O celular toca, ela vê que é o número dele e desliga.

O celular toca outra vez, e outra vez, e outra vez... Ela não atende.

Lembrar-se dele a faz lembrar-se do dia em que tudo acabou. O que era para ser um dia feliz, um dia de comemoração, acabou se tornando um dia ruim, o qual ela quer apagar da sua memória.

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Era aniversário de dezoito anos de Annabelle e todos os seus amigos e familiares estavam na sua casa, mas a pessoa que ela tanto aguardava ainda não tinha aparecido. William, seu namorado, era a sua pessoa favorita no mundo e tudo que ela queria era passar, o tão esperado, aniversário de dezoito com ele, mas ele tinha que trabalhar e prometeu para ela que chegaria mais cedo para ir à festa e passar a noite com ela.

Porém, ela ligava para o celular de William e só caia na caixa postal, às vezes nem chamava. Talvez ele não tenha conseguido sair cedo do trabalho. O celular deve ter acabado a bateria. Era o que ela pensava. Annabelle ligou uma última vez, após duas horas tentando, mas caiu na caixa postal novamente. Ela decidiu parar e ir aproveitar a festa, porque enquanto ela estava no telefone tentando se comunicar com William, todos se divertiam dançando e comendo o bolo que sua mãe havia feito. Mas, mesmo enquanto dançava, não parava de olhar o celular à espera de uma mensagem dele, respondendo as 43 mensagens dela.

 A festa acabou por volta das duas e quarenta e então todos foram embora, agradecendo pelo convite e lhe desejando felicidades. Seus pais subiram para o quarto e ela ficou na sala arrumando a bagunça, alegando não estar cansada quando sua mãe disse para deixar a faxina para depois.

Já passava das quatro da manhã quando ela ajuntou o último copinho de plástico, e ele não tinha aparecido e nem sequer havia respondido às várias ligações e mensagens. Anna resolveu ir até a casa dele. Deve ter acontecido alguma coisa. Ela pensara. Nem os pais dele haviam aparecido na festa, e ela já estava ficando muito preocupa. Annabelle pegou o carro de sua mãe e foi até a casa de William, que ficava a vinte minutos de distância da sua. Quando chegou bateu na porta, mas ninguém atendeu. Estranho. Os pais dele não estão em casa?

Ela lembrou que a porta dos fundos tinha uma chave dentro de um vasinho de planta e foi até lá. Ela entrou e encontrou as luzes apagadas, com exceção da luz da sala. Foi até a sala, mas não encontrou ninguém, havia apenas uma camisa em cima do sofá e um salto alto preto jogado no meio do tapete. Seguiu em frente até o quarto dele.

Quando ela abriu a porta, a raiva começou a transbordar na forma de lágrimas. Roupas estavam jogadas por todo o quarto e William e sua amiga do colégio, Carmel, estavam na cama. DORMINDO DE CONCHINHA!

—Como você pôde?! – ela gritou fazendo com que eles acordassem assustados.

—Anna! – William se levantou vestindo a calça assim que percebeu quem estava em pé na porta, e Carmel procurava pelo seu vestido enrolada no lençol. – Não é o que você pensa! – Will disse assustado.

—Ah, não? Você não estava transando com a minha amiga. É tudo coisa da minha cabeça. – Anna disse irônica.

—Anna, eu sinto muito... – Carmel dizia enquanto arrumava o vestido que havia encontrado no chão.

—Cala a sua boca! – Anna gritou a interrompendo e ela pulou de susto. – Eu não quero mais ouvir o som da sua voz, eu não quero mais te ver e acho melhor você sair daqui agora, antes que eu faça uma besteira. – Annabelle via tudo em vermelho. A raiva era tanta que ela nem notou que estava chorando. Carmel pegou a bolsa e saiu correndo do quarto, passando bem longe de Anna.

—Seu babaca mentiroso! – Anna gritou encarando William. – Agora tudo faz sentido. Quando você dizia que estava cansado ou que não podia ir lá em casa porque ia trabalhar até tarde, era tudo mentira! Você estava com ela nos últimos meses, não estava?! - As lágrimas jorravam de seus olhos.

—Pois me faça um favor e esqueça que eu existo! Eu não quero mais ver você, nem pintado de ouro! – Ela disse tentando secar o rosto com as costas das mãos e se virou para ir embora, não querendo ouvir o que ele tinha para dizer, mas quando ela estava passando pela porta ele segurou seu braço.

—Anna, me escuta! Eu não queria te magoar.

Ela soltou uma risadinha forçada.

Se virou para ficar de frente para ele e quando ele ia falar mais alguma coisa ela meteu a mão na cara dele.

— Acabou, William. Você conseguiu destruir tudo.

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Anna voltou ao presente quando o celular tocou de novo e, já de saco cheio, ela atendeu.

—Já disse para parar de me ligar. Eu não quero falar com você. – Anna diz antes que ele pudesse falar alguma coisa.

—Me perdoa, por favor?

—Não dá. Não depois do que você fez, então, pare de me ligar.

—Eu te amo, Anna! – ele disse antes que ela desligasse.

O coração dela acelera e uma lagrima transborda de seu olho, ela respira fundo e responde.

—Eu te amava muito, William, mas parece que não foi o bastante, porque você estragou tudo quando decidiu dormir com a Carmel. – ela disse baixinho. – E se você me amasse como você está dizendo, você não teria feito isso. – Ela disse com raiva e limpou as lágrimas que caíram. – Agora eu só sinto nojo de você...

—Eu sinto muito. – Ele diz. E ela já estava cansada de escutar isso. O fato de ele ficar apenas dizendo que a amava e pedindo desculpas, parecia fazer o nojo que Annabelle sentia aumentar.

—Sentir muito não apaga o que você fez.

—Eu sei, eu sei... – ele sussurra. Ela o escuta chorar e sente um aperto no peito.

—Não me ligue mais!  Adeus, William!

—Anna, não. Por fav...

Ela desliga o celular e bloqueia o número dele, deixando cair todas às lagrimas que tentava segurar em vão. Ele a fez sofrer e ela precisava esquecê-lo.

Ela vai até o banheiro e lava o rosto, volta para o quarto, desliga a luz e deita na cama fechando os olhos, tentando esquecer tudo.

E no escuro do quarto de Annabelle o único som que pôde se escutar foi o de seu coração, aceitando a nova realidade, partindo-se ao meio, e uma única lagrima caindo no travesseiro.