Impulsos escrita por Schmerzen


Capítulo 1
Impulsos


Notas iniciais do capítulo

Outra one que pensei e comecei a escrever há muuuuito tempo. Mas essa ainda estava sem final, felizmente consegui parir um final pra ela ontem. E amei o resultado!



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Sirius estava brincando de fazer levitar alguns objetos do Salão Comunal, enquanto Remus escrevia febrilmente em um pergaminho, aproveitando a inspiração para terminar aquele texto que o professor de História da Magia havia passado e que deveria ser entregue na segunda-feira, dali a dois dias.

James provavelmente já estava dormindo, ele subira há algumas horas para o quarto, acompanhado de Peter. Quando terminou, Lupin olhou em volta, satisfeito consigo mesmo, e se surpreendeu ao ver o lugar completamente vazio. Só ele e Sirius ainda estavam acordados, o que indicava que era realmente muito tarde.

– Que horas são? – perguntou, a voz meio rouca pelo tempo que permaneceu calado.

– Devem ser duas da manhã... Conseguiu terminar?

– Sim, finalmente – ele sorriu aliviado. – Você não vai fazer?

– Eu já terminei o meu texto, Moony – Sirius sorriu presunçoso, fazendo o outro rir. – Ei, vamos roubar algo na cozinha?

– Sirius... – Lupin advertiu, com uma cara entre divertida e preocupada.

– Vamos, por favor? – o outro implorou. – Lembre o que eu te disse semana passada? Seja mais impulsivo!

O castanho rolou os olhos, rindo. Sim, ele simplesmente não conseguia se esquecer do inusitado conselho de Sirius para que fosse mais impulsivo... Além disso, achou uma ótima ideia passar algum tempo sozinho com o garoto, mesmo que fosse quebrando regras às duas da manhã de um sábado.

– Certo, vamos.

– Viu? Não doeu, doeu?

– Não abuse, Padfoot.

Sirius o empurrou, rindo, e então passou o braço pelos ombros dele, como sempre fazia. Ele se concentrou na pele do garoto em contato com a sua por um momento, no cabelo macio que roçou sua nuca, fechando os olhos. Como se odiava quando aquilo acontecia... E ele nem sabia ao certo se odiava a si mesmo por ter se apaixonado pelo amigo ou por não contar a ele.

Seja mais impulsivo! – a lembrança da voz de Sirius badalou em sua mente, como um pedido.

– Você está bem? – a voz do moreno soou muito perto, despertando-o dos devaneios.

– Claro.

– Estou perguntando se você quer torta de frutas há algum tempo e você não responde.

– Ah, certo. Desculpe. Quero.

Sirius o olhou com a sobrancelha arqueada por um tempo e então simplesmente acenou, pegando um pedaço de torta com um elfo assíduo. Remus se assustou, porque, tão perdido em pensamentos estava, que não tinha percebido que eles já haviam chegado à cozinha.

Voltaram em silêncio, para não chamar atenção de Filch, que poderia estar por perto.

– Sabe, essa quantidade de deveres que você anda fazendo está derretendo seu cérebro, Moony.

– Talvez... Hipogrifo molhado – ele recitou a senha, recebendo um olhar atravessado da Mulher Gorda.

– Isso são horas de andar pelo castelo, incomodando o sono dos outros? – ela perguntou exasperada.

– Desculpe – Lupin se encolheu, constrangido, passando pelo retrato.

Sirius passou logo em seguida, rindo. Sentou em uma das poltronas, abriu sua garrafa de suco de abóbora e mordeu a torta. O castanho repetiu os movimentos de Sirius, olhando para o amigo com obstinação, o que ele, concentrado na torta de frutas, não percebeu.

Comeram em silêncio, e então, assim que bebeu o último gole de suco, o moreno olhou para Remus, sorrindo.

– Estou realmente orgulhoso por ter levado meu conselho a sério, Moony – ele sorriu enviesado. – Não se sente melhor, sendo menos chato e controlado?

– É o que pensa de mim, Padfoot? Sou chato e controlado? – Lupin forçou uma cara de decepção, arrancando uma risada latida do outro.

– Claro que não! Só às vezes... Admita que você sabe ser um estraga prazeres quando quer.

– Discordo.

– Mas não tem problema. Sabe que eu te amo de qualquer forma, não é? – Sirius comentou, com seu tom habitual de gozação.

Remus desfez o sorriso rapidamente, sem nem mesmo perceber. O moreno vivia dizendo frases como essa para ele, em tom de brincadeira. Mas isso o fazia imaginar como seria se o amigo estivesse falando sério, e ele se chateava todas as vezes, pois era sempre simplesmente uma piada. E aquilo era doloroso.

– Vamos dormir? – Remus falou, levantando-se rapidamente.

– Claro – Sirius sorriu, não parecendo perceber a súbita mudança no tom de Lupin. – Estou com sono.

~~

A claridade que atravessava suavemente seu cortinado foi a razão para que Remus despertasse. Ficou deitado com os olhos abertos por alguns minutos, encarando a luz fraca que envolvia o quarto e então decidiu se levantar.

Quando voltou do banheiro, já vestido e com os cabelos molhados, percebeu que a única pessoa no quarto, além dele mesmo, era Sirius. O moreno balançou a cabeça e fez gotas de água que repousavam em seus fios negros voarem para todas as direções. Só então pareceu notar o castanho.

– Bom dia.

– Bom dia, Sirius... Sabe onde estão os outros?

– Devem estar no Salão Comunal, ou lá no pátio. Já viu que horas são?

Remus consultou o relógio e percebeu que já estava quase na hora do almoço.

– Por que acordamos tão tarde?

– Talvez tenha a ver com o fato de que fomos dormir tarde – Sirius ironizou, terminando de vestir sua roupa. – Não estou a fim de descer agora.

Remus refletiu por um momento e andou até perto do moreno, sorrindo.

– Também não estou.

O outro sorriu de volta e passou a contar alguma coisa na qual Remus não conseguia prestar a menor atenção. Ele reparava com toda sua concentração no cabelo molhado de Sirius, e então passou a seguir uma gota que escorreu pelo rosto do garoto, pingando e alojando-se na gola da camiseta. Voltou-se para o rosto do moreno, encarando seus olhos cinzentos com determinação, um hábito que havia desenvolvido há algum tempo.

Seja mais impulsivo! – a voz novamente o assaltou, persuasiva.

O único impulso que controlava no momento era o de beijar os lábios rubros que se moviam com entusiasmo na sua frente. Deixou de pensar nas consequências por um instante e então, esse instante foi o suficiente.

Enquanto Sirius ainda falava, Lupin colocou suas mãos no ombro dele e o empurrou com leveza e determinação para a parede. O moreno parou de falar, tentando entender o que o amigo estava fazendo. Antes que ele conseguisse perguntar qualquer coisa, porém, Remus avançou com firmeza e o beijou.

Sirius ficou muito quieto por alguns instantes, enquanto sua mente processava os lábios do amigo contra os seus. De repente, ele subiu seus braços para a cintura de Remus, retribuindo ao beijo com ardor.

Quando se separaram, Lupin estava sorrindo. Sirius, entretanto, parecia extremamente confuso.

– Por que fez isso? – perguntou, em voz baixa.

– Estou sendo impulsivo – Remus sorriu divertido.

O moreno pensou na resposta por um momento e logo sua expressão endureceu e ele se afastou com brutalidade.

– Muito engraçado, Remus. Mas brincar com as pessoas assim não é legal.

Então ele saiu do quarto, enfurecido, batendo a porta atrás de si. Remus encarou o lugar por onde o amigo saiu sem entender o que havia acontecido, porque Sirius se enfurecera daquele modo. Fora o óbvio, que seria o suficiente para enfurecer muitas pessoas – Lupin o havia beijado! –, ele não conseguiu pensar em nada. Talvez fosse mesmo o beijo, mas Sirius retribuíra, ele estava certo disso.

A cama fez um barulho estranho quando Remus se jogou nela, exasperado.

– Parabéns! Estragou tudo.

O garoto desejou poder se enrolar em uma coberta e ficar para sempre em sua cama, sem ter de presenciar os olhares de nojo e desprezo que Sirius daria a ele dali para frente.

– Estúpido! – sua voz alta ressoou no quarto vazio.

– Quem é estúpido? – James, que passava pela porta naquele momento, perguntou.

– Estou só falando sozinho – Lupin respondeu, levantando-se depressa.

– Percebi... Por que estava deitado na cama de Sirius?

– Eu não... Eu... Ahn... Falando nele, você o viu por aí?

– Já que perguntou, sim. E ele estava meio estranho. Passou andando depressa por mim, com uma cara esquisita, sabe o que houve? Ele nem me deu bom dia. Pensando bem... Você também está estranho. O que aconteceu?

– Não sei! Eu nem o vi ainda hoje – Lupin mentiu, escapando para a porta. – E não estou estranho. Até!

Remus suspirou quando se viu livre de James, que estava fazendo perguntas demais para o bem de seus nervos. Desceu as escadas com ligeireza, sem saber exatamente onde estava indo, e pensou nas opções de como resolver a cagada que havia feito. Poderia usar um vira-tempo e impedir a si mesmo de beijar o amigo. Poderia lançar um Obliviate em Sirius. Poderia dar a Sirius um copo de Amortentia. Poderia se enfiar em um buraco e não sair nunca mais.

Depois, passou a pesar a estupidez de seus planos. Não tinha nenhum vira-tempo em Hogwarts e não pretendia invadir o Ministério para roubar um. Era ruim o bastante com feitiços a ponto de seu Obliviate se tornar uma arma fatal. Seu desempenho em Poções era ainda mais deplorável. Quanto ao buraco... uma ideia a ser considerada. Talvez mais para frente.

No meio de suas considerações, não viu Lily se aproximando e quase derrubou a garota.

– Ei, Remus. Calma. Onde vai com tanta pressa? Atrás de Sirius?

– Sirius? Não! Por quê? Por que eu iria atrás de Sirius? Essa ideia é...

– Calma! Merlin, vocês estão bizarros hoje. Sirius passou por mim como um vento, nem me deu bom dia. E não estava excepcionalmente feliz, acho... Sabe o que houve com ele?

– Não – Lupin respondeu com um fiapo de voz.

– De qualquer forma, o que eu ia te perguntar é se James está lá em cima.

– Sim.

– Certo. Obrigada.

Remus acenou e voltou a andar para a saída do Salão Comunal. Só então se lembrou de que não tinha um destino em mente e decidiu que andaria sem pressa até o Salão Principal e, quando chegasse lá, já estariam na hora do almoço. Lá ele poderia almoçar com seus amigos e quem sabe se desculpar silenciosamente com Sirius.

Esse pensamento o alegrou por um instante. Iria dar tudo certo. Certo? Certo! Afinal, era de Sirius quem estava falando e ele nunca, nunca mesmo, havia passado mais de duas horas fingindo estar bravo com Remus. Talvez uma hora bravo de verdade com ele, mas foi só. E Remus nunca mais o beijaria. Essa parte o desanimou um pouco, porque o beijo havia sido realmente ótimo, mas ele logo se animou novamente.

Quando chegou ao salão, muitos alunos já estavam comendo, mas a mesa da Grifinória estava relativamente vazia, então Remus não demorou em localizar Sirius, que conversava com Pettigrew em uma das pontas da mesa.

Ele se sentou de frente para Peter, sorrindo para os amigos. O baixinho retribuiu o sorriso, mas Sirius simplesmente serviu algo em seu prato e passou a comer com a cabeça baixa. Lupin viu isso como um mau sinal, mas se forçou a ficar calmo e também se serviu.

E, apesar das constantes tentativas de Remus de iniciar um assunto, o moreno só voltou a levantar a cabeça quando James chegou e se sentou à frente dele, mesmo assim evitando a todo custo olhar para o castanho ou reconhecer que o garoto existia.

– Onde você estava indo com tanta pressa hoje, Sirius? – James perguntou subitamente. – E não me diga que foi uma ilusão, porque Lily também o viu.

– Eu estava indo até o pátio – Sirius pareceu ter uma resposta engatilhada.

– Naquela velocidade? Quem estava lá? Uma garota?

– Claro! – o moreno ficou aliviado por seu amigo ter dado uma resposta à própria pergunta. – Uma garota. Não queria que eu parasse para comentar sobre o tempo com você, queria?

James riu, concordando, enquanto Peter parecia encantado com o suposto encontro do amigo. E Remus teve certeza de que Sirius só tinha falado aquilo por vingança, para magoá-lo. Afinal, havia ficado bem claro que ele gostava do outro um pouco mais do que costumava demonstrar.

– Sirius? Pode me emprestar seu texto sobre a revolta dos duendes? Aquele que o professor de História da Magia passou?

– Eu não fiz ainda – Sirius falou para Peter, com um sorriso. – Porque eu sabia que você iria pedir.

– Droga... – o garoto baixou os olhos para o prato.

– Você me disse ontem à noite que havia terminado – Remus soltou, antes mesmo de perceber o que faria.

– Eu estava mentindo – Sirius pareceu meio defensivo, respondendo sem encarar Lupin. – Vai fazer o que, me azarar? Ou talvez você tenha outra ideia de vingança em mente...

– Calma! Eu só... Eu não estava...

– Não importa.

James e Peter assistiram assustados enquanto Sirius se levantava num ímpeto e saía sem dizer mais nada. Os dois olharam para Remus, como se quisessem perguntar o que havia acabado de acontecer, mas o garoto simplesmente fingiu não perceber os olhares e voltou o rosto para o outro lado.

– O que houve com ele?

– Remus, o que aconteceu?

– Não sei, está bem? – ele lançou um olhar de desagrado para James. – Você estava aqui o tempo todo, não estava? Não viu o que aconteceu?

– Calma!

– Desculpe.

James abriu a boca algumas vezes, mas tudo o que pode fazer foi encarar o amigo, que comia silenciosamente. Olhou dele para o lugar vazio de Sirius e então decidiu deixar para lá. Aqueles dois sempre se entendiam em pouco tempo.

~~

Mas alguns dias se passaram e Sirius não voltou a falar com Lupin. Ele era cuidadoso em não deixar os amigos perceberem que de fato havia um problema, mas evitava a todo custo falar com Remus e quando era o garoto quem falava com ele, respondia rapidamente e dava um jeito de sair de fininho.

Aquilo estava simplesmente deprimindo Remus, mas ele não conseguia pensar em nada para mudar a situação. Só sabia que não iria se conformar em perder Sirius por ter sido tão idiota e – que ironia! – impulsivo. Às vezes, perguntava alguma coisa aleatória para o amigo, mas ele nunca levava a conversa para frente, escapando quando conseguia.

Peter e James realmente não percebiam nada e, como Sirius parecia estar fazendo esforço para continuarem assim, Remus sempre falava com ele quando os amigos estavam por perto, pois sabia que ele responderia mesmo a contragosto. Achava-se um pouco cruel por fazer isso, mas mais cruel ainda era Sirius, que o estava ignorando completamente sempre que podia.

Os quatro garotos repousavam em baixo de uma frondosa árvore no pátio, concentrados em alguns deveres. Peter parava o que escrevia de tempos em tempos, para olhar James e implorar ao garoto que o ajudasse. James bufava, mas na realidade parecia gostar da atenção. Remus havia deixado seu dever de Poções de lado e encarava Sirius, que não havia percebido nada, com insistência.

Quando finalmente desviou seu olhar do rosto concentrado do moreno, percebeu que ele fazia o dever de Poções e teve uma ideia.

– Sirius?

James e Peter estavam falando sobre alguma coisa de Feitiços e não prestaram atenção aos outros dois. O olhar cauteloso de Sirius se fixou em Lupin, enquanto ele se afastou instintivamente.

– Sim?

– Não entendi muito bem o que Slughorn nos mandou fazer. Pode me ajudar?

– James? Pode ajudar Remus a...

– Espere um momento, Peter está quase entendendo isso aqui.

– Estou fazendo Transfiguração agora – Sirius mentiu, olhando para baixo. – Mas pode copiar o que eu fiz de Poções, se quiser. Está com Peter.

– Não está não. Está com você.

Sirius jogou alguns pergaminhos de seu colo em cima de Peter, que o olhou assustado.

– Pronto, agora está tudo com ele, copie o que quiser. Bom, eu tenho que ir.

E então ele saiu apressado em direção ao castelo, deixando os amigos intrigados. Peter fitou com animação os pergaminhos que Sirius havia jogado nele e começou a copiar. Remus olhou para frente e percebeu que James o encarava com uma expressão de consolo. Talvez ele tivesse finalmente percebido que algo ia mal.

– Passe o de Poções para mim, Wormtail – pediu, desanimado.

~~

Lupin subia as escadas para o dormitório rapidamente. Fora até a biblioteca, terminar uma pesquisa, e acabou passando mais tempo do que o planejado lá, provavelmente James iria passar algum tempo dizendo que eles haviam perdidos minutos de diversão ou algo do tipo, porque eles planejavam ir a Hogsmeade – escondidos, é claro.

– Cuide da sua vida, Prongs, que droga! – a voz de Sirius chegou até Lupin, que parou subitamente.

– E isso não faz parte da minha vida? Você é meu amigo, vocês dois são, seu idiota!

Remus ficou momentaneamente dividido entre ouvir a conversa ou sair de lá. Logo optou por ouvir o que os amigos discutiam, pois aparentemente o envolvia.

– Já te falei, não tem nada errado! Tudo está ótimo e você está inventando problemas.

– Sirius, não me faça de idiota! Negar que há um problema é me chamar de retardado, por favor, nós passamos vinte e quatro horas por dia juntos.

– Então passe menos tempo me enchendo e mais tempo com sua namorada, problema resolvido – a voz de Sirius se aproximou perigosamente da porta.

– Volte aqui! – Lupin suspirou aliviado. – Padfoot, me conte o que está errado!

– Não tem nada errado! – o outro quase gritou e Lupin ouviu um barulho abafado que provavelmente era o punho de Sirius contra algum objeto.

– Como não tem nada errado, Sirius Black?! Vocês dois viviam juntos pelo castelo e agora você parece nem conseguir olhar Remus nos olhos! Toda vez que estamos todos no mesmo ambiente você fica sombrio e calado e dá um jeito de fugir. E ontem, quando ele lhe pediu ajuda, você, literalmente, saiu correndo e jogou seus pergaminhos em cima de Peter! Só faltou azará-lo para que ele lhe deixasse em paz.

– Eu nunca faria isso! Mesmo que ele tenha... – Sirius se calou, parecendo perceber que iria entregar o jogo.

– Rá! Eu sabia! Eu sabia que tinha algo errado! Pode me contar.

– James, realmente, eu aprecio seu interesse. Mas não é da sua conta.

Tudo ficou em silêncio por uns minutos e então Lupin se escondeu atrás de uma quina da parede, de modo que quem abrisse a porta não o enxergasse. A voz de James soou um pouco depois, friamente.

– Certo. Se não quer minha ajuda, não posso fazer nada, mas resolva isso! E logo. A lua cheia está chegando.

E com esse último comentário profético, o garoto saiu do dormitório. Assim que ele sumiu de vista, Lupin entrou no quarto, silenciosamente. Sirius estava jogado em sua cama, as mãos na cabeça, a cortina meio fechada impedia que ele visse que tinha companhia novamente.

Remus encostou as costas na porta, suspirando baixinho. James estava certo; a lua cheia estava chegando! E ele nunca havia passado nenhuma lua cheia sem Sirius desde que o garoto virara um animago, e também não queria começar a passar. Esse pensamento o impulsionou a tomar uma resolução e ele finalmente decidiu que falaria com o moreno.

Andou calmamente até a cama de Sirius, o coração acelerado. E se terminasse de estragar tudo? Tossiu levemente para chamar a atenção do garoto, que se levantou assustado. Quando Sirius viu quem era, fez menção de ir embora, mas Lupin segurou seu braço.

– Sirius, espere.

Os olhos cinzentos encararam a mão que segurava seu braço e então se fecharam. Remus pensou que levaria um soco, uma azaração, ou algo do tipo, por isso se surpreendeu quando a voz do outro chegou aos seus ouvidos.

– O que você quer?

– Podemos conversar?

– Acho que sim.

Os dois se encararam por minutos intermináveis e Lupin sentiu um impulso muito grande de beijar o garoto a sua frente mais uma vez. Sabendo que aquilo não ajudaria muito, baixou a cabeça e fechou os olhos, tentando se controlar.

– Se não for falar nada, eu tenho que...

– Me desculpe! – antes que Sirius terminasse a frase, Lupin pediu, baixinho.

– Desculpar você pelo que?

Remus o olhou incrédulo. Havia um brilho cruel no rosto do garoto.

– Sirius, não seja cruel! Por que você está agindo assim?

– Você pediu desculpa, então deduzo que saiba por que estou agindo assim.

– Mas eu já pedi desculpa! Não pode simplesmente aceitar e fingir que eu não...

– Fingir?! – Sirius finalmente explodiu, gritando e assustando Lupin, que se encolheu. – Eu podia esperar o que você fez de qualquer um, Remus, de qualquer um, menos de você! Mas talvez eu não te conheça tão bem.

– Por que você está agindo como se isso fosse o fim do mundo? – Lupin agora gritava também, enfurecido.

– Você sabia que eu gostava de você! Eu nunca toquei no assunto e você podia ser maduro o suficiente para agir assim também se não sente a mesma coisa!

– Você... Você o quê?

– Não foge do assunto! Foi muito cruel o que você...

– Cala a boca! – Sirius se assustou, interrompendo a frase no meio. – Você gostava de... O quê?

– Ah, certo... Como se você não soubesse que eu gosto de você.

– Eu não sabia, seu imbecil! Foi por isso que eu beijei você!

– Como assim você não sabia? Então por que você..? Eu estou confuso.

Sirius e Remus se calaram por uns instantes, cada um tentando organizar os pensamentos e entender o que estava acontecendo.

– Por que você me beijou, afinal? – o moreno sussurrou, quase para si mesmo.

– Porque eu gosto de você! Seu retardado.

– Como eu iria saber? Você não disse nada!

– E então você deduziu que eu queria te sacanear? – Lupin rolou os olhos. – E é claro que eu não disse nada, você não deixou! Se não tivesse saído correndo você saberia.

– Você ia me falar? – Sirius ainda parecia meio inseguro.

– Claro! Acha que eu iria te beijar e sair correndo?

– Não sei – Sirius olhou para baixo, parecendo constrangido. Mas logo voltou a encarar Lupin. – Prove.

– Provar o que? – o menor pareceu confuso.

– Prove que você está falando a verdade.

– Como você quer que eu prove? – Lupin perguntou, ainda confuso.

– Moony, você é extremamente ingênuo, às vezes.

Sirius puxou o castanho para mais perto, encarando-o enquanto pousava uma mão em seu rosto. Deixou que Lupin manifestasse conforto com a proximidade e então chegou o rosto mais perto do dele, ainda mantendo uma leve distância. Colocou a outra mão na cintura do garoto e sentiu-o se aproximar um pouco mais. Estavam a milímetros um do outro, encarando-se com interesse, enquanto se acariciavam lentamente.

Remus acabou com o espaço que os separava, dando um selinho suave no moreno, que retribuiu a carícia suave. Ficaram nesse beijo calmo por um segundo e então o aprofundaram, de modo ofegante. As mãos de Sirius apertaram a pele do castanho, enquanto este sugava o lábio inferior do maior, fazendo-o gemer.

– Sirius, eu tinha esquecido que combinamos de... – James interrompeu a frase que começara ainda na escada quando viu o que acontecia na cama de Sirius. Os garotos se separaram, assustados com o flagrante. – Ah, então era isso que vocês precisavam resolver?

– James! – Remus exclamou lívido, enquanto Sirius parecia meio petrificado. – Nós não... Nós só estávamos...

– Se agarrando no meio do dormitório, eu vi – o garoto riu da cara dos amigos. – Ei, relaxem! Não tem problema, eu meio que já sabia.

– Já sabia? – Sirius falou, meio abafado. – Já sabia o que?

– Que era só questão de tempo até começarem a ficar de saliência pelos cantos – Potter riu novamente, da expressão que usara. – Desculpe, mas já estava meio óbvio, caras. Até Peter percebeu. Olha, vou deixar vocês a sós, se resolvam aí – ele se virou e saiu do dormitório, enfiando a cara no vão da porta antes de fechá-la completamente. – Não acredito que direi isso, mas vocês dois até que ficam fofos juntos.

E então James saiu do quarto, rolando os olhos e rindo, deixando a porta fechada atrás de si.

– Pelo menos não temos que nos preocupar com a reação deles – Remus comentou, com um sorrisinho atordoado, virando-se para o moreno.

– É, acho que não. – Sirius finalmente se moveu, encarando Lupin. – Moony?

– Sim.

– Eu falei sério quando disse que gosto de você, e realmente acreditava que você sabia disso. Por isso nunca tive esperanças de que você quisesse algo comigo, por achar que, se você retribuísse meus sentimentos, já teria me dito. E essa também foi a razão por eu ter ficado tão arrasado quando você me beijou. Pensei que estava apenas zombando do que eu sinto por você.

– Você é um idiota, Padfoot! Por qual razão pensou que eu já soubesse o que sentia por mim? Lobisomens não lêem mentes.

– É só que você é tão inteligente. E eu já não fazia mais exatamente muita questão de esconder isso de você há um tempo.

– Idiota! – Lupin repetiu, rindo, e se aproximou do outro garoto, tomando seu belo rosto nas mãos. – Eu amo você, Sirius.

O moreno fechou os olhos e ronronou em resposta, apreciando o contato.

– E eu amo você, Remus. Tanto e há tanto tempo que você nem pode imaginar.

O castanho então se deixou levar pelo impulso mais uma vez. E mais uma vez, o impulso era de beijar os lábios do garoto a sua frente. Impulso irrefreável. Irresistível.


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