– Ok, mais uma vez então Anna. – Coelhão gritou com motivação em sua voz. – Salto e pirueta seguida pelo perfeito pouso sobre o trono do rei.

Desde o inicio da madrugada, a trupe vinha treinando para sua apresentação perante a corte e a família real, como presente de noivado a princesa.

Anna correu mais veloz, agarrou as mãos de Nod que a fez ficar de ponta cabeça, impulsionando seu corpo na direção ao “trono” falso que eles haviam feito. Ela girou no ar por alguns segundos, tirando o folego dos que assistiam e pousou como uma borboleta sobre a cadeira de madeira instável, as mãos acima de cabeça e um sorriso vitorioso no rosto.

Palmas ecoaram entre as folhas das arvores, gritos animados enchendo a floresta.

Nod estava com a respiração pesada, mas sorriu para Anna, cumprimentando-a pelo bom salto.

– Uh, isso vai ser tão emocionante. – A garota de tranças juntou as mãos fechadas em punhos próximas a seu queixo. – Imagine o quanto lady Violeta deve estar feliz por seu noivado.

O garoto assentiu, apesar de não acreditar completamente nisso. Ele entendia algo sobre casamentos arranjados, e sabia que dificilmente lady Violeta estaria alegre com isso.

Um pouco longe de onde estavam caminhando um garoto desengonçado de cabelos espetados cuspia fogo, acendendo uma tocha em suas mãos.

– Hum, parece que todos estão preparados. Eu estou com um pressentimento estranho... – Mas ele não completou o pensamento. – Esqueça. Olhe só, parece que Jhonny colocou fogo no cabelo outra vez.

A garota riu e acenou dizendo que precisava se alongar mais uma vez.

Nod ficou sozinho, observando as crianças e adultos preparem seus números. Sem que ele notasse, Mary Katherine se aproximou e falou em uma voz suave.

– Esse lugar esta cheio de talentos extraordinários. Eu queria poder fazer essas coisas incríveis também.

O garoto se virou tão rápido que assustou a garota, fazendo-a sobressaltar-se.

– Você esta brincando? E a parada das visões que você faz? É incrível. Estranho... Mas incrível.

MK sorriu timidamente.

– É muito legal da sua parte dizer isso. Mas o dom de visões é também uma espécie de maldição, então, - Ela riu envergonhada. – Não é algo para se vangloriar.

Nod deu de ombros. Um sorriso cruzou seus lábios.

– Você vai assistir a nossa apresentação hoje certo? Bem, quem sabe Coelhão poderia te colocar na próxima turnê!

Ela virou o rosto indignado.

– O que, eu? E o que eu vou fazer? Dar visões horripilantes para as pessoas?

– As vezes não se precisa de dons especiais para fazer coisas consideradas impossíveis. Você só precisa de vontade.

Ainda encarando os olhos castanhos do garoto, um choque interno fez seu corpo balançar. Ele estava certo, afinal de contas.

O garoto riu mais uma vez e saltou alto até uma arvore.

– Vamos lá, vem comigo.

– Mas eu acabei de te dizer que não tenho esses talen... AHH! – Nod saltou para o chão novamente e a pegou no colo. Com um impulso maior levou os dois para um dos galhos altos de um pinheiro.

– Viu só? É fácil!

A garota considerou bater nele, mas percebeu que essa não seria a melhor estratégia já que ela dependia de ele estar consciente para evitar uma queda e possível morte de ambos.

No chão Mavis acenou para os dois gargalhando. Ela estava se recuperando muito rápido pelas ervas e também pela cicatrização dos vampiros. Contanto que sempre tivesse uma sombrinha a mão, ela estaria bem.

Norman estava isolado dos grupos que treinavam. O garotinho fazia movimentos estranhos com as mãos, e as vezes parecia estar conversando, apesar de não existir nada além de ar a sua frente.

– Ele se comunica com os mortos. – Uma voz respondeu a pergunta de Mavis antes que ela a pronunciasse.

Era o garoto que cuspia fogo. Parte de seu cabelo estava chamuscado, mas ele parecia estar inacreditavelmente bem-humorado.

– É um pouco arrepiante, mas... – Ele deixou a frase suspensa no ar, distraindo-se com a fuligem que caia de seu cabelo.

– Mas todos aqui são assim certo?

Apesar de não receber resposta, (o garoto estava muito ocupado arrancando fios queimados de sua cabeça para ouvi-la), ela viu a confirmação a frente de seus olhos.

Der repente, vindo do nada, uma sensação de tontura tomou conta de seu cérebro. Flashes passando em alta velocidade em frente a seus olhos, como imagens de outra vida.

Outra cidade, diferente desta. Como se existisse em outro tempo. Um garoto com feições estranhamente familiares, abraçando seus ombros em um telhado, a lua sobre eles. E então, escuridão. Ela viu-se girando em uma espécie de portal e novamente densas trevas.

A sensação passou tão rápido como viera, mas as imagens estavam gravadas em seus olhos e o pior, em sua mente, perturbadoras e confusas.

O que estava acontecendo. O que era tudo aquilo?

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