No Mundo escrita por Giovanna
Notas iniciais do capítulo
Não sei se irão gostar, escrevi isso porque estava me sentindo com vontade de fazer o que a personagem fez, só isso. Obrigada pom lerem!
- “Nervosa? – ouvi uma voz ao longe me puxando à realidade e tirando meus olhos do lado de fora da janela do ônibus.
- Um pouco. – respondi.
- Rreocupa-te não. Estou nas estradas desde que nasci e, acredite o mundo aqui fora é muito mais do que você imagina.
- Você sempre esteve com eles? – disse me referindo ao casal de amigos no banco da nossa frente.
- Não não, ele é filho do mundo, como eu , mas quando o encontrei por ai ele já tinha a companhia dela.
- Então você era sozinho até encontrá-los?
- Também não. Perdi meu pai em um acidente quando o carro caiu da ponte e foi parar no fundo de uma lagoa, só eu sobrevivi. Fiquei viajando sozinho até conhecer esses dois.
- E sua mãe? – era uma pergunta mais íntima, mas ele não se importou em responder.
- Sumiu do mapa. Pai falava pouco dela, mas o pouco que dizia me fez perceber que foi melhor assim, ele dizia que eu não iria me dar bem com ela porque éramos muito parecidos.
- Quando ela foi embora?
- Ela era muito mais viajante que meu pai e muito mais louca também. Quando ela pôde ficar de pé depois de me ganhar, virou na primeira esquina e desapareceu das nossas vidas.
- Sinto muito. – e realmente sentia.
- Não sinta. Acredito que foi melhor assim.”
Aquela conversa havia acontecido há vinte anos atrás num banco de ônibus em algum lugar do interior de Minas Gerais no Brasil. Lembro-me daquele dia e de como a história dele me fez pensar na minha vida e no que eu estava fazendo.
Na época, eu estava com quatorze anos, nova demais pra sair de casa e cair no mundo, mas minha mãe sempre soube que um dia a caçula da família iria embora e acho eu que ela pensava que esse dia até demorou pra chegar.
Pensar na minha mãe ali naquela hora me trouxe saudade de casa, não pensava nela já a algum tempo e nesses vinte anos ela nunca mais me viu, o que não significa que o contrário não tenha acontecido, afinal eu havia ido até minha cidade natal três vezes durante esse tempo e ficava a espionando de longe.
- Amélia? – uma voz disse ao meu lado, me tirando dos meus pensamentos e me puxando pra onde eu estava.
- Eu mesma. – disse me virando e me deparando com um homem alto, dos cabelos negros e olhos claros. Verdes. – Igor?!
- Prazer vê-la novamente. – disse ele com um sorriso charmoso.
- Obrigada, também é um prazer revê-lo.
Igor era o outro garoto que me levou pra vida junto com meu velho amigo e a outra garota. Perguntei à ele onde a garota estava e ele me contou que poucos anos depois que eu e meu velho amigo fomos embora, ela pirou e decidiu voltar pra casa e fazer faculdade de astrologia. E lê também disse que esperava que ela tivesse se tornado uma grande astróloga. Fiquei pensando naquilo.
- O nosso velho amigo fará falta. – disse ele olhando para o buraco na terra pronto pra guardar quem ali repousaria.
- É, fará sim. Muita. – falei com os olhos cheios de lágrimas novamente.
Eu não o via à oito anos desde que tomamos nosso último café juntos, como bons amigos e depois que saímos da lanchonete, que ficava em algum lugar da Noruega, ele seguiu para o Norte e eu fui para o Sul.
Soube, quatro anos atrás, que ele estava casado e tinha um filho de dois anos agora e que a esposa estava grávida do segundo filho, que agora era uma menina. Fiquei feliz e triste com a noticia, afinal, ele não era mais um viajante.
Há três dias soube que ele estava doente e vim visitá-lo, mas quando cheguei, ele já havia morrido e não deu tempo de eu me despedi. Agora eu estava de frente ao buraco em que ele seria enterrado.
- Vamos? – disse Igor que ainda estava ali – a família está vindo, vamos deixá-los só.
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Uma hora mais tarde eu e Igor estávamos almoçando em um restaurante da cidade onde nosso velho amigo morava com a família.
- Vamos pra onde? - Igor perguntou.
- Como assim?
- Ora, você vai voltar pra estrada não vai?
- É, vou. – afirmei.
- Então vou com você. Pelos velhos tempos.
- Claro. Será bom novo/velho companheiro de viagem. – disse e sorri.
- Vamos pra Jacarta na Indonésia amanhã.
- Não. Você parte pra algum lugar e em uma semana nos encontramos em Jacarta.
- Por quê? – perguntou.
- Preciso fazer uma coisa antes.
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E ali estava eu, de frente ao portão, tomando coragem pra bater e dar de cara com o passado e com quem um dia me deu a liberdade.
Abri o portão, fui em direção à porta e bati. Ouvi um radio que estava ligado tendo o volume baixado e então a porta se abriu.
- Pois não? – disse a senhora que estava à porta.
Ela estava muito mais velha do que vinte anos atrás, claro, com o cabelo curto e branco, continuava pouco magra e baixinha, expressão de quem já estava cansada e velha. Pelas minhas contas ela estava com setenta e três anos. Lembranças da minha infância ao lado daquela mulher vieram à tona e meus olhas se encheram de lágrimas e tive vontade de abraçá-la, mas me contive e então ela disse:
- Amélia? – e me abraçou um abraço forte, desses que você não quer mais se soltar e ela já estava chorando rios quando eu respondi:
- Oi mãe.
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