Sad Ilusion escrita por Nyna Hellscythe


Capítulo 1
Sad Ilusion


Notas iniciais do capítulo

Nem mesmo uma desculpa sincera seria capaz de amenizar a dor de não ser correspondida. A morte é a última (e única) fuga?



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Capítulo Único

Sad Ilusion

 

O cheiro do perfume dela está aqui, impregnando meu ar, infestando minhas roupas, queimando minha pele e envenenando meu sangue. A visão de seus olhos irresistível, e a tentação de sua boca, irrecusável. Era assim que eu a detalhava para meus psicólogos, e sempre acrescentava:

Ela era tudo que eu mais queria.

Como é viver sem conseguir enxergar outra pessoa com quem ser feliz? Você acha que a estrada ainda continua, que ainda pode batalhar para encontrar uma forma de tê-la para si... Infelizmente, o amor nos cega, e nos deixa incapaz de ver os sinais de “PARE!” pelo caminho. É, eu acho que não me deixei perder pelo perigo, mas sofri pela desilusão.

Você pode chamar do que quiser esse tipo de amor, que te faz mais sofrer do que verdadeiramente sonhar... Mas você acredita que esse castigo só te faz querer mais? Por mais que eu chorasse, e gritasse para tê-la, de nada adiantou, apenas aumentou meu entusiasmo em relação à essa conquista inútil, para não dizer impossível. Aprendi que nada é impossível quando se é vivo.

 

Sexta-feira, meu aniversário de quatorze anos, um dia de sorrisos e alegria, mas a felicidade não conseguiu passar pela barreira que eu mesma construí, rodeada de pensamentos negativos e uma aura carregada de tristeza, me impossibilitando de plantar um sorriso gentil aos meus poucos amigos presentes na sala. Apesar de tudo, eu tinha companhia!

No final do dia, algumas pessoas me surpreenderam com uma canção popular e alguns abraços calorosos que me deixaram com um brilho diferente, uma sensação boa em meu espírito. Um sentimento de liberdade invadiu meu corpo e quebrou a barreira que me encobria, transbordando novas sensações de felicidade e amor: seria esse o poder da amizade?

Mas essa harmonia durou pouco. Eu soube – pelo menos pressenti – que Misa não cantara para mim, e isso cavara um vão em meu coração, que cada vez se tornava maior e mais fundo. Eu jurava que algum dia eu seria engolida por essa imensidão escura e fria...

E mais uma vez, eu estaria certa.

Saí e fui direto para casa, acho que minha mãe estaria lá, pronta para me abraçar caso eu precisasse. Ela odiava me ver nesta situação, como qualquer mãe, porém eu não desistiria de amar Misa a nenhum custo, e já o dissera certa vez. Ela só fez balançar a cabeça. E suspirou. Ela sempre suspira quando algo não a agrada.

Aquela mulher de olhar doce me abraçou em casa e me dera um presente justo: um colar com um olho-grego.

“- É para afastar os invejosos” – ela me disse, piscando o olho – “Dizem que se quebrar, é porque tinham muitos invejosos com você.”

“- Obrigada mãe.” – disse, me mantendo imóvel enquanto ela prendia a jóia em meu pescoço

“- Cuide bem dessa peça, acho que pode te proteger de muita coisa.”

Muita coisa não é tudo, mãe”, pensei. Ela estava fazendo o possível para me agradar, e eu estava sendo injusta. No momento, decidi que o silêncio prevalecesse, apesar de que ele pesava bem mais do que um turbilhão de palavras.

Alguns dias se passaram e eu já estava com quatorze anos oficiais. Meus amigos escondiam algo de mim, pelo jeito como conversavam e pelas poucas vezes que me miravam pelo canto do olho. “Odeio segredos!”, repeti para mim mesma.

Eu só entendi o que seria isso no final do dia, quando Misa chegara para mim, com seu olhar cético – ou seria nojo? – que rasgou em seu rosto um falso sorriso. Senti um pouco de escárnio entre seus dentes quando ela cuspiu umas palavras para mim

“- Desculpa, Yuri” – ela jogara as palavras no chão, próximo a meus pés

Eu ficara calada, com o coração na mão. Ela ainda estava ali, e o cheiro dela contaminou o ar novamente, com a mesma intensidade de sempre, só que dessa vez eu pude sentir uma diferença.

É claro que ela o fizera por ter sido obrigada isso, mas ela ainda disse:

“- Feliz aniversário.” – ela me dissera sem nenhum entusiasmo

“- Obrig...”

“- Não agradeça.” – ela falou no tempo em que se virou e saiu de perto de mim, juntando-se às suas amigas

Ela falou comigo”, eu repeti para mim mesma, e desmoronei em lágrimas no chão, ainda segurando meu coração, perdido entre as palavras dela. Sua voz perfurara meus ouvidos e seu cheiro estava em minha roupa. Não havia como fugir, ela sempre estaria ali... Fazendo parte do mais belo pesadelo que eu já poderia ter em minha vida.

“- Ela falou com você, Yuri?” – minha amiga perguntara

“- Falou...” – disse entre soluços

“- Então por que está chorando?” – ela perguntou calmamente

“- Droga.” – eu dissera entre dentes

As pessoas de fora nunca compreendem que mais vale saber da verdade dura do que uma maleável mentira? Era óbvio que subordinaram Misa a falar comigo

“- Só me espanto por terem conseguido com que ela me pedisse desculpa, já que só o fato de ela ter falado comigo já ter sido um milagre!” – eu falara completamente aborrecida

E nesse instante eu senti uma explosão de pequenas navalhas em meu peito. Eram agulhas finas entrando em minha pele, fazendo-me sentir a dor de ter acreditado em amigos falsos, que subordinavam outros, mesmo sendo nobre a causa. Não queria isso para mim!

“- Sua camisa, Yuri!” – minha ex-amiga apontara – “... está com sangue!”

Toquei em meu peito e senti as agulhas se mexerem com meus dedos, e algo quente e viscoso se pregar em minha mão. Eu a levei até meu rosto, e confirmei a mancha vermelha com um cheiro forte envolver-me em uma camada de medo. E só então percebi o que havia acontecido.

Eu estava rodeada de invejosos, vários deles.

Me levantei e antes de partir, me virei para a garota e dei um tapa forte, um tapa muito forte na sua bochecha direita, deixando uma marca vermelha viva em seu rosto falso. Me despedi com outro sorriso e um peito coberto de sangue.

Minha mãe não estava em casa quando cheguei, e aproveitei para sentar e trocar lágrimas com a solidão. Amigos falsos, amor platônico, subordinações... O que mais falta? Ou melhor, como por fim nisso tudo?

Pensei por alguns instantes e cheguei à conclusão que toda solitária sente: por fim em sua própria vida. Imaginei minha mãe chorando por mim, já que meu pai morava longe, e imaginei, por breves instantes maravilhosos, a figura de Misa em frente ao meu túmulo, dizendo:

“- Se ao menos eu tivesse te tratado melhor... A culpa também foi minha.”

E sim, Misa, a culpa também era sua.

Peguei um papel do meu caderno e uma caneta azul, rabiscando no papel algumas frases de consolo para minha mãe, e claro, recomendações sobre o que fazer com meus objetos de adoração. Eu pedi, implorei, que ela os desse para algum lar de caridade. Ah, se ela tivesse me ouvido...

Após isso, colei o papel na geladeira visivelmente lotada de panfletos e algumas fotos de nós duas juntas, sorrindo alegres. Eram antes de uma garota entrar em minha vida e colocar tudo de cabeça pra baixo. Sempre e pra sempre. Antes de tomar um banho, tirei os cacos do olho-grego e os pousei delicadamente próximo da minha caixinha de música, em meu quarto. Eu coloquei meu vestido branco curto preferido e prendi meu cabelo com o broche que ganhei de presente da Misa, quando ainda éramos amigas, e saí de casa.

Esse caminho doeu mais do que pisar em pregos. Eu caminhei em direção à um prédio alto que ficava próximo do centro da cidade, que seria o último lugar que visitaria ainda nesta vida, e fiz questão de observar tudo de belo, e todos os detalhes que me escapavam nos dias que estava ocupada na escola. Percebi tarde que a vida era bela demais.

O elevador estava sem ninguém, e rapidamente cheguei ao topo da torre. Era tão alto que me fez ter calafrios, apesar de estar sendo um dia agradável em relação ao clima, com poucas correntes de ar. Pus meus pés na beirada do prédio e olhei timidamente para baixo: uma vasta cidade que pulsava vida. Barulhos diversos invadiam o ar que eu respirava e os cheiros tinham sons que eu nunca havia percebido. Eram tantas as coisas que eu nunca tinha parado para observá-las melhor! Eu desconhecia as outras possibilidades de ser feliz. E era disso que eu precisava. Sim, eu não precisava morrer, só precisava enxergar o mundo com outros olhos.

Virei, e tentei descer o degrau alto do prédio, imaginando o que faria ao chegar em casa, e como me desculparia para minha mãe, mas não pude fazê-lo, pois um centímetro errado fez toda a diferença entre a vida e morte no alto daquela torre, e eu o desperdicei.

Tentei agarrar as correntes de ar como se fossem cordas fortes que me sustentavam, mas foi inútil. Meu corpo caiu em uma descida íngreme e sem nenhum obstáculo, apenas o medo, e a escuridão no fim. Eu senti enfim, que o vão do meu coração havia me engolido, me aprisionando em um local frio e sombrio.

Aprendi que mesmo na morte, pode haver felicidade.

Eu só senti a dor de não poder voltar atrás quando mais desejava. Simplesmente alguém poderia fazer algo para me ajudar a voltar o tempo e nunca ter subido na torre, de ter rasgado a carta, ou de ter... principalmente, conhecido aquela garota? Droga. Mas mesmo na morte eu ainda a amava, e agora eu poderia estar sempre do seu lado.

Eu encontrei um oásis no deserto. Um céu no inferno. Uma ordem no caos.

Se vocês podem chamar isso de amor, de teimosia, de lição, chamem do que quiserem. Mas nada me faria arrepender de agora poder estar sempre do lado daquela que eu amo, e que nem mesmo a morte pode amenizar esse sentimento do meu coração, agora ausente.

Agora eu posso beijá-la de noite, de abraçá-la todo instante e dizer que a amo toda vez que a vejo. Nada me impede de demonstrar meus sentimentos a ela, e mesmo que ela não saiba que aquele vento frio em seu rosto sou eu... Sinceramente isso não importa. Se a tenho comigo, tenho também a felicidade perto de mim.

 

“Se um dia sentires uma leve brisa tocar em seu rosto, não tenha medo. Pode ser minha saudade que te beija em silêncio.”

 

FIM!!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse fanfic. Deixem reviews para que eu possa melhorar minhas histórias de acordo com a sua opnião. Kissus!!