Em uma tarde banhada pelo alaranjado do por do sol, um homem, um ladrão, observa quietamente a cidade de um dos terraços de pedra.

Seus cabelos castanhos brilhantes balançam levemente com o vento quente que batia contra seu rosto. Após ter escapado dos guardas, Flynn Rider esta refletindo em qual seria sua próxima vitima.

Desde que o garoto ferreiro o denunciara tentando roubar um dos ministros, ele foi forçado a escolher outro ponto de ataque, outro mercado. Seus olhos velozes captaram um movimento de capas negras a esquerda. Poderia ser?

Abaixo de si, duas figuras imponentes adentraram uma taverna. Um homem e uma garota, com capuzes cobrindo a cabeça. Flynn agitou se imediatamente. Se aqueles dois eram quem ele imaginava, então hoje não seria um bom dia para roubos. Ele se contentou em sentar se e analisar a multidão que passava sob seus pés. Homens de semblante fechado e carrancudo carregando carroças de feno, jovens afiando espadas, algumas mulheres equilibrando cestos sobre a cabeça. Mais um dia normal na cidade.

Flynn gostava disso, e apesar de ter a ambição de ficar rico e se tornar respeitado, ele sentiria falta dessa rotina confortável.

Depois de uns trinta minutos o casal saiu de novo, o homem ajeitando a espada no cinto. Eles se afastaram recebendo uns poucos olhares curiosos, caminharam ate uma espécie de beco, em uma rua escura e úmida.

Flynn não hesitou, saltou do telhado o mais silencioso possível, e seguiu o mesmo caminho das figuras misteriosas.

Ao entrar no beco, assustou-se ao ver uma garota logo no fim dele, encostada em uma parede de pedras, a cabeça pendendo levemente.

A garota de cabelos brancos se adiantou ate ela e falou com a voz cheia de autoridade:

– Levante, nos queremos uma profecia.

A garota ruiva levantou a cabeça lentamente, colocando as mãos na testa.

Elevou os olhos ate a moça e depois ao rapaz.

– Muito bem. Hans e Elsa, estou certa? Sabia que estavam a caminho,agora, meu pagamento... – Sua voz soava incrivelmente suave para alguém de aspecto tão miserável.

O homem tirou um saco de moedas de dentro da capa e jogou ao lado da garota.

– Muito bem. – Ela fechou os olhos e juntou as mãos. Seu peito subia e descia com rapidez. De repente, ela abriu os olhos, uma das mãos agarrou o pulso de Elsa, puxando a jovem para perto com força inacreditável. Sua voz saiu, espiralando ao redor deles com uma nevoa verde e branca:

Oh princesa do gelo,

deixe a cidade ou essa será sua perdição.

Quem mais ama ira se machucar,

e em seus ombros esse fardo irá repousar

Flynn tentou gritar, mas sua voz não saiu, engasgada em sua garganta.

Ele já ouvira falar em magia é claro, porem, ao ver diante de si, sentiu cada musculo de seu corpo estremecer. Seus pés não se moviam, ou seus braços. Apenas seus olhos permaneciam abertos, as pupilas, dois círculos negros minúsculos.

Quando finalmente sua voz saiu, a garota já havia se desvencilhado do aperto da vidente, que jazia caída, semiconsciente, no chão gelado.

Ao ouvir o grito de Flynn o homem se voltou para ele, os olhos apertados como os de um caçador.

Ele lembrou se de quando lhe contaram a historia. Dois guerreiros, que caçavam bestas fantásticas por todo o mundo.

Um encontro com eles era morte certa. Não havia misericórdia.

Tentou correr na direção oposta, mas o homem saltou a sua frente barrando seu caminho, um sorriso de deboche curvou seus lábios finos quando ele encarou Flynn.

– Ora, ora, ora, sua mãe não te ensinou que é feio espiar as pessoas ? – Ao terminar a frase, algo parecido a um grunhir saiu por entre seus dentes. – O que você acha Elsa, ele representa perigo?

A garota lhe deu um olhar gélido. Suas íris o esquadrinharam completamente, ate que finalmente ela falou nenhum sorriso em seu rosto:

– Esqueça-o Hans, você ouviu o aviso da vidente, temos que sair daqui, rápido.

Com um resmungo descontente, o homem deu passagem a Flynn, suas mãos passando pelo cabo da enorme espada.

Enquanto saiam do beco, um rugido ecoou por todo o mercado.

♠♠♠

Ainda tonta por culpa da visão MK acordou, usando as mãos como alavanca para colocar se de pé Foi então que ouviu os gritos.

Com os tímpanos quase explodindo pela altura do som, espiou por trás da parede do beco.

Ela tropeçou e caiu, machucando os joelhos quando seus olhos se focalizaram na criatura a sua frente.

Um grifo acinzentado com grandes asas negras rugia voando e destruindo as barracas dos mercadores, que apavorados, fugiam sem rumo, gritando e agitando os braços.

Flynn Rider estava oculto detrás de uma barraca ainda intocada. Seus pensamentos corriam velozmente, imaginando uma maneira de escapar.

Não levou muito tempo. Afinal, essa era sua segunda e mais aprimorada habilidade. Porem, quando flexionou as pernas para saltar, ele ouviu o grito aterrorizante vindo da direção onde o grifo atacava.

A garota de cabelos prateados, Elsa, estava caída, uma poça de sangue ao redor de seu corpo, manchando a capa. Seu rosto estava contorcido em dor e ela parecia prestes a desmaiar. O outro, Hans estava defendendo as investidas do grifo com sua espada, mas ele estava já muito ferido, e não aguentaria muito tempo. Saltando desviando, atacando, e tudo se repetia. Ele olhou novamente para a garota quase inconsciente no chão.

Seus olhos adquiriram um brilho selvagem. Abandonando o plano de fuga, ele correu ate os combatentes, um pedaço de madeira em suas mãos.

O impacto deixou o animal confuso e furioso. Ele virou- se para Flynn, os olhos tao selvagens quanto os seus, e atacou.

♠♠♠