Azul escrita por Letícia G


Capítulo 1
No light


Notas iniciais do capítulo

Oi o/
Mais uma one de uma casal não convencional, mas lindo e verdadeiro, e pelo qual eu me apaixonei de uns tempos pra cá. Espero que gostem, e curtam sem preconceitos (:
Boa leitura!



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O vento frio e cortante atravessava as vestes de Theon, e ele sentia como se a própria Winterfell se rebelasse contra sua presença e anunciasse que não o queria ali. O pátio principal da construção estava caótico. Homens de ferro saqueavam o lugar e juntavam suas novas conquistas ali, o que incluía jovens mulheres e garotas. Todo som invadia os ouvidos de Theon, e ele podia decifrá-los. Distinguia o barulho da lâmina atravessando a carne de um homem das roupas das mulheres sendo rasgadas e do choro das crianças. O mar revoltoso havia alcançado o gelo e agora lutavam entre si. Mas, ao longe, como num ponto mudo e contrastante, parado em meio a toda aquela agitação, estava ele, e nada parecia afetá-lo ou atingi-lo de qualquer modo que fosse. Mas seus olhos, Theon via bem, estavam tristes. Não traziam a leveza que sempre estava lá em seus verdes anos, tampouco demonstravam a força do guerreiro que viera a se tornar. Aqueles olhos, azuis da cor do céu noturno, da cor da compreensão, do companheirismo, da paixão — azuis da cor do amor —, eram apenas mágoa agora. Tão logo Theon apercebeu-se disso, viu também o jovem se virando, deixando o lugar com a mesma calma triste e diferente daquele meio. O príncipe de ferro seguiu-o, deixou-se levar por seus instintos, pois sabia que o guiariam até ele. Fora sua razão que um dia o traíra, não seu coração,

Acompanhou-o afastado por corredores de pedra dos quais não se recordava, mas o destino final, aquele era um velho conhecido. Um pequeno quarto de pedra, quente pelas águas que corriam por suas paredes e pelas memórias que guardava. Theon ficou contente que ao menos aquele lugar se conservasse tal como o era em sua mente, pois todo o resto era diferente. Em outras épocas, ele já o teria tomado num beijo, sussurrado palavras em seu ouvido, mas não hoje. Agora ele estava distante, de costas para Theon, evitando olhá-lo nos olhos. Talvez seja melhor assim, pensou o jovem. Talvez eu me perdesse de novo no azul. Theon começou a se sentir fraco, como sempre se sentia perto dele. A presença do jovem ficou por demais opressora e o garoto de ferro desejou fugir, sabia ser incapaz de encará-lo. Deu um passo para trás, e ele ainda estava parado de costas. Mas, no último instante, ouviu.

— Theon. — Ele o chamou e o som de sua voz tirou todo e qualquer ímpeto do traidor de sair do lugar. — Theon.

Ele se virou, e seus olhos se encontraram com os do jovem de ferro.

— Por que me traiu? — De modo simples ele perguntou a Theon algo que o próprio jovem já havia se questionado inúmeras vezes, e a resposta parecia a cada tentativa mais difícil de encontrar. O garoto não soube o que responder, enquanto outro parecia saber tudo o que o faria sucumbir diante dele. Cada movimento, gesto e olhar pareciam planejados para levar o filho da lula de volta às suas lembranças. Ou talvez fosse apenas um desejo de se deixar levar até o passado. A boca que tantas vezes encontrou sua pele, as mãos que correram pelos fios de seu cabelo negro, o corpo magro, fortalecido pela guerra. Tudo e qualquer coisa o lembrava de um passado distante e querido. Menos os olhos. Esses o lembravam do maior erro de sua vida e julgavam-no um covarde.

— Por que me traiu? — O questionamento foi mais forte dessa vez.

— Queria me provar a meu pai, mostrar que sou um verdadeiro homem de ferro. — Theon buscava as palavras, mas assim que as proferia, via a incerteza nelas.

— Você nunca foi um homem de ferro. Era antes de tudo meu irmão, meu amigo, e meu companheiro. Alguém que eu julgava poder confiar, e foi isso o que fiz, e para quê? Apenas para que matasse meus irmãos, destruísse minha casa, meu passado, minha vida!

— Apenas para isso? Eu errei, fui um tolo, mas, por favor, não diga que tudo pelo que passamos foi apenas isso.

— Por quê? Foi assim que você olhou para o seu passado quando me traiu. Eu fui apenas o falso Rei do Norte. Apenas o rebelde estúpido que deixou o lar e os irmãos para trás. Apenas o homem que confiou em você.

Theon sentia-se suprimido pela verdade contida e exposta nas palavras, e não sabia o que dizer, apenas olhava para o ruivo com dor, emoção e arrependimento.

— Eu... Bran e Rickon estão...

— Não amaldiçoe os nomes de minha família! Você não tem qualquer direito de dizê-los! Não passou por um momento em sua mente que éramos nós a sua família? Que era por nós que deveria lutar? Mesmo que nada sentisse por Bran ou Rickon, duas crianças, como pôde fazer isso comigo Theon? — a voz do lobo fraquejou com o questionamento. — Diga-me como conseguiu apagar de suas memórias o nosso passado, porque eu preciso, eu quero fazer o mesmo.

— Eu não o esqueci. — O traidor sussurrou.

As palavras insistentes e ferozes do Jovem Lobo traziam à tona as fraquezas de Theon, e o príncipe de Pyke turvou sua visão com as lágrimas que há muito queriam se libertar, mas que estavam presas por seu orgulho, pela negação. Negação da traição que cometera, da realidade que trouxera, do passado desconstruiu, do futuro que perdeu. Quando ergueu novamente a cabeça, o outro havia recuperado sua calma e seus olhos eram pura dor.

— Por que chora Theon? Fui eu quem perdeu tudo.

As palavras do Norte, que deviam tê-lo oprimido ainda mais, fizeram com que ele desse fortes passos na direção do outro. Selou seus lábios com força, como se aquilo pudesse também selar a memória de seus erros. Segurava o rosto do lobo entre suas mãos, e enchia-lhe de seu amor com seus beijos, mas não era correspondido. Intensificou o toque, pedindo que o outro reagisse, e o desprezo e a frieza fizeram com que as lágrimas caíssem com mais força, e os braços do outro não o circundaram, não o apertaram contra seu corpo ou passearam por suas costas, não o apoiaram como tantas vezes fizeram num passado cada vez mais distante e intocável. Ali ele não foi o jovem que Theon conhecera, e o filho da lula sabia que não havia ninguém a culpar senão a si mesmo. Fora ele quem matara aquele Stark.

— Por favor, volte para mim. Seja meu uma última vez. — Theon disse em meio às lágrimas, com a voz sôfrega, segurando fortemente o rosto do ruivo entre suas mãos, mas sentindo-se incapaz de dizer o nome dele, como se fosse um peso demais a se suportar.

— Não tem o direito de pedir que eu volte a você, foi você quem me tirou de mim.

Sob o peso dessas palavras e dos olhos azuis sem luz, Theon sucumbiu. Cedeu sobre os próprios joelhos, apoiando-se no chão, sentindo a dureza da terra gelada sob seus dedos, a única coisa que o impedia de cair, quando em outras épocas ele sabia que seria o próprio jovem a fazer isso.

— Perdoe-me. Por favor. — Theon falou, fraco, sentindo-se impotente mas se agarrando à esperança de que o perdão do outro o libertaria de sua consciência.

Os olhos azuis do jovem cintilaram em sua direção, tornaram-se uma vez mais e muito rapidamente os olhos do filho do lobo, do rapaz de Winterfell, não do Rei do Norte.. Deu um passo em direção a Theon, e a visão deste ficou turva. Mais um passo e o traidor sentiu-se puxado para longe do outro. Acordou.

Encarou o teto e as amarras que o prendiam, voltando à sua realidade. Fechou os olhos e disse, pela primeira vez na noite, o nome dele,

Robb.


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Notas finais do capítulo

Reviews e mps, todos muito bem-vindos!