Love is Redemption escrita por fairylady N


Capítulo 7
Give Me Hope In The Darkness


Notas iniciais do capítulo

Eu voltei, como eu disse que faria. Espero que gostem desse capítulo, nos vemos lá embaixo :))



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O apartamento de Emma nunca estivera tão cheio como naquela noite. Hook sentava-se no sofá à sua frente com uma pedra negra pendurada em um cordão de prata, balançando suavemente sobre um mapa da cidade. Quando este percebeu seu olhar sobre si, lançou um sorriso torto, com uma mistura de confiança e charme que poderia ser facilmente confundida com arrogância. Emma esfregou o rosto nas mãos, os cotovelos se apoiavam em seus joelhos, e ela se sentia exausta. Não havia chorado; não que não tivesse vontade, mas se viu incapaz de demonstrar tanta fraqueza na frente daqueles estranhos que invadiram sua vida e sua casa, e sem muitas explicações estavam ao seu lado, no olho do furacão do problema.

Regina andava em círculos impaciente, como uma fera enjaulada em seu hall de entrada, às vezes olhava pela janela, abraçada à si mesma como se seus braços fossem um escudo, mas seus olhos eram como lâminas afiadas e frias, uma fúria cega. Depois de ver a mochila de Henry na escola, ela pouco falara. Terminou de fazer uma revista pela escola e o fracasso em encontrar pistas azedou ainda mais seu humor. Emma estivera tão perdida, se sentindo tão sem rumo que não pusera mais nenhuma objeção, concordou com tudo, até quando Regina ordenou – no sentido real da palavra, fazendo soar como uma rainha de verdade – que voltassem para seu apartamento e aguardassem.

– Se telefonaram para você não é ele que ela quer. Henry é uma isca, é você quem ela quer Ms. Swan. Vamos esperar que venham até você novamente. – Emma não retrucou, entrou no carro e dirigiu até seu apartamento sem nenhuma palavra, forçando-se a não pensar no que poderiam querer com ela afinal, ou o que poderiam estar fazendo com o seu filho. A sensação de fracasso e impotência lhe corroendo, e despedaçando por dentro. Anos de detetive, não pareciam lhe servir para nada: Não sabia por onde começar, onde procurar, não parecia existir pistas nem evidências além das palavras convictas daquela estranha.

A garota loira, que Emma havia visto Regina nomear de Tinkerbell quando a repreendeu e mandou que ficasse longe de sua cafeteira, sentava-se sobre o balcão da cozinha, balançando as pernas com o olhar distante, se assemelhando muito com uma criança entediada. Uma áurea de expectativa e tensão envolvia todos como linhas invisíveis que pareciam até mesmo limitar suas respirações; Não sabiam o que fazer, nem quanto deveriam esperar até mais notícias, tudo o que faziam era baseado em especulações o que começava a tirar Emma do sério. Sentia-se impotente ali parada, deveria estar revirando cada pedaço da cidade atrás de seu filho, deveria estar interrogando cada pessoa que cruzasse seu caminho, batendo em cada porta de cada casa da cidade de NY, mas a única coisa que tinha que fazer era esperar.

Regina repetiu seu movimento de pêndulo mais algumas vezes antes de se sentar na outra extremidade do sofá onde Emma sentava. Com sua postura de rainha ela sentou-se ereta, apertando as mãos nervosamente sobre o colo. Emma olhou-a de soslaio, que não passou despercebido pela morena; por um momento as duas trocaram um olhar, e neste momento Emma poderia jurar que viu toda angustia que sentia refletida nos olhos castanhos da morena. Por um momento, que poderia ter durado um segundo ou muito mais tempo, Emma sentiu que alguém no mundo compreendia tudo o que estava sentindo, por um momento ela não se sentiu só... até que o momento se foi, como se levado pelo vento. Regina piscou algumas vezes e voltou o olhar para Hook, e a própria Emma imitou seus movimentos.

Hook soltou um suspiro de insatisfação, alisando a barba com o indicador e o polegar direito. Emma não precisou que ele soltasse uma palavra para entender que não tinha conseguido nada com aquilo. Não que ela esperasse que uma pedra e um mapa fosse lhe mostrar a localização de seu filho... Na verdade ela não sabia mais o que esperar, tudo em sua vida parecia sem sentido e caótico, sua própria sala estava teoricamente, de acordo com a história de Regina, contando com a ilustre presença de um pirata maneta, uma rainha má vaidosa e vingativa, e uma fada.

– Então sua pedrinha não funcionou. – A loira se levantou cruzando os braços em volta do próprio corpo, impaciente. – Acho que já está na hora de parar de brincar e avisar a polícia.

– Já falamos sobre isso: Não vai adiantar. Elphaba está muito acima de qualquer instituição mortal. Ela é muito poderosa. – Regina falou vagarosamente, como se falasse como uma criança.

– Sim, você já falou isso! – Soltou rispidamente - E até agora eu fiz tudo o que você falou, e até agora não saímos do ponto de partida! Não temos a localização dessa mulher, ou o que infernos ela quer com o meu filho!

– Será que você não consegue ver que não é Henry que ela quer...

– ENTÃO O QUE DIABOS ELA QUER COMIGO???!!! O que vocês todos querem, além de me enlouquecer com seus contos de fadas e teorias de bruxas más e Branca de Neve... Você nem sabe, exatamente o que ela quer! Enquanto eu deveria estar revirando a cidade em busca de pistas, estou nessa sala vendo seu amiguinho jogar joguinho de tabuleiro, botando a segurança do meu filho nessa merda de pedra!

– Bom, enfim concordamos com alguma coisa... – Disse o pirata com um sorriso cínico.

– Alguma ideia melhor, pirata? – Retrucou Regina, ignorando a explosão de Emma. – Se acha que tentar dar mais uns amassos nela vai adiantar, então vão em frente.

– Eu concordo com ela. – Disse apontando o gancho em sua direção, seu apoio fazendo Emma inflar ainda mais o peito convencida de sua razão. – Deveríamos estar procurando o garoto, revistando a cidade...

– Você só está apoiando-a porque que sua revista inclui outras coisas, que eu tenho certeza absoluta que está além da cidade, seu pirata asqueroso! – Disse Regina se levantando, assim como seu tom de voz.

– Melhor do que ficar aqui, sem nada nas mãos, a deriva da sorte e das suas suposições...

– Você mesmo disse com seus papos de caça disse que tínhamos que esperar, e que eu deveria ter mais paciência!!! – Retrucou Regina indignada, e pelo seu tom Emma percebeu que não era a primeira vez que os dois tinham esta discussão; na verdade era difícil de acreditar que eram aliados, tamanha a tensão que parecia emanar deles a todo o momento.

– Bom, isso foi antes. – O pirata se levantou também, formando os três uma espécie de triângulo da discórdia, frustração e acusações. – Agora acho que devemos tentar um contra ataque...

– Isto é ridículo, vocês não podem sair por ai vasculhando essa cidade! Não estamos em Storybrook, não podem sair batendo de porta em porta... Temos que ficar juntos, temos que proteger a Salvadora. – Falou o título com certo deboche, encarando Emma que a desafiava com o olhar. – Não pense que está sendo fácil para mim sentar nesta sala enquanto meu filho está por ai, sabe lá deus onde com uma bruxa psicopata, mas se é ela que Elphaba quer, temos que tomar cuidado!

– Eu não me importo com o que acontecer comigo... – Começou Emma, mas logo foi cortada por uma risada irônica e ria da morena.

– Eu gostaria de dizer o mesmo, Ms. Swan. Saiba que por mim entregaria sua cabeça de bom grado numa bandeja de prata para a bruxa se isso garantisse a segurança do Henry, mas isto está muito acima da minha ou das suas prioridades. Isto se trata sobre um reino inteiro...

– Desde quando você se tornou tão altruísta, hein Regina? – Foi a vez do homem presente falar, e Regina como uma fera atraída por uma presa olhou em sua direção e se aproximou até estarem separados por poucos centímetros. Emma suspeitou que não faltava muito para que partissem para agressão física.

– Desde quando você se tornou tão babaca, hein pirata?

– Por favor, parem de brigar... – O apelo veio de Tinkerbell que se levantou e se aproximou com passos lentos e mãos erguidas tentando apaziguar os ânimos dos três.

– Acho que é um traço pessoal meu, uma espécie de charme...

– Você está achando que isto é uma brincadeira?! Eu não vim aqui para ser plateia de suas gracinhas e tentativas de cortejo!!! Eu vim aqui para protege-los, os dois...

– Bom você não foi muito eficiente até agora, não é?! – Soltou Emma perversamente, fazendo com que Regina ficasse muda. No primeiro momento Emma se sentiu vitoriosa, sua frustração aliviada, o veneno de toda a angústia expelido e direcionado, mas quando Regina virou o rosto em sua direção, Emma se arrependeu das palavras que proferira.

Era quase como se a morena tivesse levado um tapa na cara. Seus olhos mostravam-se abalados pelas palavras lançadas, Emma poderia arriscar que talvez ligeiramente magoados. No mesmo momento toda a raiva da mulher que Emma sentia passou, dando lugar ao arrependimento. Emma provavelmente teria se desculpado, mas palavras de perdão nunca foram sua especialidade, abriu ligeiramente a boca tentando soltar algo, mas o contato visual e a culpa pareceram comprimir sua traqueia.

– Parem de brigar! – Tinkerbell exclamou em uma tentativa de fazer soar altiva sua voz juvenil. – Será que não veem?! Temos que nos unir, trabalhar juntos... Brigar não vai ajudar em nada!

Nenhum deles disse uma palavra; Hook se soltou com um suspiro sobre o sofá, Regina voltou para a janela sem soltar uma palavra, mas seus olhos ainda tinham aquela mesma expressão de dor que Emma não conseguia encarar por muito tempo sem sentir suas estranhas se contorcer de angústia. Emma se manteve o mais longe possível da mulher querendo fugir do sentimento.

Acalmada sua frustração, Emma respirou fundo, e continuou respirando. Porque era a única coisa que se sentia capaz de fazer por enquanto.

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– Isto está me machucando. – Ele disse, fazendo a figura alta voltar seus olhos em sua direção. Mais uma vez ele prendeu a respiração, apesar de já estar em sua presença por um tempo, seus olhos frios ainda o impressionavam.

– Eu não me importo, menino.

– Porque você está fazendo isso? – Perguntou Henry tentando escorregar as mãos pelas amarras, mas isso só fazia seus pulsos ainda mais machucados com o aperto das cordas. – O que eu fiz para você? Oque você pretende fazer comigo?

– Você? – Disse com um riso debochado, uma das mãos apoiada na cintura. – Você é tão útil quanto um pedaço de carne para atrair uma caça, garoto...

O barulho de madeira esmurrada abafou as próximas palavras da criatura. Não era a primeira vez que isso acontecia nas horas que Henry se encontrava posto sentado no sofá com pés e mãos amarrados. Seus olhos verdes encararam, arregalados, a porta de onde vinha o barulho assustado com os urros abafados que vinham dali.

– FIQUE QUIETA! – Urrou o que um dia fora sua professora substituta, fazendo-o sobressair-se. – Ou eu mesma vou aí fazê-la ficar...

– Nessarosse. – A voz foi como um sussurro. Parecia sair das paredes, do teto, como se o próprio vento estivesse sussurrando. Henry procurou em volta a dona dela, mas continuavam a ser somente ele e a criatura na sala, um arrepio atravessou-lhe a espinha.

A criatura deu um sorriso fino, seus lábios comprimidos eram apenas uma fina linha, quando esta se virou para a mesa, descobrindo o tecido que cobria algo que fazia antes volume. Henry viu o objeto vítreo e esférico; uma densa camada viscosa e esbranquiçada parecia se movimentar no interior deste. As mãos com garras com mais de cinco centímetros de comprimento pairaram sobre o objeto por alguns segundos, antes de lá surgir olhos claros e doentios muito parecidos com os da própria coisa que dividia a sala com ele.

– Irmã, eu consegui. Eu consegui! Peguei o menino. – Sua voz era suave, uma entonação que Henry não conhecia até agora, se assemelhando muito com um cão, ansioso para agradar seu dono.

– Não, ainda não. Não é o menino que precisamos para o que planejamos. Só ela pode fazer dar certo.

– Mas ela virá! – Afirmou com convicção. - Virá correndo assim que mandar...

– Ela não estará sozinha, a rainha também quer o menino.

– Eu destruirei a rainha e qualquer um que ousar atrapalhar seus planos, querida irmã! – Guinchou Nessarosse, levando as mãos até a cabeça exasperada.

Um silêncio incômodo se instalou no ambiente após a declaração calorosa de Nessarosse. Henry escutava à tudo incapaz de acreditar no que ouvia: O que eram aquelas coisas? Do que estavam falando? Aquele nome era estranhamente familiar, apesar de pouco comum. De quem eram os olhos dentro da bola de cristal? Henry questionava tudo o que sempre acreditou; magia, bruxas, tudo não devia passar de história, no entanto era difícil de engar o que se desenrolava diante de seus olhos.

– Atraia a Salvadora. Estou à caminho.

– Elphaba, eu consigo... – Continuou com a voz chorosa, mas a irmã a cortou com um tom que não admitia discussões.

– Não tenho tempo a perder, nem posso arriscar tanto. Você já foi muito útil, irmã. Marque o meu encontro com a Salvadora, em breve estarei ai com você.

E assim como surgiram os olhos desapareceram, a névoa dentro do objeto pareceu se suavizar, até o próprio ar pareceu mais leve. Henry respirou fundo, desfrutando da nova atmosfera que se se instalara até que o estrondo da bola de vidro sendo tacada no chão pela criatura o fez sobressair-se. A criatura percebeu sua surpresa e o encarou com desprezo, apesar de seus olhos estarem úmidos aparentando ainda mais doentios do que o normal.

– Você tem medo? – Disse caminhando em sua direção, Henry se encolheu ligeiramente, mas isso só a fez se aproximar mais, se inclinar sobre ele e segurar seu rosto entre o indicador e o polegar - Tem medo de mim?

– Não. – Henry conseguiu manter a voz, conseguindo camuflar todo o espanto que sentia.

A mulher riu. O hálito fétido irritando suas narinas, antes dela se erguer com as sobrancelhas erguidas e andar em direção à porta de entrada.

– Minha mãe vai me encontrar. Ela deve estar me procurando já, e ela vai me achar. Ela é boa em achar as pessoas, e ela vai achar você e vai acabar com você se alguma coisa acontecer comigo. – Henry não soube de onde surgira essa coragem e ousadia. As palavras jorraram de sua boca, atraindo a atenção da criatura que voltou até o sofá onde estava amarrado e lhe plantou um tapa estalado na face que o surpreendeu. Estranhamente ao invés de se sentir coagido, a chama de coragem pareceu ainda mais inflamada dentro do garoto.

Henry após se recuperar do choque, olhou desafiador para a mulher acima de si.

– Pois que ela venha, garoto. Mal posso esperar para ser encontrada por ela. Pelas duas, na verdade.

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Não havia muitas mudanças na casa de Emma nas ultimas horas. O tempo ia passando e cada hora que era deixada para trás que ela continuava sem seus filho nos braços era como se seu coração ficasse ainda mais apertado.

Regina mal soltara uma palavra desde a discussão coletiva; ficou a maior parte do tempo isolada em um canto aflita, perdida demais em seus pensamentos para trocar olhares com qualquer outro da casa, a não ser quando Tinkerbell lhe levou um copo de café que Emma havia feito para que passassem a noite. Paradoxalmente, Hook pareceu mais confiante para tentar uma aproximação desde que pareceram se apoiar na discussão; estava sempre orbitando em volta dela como um satélite, lhe lançando sorrisos e olhares insistentemente que Emma preferia ignorar.

Naquele momento Emma se apoiava no balcão da cozinha segurando sua própria caneca de café entre as mãos, quando sentiu o braço de Hook roçar o seu quando ele se esgueirou até seu lado segurando o próprio cantil que levava consigo, cheirava levemente a álcool, atraindo sua atenção.

Assim que percebeu seu olhar ele lhe estendeu o recipiente, com um sorriso torto. Emma não era muito adepta à destilados, mas a ideia de ingerir uma dose de álcool não parecia ruim, algo que acalmasse parte dos pensamentos que pareciam passar tão rapidamente por sua cabeça que ela quase podia senti-los batendo nas paredes de sua caixa craniana.

– Obrigada. – Agradeceu retribuindo seu sorriso cínico, e entornando um generoso gole garganta a baixo. O líquido desceu queimando, o calor espalhando-se por seu corpo imediatamente, o gosto amargo ainda fez com que seu rosto se contorcesse em uma careta, fazendo um riso fungado escapar do pirata enquanto recuperava sua bebida.

– Essa cena é como um deja-vu. Só que da outra vez, pelo que eu me lembro, você parecia muito mais forte. – Disse lhe apontando o gancho, antes de entornar a bebida.

– Ah, é? – Fez pouco caso de suas palavras, erguendo o queixo para se dirigir à ele – E o que mais você se lembra de ter acontecido?

– Lembro que logo depois você se aproximou de mim e me deu uma recompensa bem satisfatória. – Hook se posicionou em sua frente, dando passos vagarosamente em sua direção, encurralando-a contra o balcão.

– Pelo rum?

– Não. – Disse rindo de sua pergunta cínica. Emma não sabia por que ainda estava jogando aquele jogo com Hook. Não se sentia atraída por ele, não sentia nenhuma conexão como acontecera com... Era mais algo como dar linha até ver em que ponto chegariam, aonde chegariam, mesmo que ela tivesse certeza de onde queria que não chegasse. Era sobre se sentir poderosa; pelo menos com o controle de alguma situação, sobre alguém.

– Foi por ter salvo seu pai da morte certa. – Disse se aproximando ainda mais, até estar separado por centímetros de si.

– E qual foi essa recompensa, hã?

– Bom... – Hook investiu em sua direção lentamente, como uma serpente, alguém que tinha experiência em conquista. Emma já estava pronta para virar o rosto e esquivar-se do contato, quando sentiu o polegar de Hook roçar em sua nuca, mas não foi necessário: um barulho de algo se espatifando atraiu a atenção dos dois para a entrada da cozinha, onde encontrou Regina encarando-os impassíveis e da caneca que fora sua restavam apenas cacos no chão.

O jogo tinha acabado. Ao encontrar os olhos castanhos de Regina, era como se um grande balde de água frio fosse jogado em sua cabeça, e por mais que a expressão de Regina mostrasse indiferença, Emma podia jurar que tinha algo mais bem no fundo de seus olhos, que por mais que ela não pudesse afirmar o que fosse, lhe faziam se sentir culpada e envergonhada do que estava fazendo naquela cozinha.

– Eu... Não... Isto não é nada do que você está imaginando, Regina. – Disse se afastando de Hook andando na direção da morena, enquanto esta se agachava recolhendo os cacos do chão.

– Eu não estou pensando nada, Ms. Swan... Não tenho nada o que pensar sobre isso. – Disse sem olhá-la, os dedos nervosamente catando os restos da caneca. – Sinto muito pela caneca, eu... Eu...

– Deixa eu te ajudar... – Disse Emma se ajoelhando ao seu lado, recolhendo também alguns cacos ao seu alcance, SEUS dedos acidentalmente roçaram nos dedos de Regina fazendo a morena se sobressair neste momento e soltar com a voz alterada:

– Eu não preciso de ajuda! Eu cons- Ai, DROGA! – Disse largando tudo o que tinha nas mãos e balançando a mão esquerda no ar, a própria Emma largou os pedaços que conseguira pegar até ali, para ajudar Regina, mas a mulher resistiu à seu toque quase como se sua mão fosse ferro em brasa.

– Regina o que aconteceu? – Disse a fada que se encontrava na sala até então e viera atraída pelo barulho. – Você se cortou? Está bem?

– Me poupe de sua preocupação, fada. – Cuspiu rispidamente, indo em direção à pia e colocando a palma da mão com o corte que sangrava embaixo da água corrente. - Eu sou Regina Mills, já sobrevivi a maldições, à encantamentos... Não é uma caneca barata que vai me afetar.

– Regina, me deixa ajudar você... – Emma tentou mais uma vez, mesmo com a rejeição anterior da morena. Foi até uma das gavetas, de onde tirou um pano limpo e aguardou ao lado da pia a morena, que parecia tentar ignorar sua presença.

No momento que Regina desligou a torneira, Emma não lhe deu tempo de escapar: Sem qualquer aviso, Emma segurou sua mão ferida, envolvendo-a com o pano, estancando o filete de sangue que ainda saía de sua carne cortada, e foi então que seus olhos se encontraram sem nenhuma das duas fugirem pela primeira vez desde que haviam discutido.

A expressão de Regina poderia dizer muito ou nada ao mesmo tempo. Emma retirava a impressão anterior que tivera sobre a indiferença de Regina, pelo contrário, ao olhar atentamente agora ela via o quanto a morena parecia perturbada. Era quase como uma mistura de sentimentos paradoxos, unindo-se e travando uma guerra ao mesmo tempo no fundo dos olhos cor de terra da morena. Emma também viu sua própria confusão refletida nos olhos da outra mulher, quase como um espelho de suas próprias emoções; seus medos, dúvidas e insegurança naquele momento, todos tão vivos e gritantes naquela mulher quanto nela própria, e mais uma vez Regina inevitavelmente fez com que Emma se sentisse menos só.

A mulher que ela conhecera cerca de três dias atrás conseguia fazê-la se sentir compreendida, como nunca além de Henry havia feito, só com seu olhar. Olhar aquele que Emma tinha a impressão de se enterrar cada vez que se demorava muito neles. A conexão tão pungente que poderia ter sido por segundos ou horas aquele contato visual, até Regina arrancar a mão das suas, e irromper pela sala, deixando a batida de porta ser o único aviso de que deixara a casa.

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O vento frio pareceu cortar sua face no primeiro passo que deu em direção à rua. Regina colocou o casaco apressadamente, e abraçou-se tentando manter o máximo calor que conseguia. Queria sair dali, queria correr o mais rápido que conseguisse para o mais longe possível. Queria cessar a dor que parecia fazer seu coração pesar em seu peito, abafar o desejo de torturar o pirata até que ele estivesse tão ferido quanto ela mesma se sentia.

Riu com amargura ao se lembrar de que um dia procurara Archie por não ser capaz de sentir nada, e agora parecia estar enlouquecendo por conseguir sentir tudo ao mesmo tempo. O medo de perder Henry, a preocupação e responsabilidade de ter a esperança de todo um reino em suas mãos, e o mais confuso de tudo: Emma Swan.

Levou as mãos até o rosto, massageando as têmporas ao mesmo tempo em que fazia o máximo de esforço para impedir que seus olhos se enchessem de lágrimas. Regina ponderou estar ficando louca, não tinha outra explicação; era toda a tensão, toda preocupação e medo, era aquela mulher teimosa e seus olhares penetrantes que pareciam capazes de atravessar sua alma; ela só precisava de distância, se excluir de tudo e todos, para que sua cabeça voltasse ao normal. Regina nunca foi boa com as pessoas, nem com os sentimentos que estas poderiam ser capazes de despertar em si. Por isso sempre mantivera sua guarda, e nunca deu espaço para que se aproximassem o suficiente e para que a magoassem quando se afastassem. Porque tudo o que ela sempre amou, sempre foi destruído, ou a destruiu.

Mas Emma Swan era diferente. Emma Swan não precisava que ela abaixasse a guarda para atravessar os muros de indiferença que Regina fazia questão de por entre ela e as outras pessoas. Emma Swan parecia ser capaz de demolir qualquer muralha que ela erguesse e penetrar o mais profundo de sua mente com seus olhos de esmeralda compreensivos e brandos. Emma Swan destruía qualquer controle que Regina tentava estabelecer em sua vida e em sua própria cabeça. Se ela fosse franca, admitiria que sempre foi assim, desde que a mãe biológica de Henry pusera os pés em Storybrooke.

Regina finalmente conseguiu colocar a cabeça no lugar o suficiente para que conseguisse se guiar sem esbarrar nas coisas, e rumou para o outro lado da rua, atravessando a rua movimentada mesmo em um horário tardio como aquele, ela andou com passos apressados, ainda sem destino quando uma voz, não qualquer uma, mas sim um dos principais motivos pela qual sua cabeça estava girando, chamou â certa distância de suas costas. Regina continuou sua caminhada, tentando ignorá-la até que desistisse, mas o chamado se tornou cada vez mais constante e cada vez mais próximo até que a morena desistiu de ignorá-lo, e se virou.

Emma estava cerca de 3 metros de distância com passos tão apressados que lhe dava a impressão que colidiriam quando chegasse perto o suficiente. Regina permaneceu imóvel, ainda abusando de seu autocontrole para se manter controlada, respirou fundo e esperou o que viria a seguir.

– Regina, eu... me... O que você está fazendo aqui fora?

– Eu só resolvi dar uma caminhada. – Regina evitou contato direto com seus olhos, escolhendo encarar seus próprios sapatos. – Por minhas ideias no lugar... Sobre Henry, você sabe, tentar pensar em outras saídas, eu...

– Está frio, não é a melhor hora para andar por aí, está escuro...

– Eu sei me defender sozinha, Ms. Swan.

– Precisamos conversar.

– Ms. Swan – Disse suspirando profundamente. – Porque a senhorita não volta para o seu apartamento e continua fazendo o que estava fazendo? Eu só quero...

– Precisamos conversar. – Disse com as mãos nos bolsos do casaco de lã que vestia, encolhendo-se e balançando-se sobre suas próprias pernas em uma tentativa de se aquecer. – Por favor, se você quer dar uma volta nós podemos ir no meu carro, lá pelo menos está mais quente.

– Ms. Swan... – Regina já estava pronta para recusá-la e esquivar-se de uma situação mais próxima com a loira, o que em seu ver só pioraria as coisas, mas não soube dizer se foram os olhos pidões verdes tão parecidos com os de Henry que sempre foram capazes de derreter seu coração, ou a certeza de que ela iria continuar insistindo até que Regina aceitasse sua condição que a fizeram desistir.

– Tudo bem, então. Vamos para aquela banheira que você chama de carro. – Disse tentando soar maldosa. Emma fez cara de ofendida, mas logo um sorriso sucinto esgueirou-se em seus lábios e a visão fez Regina sorrir também.

A loira dirigiu por um tempo, Regina podia perceber seus olhares pelo canto de seu olho algumas vezes, mas sempre que se via descoberta, Emma voltava os olhos para o trânsito, e apertava ainda mais os dedos em volta do volante. Regina também tentava se ocupar e olhar a rua através da janela fechada do carro. Torcendo para as luzes e as pessoas passando freneticamente lhe fizessem se sentir menos só, que o medo fosse transformado em confiança e que o sentimento despertado por Emma Swan fosse mascarado.

– Me desculpe. – Disse a loira, quando pararam. Estavam muito perto da ponte onde se encontraram no dia de seu reencontro. Emma tinha virado o corpo em sua direção, e quando seus olhos se encontraram, surgiu mais uma vez aquela conexão indescritível.

– Eu não tenho nada a ver com a sua vida Ms. Swan, e quem a senhorita...

– Por hoje mais cedo, sobre o que eu falei. Sobre você nos proteger. – Regina acenou com a cabeça lembrando-se amargamente das palavras da Salvadora; A visão da loira com o pirata a chocara tanto que tinha se esquecido deste incidente. – Eu não quis dizer isso, eu só estou tão nervosa, estou com tanto medo como nunca estive na minha vida...

– Eu sei como você se sente, Ms. Swan. – Regina disse por falar. Já esperava uma resposta negativa de Emma, e a introdução a mais uma discussão maternal sobre Henry, o começo das discordâncias, e o fim de uma conversa pacífica, como sempre acontecia entre elas.

– Eu sei. – Regina se inclinou ligeiramente para a frente com medo de ter entendido erado, enquanto Emma continuava. - Eu não sei como, assim como eu não tenho entendido nada na minha vida nos últimos três dias, mas eu consigo ver nos seus olhos, eu consigo sentir quando fala do meu filho.

– Você ainda não acredita em mim? Não acredita na sua história?

– Tem que ter outra explicação pra isso tudo, eu ainda não pensei em nenhuma, mas tem que ter. Esta história é um absurdo... Você não pode esperar que eu acredite nisso.

– Ms. Swan, eu sei que não é costume as pessoas deste mundo acreditarem em magia, ou que existam outros mundos além deste que elas podem ver, mas olhe a sua volta, olhe atentamente e verá que a magia está em todos os lugares, em todas as pessoas, todas as coisas...

– Regina... – Emma tomou uma golfada de ar, pronta para mais um de seus contra argumentos, mas Regina não lhe deu espaço.

–... Magia corre em suas veias, você é o produto do amor verdadeiro, a magia mais poderosa do universo. Quantas vezes já fez alguma coisa que não conseguia explicar, ou o seu dom de perceber quando estão mentindo para você, o que você acha que é?

– Existem muitas outras pessoas boas nisso, Regina. Isso não é...

– Podem até existir pessoas boas nisso, mas foram treinadas para isso, foi algo que aprenderam, e as vezes elas podem errar. Você já nasceu com isso e você nunca errou, não é mesmo?

– Eu já me enganei.

– Quando?

– Há 3 dias atrás, quando me contou sobre contos de fadas e eu ser a filha da Branca de Neve e do Príncipe Encantado. Com você me contando toda essa história cheia de absurdos e mesmo assim eu não conseguindo ver mentira nos seus olhos.

– Bem, acho que isso seria mais um motivo para você repensar suas crenças, Ms. Swan.

– Eu não me importo. Eu realmente não acredito na sua história, Regina, mas eu acredito em você. Não sei o porquê, mas eu faço. Eu posso ver nos seus olhos quando fala do meu filho, e sei que você vai fazer de tudo para me ajudar a salvá-lo.

– Pode ter certeza que eu irei. – Disse sorrindo ternamente, como sempre fazia quando pensava em seu filho. Swan retribuiu o sorriso, antes de virar o rosto em direção à rua, e piscar várias vezes antes de começar a falar com a voz embargada:

– Sabe, quando ele nasceu eu estava com problemas... Eu estava tão assustada, que eu realmente pensei em... – Dizia pausadamente. Regina percebeu que estas coisas não eram ditas para qualquer um, e o quanto era difícil para Emma relembrar este momento. Mesmo com as novas memórias, aquilo ainda parecia ser uma cicatriz marcante na Salvadora, sua dor quase atingia a própria Regina.

– Mas no momento que eu o segurei nos braços e olhei pra ele eu soube que eu não poderia fazer isso, ele... Ele era um bebê, ele precisava de mim... Mas hoje eu vejo o quanto eu precisava dele também. – As lágrimas escorreram pelas bochechas rosadas de Emma, e ela tentou conter os lábios trêmulos mordendo-os febrilmente.

Regina sentiu os próprios olhos arderem, apertando com força os lábios impedindo que qualquer sinal de choro viesse à tona. Sua mão involuntariamente estendeu-se para segurar na da outra mulher, mas ela tomou ciência do movimento precipitado antes que fizesse e voltou a mão apertada em punho para a lateral do próprio corpo.

– Se alguma coisa acontecer com ele eu não sei o que eu faço, Regina. Eu não posso perder ele, Henry é...

– Tudo. – Completou, fazendo a loira olhá-la com os olhos inchados e vermelhos, as lágrimas pendendo em suas bochechas úmidas. Havia algo agridoce em sua tristeza, algo belo em sua fragilidade, Regina não podia negar. – Henry é tudo, e eu prometo para você Ms. Swan que eu não vou deixar nada acontecer à ele, que se aquela bruxa maldita encostar em um fio de cabelo dele, eu vou fazê-la se arrepender do dia em que nasceu.

Emma esboçou o ensaio de um sorriso e limpou as lágrimas antes de agradecer, e recomeçar a dirigir de volta para casa. O clima entre elas parecia ter se acalmado, chegava a ser quase confortável, quase amigável e certamente muito menos solitário. Subiam a escadaria quando o celular de Swan tocou, fazendo ambas se olharem em estado de alerta. O coração de Regina disparou em seu peito, enquanto acompanhava os movimentos da loira sem se mover no meio da escadaria.

– Alô. – Disse sua voz tremendo, Regina umedeceu os próprios lábios e os apertou ansiosa. Emma apenas ouvia a pessoa do outro lado da linha sem expressão, enquanto Regina esperava agoniada. Os segundos pareciam mais longos do que o normal, Regina estava quase arrancando o telefone de suas mãos quando Emma falou palavras de concordância, e tapou o bocal do telefone móvel com a palma da mão antes de se dirigir à Regina:

– É só um cliente, está pedindo uns arquivos de uma pessoa.

Regina pode ser capaz de respirar novamente, e seguir para o apartamento deixando Emma falando no celular sozinha no meio da escadaria que daria acesso ao andar de seu apartamento. Regina começava a ficar insegura de suas suposições já era de se esperar que tivessem entrado em contato, já era de se esperar que tivessem feito um movimento, e mostrado suas intenções. Quais eram afinal, as intenções de Elphaba?

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Regina só se deu conta de ter dormido no sofá de Emma quando os raios de sol que penetravam a janela da sala da loira a despertaram de sua posição desconfortável no sofá. Devia ter caído de exaustão no meio da noite, sem nenhum sinal ainda de Elphaba, ou de Henry.

Ao olhar para o lado se deparou com Tinkerbell e Hook encostados um no ombro do outro de maneira desajeitada no outro sofá da sala, e nem sinal de Emma Swan. Regina se levantou massageando a parte traseira do pescoço pela noite mal dormida, esticando as pernas que formigavam e indo olhar na cozinha á procura da loira, mas o cômodo também se encontrava vazio.

Demorou alguns segundos para se decidir se exploraria o resto da casa à procura da mulher, ou se esperava Emma aparecer. Talvez a mulher tivesse ido dormir em seu próprio quarto ao ver todos desacordados, Regina estaria invadindo sua privacidade indo até lá? Afinal ainda não tinha passado da sala de estar desde que chegara ali. Sentou-se novamente no sofá, determinada a esperar um pouco antes de ir procura-la, quando um lembrete rabiscado do lado do mapa da cidade que ocupava a mesinha de centro chamou sua atenção. Regina conhecia a caligrafia da loira e reconheceu-a no breve rabisco de “Desculpa” que leu.

Demorou cerca de cinco segundos, para Regina processar o que estava acontecendo: O telefonema do suposto cliente na noite anterior, o comportamento ainda mais inquieto de Emma quando voltara para o apartamento, e agora seu sumiço repentino.

– Emma! – Chamava seu nome alto, enquanto adentrava o resto do apartamento, gritando, uma ponta de esperança ainda gostaria de encontra-la em seu quarto dormindo, mas como suspeitava Emma não estava lá, e em nenhum outro canto do apartamento.

Voltou para a sala, os nervos a flor da pele, neste momento Hook e Tinkerbell já tinham sido despertados por seus gritos, e olhavam em volta sem entender nada. Regina sentia a frustração mesclada com o medo e a raiva se mesclando em si, seus punhos se apertaram e sentiu sue corpo enrijecer quando as palavras saíram fracas entre os dentes.

– Idiota.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Alguém ainda está acompanhando? Estão gostando? Me deixem saber deixando um review, eu adoro saber a opinião de vocês, críticas, opiniões e sugestões, afinal faz um tempinho desde a última vez que postei e escrevi na verdade, né? hehehe Além de incentivar bastante qualquer autor :))

Minha vida foi muito corrida esse semestre, e eu tive que deixar de lado um pouco o meu amado hobby de escrever, mas estou feliz em voltar! Peço mais uma vez desculpas e agradeço à quem não me abandonou e continua por aqui, eu estou com algumas idéias para uma fic SQ AU, mas tenho medo de se começar acabar deixando esa daqui de lado, então vou em segurar um pouco... Ah, sim alguns avisos, antes que eu me esqueça:

— Nesta fanfic a Zelena (ou Elphaba, como eu vou continuar mantendo o nome dela já que já comecei assim) não é irmã da Regina;
— Emma não tem nenhum envolvimento com nenhum macaco voador (Graças a Deus) nem tem a vida feliz e perfeita que fizeram parecer na série (Pra falara a verdade achei bem ridículo eles terem colocado dessa forma, PORRA, ela teve memórias arrancadas, COMO ASSIM NÃO SENTIA NENHUM VAZIO? QUE HISTÓRIA É ESA DE QUERER VOLTAR PARA NY??! Ridículo, tão destruindo a personalidade dos personagens dessa bagaça toda!!!)

Enfim, o título do capítulo é tirado da música "Ghosts That We Knew" do Mumford&Sons, uma das minhas bandas favoritas.

Beijos, até a próxima!