Avião/20h40min

O vento que soprava batia violentamente no rosto de Skye e agitava suas lágrimas, fazendo-a provar o gosto salgado. Não conseguia gritar, o único som audível era de seus soluços. Abraçou a si mesma na esperança de pensar melhor e controlar os nervos, mas tal ato só aumentou seu desespero.

Lutou contra a pressão do ar, e de seus sentimentos, que empurrava contra a parede. Andou até a porta aberta do avião, sentiu as pernas fraquejarem, não, por ali, naquele ponto, a pressão mudar, cuspindo-a para fora. Mas sim por constatar que ele não estava ali. Não estava em lugar nenhum lugar. Ward havia caído.

– WARD! – Gritou de forma afobada.

Gritou em vão. Ele não havia escutado, ele nunca escutaria.

Decidiu parar de lutar para se manter parada. Deixou-se levar por aquele misto de emoções e forças que agiam sobre si. Ward estava caindo, estava morrendo, tudo por sua culpa. O mínimo que poderia fazer era deixar-se cair também. Fechou os olhos e sentiu-se pronta. Pronta para dar um mergulho sem volta. Mas não chegou a completar seu ato. Sentiu algo a puxando para trás, e depois a envolvendo em um forte abraço. Um abraço estranha e reconfortantemente familiar. A última coisa que fez, foi retribuir o abraço com igual intensidade. Mais lágrimas, mais soluços, depois mais nada.

– Skye – A voz doce soou em meio a confusão que estava dentro da sua cabeça – Skye, por favor, abra os olhos.

Brigou contra as pálpebras que teimava em permanecerem fechadas. Dando de cara com o rosto aflito de Jemma. Que envolvia o seu rosto com ambas as mãos. A loira deu um sorriso caloroso, que foi retribuído igualmente. Mas seu sorriso murchou, ao se dar conta de que ainda não sabia de Ward.

– Onde ele está Jemma? – Sentou-se de supetão, e sentiu a cabeça girar – Onde está o Ward? – A resposta não veio de imediato. E Skye sentiu seu coração apertar cada vez mais. Ele tinha morrido mesmo? - Onde ele eu estou? – Indagou olhando pela primeira vez ao redor. Tudo o que se lembrava de era de ter sido envolvida em um abraço aconchegante de Fitz, e de escutar a voz de Simmons tentando acalma-la. E, talvez, tenha desmaiado. E então, fora levada para aquele lugar.

Estava numa saleta, com paredes brancas, uma maca, na qual estava deitada, com lençóis mais brancos ainda. Uma poltrona azul ao lado dela. E, para terminar a incrível mobília sem graça daquele lugar, um armário branco. Tudo ali cheirava a algo excessivamente limpo.

– Essa é a sala de enfermagem, Skye- Respondeu. – Você fraturou duas costelas e bateu a cabeça com força, sem falar dos outros hematomas! – Abanou o ar com as mãos – E também entrou em uma espécie de trauma, sabe, você sofreu um grande estresse e é comum nesses casos que...

– O Ward está bem? Quer dizer, ele não caiu do avião nem nada. Eu bati a cabeça com força e imaginei tudo, não é? – Tinha um pingo de esperanças de que toda aquela cena vivida por ela, não passasse de ilusão. Entretanto, a resposta que se seguiu acabou com qualquer chama que havia dentro de si.

– Você não imaginou nada disso, Skye. Ele caiu de verdade. – Estava prestes a recomeçar a chorar de novo, quando Jemma continuou – Mas a May o salvou. Ela pulou do avião e salvou o Ward.

– A Xing-ling? – Não conseguiu esconder a surpresa – Mas ela não é só a piloto ou coisa assim? Como ela...

– A May é a Cavalaria, Skye. – Simmons parecia fascinada. – Ela acabou com 200 homens, sozinha. Com as próprias mãos! – Bateu palminhas de excitação. – Dá pra acreditar? Nós trabalhamos com a Cavalaria em pessoa!

– Onde ele está? – Tentou voltar ao seu assunto original. Ward.

– No quarto dele, mas acho melhor você não...

Nem escutou o que ela tinha a dizer. Ignorando todos os protestos de Simmons, e dores que sentia, levantou-se da maca e foi conferir como estava o Sr. Robô, tinha de vê-lo com os próprios olhos.

~*~

Avião/12h15min

Ward estava de repouso há um dia. Mas, mesmo que aquele tempo parecesse pouco, era enlouquecedor não poder fazer nada além de nada. Nada além de reviver os últimos acontecimentos, e os acontecimentos de muitos anos antes.

Olhou para sua perna esquerda. Lembrava bem de como conseguira aquela fratura. Após empurrar Mike para fora do avião, sentiu algo o puxando para baixo. Um peso incontrolável sobre os seus pés o levava para um mergulho sem volta. Olhou para Skye, ela sorria aliviada, e ele pode deixar de sorrir de volta. Seria a última vez que veria o sorriso daquela garota petulante. E então, escorregou para fora do avião.

Mike o segurava pelo pescoço, urrando como um animal, cada nova vez, pior que a anterior. Ele iria explodir a qualquer momento, depois, ou até mesmo, antes que caíssem no chão duro. Soltou-se do aperto de Mike, e girou no ar, mergulhando de cabeça e acelerando a queda de ambos. Socou o homem, quase animal, com a mão esquerda, e com a direita apertou seu pescoço. Girou a perna e acertou um chute no estomago Mike, que uivou de dor. Socou mais uma vez, depois outra, e outra. Estavam um pouco mais próximos do chão e caindo com uma velocidade cada vez maior. Girou o pulso para socar o outro mais uma vez, porém foi agarrado por braços firmes que atenuaram a velocidade de sua queda.

Ela puxou a corda do paraquedas, e ambos desceram suavemente até o chão. Sem falar nada, soltou-se dela e correu até Mike, que provavelmente estava morto. Chegou perto do homem caído, e abaixou-se para ouvir a sua respiração, ou a falta dela. Virou-se para a agente que o salvara com um sorriso no rosto, ela o encarou com uma expressão vitoriosa, expressão que ele nunca havia visto naquela mulher.

Então seu ar faltou-se nos pulmões. E ele sentiu-se flutuar. Estava sendo levantado pelo pescoço. Mike o levantava pelo pescoço, de algum modo, havia sobrevivido à queda. Maldito. Ele virou Ward até ficar de cara com ele, e, após um urro animal, lançou-o para longe. E assim, ele quebrou a perna.

May correu até Mike e golpeou-o sem grande sucesso. Ele estava mais louco que nunca. Largou seu braço direito sobre May, que parou perto de Ward e começou a girar como louco. Com as mãos na cabeça, uivando, urrando, gemendo... Ele ia explodir a qualquer momento. Ward levantou ignorando a perna quebrada, e puxou May para longe dali. Afastaram-se a tempo de ouvir o último urro de Mike. Último urro antes dele explodir como fogos de artifício.

– Agente Ward? – Uma voz lhe chamou abrindo a porta.

– Sente-se – Gesticulou para o espaço ao seu lado. Ela, aparentemente, não tinha nenhuma fratura.

– Vejo que está bem. – Ela falou de forma robótica.

– Posso dizer o mesmo – Respondeu no mesmo tom – Mas – Acrescentou – Confesso que está bem melhor que eu.

– É, estou sim – Tocou em sua perna, fazendo-o estremecer.

A porta abriu-se novamente.

– Hey, Sr. Robô, vejo que você não é do tipo que m... – A expressão alegre da morena se desfez em um careta. – Oh! Acho que estou atrapalhando. Boa noite agente Melinda, boa noite agente Grant Ward. – Cumprimentou com a cabeça – Bem, desculpem-me, não queria atrapalhar. Não mesmo – Dizendo isso, Skye fechou a porta. Sem da-lo nenhuma chance de abrir a boca.