— Foi você quem avançou nele e depois saiu correndo?! Eu achava que ele tinha te beijado e por isso você tinha pirado. - o moreno apoiou o rosto nas mãos, seus olhos ardiam um pouco com a claridade que já entrava no quarto. Sua própria história não tinha sido tão diferente, mas ele aceitara sua sexualidade muito mais rápido e sem perdas.

— Eu demorei pelo menos um ano pra conseguir aceitar que não adiantava o quanto eu tentasse. Eu gostava dele independente se era homem. E nesse meio tempo, devo ter sido o mais promíscuo da faculdade. - Deu uma pausa para olhar as horas, que pareciam passar mais rápido que o normal. As lembranças causavam uma estranha dor de cabeça.

Ele havia tentado de tantas maneiras parar de pensar em Shino naquela época. Devia ter dormido com qualquer garota um pouco mais apresentável que desse mole, na tentativa ridícula de provar para si mesmo e para todos que duvidassem que ainda era homem. É engraçado o que a negação faz as pessoas agirem de modo tão fora dos próprios padrões.

— Conheço bem sua fama de pegador. - Aoi soltou uma risada curta. - Depois que se arrependeu, por que não foi procurá-lo?

— Quando tentei encontrar ele, já não morava mais no mesmo lugar e o amigo dele nunca quis me dizer onde ele estava ou passar um número.

— Ele deve ter ficado furioso com você. - O moreno disse pesaroso, apoiando a cabeça em uma das mãos. - Eu ficaria.

— Eu tenho certeza de que ele ficou. - Reno respondeu olhando para o relógio novamente. Estava ansioso. - Esse médico ta demorando muito. Quero sair logo desse hospital.

— Quer que eu chame alguém?

— Se daqui a uma hora ele não aparecer, pode chamar. - O loiro bebeu o restante da água que tinha no copo ao seu lado e resolveu se sentar na outra poltrona de frente para Aoi. Suas costas já doiam de tanto tempo que ficara deitado. Passou as mãos pelo rosto calmamente, reajustando seus pensamentos. - Sabe, essa história tem me revirado a muitos anos.

— Então é por isso que me chamou? - Aoi perguntou enquanto encolhia as mangas da camisa e pegava um bloco de notas do bolso, vendo o outro afirmar com a cabeça. - Por que quer encontrar ele agora?

— Por causa dessa pneumonia, fiquei uma semana de cama e isso me fez pensar em várias coisas. Acho que o fato de que nenhum relacionamento meu tenha dado certo é porque ainda me sinto culpado por aquele dia. Mesmo que já tenha se passado 5 anos isso continua me atormentando e sei que continuará ao menos que eu resolva isso logo.

— Isso é uma situação bem estranha... - Aoi suspirou e recostou novamente no sofá. Terminando de fazer algumas anotações e guardando o bloquinho novamente. - Só pensou nisso agora? 5 anos depois?

— Eu venho pensando nisso há muito tempo na verdade. Mas nunca fui uma pessoa muito corajosa nem nada. - Reno olhou para a janela por um tempo, pensando em tudo que havia acontecido naquela semana em que ficara no hospital. - Eu conheci um garoto aqui, o nome dele era Haruo. Ele tinha câncer. - Deu uma pausa sentindo o peito apertar um pouco. Tudo tinha acontecido tão rápido. - Quando conheci ele, acabou contando sobre uma garota que ele gostava muito mas por ter câncer, nunca se declarou. Ele me pediu um conselho.

— Qual conselho deu ao garoto?

— Que procurasse ela e arriscasse se declarar. - Deu mais um suspiro se recostando no sofá. - Eu normalmente não penso muito sobre essas coisas, mas não quero estar arrependido quando for tarde de mais.

— Como acha que ele reagiria se o visse novamente?

— Ele pode querer me xingar. Pode não ligar e aceitar minhas desculpas. Não tenho idéia. - Reno voltou os olhos para o moreno a sua frente, forçando um semi-sorriso. - Se ele me escutar, já me sentiria melhor.

— O que exatamente você fará quando o encontrar?

— Já disse. Quero me desculpar.

— Só isso?

— O que quer dizer?

— Ouvindo o modo como me contou tudo isso Reno, percebo que ainda gosta dele. - O moreno viu Reno desviar os olhos. Mas Aoi não precisava de uma confirmação, sabia que estava certo.

Neste momento o médico entrou pela porta devagar, interrompendo o que Aoi estava prestes a dizer. Com os olhos grudados na prancheta que carregava em mãos, o jovem doutor não prestou muita atenção em seu paciente que deveria estar de repouso na cama.

— O Doutor Kohara entrou de férias noite passada. Sou eu quem te examinará para te dar alta... - O médico disse baixo e desviou os olhos da prancheta rapidamente, percebendo a cama vazia. Logo se virou para encarar os dois amigos sentados no sofá. - Senhor Reno... Por que não está na cama?

Reno se demorou um pouco no lugar que estava, encarando o recém chegado com um pouco de surpresa, tendo sua linha de pensamento quebrada. Sua boca se abriu levemente e uma onda estranha de adrenalina lhe subiu a espinha.

— Shino?!

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Reno POV

Quando vi o médico entrar, me senti meio aliviado. Em parte por ter interrompido o que Aoi estava prestes a dizer e que eu sabia não querer ouvir, e em parte porque aquilo significava que em breve eu estaria livre para finalmente sair do hospital. Mas ao erguer os olhos, me deparei com a figura do homem que perturbava minhas memórias por tanto tempo.

Ele deveira estar um pouco mais alto que antes, continuava magro, embora eu conseguisse notar os músculos bem definidos por baixo das camadas de roupa. Sua aparência era um pouco cansada, mas continuava com aquele ar feliz que sempre manteve. Não havia realmente mudado muito em aparência.

Senti um estranho calafrio me correr a espinha, como aquela sensação de déjavu que sempre sentia quando o encontrava na biblioteca. Quase não consegui acreditar no que via até que ouvi sua voz soando e seus olhos alternarem de mim para Aoi.

— Senhor Reno... Por que não está na cama?

Agora eu tinha certeza de que era ele.

— Shino?! - Não pensei direito quando perguntei. A voz saíra por vontade própria.

Ele ergueu a sobrancelha sem entender. A testa franzida tentando me reconhecer. Mas apesar do meu cabelo estar mais escuro, eu também não havia mudado muita coisa. E no momento em que vi o brilho nos seus olhos mudarem de forma, eu percebi que ele também havia me reconhecido.

Não percebi quando Aoi havia pedido licença e saiu pela porta. Ambos estávamos sem reação, nos encarando. Shino moveu os lábios mas não emitiu som algum, embora eu soubesse que a palavra que se formou fora meu apelido de infância.

Shino pareceu querer dizer algo mais, que lá no fundo eu tinha a impressão de que era algum chingamento. Mas ele apenas suspirou fundo voltando a sua postura de antes.

— Se está fora da cama, vejo que já está bem o bastante para receber alta. - Disse se virando e rumando para fora da sala em passos um pouco mais apressados que o normal.

Me levantei e corri atrás dele, agarrando a manga de seu jaleco e o impedindo de realmente abrir a porta.

— Shino... - Eu disse baixo, em uma súplica para que me desse atenção.

— Já pode recolher suas coisas e ir para casa. - Simplesmente puxou a manga para se soltar e voltou a seguir seu caminho, de forma rápida e sem ao menos me encarar novamente. - Chamarei uma enfermeira para lhe ajudar.

Ouvi ele dizendo do corredor, enquanto se afastava. Eu permanecia parado segurando a porta aberta, estava descalço e não poderia sair correndo atrás dele no meio do hospital.

— É. Ele com certeza ficou furioso com você. - Olhei para o lado e vi Aoi sorrindo para mim, parecendo se divertir com a situação. - Cara, esse mundo é mesmo pequeno né? Eu nem precisei fazer nada.

— Me ajuda logo aqui Aoi. - Bufei e voltei a entrar no quarto, sendo seguido de perto pelo moreno.

— Ainda tem esperanças? Ele já deixou bem explicito de que não quer falar com você.

— Agora que sei onde ele trabalha, não acha que vou desistir assim tão fácil né? - Calçei meus sapatos rapidamente. Sorte que já havia feito minha mala e trocado de roupa antes, me poupando um bom tempo.

— O que pretende fazer então?

— Pressioná-lo... - Soltei o ar meio cansado me dirigindo para a porta. - Eu só quero que ele me ouça.

Eu realmente achei que ele não ligava mais para o que tinha acontecido. Já fazia tanto tempo e Shino não parecia ser o tipo de pessoa que guardava rancor. Mas infelizmente, parece que eu me enganei.

Mas aquilo que eu havia feito era assim tão ruim?

Ta legal que eu chinguei ele de bixa e talvez tenha falado mais alguma coisa quando sai do apartamento. E bati nele, mesmo que tenha sido meio sem querer. E não falei com ele mais durante todo esse tempo...

Ok, ele tinha mesmo motivos pra não querer mais olhar pra minha cara. Mas eu era otimista.

Ou idiota. Mas deixa pra lá.

— Estamos indo pra onde afinal? - Aoi perguntou me seguindo.

— Preciso achar ele.

— E pretende fazer isso andando como um louco pelos corredores e gritando o nome dele? - Aoi riu quando eu parei. Com certeza eu fazia uma expressão bem idiota, de quem só havia compreendido o mico que estava pagando muito tarde. - Se eu fosse você, eu iria até aquele balcão e perguntava onde o Shino está.

Eu apenas afirmei com a cabeça e me dirigi até lá, encarando uma senhora gordinha que ergueu os olhos do monitor.

— Posso ajudar?

— Eu estou procurando pelo doutor Shino Yutaka. Saberia me dizer onde ele está? - Tentei ser o mais formal possível.

— Sobre o que se trata? - Ela retirou os óculos para me encarar, parecendo cansada.

Eu entrei em um pequeno desespero interno. Não que ela pudesse fazer algo de mais, mas eu não tinha preparado nenhuma desculpa para improvisar e meus nervos já não estavam em um estado muito normal.

— Meu amigo acabou de receber alta, mas o médico esqueceu de entregar o atestado. - Aoi me empurrou levemente para o lado e se inclinou sobre o balcão.

— Estranho Shino ter se esquecido de uma coisa dessas. - A atendente ergueu as sobrancelhas em nossa direção, parecendo um pouco desconfiada.

— Ele parecia estar com um pouco de pressa. - Aoi se inclinou um pouco mais e lançou um sorriso para a mulher. Ela corou imediatamente e quase me fez rir. Yuu era mesmo o melhor pra convencer as pessoas. - Sem o atestado meu amigo perderia o emprego. Poderia dizer onde ele está, por favor? É bem rápido.

— Eu posso puxar a ficha do seu amigo e faço o atestado dele aqui mesmo.

— Eu agradeceria muito se fizesse isso. Mas infelizmente as regras da empresa são bem chatas quanto a isso. O documento deve ter a assinatura do médico para ser válido. - Aoi abriu ainda mais o sorriso, colocando sua mão por cima da mão gordinha da mulher. - Você entende não é?

Ela ficou um momento encarando o moreno, ainda corada. Deu um sorrisinho de canto e voltou a olhar para o computador, conferindo alguma coisa rapidamente.

— Shino está substituindo o Kohara. Ele foi para o quarto 26.

— Ah, era esse o quarto dele. - Aoi apontou para mim, que me mantive calado até agora e apenas concordei com um aceno.

— Depois dessa consulta o expediente dele acaba... - A mulher se inclinou mais pra frente, chegando mais perto de Yuu e falando em um tom mais baixo. - Se querem encontrar ele, podem ir até a cafeteria no segundo andar. Shino sempre passa lá antes de ir embora.

— Você é um anjo. Muito obrigada! - Aoi disse dando uma piscada para ela antes de se por ao meu lado em direção ao elevador.

— Ah, meu expediente acaba as 6. Poderiamos tomar um chá depois. - A atendente disse ainda mais corada, com um enorme sorriso que parecia deixar seu rosto mais bochechudo.

— Claro, qualquer dia desses eu passo aqui. - O moreno apressou o passo me puxando pelo braço enquanto eu segurava ao máximo minha risada. Somente quando entramos no elevador que eu soltei o ar, gargalhando alto. - Vai ficar me devendo uma Reno.

— Nada disso! Você estava me devendo antes, então isso é um acerto de contas. - Disse me recompondo novamente. A porta do elevador se abriu e ambos saímos, logo avistando uma cafeteria bem cheia. - Preciso aprender a ter essa lábia que você tem Aoi, sério.

— Acho bom você ter mesmo, por que esse tal de Shino com certeza não vai te ouvir muito fácil. - Aoi apontou para um homem de pé entre as mesas, segurando um copo grande de café e parecendo procurar alguma coisa. - Boa sorte.

Yuu se afastou e foi sentar em frente ao balcão. Eu fiquei um tempo olhando para as costas da pessoa que Aoi me indicou e percebi que era mesmo Shino. Sentia uma adrenalina e um nervosismo me atingirem como se eu fosse um colegial temendo encontrar o pai da namorada. Ok, péssima comparação. Mas é o que mais se pareceu com o que eu estava sentindo.

Com o nervosismo que eu sentia, não sei quando criei coragem projetando meu corpo pra frente para pousar a mão sobre seu ombro. Ele se virou assustado e percebi que teve de segurar o quase grito que se formou quando me encarou.

— O que está fazendo aqui?! - Shino deu um passo pra trás, fazendo com que eu afastasse minha mão de seu ombro.

— Preciso falar com você Shino.

— Não tenho nada a tratar com você. - Ele já ia dando as costas novamente. Mas eu segurei seu pulso, quase deixando cair o copo de café que estava em sua mão. Dessa vez ele teria mesmo que me ouvir, ou eu faria um escândalo ali mesmo.

— Eu só quero que me ouça... é rápido.

— Shino? Tudo bem? - Um loiro alto chegou me olhando desconfiado. - Quem é ele?

O tom que aquele cara usou comigo não foi nada amigável. E pelo apelido que chamou o menor, percebi que eles eram íntimos. Mas eu não o encarei por muito tempo, me aproximando um pouco mais de Shino e ignorando o outro.

— Por favor. - Falei em um tom mais baixo, praticamente implorando. O olhar daquele outro cara me estremecia de certa forma. Ele parecia que iria me chamar pra briga a qualquer momento se eu não largasse o pulso do médico.

Shino olhou fundo nos meus olhos por um tempo, um olhar que me desconcertava totalmente. Suspirou antes de puxar a mão com mais força e se desvencilhar dos meus dedos de forma um pouco brusca.

— Seu café Kou... - Shino entregou o copo ao loiro alto e afagou de leve o peito do maior ao se aproximar. - Eu preciso resolver uma coisa com o Suzuki-san. Pode ir na frente, eu te alcanço depois.

Para a minha surpresa, e para a do tal de Myv também pela cara que ele fez, Shino se virou para mim e segurou meu pulso, me puxando para fora da lanchonete e seguindo para um largo corredor. Ambos continuamos em silencio até chegarmos em uma sala pequena, que percebi ser onde os remédios ficavam estocados. Eu não tinha muito o que dizer mesmo, e muito menos o que contestar naquele momento. Ele estava me dando uma chance afinal, e eu deveria agarrá-la com todas as forças que eu conseguisse.

Quando entramos ele trancou a porta por dentro e se recostou nela de braços cruzados, me olhando com uma cara nem um pouco amigável. A sala era bem pequena, embora grande o bastante para nos manter uns 2 metros afastados.

— A quanto tempo, Aki-chan. - O tom de voz irônico dele quase me causava arrepios. Não parecia mais aquele garoto de anos atrás.

Eu continuei quieto, apenas o encarando. Ele realmente não tinha mudado muito. Só aparentava mais maduro e tinha um porte um pouco mais atlético.

Senti minha garganta seca e embora muita coisa se passasse em minha mente, eu não conseguia me focar em nada. Minha cabeça pensava em tudo, exceto em uma explicação.

— Vai ficar calado agora?

— Eu... - Suspirei fundo. Tantos anos formulando algo para dizer naquela situação e quando finalmente chegava o momento, eu não conseguia pensar em nada. - Acho que ainda está bravo com o que aconteceu aquele dia não é?

— Acha?! - Deu um sorriso cínico, dando alguns passos para se aproximar de mim. Eu andei para trás automaticamente, com um pouco de medo da cara que ele fazia. Bati minhas costas na estante e quase deixei cair alguns frascos, mas não pude me atentar a isso, já que vi as mãos de Shino se erguerem. - Porque eu estaria bravo por ter me beijado naquele dia? Por ter me empurrado depois? Por ter me xingado? - A cada palavra que ele dizia chegava ainda mais perto, começando a bater no meu peito com os punhos fechados de forma dolorida e aumentando o tom de voz. - Por que eu ficaria bravo por ter me batido daquela forma e depois saído correndo? Por ter passado todos esses anos sem ao menos me procurar? Acha que eu guardei rancor depois de tanto tempo?!

— Eu não queria ter feito aquilo. - Eu já segurava seus pulsos impedindo seus socos. E a expressão que ele fez foi um pouco incompreensível para mim. Embora ainda houvesse um pouco de cinismo em seu rosto. Mas eu ainda não havia me explicado. - Eu estava confuso naquela hora e...

— Você estava confuso?! - Ele me iterrompeu puxando seus pulsos com um pouco mais de força e se aproximano ainda mais, mantendo o rosto a centímetros de distância do meu. - Foi você quem se declarou! Você quem me agarrou daquele jeito! Você quem começou a me beijar e eu... - Shino gaguejou, sua voz falhando aos poucos e eu quase conseguia sentir o choro que ele engolia com tanto custo. Baixou o olhar parecendo pensar em algo. - Depois de descobrir que meu amigo de infância... Depois de ter me iludido e.... Depois de eu...

A força que ele fazia com o pulso já havia enfraquecido e sua voz já se tornava um murmúrio desconexo. Ele estava muito mais ferido do que eu imaginei e o tempo com certeza não havia cicatrizado.

— Shino eu... Eu realmente sinto muito. Eu queria ter te encontrado antes. Não sabe como isso tem me incomodado por tanto tempo. - Eu disse soltando um de seus pulsos devagar para ter certeza de que ele não iria recomeçar a agressão. Mas apesar de ter dito aquelas palavras alto e claro o suficiente, ele não pareceu ter escutado. Levei minha mão livre até seu queixo, erguendo seu rosto com cuidado para que ele ao menos olhasse nos meus olhos. - Desculpe Shino, de verdade.

Os olhos dele brilhavam de uma forma diferente, como se segurassem as lágrimas. Aquele olhar inocente e quase infantil, com os traços tão delicados de seu rosto apesar da tensão que parecia manter no maxilar, aquela pele macia que eu sentia com o toque tão limitado das pontas dos dedos. A sensação nostalgica parecia ter voltado, trazendo uma dor amarga no peito e minha barriga revirar.

Que droga de poder era aquele que ele tinha sobre mim afinal?! Como conseguia me atrair nessas três vezes, daquela forma totalmente sem lógica?

Ele pareceu ter escutado o que eu havia dito dessa vez e senti a outra mão relaxar totalmente, enquanto regulava a respiração.

— Reno... - Ele sussurrou em um tom de choro, tirando minha mão de seu queixo.

Shino não deu tempo para que eu dissesse mais alguma coisa, dando um último passo antes de enlaçar meu pescoço e atacar meu lábios de uma forma sedenta, determinada. Eu estava totalmente atônito. Um minuto atrás ele estava me batendo e agora ele me beijava?! Eu ainda precisava explicar meus motivos a ele.

O problema é que eu nunca conseguiria resistir áqueles lábios. Eu sonhei tantas vezes com aquele toque, que embora estivesse totalmente diferente, meu corpo sabia que era aquela pele macia e aquele estranho gosto agridoce que eu procurei em cada homem ou mulher que eu beijei em busca de conforto. Não consegui ficar muito tempo impressionado, levando minhas mãos a sua cintura e fechando os olhos para corresponder ao beijo com tanto vigor quanto ele. Explorava sua boca de forma sedenta, enquanto passeava minhas mãos por seu tronco tentando gravar todas as curvas que lá haviam, percebendo as mudanças que os músculos definidos fizeram em seu corpo. Mas que agora, já não me causava mais o asco de antes.

Shino pressionou sua perna em minha virilha, me fazendo ofegar e meu quadril se projetar para frente automaticamente, como pedindo por mais. Ele sorriu parando o beijo e desceu os lábios pelo meu queixo, até alcançar meu pescoço e abusando dele de forma quase dolorida com os dentes. Meu corpo com certeza já não estava exatamente mais em meu controle, e eu bati forte a cabeça na prateleira quando a joguei para trás. O movimento que Shino fazia com o quadril me fazendo gemer baixo e ter que me apoiar em seus ombros para impedir que meu corpo se contorcesse.

Porém, tão rápido quanto começou, ele se afastou. Abri meus olhos a procura de alguma explicação, vendo ele caminhar e abrir a porta.

— Eu também era hétero, Reno. - Shino disse antes de sair, me deixando completamente confuso e excitado.

Muito excitado.

Continua...