One More Chance escrita por Hime


Capítulo 8
Capítulo 8 - As chamas


Notas iniciais do capítulo

Então... espero que gostem desse capítulo :3



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Forjou-se da sua ira um rio de sangue.

O fogo consumiu os pecadores....

1409 - Monts Făgăraș, Sul da Romênia . Idade das Trevas.

Maximus ainda encontrava-se terrivelmente intrigado pela criança amaldiçoada, por Lúzia. Conseguiu ler muito bem sua alma para saber que ela era diferente de qualquer outra portadora , parecia o sol em pessoa. Certamente ter a alma pura não o impediria de matá-la , e era isso que ele queria. Queria arrancar sua alma e desmembrar seu corpo inteiro. Como ele já fizera inúmeras vezes com outras portadoras. Para ele a justiça não existia no mundo, para ele o mundo era uma lama e todos tinham que se adaptar a essa lama. Era matar ou morrer. E ele não queria essa opção tão cedo . Matar e matar, essa era sua missão.

Esperava despreocupado o homem estirado ao chão abrir os olhos , isso se ele abrisse os olhos. O beijo da Necromante Safira arrancou-lhe a alma e arrastou-a até outra dimensão, dimensão a qual ele teria de lutar incansavelmente contra incontáveis soldados mortos. Um exército de mortos-vivos onde sempre que caiam demoravam um pouco e logo voltavam a luta. Não era algo finito e sim infinito.

Estava quase acabando o tempo, faltavam dez minutos para completar as duas horas. Até então ele demonstrava estar reagindo bem. Se tudo continuasse bem, dentro de dez minutos ele seria um membro da Ordem. Para Maximus aquilo era o de menos. Ele era o irmão daquele monstro. E definitivamente sabia o que a irmã portava , porém por que quisera entrar para a Ordem ?

Os minutos passavam lentamente e quando o último segundo foi-se embora , Ricardo ainda parecia imóvel . Sua alma não voltara. Ele não demonstrava sinais de vida. Todos estavam crentes que sua alma havia trilhado a procura de inigualável Sumidade , a morte.

Maximus por outro lado não perdia a expressão séria , como se tudo aquilo não passasse de algo simples e tedioso. Andou um pouco em direção ao corpo estirado e frio no chão e chutou-lhe firmemente no estômago.Como se aquela dor emitisse um prazer a ele . Aquele chute fora imensamente forme , certamente deixaria qualquer um de cama por vários dias. E ali , emergindo do oculto, Ricardo abriu os olhos em um espanto , estava com a boca aberta como se caçasse o ar escasso. Sentindo a forte dor no estômago, não impediu o vômito que se seguiu.

Ele estava acordado, vivo , e com a alma de volta ao lugar. Ou pelo menos demonstrava ter reflexos.

Não se sabia ao certo o que o trouxera de volta, talvez o chute de Maximus despertara seus instintos . Ou simplesmente ele só estava dormindo de tão exausto que se encontrara.

Um dos soldados ofereceu-lhe um pouco de água , ia amenizar garganta seca, quase como se estivesse queimada . Ele a bebeu como se aquela fosse a única água restante no mundo , a bebeu de forma violenta. Era penoso.

– O que.. quanto tempo? - Ele perguntou ainda com a voz rouca.

– Duas horas no máximo - Maximus respondeu friamente.

– Aquilo... - Tossiu um pouco - Aquilo não parecia apenas duas horas. Foram milhares de anos ...

– Dois mil anos lá são duas horas aqui , Ricardo.

– Vocês são loucos! Eu lutei incansavelmente por tanto tempo ....

– Você queria entrar para Ordem , não é mesmo ? É o que todos os membros devem passar. Geralmente são mil anos , mas EU escolhi para você mais mil anos . Já que você entrou por contra própria - Maximus olhou para um dos seis soldados e logo o homem entendeu o que ele queria. Começou a arrumar toda a bagagem - Estamos de partida.

– Ora seu... - Ricardo levantou cambaleando e foi em direção - em passo lentos– ao homem autoritário de vestes negras.

– Eu sou o seu Superior . Você faz o que eu mando - Olhou para Ricardo com deboche - Vamos voltar imediatamente. Nem ouse falar.

Ricardo entendeu , não foi contra Maximus. Ir contra ela era o mesmo que pedir para sair da Ordem. Quando ele finalmente havia conseguir.

Após levarem uns minutos para arrumar toda a bagunça que fizeram, começaram a descer o monte.

Aquele lugar era um dos únicos lugares no mundo onde aquele ritual poderia ser feito. Há milhares de anos , no Monts Făgăraș foi travada uma guerra entre anjos e demônios . Os demônios perderam e os anjos decididos a castigar a ousadia dos demônios , os trancaram em uma dimensão caótica naquele mesmo lugar , onde jamais poderiam morrer. Nem se quisessem. Ricardo fora enviado para lá , para uma dimensão onde uma hora aqui eram mil anos nela.

Para Ricardo, aquele era um mundo novo onde ele teria de se adaptar muito rápido ou seria devorado por ele. E aquele o qual fazia um sentimento de ódio brotar em seu coração, era Maximus. Um General tão tirano que achava o rei desse novo mundo.

Descendo a montanha , ele ainda sentia uma imensa indisposição. Talvez fosse seu psicológico extremamente fatigado. Cambaleava um pouco quando se sentia tonto mas logo que se recuperava voltava a ativa. Safira por sua vez , sempre tentava ajudá-lo a ter forças. Sempre que ele ameaçava cair , ela o apoiava. Para ele , era uma situação vergonhosa.

– Meus parabéns - Sussurrou Safira enquanto o ajudava a manter o equilíbrio - Dois mil anos é o que mais se aproxima do tempo em que o nosso general passou.

Meio curioso pelo assunto , Ricardo perguntou:

– Quanto tempo foi o treinamento dele?

– Dez horas aqui, dez mil anos lá. - Sussurrou a moça de vestes leves - Ele foi o único a conseguir isso. Pelo que descobri, ele nem tinha dezesseis anos. É o maior prodígio de toda a Ordem.

– Ele deve ser muito poderoso - Falou Ricardo uns quinze passos atrás do General, o qual liderava os soldados - Por isso é tão frio.

– Não seja tão cruel com ele . Ele é a nossa maior honra. Desde os seis anos ele luta contra essas portadoras de demônios. Ninguém sabe o passado dele , ele não conta a ninguém . Todavia dizem que ele arrancou as entranhas da própria mãe - Disse a Necromante em uma voz muito baixa , provavelmente temia que Maximus a escutasse.

– Irão morrer se continuarem a falar sobre isso. Como se ele não escutasse não é mesmo, irmã ? Não creio que seja tão inocente a ponto de não saber os talentos dele - A outra Necromante que até agora não se manifestara , começou a falar como se tentasse punir verbalmente os dois . No canto esquerdo do rosto de Maximus , Ricardo viu com dificuldades que ele emitia um sorriso. Provavelmente a outra Necromante estava certa, ele ouvira tudo - Terminem os dois o caminho sem falarem mais nada.

– Tudo bem, irmã - Falou Safira.

1409 - Romênia , Idade das Trevas.

As duas chegaram ainda cedo no vilarejo mais distante do Império. Lúzia usava um vestido completamente diferente dos que ela estava acostumada , era vinho e com alguns decotes. Amalia ainda usava um vestido em tom escuro. Fez Lúzia levar uma pequena mala que continha vários tipos de ervas , todas elas Lúzia desconhecia. Enquanto Lúzia levava a mala , Amalia se divertia com as comidas que os vendedores lhe ofereciam, provavelmente estava faminta depois que gastou tanta energia na evocação.

De repente , um homem barbudo de olhar pedante que usava um avental completamente sujo de trigo as chamou. Estava em frente a uma padaria. Amalia olhou friamente para o homem e foi em direção a ele. Lúzia apenas a seguiu sem criticar. Em sua mente , ela queria ver como Amalia trabalhava , queria aprender o máximo de coisas possíveis. Acreditava que aquele seria seu primeiro treinamento, só não sabia exatamente o que o padeiro queria. Amalia não lhe deu informação alguma.

Ao chegar perto do homem grotesco coberto de trigo ele começou :

– Ela não come mais , sabe? Parou de andar tem duas luas cheias. E a noite , em seus sonos profundos , sussurra coisas estranhas . Está completamente agressiva. Senhorita Amalia! Eu sei o que podes fazer , peço humildemente que ajude - O homem grande jogou-se ao chão , ficou de joelhos porém segurava os braços de Amalia. Para Lúzia, ver um homem daquele tamanho em tal situação no mínimo era cômica.

– Não me toque... - Advertiu a Necromante - Tens certeza que um homem de Deus vai querer a minha ajuda ?

O homem a soltou e pôs-se de pé novamente.

– Estou disposto a tudo! É a minha filhinha ... ela ainda vai completar cinco anos. Não deixe que esses demônios a leve.

– O serviço vai sair caro.

– Não tem problema, eu lhes pagarei muito bem - O homem secou as lágrimas.

– Leve-nos até ela - Ordenou Amalia . Rapidamente , o homem adentrou na padaria e fez menção para as duas entrarem. Em seguida , fechou-a. Desceram umas escadas, passaram por um corredor e chegaram a porta da casa. Ele abriu e pediu para que elas entrassem. Logo as levou até o quarto de sua filha.

Na entrada , Lúzia sentiu-se um pouco tonta, porém ao olhar para Amalia a viu paralisada. A jovem Necromante começou a tossir , o ambiente certamente a fazia mal. Lúzia não entendia porque afetava tanto a jovem Necromante. Talvez fosse pesado demais para ela. Um "santuário impuro". Um pequeno quarto inocente de uma criança , parecia de bonecas , as paredes eram claras , a cama delicada e as cortinas rosa .

Assim que Amalia se recuperou, olhou a garotinha pálida que dormia pesadamente na cama. Certamente ela não era uma criança amaldiçoada, aquela era outra coisa. Possessão.

Algum espírito queria entrar naquela alma desprotegida. Certamente inconformado com sua morte. Entretanto , se nem um adulto conseguiria suportar aquilo, uma criança estava fardada a destruição . Ela ia morrer , ela estava morrendo.

Duas almas não habitam o mesmo corpo.

– Você batizou essa menina? - Perguntou Amalia com uma expressão pernóstica.

– A mãe que deveria cuidar disso, mas ela fugiu com outro homem quando deu a luz.

– E só por isso você não a batizou ? - Amalia perguntou, enquanto Lúzia assistia tudo muito atenta.

– Sim...

– Você é um trouxa mesmo, não me admira que ela o tenha abandonado. Agora saia! Temos que fazer o nosso trabalho - Amalia jamais mediu as palavras.

O homem abaixou a cabeça pensativo, as palavras da mulher a sua frente tiverem a mesma intensidade que vários socos em sua face. Porém ela tinha razão. A culpa era dele , todos sabiam que crianças pagãs eram bem mais vulneráveis. Notando que sua presença era insignificante ali, começou a se retirar. No momento em que ele abriu a porta para sair , alguém o segurou. Era a menina mais nova, a que possuía um olhar tempestuoso.

– Sinto muito por isso, senhor - Lúzia falava livremente enquanto ainda o segurava - Vamos fazer de tudo para salvá-la.

– Eu sinto muito por você... por vocês - Novamente abaixou a cabeça e Lúzia o soltou , ele se retirou do quarto ainda melancólico. Notando que apenas havia piorado a situação, Lúzia voltou para o lado da Necromante.

– É muito inocente mesmo. Nunca vi igual - Amalia repreendia a aprendiz - Vamos , concentre-se que temos trabalho a fazer.

Em seguida, Amalia respirou fundo . Aquele em si não era um trabalho para ela , era para Lúzia. Ela ia o efetuar . Entretanto a Necromante sabia queaquilo era algo desgastante e difícil.

"Salamandras é um ser quase indomável..."– Pensou.

– Lúzia , concentre-se nas velas - Tirou da mala duas velhas negras - As faça queimar. Imagine que todo o ambiente está mergulhando no caos . Do seu corpo vai sair chamas , direcione as chamas para as velas. Esse é o primeiro passo.

– Por elas ser negras , elas são melhores ?

– Francamente... você realmente é um ser curioso- Amalia franziu o cenho - Faça o que eu falei.

– Está bem - Por fim concordou.

Sem hesitar Lúzia imaginou que do seu corpo realmente saia chamas e que as chamas envolviam as velas as quais subitamente pegaram fogo. Amalia sentiu o próprio corpo queimar violentamente, era uma chama profunda e devastadora . Provavelmente Lúzia não controlou muito bem as chamas , acabou por atingir internamente a Necromante .

Por sorte, a energia que a entidade deu para ela outrora servia exatamente para isso. Para proteger o corpo e livrá-lo caso ele fosse possuído por algum mau. Estava preparada para quase tudo quando aceitou treinar o Salamandras. Logo o calor sumiu. Estava a salvo. E Lúzia mesmo tendo dificuldades, cumpriu a sua parte e acendeu as velas.

Caso ocorresse de Lúzia perder o controle de forma mais intensa, a Necromante teria pulverizado juntamente com o quarto inteiro. Amalia agradecendo a entidade intimamente, colocou as velas no chão, com um olhar esperansoço. Estava pronta para o segundo estágio. O qual era ainda pior.

– Você vai fazer o mesmo , porém dessa vez focando no espírito que está dentro da menina. Vai imaginar as chamas entrando nela e queimando o espírito.

– Ou seja , você quer que eu queime por dentro da menina ? E se a alma dela for atingida também?

– Ora Lúzia! Confie mais em si.

Era essa a resposta certa. "Confiança". Algo que Lúzia jamais tivera, não confiava em ninguém muito menos em si. Todavia ela sabia exatamente o que já podia fazer , cruzar os braços e ignorar não era do seu feitio. E talvez , se tudo desse certo , uma vida poderia ser salva. Não qualquer vida , a vida de uma criança. Era mentalizar e agir, caso Amalia realmente estivesse planejando algo ruim contra ela, após esse treinamento ela poderia fazer o que quiser contra a Necromante. Era esperar e agir.

Fechou os olhos . Imaginou as chamas das velas negras se expandindo. Imaginou as chamas entrando dentro do corpo da menina. Ela tinha que ter fé, tinha que acreditar na sua própria força , na sua própria energia. Se ocorresse um erro e a menina fosse queimada , ela jamais se perdoaria . Tinha que ter o máximo de concentração possível. Suscitar fé em si mesma era o mais difícil no momento.

Quando de fato se concentrou e tinha certeza que iria conseguir , um grito rouco e grave soou . A menina de quatro anos se contorcia , como se algo dentro dela a queimasse viva.

– Morra maldita! - A menina começou a falar , ainda se debatia - MORRA!

Amalia notando toda a pressão que o espírito estava fazendo , segurou os ombros da jovem Princesa, estava decidida a acalmá-la. Um erro e ela poderia matar a menina.

– Lúzia , não dê ouvidos a esse espírito. Ele só não quer sair do corpo da menina. Seja forte Princesa - Lúzia estava com os olhos fechados, respirava fundo.

– Princesa, eles virão atrás de você! Irão arrancar a sua alma exatamente como você está fazendo comigo- O espírito do corpo da menina não parava de gritar.

– Cale-se verme! Volte para o inferno de uma vez por todas - Amalia estava perdendo a calma.

– Você vai fracassar Necromante - Ainda se contorcia de dor - Você não pode fugir Princesa, as sombras vão comer sua alma. Vai sucumbir a praga!

Por incrível que pareça , Lúzia não perdeu o controle. Intensificou ainda mais seu pensamento. Aquele espírito mais do que nunca deveria sair do corpo da menininha. As chamas invisíveis consumiram ainda mais o corpo da pequena. Os gritos eram assustadoras.

Amalia viu as chamas das velas aumentarem de forma intensa. Era algo glorioso, jamais havia visto tal cena. Lúzia estava conseguindo lidar completamente com a situação.

– Vá ao inferno! - Lúzia falou calmamente e aos poucos o corpo da menininha de quatro anos foi parando de se mover. Foi adormecendo, como se ela estivesse em perfeita calma. Como se um imenso peso sufocante tivesse saído.

O ambiente voltou ao normal , o peso que antes estava matando Amalia agora havia sumido. Lúzia conseguiu.

Abriu os olhos ainda incrédula do que acabara de fazer . Sem pensar duas vezes , correu em direção ao pequeno corpo estirado na cama , sentiu-o quente. Borbulhante. Fervoroso. Sentiu a pulsação. Estava viva, a menina suportou a pressão. Não havia feito algo mais maravilhoso em toda a sua vida. Havia salvado uma alma inocente.

– Meu Deus! Ela ainda vive ,Amalia!


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Notas finais do capítulo

Lembrem-se , ninguém é totalmente inocente nessa fic.
Lúzia pode parecer inocente, apenas pode parecer ...
Espero que tenham gostado!
Sei que é um tanto confuso :3
O que acharam do treinamento dos soldados da Ordem ? '-'
Irei entrar mais a fundo nisso em outro capítulo