– Príncipe.– Gavril depois de enrolar um pouco com Maxon falando sobre como estava o país e coisas desse tipo, finalmente chega ao assunto tão esperado pelos espectadores.– Sabemos que toda essa produção não foi feita só para batemos um papo cabeça.– Ele dá uma risadinha.– Hoje é um dia especial...

– Sim, muito especial. – fala ele olhando para onde estou, mas não exatamente para mim. Kriss está ao meu lado direito e Celeste ao meu esquerdo. – Irei escolher a minha outra metade.– fala ele se voltando novamente para o apresentador.– Uma escolha e tanto.– ele dá um sorriso simpático.

– Realmente, uma escolha e tanto. Mas lembre-se, não será você que terá que aguentar suas meias sujas ao pé da cama.– Gavril fala provocando uma onda de risos sobre a plateia e se vira para nós, selecionadas.– Celeste. Kriss. E America. - ele nos cumprimenta, mas não sem lançar um olhar para meu vestido. Todos ficaram surpreendidos pela escolha, até Maxon. O meu se destacava dos outros, Kriss estava usando um azul escuro para, provavelmente, esconder o começo de sua barriga de grávida e Celeste, como sempre, com um vestido muito decotado e vermelho. E juro que vi ficar no mesmo tom do vestido quando me viu, tenho certeza que se não estivéssemos no ar ela teria me atacado para tirar aquela peça de mim. – Como estão se sentindo?

– Muito feliz. Tenho certeza que Maxon irá fazer a escolha certa. – Celeste fala referindo-se a si mesma com seu famoso tom sedutor.

– Muito feliz, mas calma. Maxon e eu tivemos uma conversa; ele sabe tranquilizar uma dama, feito ninguém. – Fui eu que ensinei, tenho vontade de falar, porem apenas concordo. Se não fosse por mim ele ainda pareceria um idiota consolando mulheres.

– E a senhorita America? Está tão quieta hoje. – fala ele se voltando para mim. Foi como uma alfinetada me lembrando daquele dia que quis acabar com as castas, não posso dizer que é uma ideia boba, mas bobo foi como eu a divulguei.

Queria contar a todos o quanto infeliz estava, o quanto Maxon os estava enganando escolhendo Kriss como princesa. Mas ainda estava na Seleção. Teria que me comportar como uma competidora até o último minuto. Procuro avistar os guardas italianos; vejo- os não muito afastados e sei que tem um 5 metros atrás de mim, esse é o Theo. America só mais alguns minutos.

– É o nervosismo. - falo com um sorriso. - Não quero me afastar de Maxon; quero dizer, do príncipe. –Vejo o rosto de Maxon se iluminar por um minuto e logo se apagar ao perceber que tudo o que estava falando era uma verdadeira farsa. Igual a tudo que ele e eu tínhamos.

– Vejo que nesses últimos meses a senhorita teve oportunidade de se tornar íntima do príncipe. – fala ele. Hahaha. Nem ele sabe que tipo de intimidade esse príncipe teve com algumas selecionadas.

Sendo eu quem sou , não posso sair daqui sem dar uma alfinetada em Maxon e Kriss; então falo:

– Gavril!– falo rindo, fingindo de envergonhada.– Assim você vai me deixar mais nervosa.– falo passando a mão em meu vestido, tentando tirar imperfeições inexistentes nele.- Tenho certeza que o príncipe ficou mais íntimo de outras selecionadas.– falo olhando para Kriss e logo depois para Maxon.– A final, é para isso que a Seleção foi criada.- sorrio.

– Sim, sim. A senhorita tem total razão. Afinal, para se apaixonar é preciso conhecer as pessoas. – Nem sempre, penso. Eu me apaixonei por Maxon pensando que ele era um tipo de pessoa para depois descobrir que ele era outro tipo. Que ele era uma farsa. – E são para vocês, espectadores, que iremos mostrar os melhores momentos dessa edição de A Seleção. Para conhecerem um pouquinho mais das garotas que levaram nosso príncipe a loucura. – Gavril fala voltado ao público. E logo um telão que antes mostrava o emblema de Iléa passa a mostrar fotos de todo tipo de momento que presenciamos nesse palácio. Maxon e eu em nosso primeiro encontro (basicamente, eu o chutando), nossas caminhadas no jardim e... A festa de Halloween.

Vídeos e fotos captaram os momentos daquela festa. Maxon dançando com todas as selecionadas daquela época, todas sorrindo, mas uma se destacava dentre aquelas meninas sonhadoras. Era eu. Um sorriso tão lindo, tão verdadeiro estampava meu rosto naquele momento. O momento do brinde que o príncipe dedicou a sua futura noiva. Muitas pensavam que seriam elas, mas eu era a única que sabia a verdade. Era eu que ele tinha escolhido... Uma lágrima teima em escorregar por meu rosto, mas logo a seco. Ele não merece que eu chore por nosso amor destruído, pois foi ele que lançou a bomba que o despedaçou.

Sou a única de nós três que não está chorando. Kriss chora discretamente como uma princesa deve fazer já Celeste exibe sua péssima atuação no quesito choro. Tão exagerada. Mas não posso dizer que não estou comovida. Também tive momentos bons nesse palácio, conheci minhas criadas, a rainha, Nicolleta e suas primas e Marlee... Muitas fotos com ela e eu passam pelo telão. Ela foi a primeira pessoa que considerei minha amiga, além de minhas irmãs, com ela eu sentia que podia compartilhar tudo e eu podia. Com seu jeito extrovertido, ela sempre arrancou risadas extravagantes que nunca pertenceriam a uma princesa. Mas no final nem ela e nem eu viramos princesas de Illéa. Mas tenho certeza que para seu marido ela era sua princesa. E, assim, espero algum dia ser a princesa de alguém que realmente me ame.

–Muito emocionante.– Gavril exclama quando o telão volta a mostrar o brasão de Illéa. – Vocês recordaram momentos felizes de sua passagem por esse esplêndido palácio. Amizades foram feitas, segredos foram contados, brigas foram travadas e seus corações conquistados entre aquelas paredes. Não é a toa que todas estão assim. – Ele entrega lençinhos para as três, seco lágrimas invisíveis. – Mas tudo que é bom acaba. Apenas uma de vocês terá a oportunidade de continuar nessa vida de Casta Um.– O apresentador se vira em direção a Maxon, que por fora transmite sua calma de sempre, mas nossos olhares se cruzam uma última vez antes dele fazer o anúncio. Ele está aterrorizado.

America, ele não é mais sua responsabilidade e sim de Kriss. Ela tem que perceber como ele está se sentindo e não você.

– Bem, primeiramente gostaria de agradecer a vocês todas... – Sinto uma da mãos de Kriss puxando a minha para perto dela e apertand-a. Ela está nervosa. Não posso esquecer que ainda estou sendo filmada, a vontade que sinto é empurrar ela com a maior força para se afastar de mim e falar várias coisas, de como ela é cara de pau em procurar apoio justamente em mim, mas sou obrigada a tentar me desvencilhar discretamente dela, mas seu aperto está muito forte .–... os momentos felizes que me proporcionaram e também por terem me aguentado por todos esses meses. Vocês com certeza me mudaram. Demorei, mas depois de levar alguns chutes e cabeçadas, minha cabeça dura rachou e finalmente se abriu para as coisas lindas da vida que vocês me mostraram. – Merecia muito mais chutes, aquele que dei nele foi coisa de iniciante...

Aiii Será que essa duas caras tem como esmagar mais a minha mão??

– Cada uma de vocês tem um lugar em meu coração. Até espero que tenhamos convivência no futuro, que possam fazer parte de nossa vida. E até mesmo vir ao nosso casamento. Eu e Kriss ficaríamos muito felizes. – E lá se vai a dor da minha mão. Mas ao contrario do que eu pensava que uma escolhida iria fazer. Kriss se levanta calmamente de seu lugar e vai em direção a Maxon e o abraça calmamente, mas sem antes lançar um olhar para mim.

Tudo depois disso passa feito uma borrão para mim. Celeste esperneando, gritando que aquilo era uma sabotagem (e pela primeira vez, estava certa), guardas acalmando-a e guardas cercando minha cadeira ainda comigo sentada. Mas eram guardas diferentes. Eram os italianos. Eles me entregam um broche com o brasão italiano e o coloco na parte de cima de meu vestido, deixando-o bem á amostra.

Na hora, me levanto calmamente, deixando cair a minha máscara de selecionada; não preciso fingir lamentar a minha não vitória. Sem me virar para cumprimentar os noivos e também sem autorização, começo a caminhar em direção ao palácio onde um avião me aguarda. Agora não sou mais propriedade Illéa, e sim italiana. Não devo satisfação a ninguém daqui.

Um dos telões mostra a minha imagem e, assim, todos percebem o objeto em meu busto. O público se silencia. Ninguém espera por isso. Vendo a cara de alguns súditos fico imaginando como devem estar as de Maxon e Kriss.

***

Escuto as portas do palácio se fecharem atrás de mim e finalmente os guardas se afastarem um pouco. Eles vieram buscar as minhas coisas para levarem ao avião. Aproveito e vou a banheiro lavar as mãos e o rosto para ver se eu acordava. E vamos dizer que funcionou. Quando eu havia chegado a poucos minutos, o palácio parecia fantasma, mas agora estava cheio de pessoas indo e vindo.

–Senhorita America, já está na hora de embarcar. Gostaria de se despedir de mais alguém?– Theo pergunta.

– Creio que não, soldado. – falo, mas logo avisto minhas criadas. Mas elas não estão mostrando aqueles sorrisos de sempre, me pergunto o porquê, mas logo vejo a resposta.

– A vossa majestade não perdeu tempo.– falo encarando a futura princesa.

– Não tenho tempo a perder. – Kriss fala.

– Realmente.– falo a avaliando.– A barriga já está crescendo. Foi esperta em escolher essa cor. Cores escuras são as melhores amigas das grávidas fora de hora.

– America, do que você está falando?– pergunta ela com o tom mais falso que já escutei.

– Kriss, me poupe. Maxon já me contou tudo. – falo e começo a bater palmas.– Belo golpe.

– Golpe?– fala ela rindo.– Ele me ama. E eu o amo. Isso é apenas o resultado do nosso amor. – ela acaricia sua barriga com um grande sorriso. Ela é iludida. Coitada.

–Tenho pena de você , Kriss.– falo retomando o meu caminho.

***

Cercada pelos soldados, sou escoltada até uma parte isolada do jardim de onde surge uma coisa parecida com um pássaro. Um avião. Já tinha andado nesse meio de transporte, mas esse era outro modelo; muito maior e mais luxuoso. Seu exterior é branco com uma faixa dourada com o brasão da Itália e o interior parece mais com uma casa do que com um avião. O que diferencia isso com uma casa é por ter cadeiras acolchoadas para viagens grandes. Tão luxuoso. Será que a Itália é assim? Tão superior ao padrão de Illéa? Com certeza é muito mais desenvolvido. Não há esse horripilante sistema de castas que só atrasa o desenvolvimento de áreas da economia.... Já estou começando a pensar como uma dama de companhia. Fico feliz, pois sei que levo jeito para isso. Vai demorar até eu me adaptar, mas estarei fazendo uma coisa que eu amo; ajudar o próximo. Uma coisa que nunca pude me preocupar em fazer aqui, porque se eu ajudasse ao outro estaria esquecendo-se de mim e assim estaria me levando a morte.

– Está demorando...– falo ansiosa.

– Vou ver o que está acontecendo. – Theo que até agora estava sentado em um dos meus lados enquanto outro guarda está no outro. Mas ele nem precisa se levantar porque a razão do atraso logo adentra o avião. Maxon.

– America...– ele fala mais para ele do que para outra pessoa. Com a aproximação rápida de Maxon Theo e o outro guarda se levantam rapidamente e bloqueiam o caminho do príncipe em minha direção.

– Majestade, o quê está acontecendo aqui?– falo me levantando.

– Isso não é óbvio?– ele fala.– Você não irá para a Itália. Você irá ficar aqui; comigo. – ele tenta avançar, mas os guardas o empurram bruscamente para perto da parede.

– E não é óbvio que eu não desejo isso?– falo.– Você acabou de escolher Kriss como princesa e já quer troca-la? E o seu filho?

– Eu continuaria com ela e...

–E eu seria sua amante??– grito indignado. Que raiva que estou. – É isso que você está falando, Maxon? É isso??– grito mais enfurecida ainda. Até vejo o guarda que não sei o nome se contrair com aquele grito, mas Theo continua do mesmo jeito; firme e forte.

– Você não se importaria. Você me ama.– ele fala tremendo.

Não aguento mais. Soltando um grunhido, saio em passos largos em sua direção, passo pelos soldados, que não hesitam um segundo em abrir passagem.

–Eu te amava.– corrijo-o levantando minha mão e deposito toda minha raiva, indignação, coração partido naquele tapa. Maxon bate na parede ao receber o golpe com a mão e seu rosto.

–Como ousa...– ele olha para mim com um olhar acusatório.

– Como ousa você, a falar assim com uma dama de companhia italiana?– Theo fala encarando Maxon.

–Você? Dama de companhia?– fala ele.

– É Maxon, parece que não sou mais qualquer uma.

Essa foi a deixa para Theo e o guarda arrastarem Maxon para fora do avião e o avião dar partida. Assim, dando início a uma viagem sem volta.

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