matt mentiu, era óbvio que não havia sido nada disso, mas só queria tranquilizar o namorado.

_Quem se importa com aquele, demônio? Vamos logo procurar pelo Nate! _ Agarrou a mão de Mail e começou a correr na direção em que a ovelha tinha ido.

_... _ Ben ficou pra trás, e abriu um sorriso sádico, mas ninguém percebeu.

–~----~----~----~----~----~----~----~----~----~-

Logo após o almoço, foi noticiada a morte de uma das crianças, Higor. Todos se lembraram com tristeza o quanto ele era compreensivo e defensor das outras crianças do orfanato. Ele era, também, uma das únicas crianças mais velhas que ainda continuavam sem serem adotadas, porque naqueles 15 anos que morou no orfanato, ele se recusou a deixar as outras crianças sozinhas. A causa da morte era a parte mais assustadora naquilo tudo: Um corte na garganta. O assassino obviamente não queria que ele fizesse barulho algum, mas nem ao menos se deu ao trabalho de esconder o corpo.

Beyond continuava desaparecido, e o fato de que era constantemente visto brigando com Higor, apenas aumentava as suspeitas para si. O diretor do orfanato escolheu não revelar a tragédia para o resto do mundo, diminuiria o número de pessoas que adotariam seus futuros filhos ali, e apenas estragaria a imagem do local. Porém, resolveram reforçar a segurança, todas as crianças foram colocadas em observação e ninguém mais poderia sair(apenas para serem adotadas) até que achassem o responsável.

Ben estava em seu quarto, impaciente. Esperava por uma pessoa, mas não sabia se ela viria... Com certeza seria mais fácil ele ser atropelado do que vir no horário combinado.

Mello e Matt não haviam voltado desde aquela hora, mas Ben não se importava, preferia mesmo ter o quarto somente para si. A presença daquelas pessoas que tanto odiava era dispensável, por que todos eles tinham que ser tão ingênuos e burros? Pensava que era o único ali com cérebro, mas essa parte só vinha do fundo de seu ego, nunca a exibia para outras pessoas, sempre tão fechado quando o assunto era se relacionar... Era especialista nisso, muito carismático, mas não conseguia gostar de alguém o suficiente para serem amigos, apenas... daquela pessoa.

Ben suspirou de irritação, abrindo de uma vez o seu notebook. As crianças do orfanato eram proibidas de ter tal tecnologia, mas Ben sempre dava um jeito de conseguir o que queria. Agora que era amigo deles, nunca mais passaria por um aperto como quando estava com a sua antiga família.

_Hello, Ben~ A sua encomenda chegou, hahahaha!

O loiro virou-se e quase sorriu, mas se conteve no último segundo, hesitante. Não... Ainda não podia permitir-se em mostra-lo... o quanto estava feliz de vê-lo de novo.

_Chegou atrasado, Jeffery.