O Ultimo Ato escrita por Dan Somnium


Capítulo 3
Capitulo 3 - O Primeiro Ato | Tarja


Notas iniciais do capítulo

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Diferente de como as pessoas descrevem, a morte não faz com que vejamos nossas vidas passar pelos nossos olhos. Eu apenas vi o nada, isso é... Se eu realmente tivesse morrido naquele momento.

— Garoto, não fique aí! Você pode morrer!

Após entrar no transe da habilidade do Sombra, me deparei em uma cena de guerra. Eu já não me lembrava por que estava ali e nem que tinha sido atingido por um golpe. Apenas vi uma mulher de armadura e lança me acudindo. Eu estava com as mesmas roupas que usava quando entrei na Arena Gamma. Logo ela se surpreendeu com isso e me puxou pelo braço.

— Você quer morrer aqui? Ahn!?

Foram as palavras que ela disse enquanto sua face chegava tão perto da minha que eu sentia sua respiração quente. Seus olhos eram verdes e muito bonitos. Seus cabelos eram longos e se pareciam com dreads¹. Sua pele morena estava coberta de sangue, mas mesmo assim ela tentou levantar meu espirito. Não foi difícil perceber que ela era uma Líder.

— Levante-se! Se não possui uma arma, pegue a espada de um guerreiro qualquer que foi abatido, não deixe que os demônios nos vençam! Não importa o quão pequeno você seja, onde há escuridão...

Antes de terminar sua frase, ela se vira e um monstro grande e robusto tenta acerta-la como um machado. De sua mão esquerda surge um escudo dourado, o impacto é totalmente absorvido e refletido. A criatura é lançada para trás e a mulher salta até seu corpo caído, finalizando-o com uma estocada na face. A cena que vi após isso fora de longe a mais bela de toda minha vida. Ela se ergueu, o sol estava exatamente atrás dela, era como se fosse um anjo vindo para me salvar. Ergueu a mão que antes carregava um escudo e me disse; — Há luz.

Me apoiei em sua mão e me levantei, peguei uma espada que encontrei no chão e me juntei a ela. — Qual o seu nome? — Ousei perguntar.

— Sou Tarja, mas por muitos conhecida como Athena. — Com sua voz firme ela me informa seu nome. Estávamos em uma espécie de planície com trigo alto. Eu nunca fui um lutador, mas por algum motivo eu senti que podia fazer o que quisesse.

— Onde estão os demônios? — Perguntei em posição de combate.

Ela sorriu e me disse; — Não são demônios de verdade, garoto. Essas coisas não existem. Eles são Dhura, você não sabia? Onde esteve todo esse tempo?

Em seguida eu apenas fiz parecer que não entendia nada do que ela dizia, logo ouvi passos rápidos e da vasta plantação de trigo surgiram duas criaturas segurando foices. Eram dois repteis avermelhados e babavam uma espécie de acido.

— O que... Mas... Iremos lutar nós dois?

Após demonstrar claramente que estava com medo, eu olhei para Tarja e esperei que ela fosse me dar uma informação útil mas... — Não são apenas dois.

Eis que surgem mais de vinte deles a nossa volta. Estávamos quase completamente cercados. Eu não via uma saída mas Tarja... Com seus cabelos ao vento ela ergueu sua lança e começou a fazer uma espécie de conjúrio.

— Aos que duvidam da grandeza de minha mente e da eficiência de minha lâmina, convoco meus cavaleiros... Athos, Methos, Ventus e Satia.

Como uma mágica, dos céus surgem quatro cavaleiros trajados em armaduras completamente douradas, cada um segurando uma arma distinta. Espada, Machado, Gadanha e Adagas respectivamente foram o nosso trunfo. Eles logo que chegaram, estavam ajoelhados perante Tarja, em seguida se ergueram e olharam para mim. A sensação fora tão forte que eu não conseguiria descrever. Meu coração sentiu-se tão quente, eu não conseguia ir para qualquer lugar que fosse distante daquelas armaduras.

Mas se mostraram logo, Tarja se sentou enquanto eles se moviam como raios, cortando as salamandras uma-a-uma. Eu mal acompanhava seus movimentos. Em seguida se juntaram e se ajoelharam novamente. Tarja se levantou e eles desapareceram. Me senti completamente inútil. Foi tão rápido quanto eu nunca podia correr.

— Agora estou ficando fraca, e pelo que já vi... Você não é do tipo guerreiro, certo? — Disse Tarja enquanto colocava sua mão em meu ombro.

— Na verdade... Isso tudo pra mim se parece com um grande jogo virtual. Não sei exatamente o que se passa mas sinto que posso fazer a diferença. — Disse a ela e fui agraciado com um belo sorriso. Ela correu e me disse para segui-la. A frente de nós surgiu um espelho, Tarja simplesmente saltou e desapareceu. Fechei os olhos e fiz o mesmo por impulso. Quando os abri, estava em uma cidade maravilhosa. Era como se estivesse visitando a Grécia antiga, tudo tão natural.

Logo que abri os olhos e me fascinei pelo lugar, vi Tarja a frente levantando a lança e fazendo um discurso... Mas pra quem?

Me aproximei e vi uma multidão de pessoas, tantas que eu nem podia contar. Estavam todos gritando por Athena, nome pelo qual Tarja disse que também responderia.

Após encorajar as pessoas lá em baixo, Tarja caminhou até mim e disse para segui-la. Entrei em algo como um prédio, subimos uma enorme rampa e ao topo estava um corredor cheio de entradas. Ela me disse; — Entre na quarta porta, não ouse abrir a porta da terceira. Bom, seu quarto será lá.

Eu não entendi muito bem, mas segui em direção ao corredor. Passei pela terceira porta, estava destruída e arranhada, era como se uma luta tivesse sido travada lá dentro. Continuei andando até o quarto salão. O quarto era tão grande quanto minha casa inteira. Eu tinha até mesmo uma fonte lá dentro. Fechei a porta e a primeira coisa que quis foi tomar um banho. Tirei as roupas com bastante vergonha, não sabia se entraria alguém ali. Comecei a me lavar na fonte, e aos poucos fui me sentindo a vontade. Eu não havia percebido mas meu corpo estava bem quente, e minha pele muito suja, era como se eu tivesse dormido por meses naquele chão. A água relaxava cada ponto do meu corpo, me fazia me sentir tão bem, tão tranquilo. Aquele frescor circulando pelo meu corpo, molhando meu cabelo e me dando a oportunidade de relaxar. Meus olhos não se seguraram, peguei no sono.

— Você dormiu? Ahahahahaha! Troque-se logo Rana²! Tem pessoas que eu quero que conheça! — Disse Tarja logo quando me acordou, eu não sei exatamente no que estava focado. Na beleza daquela mulher de vestido ou na vergonha de estar completamente sem roupas diante dela.

— Sim senhora...! Rama?

— Escolha bem suas roupas, é uma reunião importante. E eu disse RANA! É um sapo. Por ficar tanto tempo nessa banheira! Hahaha. — Ela fazia parecer tudo tão natural, aquele sorriso e movimentos de mãos, ela parecia tão familiar, tão... Querida.

Logo Tarja saiu do quarto, me levantei e corri para um armário ornamentado que estava no centro do quarto que mais se parecia com um salão. Abri e vi roupas muito bonitas, escolhi a que achei mais interessante e me vesti. Levei tempo pois não eram roupas que eu estava acostumado a usar.

Saí rapidamente e encontrei um homem mal vestido. Ele parecia não saber falar. Fez gestos assim que me viu e apontou ao fim do corredor oposto ao meu. Passei novamente pela terceira porta, que me provocou um breve arrepio e depois me dirigi para a entrada do local, onde a rampa se estendia. Completamente sem rumo eu fui caminhando. Encontrei o outro corredor e fui até seu fim. Uma enorme porta ornamentada estava a minha espera. Eu a abri e lá estava Tarja com dois homens e uma garota aparentemente da minha idade, ela estava de olhos fechados, cega talvez. Estavam tão bem vestidos quanto Tarja, um dos homens usava uma bonita mascara de ferro.

— É ele. Rana. E será meu campeão esta noite. Meu reino, minha vida e meus servos eu deixo nas mãos dele.

Tarja apontava para mim enquanto dizia. Eu não acreditei no que ela havia dito. Antes de contradize-la, eu vi seu rosto firme. Ela não estava de brincadeira.

— Pois bem, estamos de acordo. Nossa campeão, Aurea, irá decidir o futuro de todo continente, e Tarja... Prepare-se para perder O Cordão de Athena. — Disse o homem de mascara.

— Se é só isso, obrigada. Podem ir embora. — Tarja disse enquanto apontava a saída para eles. Todos os três passaram por mim e logo quando a garota passou, pude ver seus olhos. Eram completamente negros, não haviam partes brancas e nem nada. Apenas um globo totalmente negro.

Quando todos saíram e a porta se fechou, Tarja deixou escapar uma lágrima. — O que foi? E por que você... Tarja? — Tentei entender a situação e acalma-la. Mas Tarja logo se recompôs.

— Temos um ano para transformar você em um exímio guerreiro, Rana. Ao fim do prazo, você irá lutar contra a filha de Seroth, essa que acabou de ver. Fizemos um acordo de paz. Meus aldeões estão morrendo e seus filhos estão crescendo sem pais. Tive que tomar uma providência. O assalto deles a poucas horas atrás foi uma tentativa de me matar enquanto recebia o aviso de que seu líder viria até minha morada. Eles são sujos, Rana. E eu não posso confiar em meus homens mais próximos. Eles não desejam a paz, eles desejam o seu próprio bem, e eu não posso oferecer todas as riquezas que eles almejam... Eles podem me-

— Trair, Tarja? — interrompi ela, pois via suas palavras sendo liberadas cada vez mais rápido e mais desesperadamente. Ela apenas fez um gesto com o rosto e saímos dali.

Tarja me levou até meu quarto e me contou como era difícil encontrar o quarto dos pais dela quando ela era mais nova. Ela tinha medo de trovões mas também tinha medo dos corredores. Foi bem chato, mas ela contava com um tom de graça que até me fez rir um pouco.

— Você viu o olho dela? — Disse enquanto olhava pra Tarja esperando uma explicação.

— Eu vi, menino! Nossa, ainda bem que quem vai lutar com ela é você. — Tarja respondeu com uma cara de que me deu muita raiva, mas acabou proporcionando uma gargalhada em seguida.

Conversamos até as estrelas surgirem nos céus, Tarja me contou do seu primeiro animal de estimação, Mira, sua ave. —... e assim ela acabou roubando o chapéu novo dele e voou para longe! Acredita que ela não voltou com o chapéu? E ainda fez várias brincadeiras com meu pai! — dizia Tarja toda empolgada.

Peguei no sono assim que ela saiu e no dia seguinte Tarja me acordou bem cedo e me levou para a floresta.

— Rana, essa é a Floresta Jujuba! Hahaha! Eu que dei esse nome a ela por que a primeira vez que comi uma Jujuba foi aqui! E não quero saber o que você pensa. Hoje você vai aprender a lutar contra pequenas criaturas.

Assim que Tarja anunciou nossa primeira missão, um tigre surgiu dentre um pequeno aglomerado de rochas, ele não parecia nenhum pouco amigável.

— E olha aí a criatura pequena! Vai lá, seu trabalho é apenas mata-la! 1 Disse Tarja com um tom extremamente simplório.

— Ok Tarja! E agora, falamos sério? O que é essa cara pra mim? Ah não... Tarja? Isso é sério ?

Tarja apenas me jogou uma lança e não conteve o riso, quase chorava de tanta risada, enquanto ria ela apontava o Tigre que se aproximava cada vez mais....

— Ok, meu Deus... Ok... Lá vou eu... Eu sabia... Eu sabia que ia morrer cedo ou tarde... A menina tinha olhos PRETOS! E agora isso... Ninguém merece. — Resmunguei enquanto caminhava tão lentamente que até as folhas que caíam ao redor pareciam mais ágeis que eu.

Olhei pro Tigre, mas mal conseguia me concentrar, Tarja ressoava pequenas risadinhas que me incomodavam. Eu pensei que, antes de morrer, podia dar um soco na cara dela... Ao menos ia me fazer um morto mais feliz.

O Tigre parou de se mover e começou a abaixar lentamente a sua cabeça, cada centímetro que ele se movia era equivalente a minha pulsação que se elevava. Em um breve instante o tigre saltou.


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Notas finais do capítulo

Dreads: Consiste em bolos cilíndricos de cabelo que aparentam "cordas" pendendo do topo da cabeça. (Fonte: Wikipedia)
Rana graeca²: É uma espécie de anfíbio da família Ranidae encontrada na grécia.



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