Logo depois da triste conversa com minha filha a deixei com Liam tomando seu café da manhã e fui me arrumar para mais um longo dia de trabalho.

Depois de longos anos estudando finalmente segurei o tão sonhado diploma e infelizmente tive que dizer adeus a Stanford, ZBZ e minhas irmãs Zetas. Adeus entre aspas, afinal sempre recebo visitas das irmãs que também assim como eu deram um ótimo rumo a sua vida, tanta na profissional quanto pessoal. Além das visitas que faço uma vez no ano no dia do ritual.

Abri o chuveiro sentindo a água morna cair em meu corpo. Aquele que um dia pertencera a Damon. Ah como eu o amo! Pior ainda, quanto o odeio! Às vezes, quase sempre, me pego tentando imaginar como seria nossa vida se aquele maldito advogado não aparecesse. Estaríamos felizes com nossa pequena e principalmente estaríamos juntos. Mas não posso culpar sua pobre tia por morrer ou o advogado pela má pessoa que meu ex-noivo possuía dentro de si.

Coloquei uma calça branca e uma regata da mesma cor e peguei meu jaleco que estava no quarto de Mel. “Mamãe vou ser médica que nem você” Sorri lembrando-me das palavras de minha filha. Ela era tudo pra mim. Minha bonequinha de cabelos pretos e olhos azuis.

– Melanie quantas vezes tenho que dizer para não brincar com minha roupa de trabalho? – mesmo achando isso fofo não posso deixar de corrigi-la.

– Desculpa mamãe – olhou para Liam com um olhar maroto – Fala titio, o que o senhor estava me falando agora pouco? – riu e saiu correndo assim que Liam abriu a boca para se pronunciar. Minha filha tinha essa mania de planejar algo com alguém e assim que fosse dito ela se escondia.

– Já que hoje é meu dia de folga do hospital queria ficar com a Mel – assim que disse isso minha filha voltou com aquele sorriso no qual se parecia tanto com seu pai quando queria alguma coisa – Vamos fazer maratona de Madagascar e comer coisas saudáveis como pipoca, chocolate e refrigerante.

– Mas amor você só tem uma folga na semana e tenho certeza que você precisa de um bom dia de sono – Liam trabalhava no mesmo hospital que eu na área de oncologia e sempre que podia fazia plantões extras.

– Nessa semana não peguei nenhum plantão e não fui chamado nenhuma vez para emergência, ou seja, tenho dormido cedo – deu-se por vencido pegando Melanie no colo e a apertando em seus braços – Além de que ficar com a Melzinha é um dia de folga que eu pedi a Deus.

– Por favor, mãe, o tio gosta de mim – riu como se isso fosse o problema – Na verdade ele me ama, não é tio?

– Claro que amo – riu beijando o topo de sua cabeça a fazendo fechar os olhos com deleite.

Melanie gostava muito do Liam. Ele sabia camuflar aquela falta que ela sentia de seu pai. Não que isso fizesse com ela o esquecesse, mas Liam não deixava nada lhe faltar. Ele era muito presente em sua vida. Quando me atraso no hospital ele iria busca-la pra mim na escolinha, leva ela pra passear e a mesma conta tudo o que aconteceu de importante em seu dia.

– Tudo bem, como quiser Liam – suspirei – Mas com uma condição – bufaram fazendo-me rir – Me leva e me busca no trabalho? Não estou a fim de ir dirigindo hoje.

– Tudo bem – assentiu.

Sei que se eu pegasse o carro iria acabar causando algum acidente devido minha falta de atenção e pensamentos nas nuvens, vulgo Damon. Por que alguém molda seu coração e depois o quebra como se fosse um vidro? Sinto muito Damon, eu não sou frágil, aquela Elena Gilbert mudou totalmente. Com meus erros acabei me tornando forte, principalmente pela minha filha. Ela sim me fez ser forte e guerreira. Tudo o que sou foi e é por ela. Não por aquele cara de olhos azuis que tanto me fez sofrer.

Mas eu ainda o amo.

E muito.

Despedi-me de minha filha meu marido e fui em direção ao hospital San Magno. Há dois anos trabalho aqui como Neurocirurgiã junto com minha amiga Rebekah que foi promovida a Chefe Neurocirurgiã. Entrei em minha sala e dei de cara com Michael, o diretor do hospital.

– Elena, estava te esperando – sorriu e levantou-se para cumprimentar-me com um abraço – Espero que não tenha achado ruim eu ter lhe esperar aqui em sua sala.

– Claro que não – sentei-me em minha cadeira.

– Vim aqui lhe fazer uma proposta – entregou-me alguns papéis – O hospital San Magno teve mais um filho... – rimos de sua piada – Agora somos três, aqui nos Estados Unidos, no Brasil e agora em Londres.

– Sem ofensas, mas o que eu tenho haver com isso? – riu alto. Apesar dessa barreira profissional éramos amigos.

– Sua impaciência é um problema – riu – Enfim, há de nascer uma neurocirurgiã tão boa quanto você, Elena. Você faz seu trabalho com louvor, como se o mundo precisasse de você. Sempre que vou à ala neuro vejo o quanto você se esforça. E seu trabalho não deve ser em vão. Assim como Rebekah você precisa desse crescimento.

– Não estou entendendo Michael.

– Quero que seja a Chefe Neurocirurgiã da San Magno em Londres. Não pense que estou fazendo isso por somos amigos, mas porque confio no seu trabalho e em seu potencial. Por favor, aceite, não conheço outro alguém pra fazer essa proposta.

– Londres? Largar minha vida aqui na Califórnia?

– Sei que é uma mudança brusca, mas isso é uma ótima oportunidade. Darei-te esse final de semana para pensar e resolver sua vida. Na segunda feira quero a resposta e sua assinatura nesses papéis. Leia e pense com carinho.

Obrigada Michael por dar-me uma oportunidade que vai mudar totalmente minha vida e talvez leva-la ao inferno. Ok era uma ótima proposta, mas Londres? Justo no qual o amor da minha vida morava, eu imagino.

Nunca houve uma pessoa que sofreu tanto quanto eu. Fui abandonada grávida e destruída psicologicamente. Passei longas semanas preocupada com Damon, fui tão idiota ao ponto de achar que aconteceu algo de errado. Então a ficha caiu. Ele tinha me abandonado.

“Eu te amo muito, Elena. Não importa o que aconteça, confie sempre em mim.”

Não posso largar tudo e voar para Londres pondo em risco minha felicidade e de minha família, mas também não posso largar essa tão sonhada oportunidade de crescer profissionalmente.

18h00min Finalmente. Hora de ir embora. Peguei minha bolsa e o envelope que poderia mudar minha vida. Fui à sala de Rebekah para pedir uma carona e claro um conselho.

– Pode me levar pra sua casa? Preciso de sua ajuda e da Miley.

Liguei para Liam avisando que iria dar uma passada na minha amiga e o mesmo falou rapidamente, pois eu estava “atrapalhando” a fala de Alex, o leão de Madagascar.

– Então posso saber a urgência? – Miley perguntou. Passamos em seu consultório veterinário para pega-la e agora estamos às três sentadas na cama.

– Rebekah deve saber que abriu um San Magno em Londres, certo? – assentiu – Então por conta do destino Michael me chamou para ser a Neurocirurgiã chefe de lá.

– E você vai aceitar? – Rebekah perguntou. Mesmo que não as encarasse sabia que elas estavam me olhando com olhar de pêsames.

– Eu não sei, por isso estou aqui – suspirei frustrada pelo rumo que minha vida poderia tomar – Se você pra qualquer outro lugar eu não pensaria duas vezes em aceitar, mas...

– É em Londres – Miley completou sussurrando como se tivesse medo de falar isso pra mim.

– Tenho medo de encontra-lo e minha vida ficar de cabeça pra baixo. Passei três anos tentando supera-lo e só pude agora – comecei a chorar – Encontrei um homem maravilhoso que cuida de mim e de minha filha como se seu mundo fôssemos nós. Não quero acabar com isso.

– E por que tem tanta certeza que Damon ainda está em Londres, Elena? – Miley levantou as sobrancelhas – Pelo que ele disse em sua última “ligação” – fez aspas com as mãos – A herança era muito mais do que ele pensava ser. Se ele foi tão babaca ao ponto de deixar você por tanto dinheiro por que ele ficaria em Londres? Por que não em Las Vegas, hum?

Minha amiga foi a que mais alimentou raiva de Damon por todos esses anos. Ela sempre o comparava com seu ex-namorado, Stefan. Miley sempre se apaixonou muito rápido e em todas às vezes sofria. Com ele não foi diferente. Agora ela estava quase pra casar com Kol, irmão de Rebekah. Finalmente encontrou a felicidade.

– Ela tem razão, amiga – Rebekah se pronunciou – E mesmo se encontra-lo pode então saber o motivo por ter te abandonado. Afinal, do que você tem medo se encontra-lo? De perdoá-lo e correr pros braços dele? Isso não é crime.

Minhas amigas me ajudaram muito em relação a Damon e principalmente em minha gravidez. Lembro-me do chá de bebê que planejaram com direito a Xbox e brincadeiras na ZBZ. Aturaram minhas crises de madrugada chamando por Damon e me ninavam até eu dormir como se fosse uma criança indefesa. Elas eram tudo pra mim.

– Claro que não, Bekah – foi quase como um grito – Eu o odeio. Eu estou com pé atrás porque tenho medo do que minha vida vai virar. Se eu encontrar Damon ele vai querer conhecer minha filha e isso não poderei negar e com isso ele terá que conviver comigo. E eu não quero isso. Estou feliz com Liam.

– Não tenho certeza se esse seja mesmo o motivo, mas vou fingir que acredito – Rebekah revirou os olhos sabendo da tamanha mentira que disse. Diferente de minha outra amiga, ela sempre me escutou, sabe que eu ainda amo o Damon. Enquanto Miley faz de tudo para eu esquece-lo, Rebekah apoia qualquer decisão que eu tomar.

– Você deve ir – Miley que bufou pelas palavras de Rebekah decidiu falar – Damon já te privou da felicidade por três anos, não deixe que ele faça isso novamente.

– Mas e vocês? E o Liam?

– Se pudéssemos abandonaríamos tudo e iriamos com você, mas agora sou casada e tenho uma filha que é muito mais importante que meu momento de loucura além de que consegui chegar onde queria. Porem você pode me visitar e vice versa. E sobre o Liam, se ele te ama mesmo irá com você. Tenho certeza que Michael não negaria uma transferência se isso por em jogo sua decisão de ir pra Londres.

– Rebekah tem razão, Lena. Eu também não posso. Abri meu próprio consultório veterinário e logo vou me casar. Mas irei visitar assim que der – Miley sorriu fazendo com que Rebekah a seguisse – Se eu fosse você, iria.

Depois de quase três horas conversando com minhas amigas liguei para Liam me buscar. Não iria contar ainda a ele sobre a proposta. Quero que seja uma decisão minha em qualquer situação.

– Filha vamos lá no seu quarto, quero conversar com você. – assim que chegamos em casa pegue a mãozinha de Mel para contar sobre a novidade.

– O que foi mamãe? – perguntou receosa sentando-se na cama enquanto eu me ajoelhava em sua frente.

– Relaxa meu amor, você não fez nada – ri de sua carinha de alivio – O que acharia se fossemos pra Londres?

– A cidade do One Direction? – assenti e ela pulou – Vamos morar lá?

– Não sei. Você queria morar lá? – acho que essa conversa vai ser menos complicada do que eu imaginava.

– Claro que sim. Por que não? – riu sapeca – Quando vamos?

– Calma pequena, ainda não sei – tirei uma mecha que caiu em seus olhos. Estava na hora de retocar aquela franja – Faz um favor a mamãe? – assentiu – Não conte nada sobre isso para seu tio, ok?

– Por que mãe? Ele não vai com a gente? – pude ver seus olhos brilhando devido às lágrimas.

– Não sei. Isso é uma conversa de adulto. Entendeu? – assentiu – Já jantou? – assentiu novamente – Coloca seu pijama que a mamãe vai contar uma história pra você dormir.

*

Uma semana trabalhando direto seria menos cansativo que esse final de semana. Nesses dois dias pensei e repensei as duas alternativas, ir ou não ir, e não chegava a nenhuma conclusão. Mas finalmente consegui, estava dado o decreto.

Fui em direção à sala da Michael para dar a resposta. Rebekah e Miley já estavam sabendo de minha decisão e me deram o maior apoio.

– Atrapalho Michael?

– Nunca – sorriu – Então já tem a resposta?

– Sim – entreguei o envelope e ele rapidamente o abriu fazendo que um sorriso gigantesco aparecesse em seu rosto.

– Você assinou.

– Sim – repeti o que disse há segundos e sorri – Pra quando é o meu voo?

Não deixarei essa oportunidade por causa de um homem que não merece meu sofrimento. A felicidade acabou de bater à minha porta e eu a deixei entrar.

Por favor, Damon Salvatore não esteja em Londres.