Unrelated escrita por Giovana Marques


Capítulo 2
Olhos Azuis


Notas iniciais do capítulo

Olá leitor! Finalmente consegui terminar o segundo capítulo, hehehe! Eu sei que tenho enrolado com as fics, mas estou procurando criar a rotina de escrever todos os finais de semana, então postarei os capítulos ou nas Sextas, nos Sábados ou nos Domingos, alternando, Unrelated e Opposite, ok? Pode ser que nos feriados também saiam capítulos novos de ambas as histórias. Então tudo o que eu peço, pra variar, é um pouquinho de paciência até eu me adaptar a essa rotina.
Nesse capítulo só a Cecille narra porque se a Alicia também narrasse, o texto ia ficar meio longo e desnecessário. Alguns fatos ainda não estão claros, mas conforme os capítulos forem saindo, você vai entender melhor ;)
Espero que você goste do cap. e mande reviews com a sua opinião sobre a história, isso me incentiva a escrever. Um beijo e boa leitura :3



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Cecille

Abro o chuveiro e apoio minha cabeça na parede, deixando a água quente massagear minhas costas. Fecho os olhos e tento evitar olhar para o banheiro enorme e luxuoso, assim como todo o resto da casa.

Eu esperava que as coisas por aqui fossem um pouco mais extravagantes em relação às coisas as quais estou acostumada, mas mesmo assim acabei me surpreendendo ao colocar os olhos, pela primeira vez, no casarão branco de três andares, com uma piscina enorme e vista para o mar. Meu pai e sua família vivem no condomínio mais caro da cidade e, aparentemente, em uma das casas mais bonitas também.

Por dentro, a casa também é de impressionar. Os cômodos são grandes e bem decorados, sem falar que me sinto diminuta dentro deles. Até mesmo o quarto de hospédes, que é o que eu vou ficar, é exagerado.

Deveria estar feliz pelo conforto e tudo mais, mas a verdade é que me sinto meio assustada com tanta coisa. Sem falar, que Margaret resolveu dar um jantar em comemoração à minha chegada e convidou várias pessoas que eu não conheço, mas que segundo meu pai, estão ansiosas em me conhecer. Claro, que tudo não passa de conversa fiada. Quer dizer, por que diabos os sócios do meu pai iam querer me conhecer?

A verdade é que Margaret e meu pai só estão tentando me fazer sentir especial e parte da família, mas como eu já disse antes, isso não vai acontecer.

Respiro fundo quando lembro do jeito que meu pai chamou sua nova enteada, Alicia, no carro mais cedo. “Raio-de-sol”. Como se já não bastasse a garota ter olhado para mim da cabeça aos pés como se eu fosse um inseto... Mas o apelido foi a pior parte, me machucou de verdade. Fez parecer que ele é mais próximo dela do que de mim. E talvez até seja.

Termino de me lavar, me enrolo em uma toalha e ando até o quarto, cansada. A única coisa que eu quero fazer no momento é deitar e dormir, mas tenho um jantar para encarar. O meu jantar, o jantar em comemoração à minha chegada.

Então penso comigo mesma, enquanto ando em direção ao guarda-roupa e lembro do olhar de zombaria de Alicia, quando nos reencontramos no aeroporto: “É, agora é hora de impressionar.”

Coloco um vestido preto com um decote discreto e que vai até um pouco acima dos meus joelhos. Arrumo meus cabelos em cachos (o que não é fácil, mas até que acaba ficando melhor do que eu espero) e faço uma maquiagem discreta, exceto pelo batom vermelho, claro. Espirro um pouco do meu melhor perfume no pescoço e nos pulsos e calço sapatos pretos, combinando com o vestido. Quase esqueço dos meus brincos dourados, mas felizmente lembro deles antes de sair do quarto.

Pressiono meu ouvido na porta e estremeço ao ouvir vozes no andar de baixo. Ao que parece, muitos dos convidados já chegaram.

Dou uma última olhada no espelho e que gosto do que vejo. Até que estou bonita... Simples e elegante. Alguém um dia me disse que “menos é mais”. Costumo levar a sério esse pensamento.

***

Desço as escadas até o primeiro andar, ouvindo as vozes ficarem cada vez mais altas. Também ouço uma música clássica ao fundo, o que faz meu estômago revirar de nervoso. Eu não costumo ser tão tímida assim, mas a situação é diferente das quais eu costumo viver, afinal, tenho que fazer os amigos magnatas da família gostarem de mim. Não que me importe com o que pensem, mas pelo meu pai. Quero que ele mantenha o orgulho que sente de mim, às vezes isso, quando eu menos espero isso se transforma na minha maior motivação.

Atravesso a extensa sala de estar até chegar a um corredor decorado com quadros coloridos nas paredes e vasos que parecem ser extremamente caros. Ando até a porta da sala de jantar, envergonhada demais para entrar, mas para o meu alívio meu pai está bem perto dela. Veste um smoking, assim como todos os outros homens presentes. Me aproximo vagarosamente, esperando que ninguém note minha entrada.

A sala de jantar é grande e enfeitada. Há uma longa mesa bem no centro onde a maioria das pessoas está sentada. Em uma das laterais, há uma outra mesa, repleta de diferentes tipos de comida. Algumas outras pessoas também estão de pé, conversando e garçons passam voando de um lado para o outro.

– Oi pai. – Digo sorridente, tentando convencê-lo de que estou realmente feliz em estar aqui.

– Tampinha! Meu Deus, como está linda! Igualzinha a sua mãe. – Ele diz tão alto, que praticamente grita. A maioria dos convidados ao redor nos encara. Meu pai sorri, com os olhos arregalados. Se não me engano, parece até um pouco emocionado. Meu sorriso que até então era falso passa a ser verdadeiro. Se tem uma coisa que eu gosto é quando me dizem que sou parecida com a minha mãe. Ou com o que ela era.

Então, meu pai me puxa pelo pulso e faz questão de me apresentar a todos os convidados, que se dividem em basicamente três tipos: os sócios, suas esposas e seus filhos.

Não sei se cheguei a explicar, mas meu pai faz parte de uma sociedade que dirige uma grande franquia de shoppings de luxo americanos. Ele costumava trabalhar nos shoppings de New York, quando ainda morava comigo, mas quando conheceu Margaret conseguiu ser transferido.

Sou arrastada para cima e para baixo, sendo apresentada para exatamente todos os convidados. Confesso que fico até meio perdida, são tantas famílias: Heyes, Gilbert, Mitchel, Clark, Jones, entre outras. Para falar a verdade, não sabia que o meu pai tinha tantos sócios assim.

Mas uma coisa que me deixa surpresa é o fato de todos serem gentis e interessados, ou pelo menos parecerem ser gentis e interessados ao me conhecerem. Pelos elogios em geral e puxação de saco, meu pai deve ser mesmo um dos mais destacados no ramo. Outra coisa que também me deixa surpresa é a forma com que os convidados interagem uns com os outros, como se fossem todos parte de uma grande família e se conhecessem há muito tempo. Sem nenhum preconceito nem nada, mas nunca imaginei que magnatas, donos de shoppings de luxo se reunissem e se preocupassem em serem amigos.

Quando penso que já acabei de cumprimentar todos aqui, meu pai me arrasta novamente para outro canto da sala, mas dessa vez ele diz:

– Vou te apresentar agora para o chefe de toda a rede de shoppings da Califórnia. – Fico imaginando: se meu pai já é rico, não imagino quão rico pode ser o seu chefe, mas é claro que não falo nada. – Mas ele também é meu melhor amigo. – Meu pai acrescenta, com uma risada. – Grande Nick Cross... Você vai gostar dele.

Nos aproximamos de um homem bem alto e forte. Parece ter por volta dos cinquenta anos, mas ainda assim é bonito. O que mais me chama atenção são seus olhos azuis claros penetrantes já pousados no meu pai. Diferente de todas as outras pessoas que conheci, ele não sorri. Na verdade, parece até um pouco sério demais. Não consigo imaginar por um momento, meu pai todo brincalhão, sendo melhor amigo de alguém tão inexpressivo.

– Nick. – Meu pai o chama, meio que fazendo uma reverência com a cabeça. – Essa é a minha Cecille de quem eu vivo falando. – Depois ele olha para mim. – Tampinha, esse é meu chefe, Nicholas Cross.

Os olhos azuis de Sr. Cross finalmente param em mim e apesar dele continuar sério, eu sorrio, só para ser gentil, claro.

– Sr. Cross. – Estendo a mão para cumprimentá-lo como qualquer outra pessoa normal faria ou como eu venho fazendo até agora. Mas Sr. Cross demora para me cumprimentar e de repente fico me sentindo uma idiota com a mão estendida. Abaixo-a com raiva, mas me surpreendo ao perceber que os olhos azuis de Sr. Cross estão arregalados, como se tivesse acabado de ver um fantasma. Talvez até tenha visto...

– Meu Deus! Por um momento eu até achei que fosse... – Ele exclama, demorando-se para completar a frase. Ele olha para meu pai, que já não presta mais atenção em nós, conversa com Margaret e de repente sai com ela, nos deixando sozinhos. – Eu achei que fosse a Ellie. – Sr. Cross conclui sua frase, usando o nome da minha mãe. É esquisito ouví-lo novamente depois de tanto tempo, eu confesso.

– Então você conheceu minha mãe. – Concluo. – Achei que tivesse conhecido meu pai depois que ele veio parar na Califórnia...

– Conheço seu pai há muito tempo, Srta. Stone. – Diz, com certa ironia. Sua voz é tão fria como uma brisa gelada. – Sua mãe também... Eu lembro de ter ido visitá-la poucos dias depois que nasceu. Mas suponho que a Srta. não se lembre de mim.

Tudo o que Sr. Cross diz é esquisito já que nunca havia ouvido falar em sua pessoa. Como ele e meu pai podiam ser melhores amigos se eu nunca soube de sua existência?! Tenho uma enorme vontade de perguntar o porquê desse aparente distanciamento que os dois tiveram na época em que vivíamos em New York, mas não pergunto.

– É, eu não me lembro. – Respondo, já não me importando mais em sorrir ou em ser simpática.

Sr. Cross não diz absolutamente mais nada, mas continua me encarando com seus olhos frios, como se me desafiasse. Isso me intriga de certo modo, mas eu não desvio o olhar, como se o desafiasse de volta.

Então, um outro homem se aproxima de nós e quebra o silêncio, acabando com o aparente “jogo do sério”.

– Pai? – Ele chama ao Sr. Cross com um olhar confuso, como se dissesse “O que diabos você está fazendo?”

– Matthew, essa é Srta. Stone. – Sr. Cross nos apresenta.

Matthew é bem parecido com o pai, exceto pelo fato de ser bem mais musculoso e seus olhos serem mais puxados para o verde. Seu cabelo é castanho claro, assim como de Sr. Cross, porém sem as mechas grisalhas. E não que eu tenha ficado reparando, mas ele é bem bonito.

Diferente do pai, Matthew sorri para mim e estende sua mão. Nos cumprimentamos enquanto ele diz:

– Então você é a famosa filha do Mark.

***

Já estou sentada na enorme mesa central devorando cada centímetro do salmão grelhado em meu prato. Margaret está sentada ao meu lado, tagarelando com suas amigas sem parar sobre o casamento. Alicia e o namorado, Travis, estão na ponta da mesa.

Alicia tem os cabelos arrumados em uma trança de lado e usa um vestido vermelho com rendas, muito bonito por sinal. Parece emburrada, para variar, pelo fato da mãe ainda não tê-la liberado para a festa.

De repente me pego completamente deslocada, para variar, ouvindo conversas alheias. Meu pai já está do outro lado do salão, acompanhado de Sr. Cross e mais três outros homens que bebem e discutem animadamente sobre algo que não consigo entender.

Termino de comer e o garçom retira rapidamente meu prato, não dando chance de dizer que pretendia repetir, então decido partir para a sobremesa. Ando até a mesa da lateral e pego uma fatia de cheesecake de frutas vermelhas, que está com uma cara ótima. Sento-me novamente onde estava e me aproveito do sabor delicioso da sobremesa.

Cansada de escutar sobre assuntos aos quais não me interessam e percebendo que meu pai já não está mais com toda sua atenção em mim, decido tomar um ar fresco lá fora. Antes de sair peço para que o garçom me traga uma taça de vinho.

Vou para fora da casa e sento-me em um banco bem escondido no jardim da frente. Acomodo-me de forma confortável, e já que ninguém mais está vendo mesmo, tiro meus sapatos. Respiro fundo e depois olho para o céu estrelado, relaxando com o silêncio e degustando do sabor levemente adocicado do vinho.

Tento esvaziar minha cabeça tão cheia de pensamentos e tranquilizar-me. Minha mente se divide em várias coisas ao mesmo tempo, mas principalmente em uma. Estou para lá de curiosa quanto ao Sr. Cross ter conhecido minha mãe e pelo fato dele ter assustado ao colocar os olhos em mim. Algo dentro de mim diz que existe alguma coisa sobre o passado dos meus pais que ainda não sei.

Sou retirada dos meus pensamentos por vozes de pessoas se aproximando. Olho para a entrada da casa e vejo Alicia e seu namorado, típico riquinho e jogador de futebol americano, andando até a rua. Os observo, mas os dois, felizmente, não conseguem me ver.

Alicia sorri pela primeira vez na noite. Ela e Travis andam de mãos dadas em direção à uma Ferrari. Caminham cantarolando a letra de alguma música que não reconheço, alegres por finalmente estarem livres para festar. Alicia desfaz sua trança e seus cabelos caem em cascatas sobre seus ombros, deixando-a ainda mais bela. Para falar a verdade, não parece a mesma que encontrei no aeroporto, ou que conheci há alguns anos atrás. Nesse exato momento a nova enteada do meu pai parece, mesmo, ser uma pessoa divertida.

É claro que comigo ela nunca seria legal... Mas também não posso falar muito porque não me esforço nem um pouco em ser legal com ela. Talvez seja mais saudável que nosso relacionamento se limite a sermos apenas “conhecidas”, e além do mais, nossos santos não se batem tanto assim.

Os dois entram no carro, ainda cantarolando, e saem praticamente voando.

Dou mais uma golada no vinho, sentindo-me cansada e já pensando em subir até o meu quarto para dormir, mas então alguém sai rapidamente pela entrada do casarão e anda em direção do jardim, na minha direção. É Mathew Cross. Ele fala ao celular, um pouco irritado chegando cada vez mais perto de mim. Salto, sentando-me decentemente no banco e colocando meus sapatos de volta.

Ao me ver, ele sorri, mas depois continua discutindo ao telefone por mais alguns minutos. Não sei se é só impressão minha, passa a falar em um tom de voz mais baixo, como se não quisesse que eu escute sua conversa. É claro que daí em diante eu passo a prestar atenção no que fala.

– Eu preciso desligar. – Ele diz, com cautela. – Qualquer outra informação que conseguirem sobre o caso, por favor, me avisem.

Matthew desliga o celular com rapidez, parecendo meio pensativo. Por um momento, tenho a impressão de que estou assistindo um filme de suspense, daqueles com detetives ou espiões, crimes insolucionáveis e pistas misteriosas. Matthew se encaxaria perfeitamente no papel do detetive, ou espião, tentando ir atrás de dados sobre o caso. De repente me pego com vergonha de mim mesma, dessa minha imaginação mirabolante.

O filho do esquisito sr. Cross passa a caminhar em minha direção e quando se aproxima de mim, toma a liberdade para se sentar do outro lado do banco. Ele parece cansado, porém, ainda muito bonito e charmoso. Noto que é muito maior do que eu, tendo mais ou menos uns trinta centímetros a mais que minha altura.

– Então, seu pai dá um jantar para você e você vem se esconder no jardim? – Dá uma risada leve com a sua voz grave e aveludada fazendo-me rir um pouco também.

Não sei porque, mas ao invés de mentir sobre estar amando tudo isso, como tenho feito para todo mundo, simplesmente falo a verdade:

– Eu precisava de um ar, sabe? São muitos acontecimentos e pessoas novas para absorver de uma vez só.

– Eu meio que entendo você. – Matthew diz olhando fixamente para as estrelas, acima de nós.

– Entende? – Confesso que fico meio confusa com o que diz. Ninguém por aqui parece realmente me entender.

– Por que não entenderia? – Ele cruza os braços e vira-se, encarando meus olhos com seriedade. – Meu pai se casou três vezes depois de ter casado com a minha mãe, e se divorciou em todos os três casamentos, mas isso não vem ao caso. O que eu estou querendo dizer é que eu tive que passar pela mesma situação que você por três vezes. Por isso eu digo que entendo o seu lado. Sei que não é fácil aceitar uma família nova, ainda mais você que conheceu sua mãe antes de... – Ele faz uma pausa e para de falar sobre a morte da minha mãe parecendo assustado. – Meu Deus, não devia ter dito isso.

– Está tudo bem. – Dou de ombros. – Já estou conformada com a morte da minha mãe. Só o que eu não queria era vê-la sendo substituída por outra pessoa, é difícil e, para ser sincera, machuca.

– Realmente, se não foi fácil para mim, que nem cheguei a conhecer minha própria mãe, não consigo imaginar como é para você. Mesmo a Margaret sendo uma das pessoas mais gentis que eu conheço...

– Você não conheceu sua própria mãe? – O interrompo com incredulidade. As palavras praticamente saltam pela minha boca e eu fico meio envergonhada por já estar fazendo perguntas pessoais para o cara sendo que eu mal o conheço. – Desculpa perguntar.

– Não precisa se desculpar. – Ele diz com gentileza. – Também já estou conformado com a morte da minha mãe, apesar disso ter me afetado muito durante a infância. Ela faleceu durante meu nascimento e eu me sentia culpado, entende?

Balanço a cabeça, quieta. Não sei certamente o que responder, quer dizer, deve ter sido horrível para ele. Imagine só, um garotinho pensando ser culpado pela morte da própria mãe.

– Mas então, – Matthew felizmente muda de assunto. – o que você tem achado das coisas por aqui?

– Olha, tudo é muito bonito e luxuoso, mas eu não estou acostumada com essas coisas. – Rio de repente. Matthew também ri. – Sem querer ser chata, mas já sendo, prefiro meu pequeno apartamento em New York.

– Certo... E quanto às pessoas?

– Todos no salão de jantar foram muito gentis comigo. – Com exceção do Sr. Cross, mas é claro que eu não digo nada. – Margaret também tem sido super atenciosa e generosa, mas tenho que confessar, não sei se ela gosta tanto assim de mim. – Decido ser sincera e colocar tudo o que penso para fora. Matthew parece ser confiável, afinal. – Quer dizer, eu sou a filha da outra mulher do meu pai, sou parte de sua primeira família... É de se esperar que Margaret não esteja tão feliz assim com a minha presença.

Ainda sorrindo, Matthew franze o cenho e balança a cabeça como se não concordasse com o que eu acabo de dizer.

– Por favor, não me leve a mal, mas eu tenho que dizer que discordo totalmente do que você diz. Eu conheço Margaret desde quando eu era pequeno e sei que ela tem as melhores intenções do mundo em tudo o que faz, não importa para quem seja. Se ela tem sido gentil com você, acredite, é de coração.

– Bom, se está dizendo... – Dou de ombros, olhando para baixo. – Prefiro acreditar que sim, mas só em relação à Margaret. Já Alicia... – Nem termino a frase e Matthew já está rindo.

– É, você tem razão, a Alicia não é a pessoa mais fácil de se lidar. Ela ainda é jovem, rebelde e muitas vezes acaba dramatizando as situações... Mas no fim das contas é uma boa pessoa. Só que vai demorar um pouco para você descobrir esse outro lado dela... – Ele sorri e eu cruzo os braços.

– Talvez eu nunca descubra. – Digo, mordendo meu lábio inferior e soltando uma risada nervosa ao lembrar do olhar de desprezo da enteada do meu pai.

– Não seja dramática! Tenho certeza que até o fim do mês vocês já vão estar se dando bem. – Matthew revira os olhos ainda sorrindo.

Só não digo que espero que isso realmente aconteça porque se dissesse, estaria mentindo, e para falar a verdade, eu já estou cansada de mentir.

Por falar em cansaço, de repente me dou conta do quanto estou exausta. Havia viajado parte do dia e não consegui dormir nem por quinze minutos depois que cheguei aqui.

– Acho que vou subir. – Digo, levantando-me. – Estou precisando de uma boa noite de sono.

– Eu também acho que já vou.

Matthew fica de pé, à minha frente e se aproxima de repente, fazendo com que eu sinta-me minúscula ao seu lado.

– Foi bom conhecê-la, Srta. Stone.

– Cecille, por favor. – Acabo com a formalidade do jeito menos sutil, para variar. Matthew sorri.

– Foi bom conhecê-la, Cecille. – Corrige e ainda acrescenta. – Parece que você é mesmo tudo aquilo que o seu pai vive dizendo. – Eu fico meio sem graça com suas palavras, fazendo-o rir.

– Ele só diz isso porque estou em uma boa faculdade. – Digo, sem jeito. Então desvio o foco do assunto para ele. – Mas eu esqueci de perguntar, o que você faz da vida mesmo?

– Sou militar. – Ele é bem vago, sem especificar para quem trabalha, ou exatamente o que faz. Acho meio esquisito, mas também não peço para que entre em detalhes.

Para confirmar minhas teorias sobre Matthew não querer falar muito sobre o que faz, ele muda completamente de assunto, voltando o foco para mim:

– Mas então, o que a estudande mais inteligente da Columbia estuda mesmo?

– Relações Internacionais. – Deixo escapar uma risada. – Ai Deus! Meu pai é um exagerado. – Faço a modesta, claro. – Não sou nem metade das coisas que ele fala.

– Aposto que você está errada. – Ele revira os olhos e deixa escapar uma risada. – Ou talvez esteja tentando ser educada, para não parecer metida

– Talvez.

Rimos e então nos despedimos com um aperto de mãos amigável. Mas antes que eu saia, Matthew Cross segura uma de minhas mãos fazendo-me parar. Viro-me para ele novamente, que me solta, com outro sorriso nos lábios. Então, ele simplesmente diz com a maior confiança do mundo:

– Vou te levar para conhecer o melhor restaurante de Los Angeles, na Sexta. O que você acha?

Fico sem palavras, de repente. É claro que é uma proposta mais do que tentadora e que talvez acabe tornando minha estadia na Califórnia bem mais divertida, mas então eu me lembro de algo, ou melhor, alguém que faz certas lembranças reaparecerem em minha mente. Infelizmente, acabo ficando balanceada.

Decido parar de pensar por um segundo coisa que não costumo fazer, e respondo a primeira coisa que vem na minha cabeça:

– É uma ótima ideia.

– Passo aqui às oito então, combinado?

– Combinadíssimo!

Por um momento, fico orgulhosa de mim mesma, afinal, como minha tia vive dizendo, já está mais do que na hora de esquecer certas coisas do passado e começar a ser feliz.


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