Bitter-sweet taste escrita por Spaild, Anny Taisho


Capítulo 1
Drink up sweet decadence


Notas iniciais do capítulo

A música contida entre a história é da minha grande senhora Edith Piaf. Sim eu amo Piaf.E no final do texto irei por a tradução dos trechos. - Senju.



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A brisa roçou o seu rosto fazendo a barba mover-se levemente. Estava um ótimo dia pra meditação, e com seus filhos entretidos com a Tia Kya ele podia se dedicar um pouco mais aquilo. Mesmo ele tendo autonomia a entrar no mundo espiritual agora com os portais abertos ele preferia entrar pelo modo convencional. Bem, ele preferia tentar aprender a entrar pelo modo convencional. Tinha a obrigação de aprender a fim de ensinar as gerações futuras, não podia deixar as coisas nas mãos jovens de sua filha.

Manter-se em silencio profundo era fácil para ele, respirava levemente levanto o ar para dentro de seu pulmão e o expirando segundos depois, a primeira lição que aprendera com seu Pai, respiração controlada era a chave para o equilíbrio de um bom monge. Seu ouvido apurado captou um movimento de pés. Uma pequena corrida em sua direção. Respirou fundo, se concentrando mais, não podia deixar ninguém o atrapalhar, sentia que estava fazendo alguns avanços.

– Bomba Tenzin! – a voz de Korra entrou por seus ouvidos.

– Não agora.

– Tenzin, agora sim! – sentiu a mão dela o golpear na testa à altura da seta e logo em seguida o empurrar para trás. – Preste atenção, isto é… como diria Bolin. ‘Shaking’!

Abriu um de seus olhos e a observou. A avatar parecia bastante disposta a lhe perturbar durante toda a tarde se ele não lhe desse a devida atenção. Abandonou a postura de lótus, estendendo a mão até a dela retirando-a de sua testa. Ela estava atrapalhando seus chakras.

– Seja breve.

– Breve! – concordou rindo.

– Korra… - ele advertiu com pouca paciência.

– A Chief Beifong vai casar! – ela soltou de uma única vez.

– C-como? – os olhos azuis se abriram abruptamente para encarar o rosto da avatar com mais atenção.

– Com o comandante Bumi!

O ar se espalhou por todo o lado, levantando algumas folhas do local e bagunçando os cabelos castanhos de Korra. E o homem estava de pé, com o rosto vermelho e a boca entreaberta. A avatar tranquilamente ajeitou os cabelos novamente e o encarou com a expressão presunçosa.

– Com Bumi? – Tenzin tinha uma nota estranha em sua voz, como se algo o atrapalhasse.

– Sim, e ouvi também que planejam ter filhos... – ela cruzou os braços. – Sabe, acho que a Beifong quer ter um herdeiro, tanto de dobra quanto de grana. Louco isso né?

Korra jamais escutou a resposta de Tenzin. Como um pé de vento ele deixou o local sobre sua variação do patinete aéreo. A avatar apenas jogou seus ombros para cima, não se importando muito com a reação do senhor “Heartbreaker”.

Com seu planador ele deixou a ilha do templo do ar em direção a Republic City precisava ouvir de Lin o quanto aquilo era um absurdo. Claro que era afinal ela sempre dissera que Bumi era um jovem de espírito livre. Aquilo devia ser apenas um mal entendido criado com a mente jovem e hiperativa de Korra. A Beifong nunca tivera de fato muita paciência para as brincadeiras do filho mais velho de Aang, sendo assim aquilo devia ser uma brincadeira de mal gosto.

Parou por um segundo próximo da porta da Chief respirando fundo para não parecer ansioso ou qualquer outra coisa, precisava agir casualmente, como se estivesse passando apenas para um breve olá. A porta acaso se abriu e dela saiu ninguém menos que Bumi. O sorriso do ex-comandante era quase descarado.

– Tenzin! – ele cumprimentou. – Veio falar com a Linlin?

Os lábios do monge se separaram para ele dizer algo, mas seu irmão o interrompeu.

– Uh-uh, posso pegar um dos acólitos emprestados? Vou à tribo da água do Sul buscar a mãe. E você sabe que ela pode trazer toda a tribo na bagagem...

Novamente sem esperar respostas ele deu um leve soco no ombro do irmão mais novo e o deixou para trás. Cantarolando audivelmente uma música romântica.

Respirou fundo mais uma vez e bateu a porta.

“Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
C'est payé, balayé, oublié,
Je me fous du passé!”

– Entre.

– Tenzin? – O tom dela era de surpresa. – Algum problema?

– Eu ouvi uma coisa e vim averiguar. Acabo de ver... bem, muito embora eu tenha minhas dúvidas sobre, afinal eu conheço…

– “Cut the garbage Tenzin.” – falou já sabendo o que viria a seguir.

– Vai se casar com Bumi?

Era engraçado como aquele homem podia rodear um assunto em um segundo e no outro ser tão direto quanto se é possível. Revirou os olhos, esperava que ele viesse lhe importunar com isso, mas não tão cedo.

– Irei.

A certeza naquela pequena sentença fizera Tenzin piscar algumas vezes assimilando lentamente algo que era tão simples.

– Huh… Posso perguntar o motivo? – a questão chave deixou os lábios dele algum tempo depois.

– Oras Tenzin, os anos estão passando e eu não quero terminar sozinha, sem dizer que alguém na minha posição não pode ter filhos sem estar num relacionamento concreto! Você não é o único que quer perdurar sua Linhagem!

A mão dele voou até a barba, alisando-a com desnecessária força, ele parecia pensar por um momento, evitando a todo custo olhar nos olhos verdes de Lin.

– Eu quis te dar tudo isso Lin, você não quis!

– Não, Tenzin! Você queria que eu largasse tudo para ter filhos seus. – Os olhos verdes rolaram nas orbitas de seus olhos. - O Bumi me ofereceu algo plausível, um relacionamento onde eu não teria de abrir mão dos meus anseios.

– Não seriam meus filhos e sim nossos... Qual o problema com você? Quer me enlouquecer? – livrou-se de alguns fios de barba que saíram na sua mão e se aproximou da mesa da mulher.

– Você achou mesmo que eu passaria a vida sozinha? – empurrou a cadeira um pouco para trás e apoiou suas costas nela. - Eu também quero uma estabilidade! Minha mãe escolheu nunca se prender e nisso não quero ser como ela, Bumi é um bom homem e me aceita como sou!

– Espíritos dêem-me paciência. – suas mãos grandes espalmaram na mesa lustrosa. - Você ouviu o que disse? Eu sempre aceitei você do jeito que é!

– Me aceitou tanto que queria que eu deixasse a academia Beifong e a policia de dobra! – uniu as sobrancelhas ao sentir a vibração das mãos dele a apoiar sobre a mesa. - Quando eu disse que não queria filhos tão cedo simplesmente me deixou e casou semanas depois! Realmente muito receptivo você.

– Concordo que o tom de nossas necessidades eram diferentes, mas podíamos ter entrado em um meio termo.

– Quem casou foi você! Quem me deixou foi você Tenzin!

IncLinou-se para frente deixando claro em seu olhar que não pretendia alongar por muito tempo aquela conversa.

– Você me disse que não queria uma família! – Ele continuou ignorando o olhar dela. - Achei que era uma de suas decisões permanentes. Não pode se casar com Bumi. Ouviu?

– Eu tinha 34 anos, minha mãe havia morrido há pouco tempo e deixado o trabalho de uma vida pra mim! – Sua respiração podia ser notada mesmo sob a armadura. - Eu não podia te dar o que você queria naquele momento e você nem tentou propor esse meio termo… apenas se virou e casou! E eu caso com quem bem entender! E querendo ou não Bumi será meu marido em pouco tempo!

– Eu... hmm... Eu não posso suportar isso! Está errado, totalmente errado. – Andava pela sala, alisando novamente sua barba, visivelmente incomodado. - Lembra o que o avatar disse sobre nós? Que só um poderia fazer o outro plenamente feliz. Bumi não pode lhe dar o que eu posso!

– Pare de fazer isso, Tenzin! – se levantou indo até ele e o segurando pelos ombros. - Você está agindo como se eu tivesse te abandonado! Você é casado e tem uma bela família, por que te incomoda tanto eu tentar ter algo parecido? – o sacudiu por alguns segundos. - Porque só se importa com sua felicidade?

Afastou-se dele, indo até a janela e olhando as pessoas a passar pela cidade, o sino do bonde avisando aos pedestres que estava se aproximando. O sol forte da tarde de verão lançando seus raios até os desavisados. Tudo parecia tão bem visto de fora.

– Nosso tempo passou e hoje quem me dará uma família é o Bumi!

– Inferno Lin! – Foi a vez de ele a segurar pelos braços. - Porque não suporto ver a mulher que eu realmente amo se aliar com meu irmão!

– Você! Você! Você! Já notou que tudo é sobre você? O que você precisava, o que você achou, o que você sente, o que você acha que devo fazer! – se soltou das mãos dele. - Inferno pra você! Eu te amava e tive que te ver casando com aquela mulher, saber de cada filho seu que nascia! Você fala mal do seu irmão, mas ele quer minha felicidade! Você é só um egoísta escondido atrás dessa fachada de monge!

– Então seja feliz. – soltou com pouca delicadeza. - Case-se com Bumi e seja realmente feliz. Não tenho mais direito de lhe pedir nada não é?

– Finalmente está sendo sensato! – Cruzara os braços atrás de suas costas, assumindo a postura rígida da renomada chefe de polícia. - Espero que leve sua esposa e filhos ao casamento e que logo eu de primos a eles!

Tenzin tentou manter a postura e a expressão contida no seu rosto. De olhos fechados ele respirou fundo entoando um leve mantra em sua mente, tentando parecer alheio a seus verdadeiros sentimentos.

– Tentarei conter Meelo durante a cerimônia... – expirou o ar de seus pulmões encarando diretamente os olhos de Lin. - Eu... Eu preciso voltar para casa.

– Exatamente, volte pra sua família, eles precisam de você! Obrigada por finalmente entender, Tenzin! Nosso tempo passou e agora cada um terá uma nova vida!

– Espero que você realmente possa fazer Bumi feliz. Porque eu sei que ele pode fazê-la uma mulher plena, mas... apenas não magoe meu irmão.

Para Lin era fácil ler aquele homem, ela sabia exatamente que ele não queria dizer nada daquilo, porém Tenzin sempre soube admitir sua derrota.

– Eu jamais faria isso! Demorei anos pra aceitar o Bumi porque só hoje poderia retribuí-lo!

– Então sejam felizes. – Deu alguns passos e parou. - E sorria Lin, uma noiva deve sorrir.

– Você sabe que eu nunca fui de sorrir, Tenzin!

– Mas deve, afinal será o dia mais feliz de sua vida certo? – perguntou já antecipando a resposta, afinal ele conhecia aquela mulher muito bem.

– Será o melhor dia! Não se preocupe!

– Será um dia inesquecível sem dúvida. Boa tarde Lin. – deixou a sala dela sem a olhar novamente.

A porta bateu e Lin sentou-se com as mãos ao redor de seu rosto, havia esperado anos atrás que ele entrasse daquela forma e lhe dissesse que ainda a ama, mas estava tarde para isso agora, ela havia se decidido.

“Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu,
Mes chagrins, mes plaisirs,
Je n'ai plus besoin d'eux!”

x-x-x

A cabeça de Tenzin latejava, tudo aquilo era demais para assimilar. Sabia perfeitamente que não podia interferir naquele casamento, porque ele mesmo havia se casado, mas Lin sempre estivera lá, como se o esperasse todos estes anos. E agora ele descobre que na verdade seu irmão estivera trabalhando neste relacionamento, dia após dia.

Pousou no templo e sua cabeça parecia um sino que ressoava a voz de Lin dizendo que o tempo deles passara. E naquele momento tudo o que queria era ficar sozinho com seus pensamentos para colocar as coisas no lugar, mas o som do riso de suas crianças lhe informara que ele não teria nada do que queria.

Como se não bastasse lá estava Bumi, jogado no chão, brincando com três de seus filhos. Não pode evitar pensar em seu irmão sendo Pai, brincando com os próprios filhos de olhos verdes e pele clara. Não pode evitar também imaginar o belo sorriso de Lin ao beijar o rosto do marido. E como uma avalanche, um mundo de pensamentos que preferia evitar ameaçavam soterrá-lo.

– Pai! – Jinora chamou, tomando-o pela mão e o puxando para dentro. – Já soube a novidade do Tio Bumi? Ele vai se casar com a Chief Beifong.

Estava na hora da segunda dose de sua tortura.

– Tio Bumi, vai mesmo casar com a Beifong? – Ikki subiu nas costas do ex-comandante puxando os cabelos revoltosos dele.

– Sim sim, a melhor mulher para se casar em todo este mundo! – o tom era de puro orgulho.

– Eeei Tio! – Meelo deu um forte chute no joelho de Bumi. - Eu ia me casar com ela!

– Desculpe garoto, mas o tio tem esperado isso por toda a vida! Vai ter que arrumar uma ‘estilo Beifong’ da sua idade!

O som dos risos de Bumi eram como espinhos em seu ouvido. De todos os homens que havia nas quatro nações Lin precisava escolher justamente seu irmão? Oh sim, ela precisava.

Meelo fez sua pior careta como se aquilo ofendesse qualquer pessoa que a visse. Bumi implicante o empurrou com a mão grande. Irritado o menino mordeu e saiu correndo levando consigo as duas irmãs a brigarem por causa da má criação.

– Bumi, ele é apenas uma criança.

– Não seja chato, Tenzin! Eu sei disso, por isso dou corda! – olhou para a marca dos dentes em sua mão e riu. - Sabe estou louco pra eu e a Linlin termos nosso filho! Eu vou ser o melhor pai!

– O mais relapso certamente. – o monge não pode evitar o tom de ciúmes. - Sabe cuidar de uma criança?

– Ninguém nasce sabendo, você não nasceu sabendo dobrar ar, mas aprendeu! – Levantou-se, ficando a altura de Tenzin. - Não me subestime, irmãozinho, você não é o único que pode ter uma família!

– Eu não.. huh... Não disse isso Bumi! A Lin não é fácil, ela certamente não vai aceitar um descuido seu.

– Eu sei que não, mas com a Linlin eu lido! – ergueu uma sobrancelha e um sorriso de canto, denotando a forma como ele gostaria de lidar com ela. - E te garanto que jamais cometeria um descuido com um filho meu!

Tenzin desviou o olhar, não queria ter mais o que pensar sobre aquele casal que o estava incomodando além da conta.

– Pare de chamá-la assim Bumi, não somos mais crianças!

– Pare você de me dizer o que fazer! – Assumiu seu raro tom de seriedade. - Acha que por acaso estou brincando? Eu amo a Lin, Tenzin, esperei anos pela minha chance de fazê-la feliz! Então pare de tentar me colocar duvidas, você tem sua vida e eu e a Linlin teremos a nossa! Teve sua chance!

– Devagar! – Ergueu as mãos em rendição. - Não estamos brigando Bumi. Só acho... Infantil esse apelido, e sei que a Lin não gosta.

– Não tente usar essa sua coisa de monge bonzinho pra cima de mim! Passei anos vendo você casado e ali sem nunca deixar morrer seu passado! – a ponta do dedo do ex-comandante quase tocava a ponta do nariz do dobrador de ar. - Só que isso mudou, Lin resolveu se dar outra chance… Use um pouco da sabedoria que nosso pai gastou a vida te ensinando e fique feliz por nos! Ou pelos finja pra que sua mulher não vire motivo de fofoca como a pobre esposa! Vou indo buscar a mãe, depois volto pra brincar com as crianças!

– Quer mesmo fazer disso uma briga não é? – ele puxou sua capa contra o corpo, como uma espécie de autodefesa. - Eu dou minha bênção a vocês! Sejam felizes, já desejei o mesmo a sua futura esposa.

– Obrigado, irmãozinho! Seremos mesmo muito felizes! Eu sou muito sortudo por poder casar com a mulher que amo!

Tenzin observou por alguns segundos do irmão mais velho se afastar, e novamente suspirou. Aquele casamento iria lhe causar muitas dores de cabeça ainda.

– Sim, você nem imagina a sorte que tem.

x-x-x

Teria deixado aquela tarefa para Bumi, mas ele precisara ir buscar a mãe no pólo sul. Acabara então, sobrando para ela entregar parte do convite do seu casamento. E o pior era a expressão de descrença que as pessoas lhe direcionavam antes de lhe dar os parabéns.

Na ilha do templo do ar ela esperava que um dos acólitos chamasse Tenzin. Ela preferia entregar nas mãos deles por dois motivos. Primeiro, ela e Pema não se davam muito bem. Segundo, puro capricho.

– Tenzin não está. – a voz de Pema a fez virar para encarar a mulher com uma criança em seu colo.

Lin encarou Pema por algum tempo antes de respirar fundo. Preferia uma semana de trabalho a meio minuto de conversa com aquela mulher. Pema não suportava o fato de que Lin e Tenzin tiveram um romance no passado.

– Boa tarde, Pema, posso entrar?

A mulher deu um passo para o lado e com a mão ofereceu a hospitalidade dos nômades do ar.

– Algum assunto importante Chief Beifong?

– Não vou tomar muito de seu tempo, apenas vim trazer o convite de meu casamento, Bumi faria isso, mas teve de buscar a mãe!

Ofereceu a jovem mulher um envelope com o nobre brasão da familia Beifong em finas Linhas douradas. Observou a confusão percorrer os olhos dela e por um breve momento deu um sorriso de canto de lábios.

– Casamento? - segurou um riso. - Vai se casar Beifong? Devo lhe dar os parabéns então.

Sentiu-se irritada com aquele risinho, era este o grande motivo pelo qual não suportava aquela mulher. A superioridade que exalava por ter conseguido segurar Tenzin por todos estes anos.

– Sim, Pema, eu e Bumi nos casamos em seis semanas! Pensei que Tenzin já tivesse lhe dito. – descreveu alguns círculos no ar com a mão. - Fiz questão da presença de vocês. E obrigada.

O meio sorriso esvaneceu deixando completamente o rosto de Pema. Tenzin era tão previsível, ele ainda não tinha dito nada para a mulher.

– Não, ele não me disse nada. Tenzin sabia mesmo sobre isto?

– Claro que sim, achou mesmo que Bumi ou a hiperativa avatar deixariam seu marido longe de uma noticia como essa? Já até recebi minha cota de conselhos do monge!

– Você está dizendo que meu marido sabia disso e que além de não me contar foi atrás de você?

A voz dela soou aos ouvidos sensíveis de Lin uma nota fora do comum.

– Eu apenas disse que ele foi informado e deu conselhos a mim e provavelmente ao irmão! Se não me engano, ate seus filhos sabem, muito me espanta que tenha sido pega de surpresa.

– Você sabe, tenho muito que fazer e pouco tempo para assuntos... Menores. - Ajeitou o filho Rohan em seu colo com um sorriso presunçoso.

– Oh claro uma casa e tantas crianças devem muito ocupá-la! Tanto que ouvir o que seus filhos ou cunhado dizem torna-se desnecessário, enfim, espero todos vocês na cerimônia e recepção! – deu as costas à mulher. Já tinha ouvido a sua cota das tagarelices de Pema. - Já vou indo, tenho outros convites a entregar, uma cidade e uma academia pra dirigir! Você sabe como essa vida moderna é atribulada… ou não, mas não importa! Até o casamento, Pema.

Com o silencio, Lin achou que ela não retrucaria mais, porém Pema nunca se cansava.

– Faremos o possível para estarmos presentes.

Caminhava tranquilamente em direção a porta, as mão sempre cruzadas a suas costas.

– Bem, perder o casamento do irmão com certeza não é algo que Tenzin faria, então espero que suas muitas atribuições domesticas não o obriguem a ir sozinho com os filhos.

x-x-x

Pema estava sentada em frente ao espelho, penteando seus cabelos quando Tenzin finalmente voltara para casa. Ela sorriu para ele como sempre fazia.

– Recebemos uma ilustre visita hoje, Tenzin.

– Minha mãe já chegou? – indagou enquanto trocava-se.

– Não, estou falando da Chief Beifong! Ela veio cordialmente nos entregar isso…

Levantou-se carregando o convite entre seus dedos e o entregou ao marido com as mãos tremendo levemente.

– Oh. - Pegou o convite e o abriu percorrendo os olhos de maneira rápida. - Então era sobre isto.

– Lin comentou que já sabia e até as crianças… Aparentemente só eu não sabia de nada. – tentou usar um tom casual, como se estivessem conversando sobre coisas triviais. - Mas então que conselhos deu aquela… mulher?

Devolveu o bonito convite novamente as mãos de sua mulher.

– Pensei que houvesse comentado com você. – Se o perguntassem ele certamente diria que preferia evitar aquela conversa. - Conselhos?

– Não, Tenzin, ninguém nessa casa se dignou a me dizer! Beifong comentou que você tinha até dado conselhos a ela quando soube do casamento! O que de tão importante tinha a dizer a ela agora que finalmente desencalhou!

– Não seja cruel Pema. Lin não estava encalhada. - sentou-se na cama. - Eu, bem eu apenas fui... Desejar felicidades.

– Hum sei… - em sua voz havia o claro tom de desconfiança - Bem… acho que teremos que ir nesse casamento! - sentou-se do seu lado da cama - Vamos ver se Bumi toma jeito agora! Se bem que essa escolha dele… Espíritos… longe de mim ir contra a felicidade de um casal… Mas a Beifong não é o tipo de mulher que imagino casada tendo todos aqueles compromissos e também… - propositalmente deixara a frase em aberto para aguçar a curiosidade de seu marido.

Se Pema soubesse o que se passava com os sentimentos daquele homem, certamente ela não colocaria o dedo naquela ferida. Mas ela sentia-se muito confiante sobre seu casamento.

As vezes Tenzin era bom em esconder as coisas. E conseguira manter bem uma máscara de pouco caso, mas mordera muito facilmente a isca jogada.

– Sim, teremos de ir afinal é o casamento do meu irmão. - encarou a mulher. - E também...?

Pema sorriu internamente, não que fosse uma mulher ruim, era seu que aquela mulher sempre tinha tudo. Estava cansada de ver o riso de superioridade sob a sombra daquele olhar profundo de Lin.

– Olha, não me interprete mal, querido, é só que… Alem do fato dela ser toda independente e cheia de outras prioridade e não quero criticar que ela é mais velha do que eu… - percorreu os dedos sobre o dorso da mão de seu marido. - Mas… Já pensou que sendo filho do avatar Aang, Bumi também pode ter um filho airbender? E se eu lembro bem ouvi uma vez Kya comentando que casos de cegueira não são incomuns no clã Beifong! Já imaginou se isso acontece? Seria terrível… se bem que temos quatro filhos que não deixara a dobra de ar morrer!

O dobrador uniu as sobrancelhas enrugando a testa e deformando a tatuagem em forma de seta.

– Lin gerar uma criança que dobre ar? Uma criança cega que dobre o ar? - estava visivelmente abalado, não havia pensado na possibilidade. - Pema o que... Porque está dizendo isso?

Sentiu a mão dela a acariciar a sua como se estivesse falando sobre coisas que os envolvia diretamente. A ambos e não somente a ele. Pensar nesta possibilidade estava o deixando com os nervos a flor da pele. Estava perdendo Lin definitivamente, isso era muito mesquinho sim, mas ele não conseguira ainda se desvencilhar totalmente das recordações boas que ela lhe deixara.

– Oras Tenzin, imagino que eles pretendam ter filhos! Chief Beifong provavelmente não quer que o legado Beifong saia da família… É normal que tenham filhos! E sendo Bumi tão filho de um airbender quanto você, é uma possibilidade! Eu só temo que a genética dela possa gerar uma criança imperfeita, principalmente por já não ser nenhuma mocinha!

No meio daquela conversa, deixara de prestar atenção em com quem discutia a vida do irmão.

– Bumi certamente não se importa se pode gerar ou não um filho dobrador, mas conhecendo Lin como conheço, ela certamente preferiria um earthbender. - Tenzin falava sem mostrar sinais de que pararia. - Toph era cega e teve uma filha perfeita, certamente este pode ser o caso, mas não acho que eles irão se importar muito. E Lin não é uma mulher velha, sabe ela está bem...

Finalmente notara que estava tagarelando sobre Lin com sua esposa. E antes que pudesse complicar a sua vida falando o quanto a Chief ainda estava em boa forma ele decidiu encerrar aquele pequeno monólogo.

Pema respirou fundo e mordeu o lábio inferior, notava a empolgação de Tenzin e o calor com o qual ele falava daquela mulher. Por sorte a Beifong se casaria e ela finalmente iria se ver livre da sombra de Lin.

– Eu só constatei coisas que aparentemente ninguém pensou. Minha opinião é que eles não deveriam pensar em filhos, imagine como criariam essas crianças… Sem dizer os riscos… Mas isso não é da nossa conta, querido! Lin e Bumi são adultos e donos da própria vida! – Um leve som de choro invadia o quarto do casal. - Pode ir ver isso? Tive um dia tão cansativo! Acho que colocarei Jinora pra ir a cidade comprar o presente pro casamento!

Sorriu para o marido e deitou-se na cama que dividiam.

– Por mim nem se casariam. - ele disse em um tom baixo ao se levantar para ir ver o filho mais novo.

x-x-x

“Balayé les amours
Avec leurs tremolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...”

Passara muito tempo remoendo sobre o que Pema lhe dissera, e como se fosse com ele o medo de uma criança com uma deficiência o incomodava. Certamente Toph nunca tivera problemas com aquilo, mas ela era uma dobradora de terra excepcional, e se a criança fosse apenas uma criança comum, sem dobras. Ou uma dobradora de ar, ou água? Nenhum daqueles elementos podia ser usado como Toph usava a terra e aquilo estava deixando o monge do ar sem dormir. Semanas depois ele decidira que conversar com Lin era o melhor a se fazer naquele momento e com seu planador ele voara da ilha do ar direto para Republic City. Girou o corpo no ar e jogou-se janela a dentro, como fizera muitas outras vezes no passado. Estava dentro do apartamento da Chief Beifong.

– Lin, precisamos conversar. - chamou parado na sala.

A mulher olhava o vestido em seu corpo. Um longo e justo vestido em um tom creme, ela odiava aquelas coisas, principalmente as perolas que ornamentavam o busto, suspirou e pensou em Bumi. Ele havia cedido a respeito de um pequeno casamento apenas entre família e alguns amigos. Não lhe custava nada usar aquele vestido fresco apenas para agradar o futuro marido. Se assustou com o barulho repentino, mas a voz de Tenzin veio em seguida.

– Tenzin… - suspirou entre aliviada e irritada - Isso não são modos de entrar na casa dos outros, estou ocupada!

Já havia feito o caminho até o quarto dela. Tenzin poderia andar de olhos fechados naquela casa e encontrar ainda cada uma das coisas em seus lugares. Parou a porta do quarto.

– Não da pra esperar, precisamos conversar... – fechou os olhos apoiando as costas na parede ao lado da porta.

– Oh céus… - olhou-se no espelho, não receberia ele usando seu vestido de noiva. - Tudo bem! Dê-me um minuto!

Percorreu a mão pelo rosto, sua cabeça fervilhando de pensamentos. A casa de Lin tinha o cheiro dela, era como estar mergulhado em lembranças que ele lutara, mas nunca conseguira afastar.

– Precisa de alguma ajuda? - perguntou depois de alguns minutos de espera.

– Não! Já terminei aqui, pode entrar. – O melhor que pode fazer com a pressa do homem foi vestir um roupão. E quando ele entrou com os passos leves e quase imperceptíveis Lin colocava o vestido na caixa. - Só me deixe guardar isso corretamente! Bumi pediu q eu usasse algo tradicional…

Percorreu os olhos ao redor, o quarto continuava basicamente o mesmo. A cama de casal, a penteadeira com alguns poucos produtos femininos, a foto de Toph com uma Lin ainda criança. O tempo não parecia ter passado ali dentro daquelas paredes.

– Vai ficar absolutamente Linda em um vestido de noiva. - suspirou.

Tampou a caixa com o vestido e a colocou sobre uma escrivaninha que havia no quarto.

– Não veio aqui pra discutir moda, - seu tom era entediado. – O que é tão importante?

O dobrador viu que ela parecia desconfortável quando ajeitou em seu corpo o roupão evitando que ele vise algum pedaço mais revelador de pele. Quase riu. Ela agia como se ele não conhecesse cada pequena cicatriz que continha sobre a pele clara dela.

– Há uma coisa que vem me incomodando...

– O que Tenzin? Agradeceria se fosse breve, tenho que aproveitar todo meu tempo livre…

Tomou em suas mãos uma prancheta onde haviam diversas folhas do cronograma do seu casamento.

– Pode por um momento deixar isso de lado e prestar atenção Lin? - pegou a prancheta das mãos dela colocando fora do alcance da mulher. – Estou sério.

– Seja breve! – o encarou diretamente nos olhos.

– Venha, sente-se comigo. – a mão dela ainda era tão quente quando ele se lembrava.

– Pare de rodeios, Tenzin, não disse que era importante?

Lin odiava a protelação que aquele homem arrumava quando tinha algo a dizer.

– Você e Bumi não podem ter um filho!

Se o assunto não fosse sério Lin teria gargalhado, mas se engasgou e arregalou os olhos Tenzin estava perdendo a sanidade.

– M-mas o que é isso? A-acho que esta confuso, Tenzin!

– Não Lin, me escute... Não posso impedir que tenha um filho, mas você já pensou nas possibilidades?

– Possibilidades? – ele fazia menos sentido a cada nova palavra. - Bem é provável que seja um menino ou menina! Você deve entender bem do assunto tendo tantos filhos!

– Não sobre isto Lin, sobre a saúde física da criança. – Apertou a mão quente entre as suas.

– Olha, sei que não sou tão jovem. – puxou sua mão já irritada com o dobrador. - Mas estive com Katara e Kya e elas me garantiram que sou saudável o suficiente! Nada pode nos impedir de ter uma família completa!

– Lin, - suspirou - Não tem medo que a deficiência de Toph passe pra um de seus filhos?

A mulher segurou o ar por alguns segundos e depois suspirou. Agora sim entendia o motivo daquela conversa.

– Bem, minha mãe não foi o primeiro caso de cegueira da família… Estou ciente de que pode acontecer e Bumi também! Mas minha mãe foi a prova de que ser cega não define nada! Se acontecer, faremos o melhor para criar essa criança! Não esperava ouvir isso logo de você que já quis ter filhos comigo!

Levantou a mão levando-a até o rosto e tocou levemente com as pontas de seus dedos, acariciou a pele de alabastro e invadiu os cabelos sedosos.

– Isto era porque eu poderia cuidar da criança, me perdoe, mas não pude deixar isso de lado. – tentou sorrir. - Que bom que não tem medo...

A maneira como Tenzin a cercava quase a entorpecia. Mas, a voz de Bumi enchia seus ouvidos sempre que sua mente começava a se nublar. Virou o rosto irritada.

– Acha que sem você eu não poderia lidar com essa possibilidade? Francamente Tenzin, eu nasci e fui criada por uma mulher cega, sei melhor do que qualquer um as limitações ou não disso! Pare de tentar achar empecilhos para o meu casamento!

– Porque o Bumi? E seja sincera ao menos uma vez na sua vida. Porque justamente meu irmão?

– Por que… Por que foi ate ele que a vida me levou! Nós tivemos uma longa historia Tenzin, mas cada um seguiu seu rumo. Você casou, teve filhos… E eu levei o legado Beifong, só que eu também quero uma família! – Fechou os olhos respirando fundo, sentia o coração bater forte contra seu peito. - Então o Bumi ressurgiu e passando tempo com ele e tendo em vista que o conheço toda vida não acho outra pessoa melhor! Pode não acreditar, mas eu realmente gosto dele!

– Você ama o meu irmão? Ama como homem? Como um dia me amou?

– Eu… Eu amo o Bumi. Não como um dia te amei, porque não se ama duas pessoas da mesma maneira! – estendeu a mão para o tocar, mas desistiu logo em seguida. - Muito tempo passou… nem mesmo hoje, eu poderia te amar como quando éramos jovens!

Segurou-a pelo rosto e cintura, apertando sua mão forte na curva do corpo. Sentia que ela tremia puxou para um beijo parando a centímetros dos lábios se tocarem. E esperou, permitindo que ela tivesse opção.

– Pela ultima vez, Tenzin…

Os olhos dela brilharam levemente antes de se fecharem. Os lábios se tocaram muitos anos depois. A sensação ainda era a mesma, ela roubava todo o ar dos pulmões de Tenzin. O beijo durou apenas alguns segundos e ele se afastou, como se Lin o tivesse obrigado a beijá-la.

– Poderia lhe dizer uma ultima coisa antes de a deixar em paz?

Lin tentava acalmar seu coração. Podia negar para ele, mas ela sabia que ainda havia muita tensão entre eles.

– Diga!

Preferiu ficar de costas, pelo único motivo de ele nunca resistir a ela quando via os lábios vermelhos de um beijo intenso.

– Não teve um único dia de minha vida no qual eu não pensasse em você. Eu vivi todo este tempo tentando matar este amor para perceber que estava errado. Que nunca deveria ter a deixado e agora que eu sei que vai ser de outro eu me vi desesperado. Porque ainda é meu sonho ter um filho com você Lin. Porque eu mesmo depois de tudo ainda te amo.

– A-Agora é tarde demais pra nós! E-eu também te amei todos esses anos, mas nosso tempo se foi! Agora vá, Kya está pra chegar e eu não quero que ela entenda errado!

Lin havia esperado todo o tempo até ali e agora, Tenzin não podia mais revogar os seus direitos. Não agora que ela se permitira se aproximar de outro homem.

Enfiou a mão dentro de sua túnica e pegou algo em sua mão deixando em seguida sobre o criado mudo.

–Felicidades... - e saiu do mesmo jeito que entrara. Deixando apenas o anel que ele guardou para ela.

A porta do apartamento abriu pouco tempo depois que Tenzin havia saído. Os risos de Kya invadiam todo o local. E em seguida a porta se abriu como ela falando algo sobre um rapaz que estivera paquerando.

– O que é isso Lin? – ela pegou o anel entre os dedos, ela conhecia aquele anel, ajudara Tenzin o escolher.

– Kya… eu… hum… - sentou-se na cama oferecendo a ela um lugar. - Quer mesmo saber?

– Okay manda.

A dobradora de água sentou-se esperando ser esclarecida sobre o surgimento daquele anel.

– Por favor, não pense bobagens!

“Corta essa Lin, posso imaginar sozinha, mas vou te dar o crédito.” – pensou ao ver os olhos verdes da futura cunhada.

– Foi só seu irmão vindo atrás de mim com uma conversa de que se eu tiver filhos pode ser perigoso… E ai ele veio de novo me fazendo perguntas, falando do passado…

– Mas ele... Oh... Você diz Tenzin. – Preferiu fazer-se de desentendida. Kya aprendera com a mãe que devia deixar as pessoas caírem em suas próprias contradições. Se Lin tivesse feito algo ela perceberia. - E você? Digo vai desistir do casamento?

– Não, não mesmo, Kya! Não decidi me casar com Bumi sem muito ponderar antes! O Tenzin é passado, essa conversa foi definitiva… Acredite em mim…

Observou a mulher a sua frente. Kya conhecia bem os resquícios de um beijo. A barba dos homens sempre deixava o queixo de boa parte das mulheres irritado. Exatamente como o de Lin estava.

– Hmm... Mas foi só isso não é? Vocês conversaram, ele levou o fora e saiu.

Por mais que fossem amigas de uma vida, Lin sabia q Kya entenderia errado, e por mais que fosse uma mulher que odiasse mentiras, teve de fazê-lo.

– Claro, Kya! Seu irmão finalmente entendeu que nosso tempo terminou! Terminou quando ele se casou em primeiro lugar!

Kya quase riu, mas deixou estar. Conhecia Lin bem o suficiente para saber que ela estava sendo sincera sobre ter deixado Tenzin no passado.

– Certo. Se ele começar ser muito... Persuasivo, eu posso dar um jeito nele. Quem ele pensa que é? Já falei isso com ele uma vez. Pra te deixar em paz. Tenzin perdeu o tempo dele.

– Acho que ele entendeu o recado. Eu vou me casar com o irmão dele e é o que eu quero! Você sabe bem que eu jamais tomaria essa decisão se não estivesse certa do que sinto!

O sorriso de Kya surgiu instantaneamente ao ouvir aquilo. Quando Tenzin terminara com Lin ela quase o espancou, porque sabia que ele iria se arrepender um dia. E estava certa afinal, mas quando um não quer dois não brigam. E Lin era tão cabeça dura que quando decidia algo não costumava voltar atrás.

– Confio em você Lin, sei que nunca magoaria Bumi. Mas me preocupo que o cabeça de vento possa fazer algo.

– Tenzin não fará nada, sabe que qualquer ação vai magoar a esposa dele, o Bumi e a mim. Se fizer alguma idiotice, não será o Tenzin que conheci e não terá amizade de longa data que evite que eu mesma faça algo contra!

– Bem, e o que vai fazer com esse anel? Sabe que anel é esse não é?

Rodava o anel entre os dedos. Lembrava-se bem dos sentimentos que aquele anel representava. Seria o anel de noivado dos dois, mas algo desencadeou uma briga e com ela o fim do relacionamento.

– Fique com ele, seu irmão não o aceitará de volta e eu não quero e nem posso ficar com ele!

– Ele comprou isso pra você no passado. – Jogou-o para Lin. – Não quero isso, mas acho que deve guardar, porque ele escolheu especialmente pra você.

Habilidosamente ela o pegou ainda no ar. Revirando os olhos ao ver a pedra azul que adornava o anel.

– Não posso ficar com o isso! Seria como estar dando esperanças! O que diria a Bumi? Tenzin não é qualquer um do meu passado!

– Não vou ficar com o seu pedido de noivado Lin, se vira.

A dobradora de terra já parecia ter esgotado toda a sua paciência, mas a cara de brava que Lin fazia não assustava em nada a mulher mais velha.

– Eu vou ficar com isso! Mas só pra não gerar mais conflito!

Jogou o anel dentro de uma caixa onde guardava algumas pequenas lembranças do passado. Coisas que ganhara de sua mãe, e de outras pessoas importantes, como o avatar Aang ou sua mulher. Os olhos dela percorreram por um desenho que Sokka lhe dera certa vez, e muitas outras coisas que a lembrava do tempo com Tenzin.

– Satisfeita, Kya?

– Eu não tenho nada com isso querida o ex é seu, o problema é igualmente seu.

– Olha, vai me ajudar com essas coisas da festa ou não? Sabe que não sei o que fazer… E eu tenho muita coisa pra organizar!

A gargalhada sonora deixou os lábios da mulher mais velha. Deitada na cama ela ria da expressão irritada no rosto de Lin.

– Adoro ver a sua cara quando não sabe o que fazer... Isso é tão raro. Lin Beifong sempre sabe tudo. - riu.

– Essa é a única que tenho! Pare de rir! Tem muita coisa pra organizar e não estou vendo utilidade na sua presença, comece a fazer algo!

– Acalme-se Linlin... - implicou. - quando vamos pra sua despedida de solteira?

– O-O que?

– Despedida de solteira querida, a ultima vez que poderá fazer algo impulsivo em sua vida. – Kya se sentou na cama. – Okay. Será a primeira e última vez que poderá fazer algo impulsivo em sua vida. E já está ate de roupão! Vamos Lin... Preciso de uma distração máscula.

A expressão de Kya denotava que não adiantaria em nada que Lin gastasse seu verbo. Ela estava decidida a ter aquela diversão.

– Não posso sair de casa assim! Eu tenho uma reputação!

– Estimada Chief Beifong. Se vista e me leve para a farra.

– Oh… Eu te chamo pra trabalhar e tudo o que quer é farra! – reclamou. Se seu Pai estivesse aqui ele certamente iria lhe deixar de castigo. - Me dê um minuto… E se você contar isso a alguém, eu vou negar!

Quando Kya ria os maus espíritos eram repelidos, e a sensação de culpa abandonou logo o peito de Lin. Afinal ela não fizera nada de errado.

– Prefere receber os 'senhores do fogo' aqui?

– Oh… Eu nem quero descobrir o que isso quer dizer, mas certamente não os quero em minha casa!

– São deliciosamente quentes. – Implicou cutucando as costelas de Lin. – Vai adorar.

– Só espero que isso não me faça ser deixada no altar!

– Querida os senhores do fogo são pra mim, você terá... Bumi para o resto de sua vida contente-se.

– Estou perfeitamente satisfeita! Não se preocupe!

– Não sei o que viu naquela barriga de oito meses, mas vamos vou precisar de você pra me trazer de volta.

Revirou os olhos ao ouvir a irmã comentar sobre o físico um pouco fora de forma de Bumi.

– Vamos, Kya! Eu te trarei de volta em segurança… Afinal, preciso de você viva e presente!

– Os meninos me esperam.

x-x-x

Não conhecia o nervosismo até aquele instante, Lin sentia o estomago fundo e oco, e um frio na base de sua nuca. Se sua mãe estivesse ali certamente estaria rindo ou implicando sobre alguma coisa. Mas, mesmo assim desejou que ela pudesse repartir o momento com sua família.

Foi uma cerimônia bem simples para os padrões de excentricidade do noivo, mas contando que a noiva era a renomada Chief Beifong as coisas estavam até fora do padrão sóbrio que todos conheciam ser o estilo de Lin.

O vestido destoava totalmente do gosto de Lin. Houve até quem pensou que ela se casaria com a farda de metal. E Korra mal pode conter o espanto ao ver o quanto Beifong era na verdade uma mulher bonita.

Katara presidiu o casamento com um brilho único no olhar. Totalmente satisfeita de ver o filho mais velho finalmente encontrar a sua metade. Bumi não esperou o final do pequeno discurso da mãe e logo beijou sua mulher nos lábios.

– Dá pra acreditar nessa cena? – Perguntou Bolin ao cutucar Korra.

– Oi? Desculpe perdi algo? Eu estava vomitando. – tripudiou.

– Cale a boca vocês dois. Beifong não é um monstro Korra. – Asami secava o canto de seus olhos com um lenço bordado. – Ela está absolutamente Linda, o Comandante Bumi tem sorte.

– Tres coisas Asami; Surreal, desnecessário e... – Korra contava em seus dedos.

– Inacreditável?

– Sim, inacreditável. Obrigada Bolin.

– A propósito, quando vamos comer? – o rapaz segurava o estomago enquanto os outros tentavam conter o riso.

Uma festa simples ocorria no jardim da inabitada mansão Beifong. Kya depois de se divertir com os rapazes da nação do fogo que se auto intitulavam “senhores do fogo” levara a sério o trabalho de ajudar a organizar tudo. E agora inúmeras lanternas de papel davam uma luz bruxuleante ao ambiente. Um perfeito clima romântico.

Bumi apertou a mão dentro da sua e sorriu para ela.

– Já disse que está Linda?

– Umas seis ou sete vezes… - sorriu levemente - Mas elogios são sempre bons! Gostou da festa? Porque se tiver reclamações vá ate sua irmã, segundo ela minhas idéias eram chatas!

– Não tenho tempo de prestar atenção na festa. - beijou a mão dela. - não com você do lado. E não estou reclamando.

– Oh Bumi… - deu uma risada leve - Devia aproveitar a festa, ela só acontecera hoje, entretanto nos estaremos juntos o resto da vida!

– Quem diria que eu ouviria Lin Beifong falar assim. - ficou de pé chamando a atenção das pessoas. - Quem tem a mulher mais Linda de Republic City? Sim o Bumi aqui! - as pessoas riam e aplaudiam.

Lin rolou os olhos, em outros tempos se aborreceria com essa atitude, mas hoje estava feliz. Feliz de um jeito que fazia anos não sentir. - sente-se Bumi! Todos já entenderam! Venha, vamos aproveitar nossa festa juntos!

– Tem vergonha de mim Linlin? - brincou se fingindo de ofendido.

– Seria estranho assumir um contrato social e juntar minha vida com alguém do qual me envergonho! - deu um beijo na lateral do rosto dele .

Conhecia Lin e sabia que era raro ela demonstrar publicamente seu afeto por alguém, estava prestes a retribuir o beijo quando sentiu um forte golpe em sua canela e viu Meelo saindo debaixo da mesa.

– Esse moleque me paga! - levantou-se e correu em direção o sobrinho.

Lin ficou olhando a cena, não entendera bem o que estava acontecendo, mas riu. Porque certas coisas jamais mudariam. Bumi sempre seria aquele jovem hiperativo.

– Alguém quer mais bebida?

– Acho melhor você beber Lin, encher a cara. Ou não vai conseguir dormir essa noite. - Kya se aproximou com uma taça na mão.

– Eu sempre durmo bem, Kya! - riu de lado, aquele sorriso enigmático que escondia algo mais.

– Não mais a partir de hoje. Bumi ronca! - piscou para a cunhada.

– Como se eu não soubesse, Kya. - bebericou seu vinho.

– Lin você é terrível, roubou a inocência de Bumi antes de se casar. - riu da expressão da Chief. - Por favor, não me prenda!

– Oh Kya, inocência? Estamos falando do mesmo homem? - as duas riram - Eu precisava testar, afinal, não pretendo casar outra vez… Uma vez por vida é o suficiente pra mim!

– Quem diria que Beifong gosta de testar seus homens.

A noiva revirou os olhos com os comentários maliciosos.

– Tenzin já veio cumprimentar?

– Não, nem ele, nem Pema se aproximaram! Eu disse que ele não faria nada!

– Oh querida, aposte que ele virá, Tenzin não tira os olhos de você. – apontou para um canto onde estavam Pema e Tenzin. – Só a mulher dele não vê isso.

– Sou uma mulher casada perante a lei, assim como ele é um homem casado! Essa epopéia chegou ao fim!

– Hmm... Talvez, Tenzin é teimoso, você sabe. Muito embora você conheça, e bem, meu irmão mais novo então não vou te alertar. E falando em testes, preciso testar novamente aqueles 'senhores do fogo'– riu alto.

– Não se preocupe e, por favor, teste longe dos olhos de Bumi, não quero ele batendo em ninguém!

– Seu bravo marido está de volta. - apontou para Bumi a Carregar Meelo. - Aproveite.

– Aproveitarei! - Bumi se aproximou - Solte Meelo! Deixe-o aproveitar, não é sempre que ele tem chance de estar fora daquela ilha!

O garoto pendurado nas mãos de Bumi pela roupa sorriu para a mulher a sua frente.

– Entramos em um consenso Lin. Este rapaz queria se casar com você, mas se contenta com uma dança.

O pequeno sorriu mais mostrando todos os dentes.

– E um beijo.

– Uma dança e um beijo... – Bumi repetiu.

– Oh… Uma dança e um beijo? Você está limpo? Okay... Parece-me um bom acordo! - Lin naquela noite sentia-se estranhamente bem humorada - Vamos lá meu jovem, hoje é seu dia de sorte!

– Não abuse. Estou de olho! - Bumi encarou o pequeno.

Uma vez solto por Bumi o rapaz arrumou as suas roupas de gala e estendeu suas pequenas mãos para pegar as de Lin.

– Meu tio disse que você é quente, mas pra mim tá normal.

Sentiu as faces aquecerem e olhou significativamente pra o marido, quem falava coisas assim pra crianças?

– Eu estava com febre no dia, Meelo!

Passou pelo marido e lhe deu um singelo e doloroso chute escondido pelo belo vestido. Ele precisava ponderar seus comentários perto de crianças. O pequeno apenas sorriu novamente enquanto dançava fora do ritmo com a nova tia. Poucos minutos depois algo chamou a atenção dele e ele saiu correndo no meio da dança, pisando no pé da mulher no processo.

– Lin? - Tenzin a chamou

Virou-se e o encontrou com sua roupa de gala. O vermelho e o amarelo combinavam com o tom de pele claro dele.

– Ola, Tenzin!

– Se Meelo estiver incomodando eu o levo pra casa. Às vezes acho que nos esquecemos de educá-lo.

– Não se preocupe, ele só queria dançar! Mas já achou outra coisa mais divertida pra fazer!

O rapaz em questão corria atrás do animal de estimação de Bolin. E o pobre Pabu guinchava enquanto tentava fugir.

– Hmm... Perdoe-me, mas está absolutamente fabulosa. - Evitava a olhar nos olhos.

– É meu casamento! De qualquer maneira obrigada! Fico feliz que tenham vindo, na verdade, estou estranhamente feliz hoje… Minha mãe provavelmente me acertaria com um bloco pra ver se eu pararia de sorrir tanto!

– Sempre disse que deveria sorrir mais, Sokka concordava comigo, seu sorriso é único Lin. - estendeu a mão. - Poderia me conceder uma dança?

Desviou o rosto por um instante, evitando que a vermelhidão tingisse as maças de seu rosto. Ponderou por um segundo sobre a interrogativa dele e o tornou a olhar nos olhos.

– Eu acho melhor não, muita gente aqui nos conhece de uma vida, não os quero fofocando! Vá dançar com Pema, ela raramente tem o que fazer fora de casa!

Aproximou-se um passo, sorrindo sob a barba.

– Não estou te reconhecendo. Nunca se importou antes em estar comigo, agora parece ter medo de mim. Vamos Lin, uma dança não tem o poder destrutivo que está imaginando.

– Não entendo porque gosta tanto de se arranjar problemas! Uma dança e só! Eu tenho convidados a receber!

A rodeou com seus braços, puxando-a contra seu corpo. Podia sentir o ritmo descompassado das batidas cardíacas dela. Vivera metade de sua vida imaginando como ela ficaria em um vestido como aquele. E agora era como se seu sonho virasse pesadelo, porque os sorrisos mais belos que já viu não eram mais para ele.

– Que problemas eu poderia ter ao dançar com você? - girou graciosamente com ela em seus braços. - Lembra do nosso primeiro baile? Você estava de mau humor aquela noite.

– Pelo olhar de Pema, diria que passará algumas noites no sofá! – fechou os olhos por um momento, apreciando o delicado deslizar de corpos.

– Pema e eu nos entendemos depois. - como sempre usava sua dobra enquanto dançava.

– Eu não queria participar daquele baile, sua mãe me coagiu e a minha não fez nada em minha defesa! Aqueles idiotas da academia fazendo gracejos… tsk…

– Nenhum rapaz podia resistir aos seus encantos Lin. Ainda hoje faz muitos homens olharem uma segunda vez. Mas não estou falando de mim. Está claro o que quer e vou respeitar sua decisão.

– Obrigada pelos elogios e ainda bem que entendeu minha decisão! Meu casamento não foi nenhuma tentativa de algo para te atingir como deve ter pensado!

Ao seu redor todos observavam a dança. Pode ver nos olhos de Bumi alguma coisa que raramente via.

– E essa dança acabou, Bumi está vindo, imagino que queira dançar também!

– Parabéns Lin. - e a girou deixando-a nos braços do marido se afastando lentamente do casal. Preferia ir para a casa, mas não podia privar suas crianças daquela comemoração.

– Acho que com isso fiz as honras e dancei com todos de sua família, Bumi! – usou um tom descontraído para provar ao marido que aquela dança para ela nada significara.

O Ex-comandante nada disse por um tempo, apenas dançava, imprimindo no corpo de Lin a sua presença. Retirando quaisquer resquícios de sensações que o seu irmão mais novo pudesse ter deixado.

– Uh, sim sim... - Beijou a mulher. - Eu no seu lugar não teria esta paciência.

– Não costumo ter tanta paciência, mas hoje é um dia especial. Parece que Kya levará esta festa até altas horas…

– Isso me lembra uma coisa. Quem são aqueles dois com ela?

A cada lado de Kya estava um rapaz de vestes típicas da nação do fogo. Sabia que não podia contar a verdade sobre quem eram aqueles rapazes se quisesse evitar que Bumi fosse até eles fazer as honras de irmão mais velho.

– Eu acho que são amigos que ela fez ao passar pela Nação do fogo…

Segurou o rosto do marido acariciando a barba ao virá-lo em sua direção.

– Deixe ela, afinal, está festa não seria o mesmo sem ela!

Bumi sabia que Kya era do tipo de mulher que a nada se atava. E o bico que se pronunciava sob sua barba denotava que ele não esqueceria aquela cena nem tão cedo.

– Vou deixar isso de lado, só por hoje.

– Ótimo! Vamos comer algo? Sinto que se continuar a beber sem por nada no estomago eu perderei toda a minha autoridade.

Arrastava o marido para longe. Lançou um olhar de reprimenda a cunhada que apenas lhe piscou com um sorriso zombeteiro nos lábios.

– Isso me lembra um daqueles bailes que costumávamos ir quando éramos jovens uma vez eu bebi além da conta por...

Se interrompeu e repente, não queria evocar aquela lembrança, não naquele momento em que seu coração mal se continha de tanta felicidade. Lin, porém estranhou aquela pausa, Bumi não era o tipo que se policiava ao falar e poucas coisas eram capazes de constrangê-lo.

– Por que bebeu demais? – indagou curiosa.

– Você. - respondeu depois de um longo suspiro. – Digo, por sua causa. Foi quando descobri que estava saindo com meu irmão.

Levou a mão a seu diafragma, sentindo o ar lhe faltar aos pulmões. Havia vezes que era melhor se apoiar no direito de ficar calada, mas naquele momento, se o revogasse certamente Bumi entenderia mal.

– Oh… Bem Bumi, isso faz tanto tempo… Éramos tão jovens e você mais velho, nem imagino o que poderia ter visto em mim naquele tempo. Você já estava praticamente ganhando sua primeira tropa e eu ainda apanhava miseravelmente da minha mãe na dobra…

– Eu vi o que todos viam uma Linda jovem. Francamente Lin você mesmo sendo mais nova sempre foi a mais madura. Mas esqueça isso querida, demorou um pouco mas finalmente estamos juntos.

Todas as dúvidas que ela tinha em relação a Bumi caíram por terra quando ele terminou de falar.

– Okay. Além de dançar com meu irmão, você disse alguma coisa a Pema? Porque é a primeira vez que estou com medo dela.

– A última vez que estive com Pema foi quando levei o convite, ela deve estar aborrecida por não estar em casa fazendo algum serviço domestico importantíssimo ou algo do gênero!

– Você é terrivelmente má! - Riu alto pegando-a no colo e girando o corpo junto com o seu. - E eu gosto de garotas más. - piscou.

Beifong era conhecia por não gostar de demonstrar afeto em publico, e mesmo em seu casamento ela era contida com relação a isto. Mas Bumi era tão imprevisível que as vezes ela se assustava ao notar que sorria em meio a outras pessoas.

– Eu só não fico me preocupando com coisas pequenas, Pema é problema do seu irmão, não nosso! Desça-me… Estou ficando tonta!

– Acho que devo ao menos ir e agradecê-la. - disse sorrindo ao parar de girar. - Não acha?

– Não seja inconveniente, se for lá é perigoso ela bani-lo na ilha do templo do ar pra sempre e querendo ou não… família é família!

Precisou se apoiar no marido, ele a deixara completamente zonza com toda aquele movimento em círculos.

– Aquela ilha não é dela! - fez bico. - Meu Pai a construiu...

– Mas ela meio que adquiriu direitos, afinal não faz outra coisa da vida a não ser faxinar aquele lugar… - suspirou - Enfim, por que estamos falando dela? Vamos achar um lugar pra sentar, os sapatos que sua irmã escolheu pra mim estão me matando…

– Okay, chega de falar nos outros. Vamos sei que não está acostumada com essas coisas de vestido e sapatos.

Apoiou a mão na cintura fina dela a incitando a continuar a caminhar até o local onde poderia sentar-se para ter um momento mais relaxado.

– Nossa, me senti meio mal agora, por acaso preferia uma esposa que entendesse tudo dessas coisas de vestidos e sapatos? Se quiser acho que ainda da pra anular o casamento… - brincou e esperando a reação dele.

– Tá louca mulher? Eu não gosto da frescura de mulheres com essas coisas. Vai ter que me aturar pro resto da vida.

– Fazer o que!

– Lin!

E ele notou que ela ria das reações exageradas que ele estava tendo.

x-x-x

O tempo parecia correr, e quando se deu conta já estava casada com Bumi fazia um ano. Tinham uma vida tranquila e sem qualquer rotina. Porque o ex-comandante não permitia que as coisas ficassem maçantes entre eles. Vivia inventando pequenas viagens ou encontros românticos em restaurantes.

Não havia sequer uma reclamação, porque ele compreendia todos os compromissos que Lin tinha e ainda a tentava ajudar algumas vezes com coisas menores. Fora seu marido quem inventara um jantar entre família. Que sempre acontecia na ilha do templo do ar uma vez a cada dois meses.

E lá estavam todos ao redor da mesa na casa de Tenzin. As crianças discutiam entre si qual equipe de pró-bending era a melhor da temporada. E na calorosa conversa estavam inseridos A avatar e seu marido.

Tenzin observava Lin com velada discrição, ela não aparentava estar se sentindo muito bem e quando ela deixou a sala onde se reuniam conseguiu uma pequena desculpa e a seguiu ate uma varanda nos fundos do templo.

A brisa leve balançava os cabelos dela. Durante todo este tempo ele evitava estar com Lin, simplesmente porque ele não conseguiria cumprir o que prometera a ela. Apenas não podia a ver casada com outro. Fosse ou não seu irmão.

– Lin. - chamou levemente.

A mulher respirava fundo enquanto observava a bela vista que o lugar fornecia. Com a vista de tantas coisas conhecidas ela se lembrou de tantos momentos que vivera naquele lugar, afinal, passou muitos tempo da infância e juventude naquela ilha.

– Tenzin? Algum problema?

– Eu ia lhe perguntar a mesma coisa. Deixou a mesa sem qualquer motivo. - se aproximou alguns passos.

– Não foi nada, apenas me senti um pouco sufocada e vim respirar um ar puro.

Estendeu em direção a ela uma mão que já esperando não ser aceita.

– Fiquei preocupado. Tem trabalhado muito como sempre, não é? – tentava soar casual, como se estivesse ali por pura preocupação.

– O de sempre, mas ando me sentindo mais cansada que o normal. – ela virou e a brisa fez alguns fios cobrirem seus olhos. Retirou-os e suspirou cansada. - Vou voltar pra dentro, não quero que ninguém interprete errado nossa ausência!

Não havia planejado nada, embora soubesse o motivo de tê-la seguido, quando viu que ela se aproximava apenas agiu, rápido como um pé de vento. A segurou pela cintura, apertando levemente seus dedos.

–Espere um pouco...

Lin arregalou os olhos verdes e colocou ambas as mãos sobre o peito masculino numa tentativa de impor certa distancia entre eles.

– Tenzin, pare com isso! Alguém pode aparecer…

A pressão das mãos dela sobre seu peito traziam lembranças de um tempo passado onde ela se imprimia inteiramente sobre o corpo dele.

– É um martírio sabia? – falou lentamente com a voz rouca.

– Tenzin pare com isso! Só torna as coisas mais difíceis pra nós todos! Sou casada e com seu irmão, respeite isso!

Acariciou a pele o rosto e colocou uma mecha do cabelo que o vento novamente retirara de volta ao lugar.

– Me perdoe Lin. – segurava-se ao máximo para não a beijá-la.

Beifong mordeu o lábio inferior. A saliva deslizou grossa por sua garganta as respirações se confundindo.

– Pare com isso e vamos voltar! Por favor! – sua voz estava fraca.

– Eu continuo encontrando seus olhos sempre quando acha que ninguém esta prestando atenção em você. Porque isso, porque me tortura assim?

– Você acha a coisa que procura, não quer dizer que são reais! Eu sou feliz, Bumi e eu temos uma ótima vida! Por que insiste em querer estragar isso por algo que não vai ser?

– Olhe para si mesma Lin. Ainda a me segurar com suas mãos, seu corpo se moldando perfeitamente ao meu. Não finja que não consegue ver isso... Ainda há algo aqui. Ainda há algo entre nós.

– Não, não há! Não nego que sua presença me inquieta um pouco, mas é só desejo, nada além disso, eu amo meu marido e não vai ser por conta de uma atração irracional que vou perder tudo!

Roçou a ponta de seu nariz no pescoço dela, e ao ouvir que ela ainda o desejava beijou a pele quente. Lin tinha um perfume inebriante que o impulsionava a fazer as maiores loucuras.

– Venha comigo.

– Não vou a lugar algum!

Quase deixara escapar um gemido e em um breve lampejo de sanidade tentou o afastar. Sentiu seu estomago se contorcer e ao girar o corpo no próprio eixo pra sair dos braços dele uma rápida vertigem quase a fez cair, procurando apoio em qualquer coisa o usou novamente como apoio.

Tenzin a cercou com seus braços impedindo que ela caísse e novamente a preocupação tomou conta dele deixando de lado o jogo de sedução que começara.

– O que esta acontecendo Lin?

O mundo ainda parecia fora do eixo e por isso fechou as mãos nos braços do airbender, respirou fundo e fechou os olhos verdes.

– Eu preciso… preciso entrar me ajude ate que possa me apoiar na parede…

– Espíritos! Lin o que esta havendo? - a ajudou a manter-se de pé, porém não se moveu para deixarem o local.

A mulher sorriu daquele modo enviesado que as pessoas diziam parecer com o sorriso de sua falecida mãe. Sabia que sua revelação acabaria com qualquer possibilidade, mas era melhor assim. Depois de alguns segundo, quando se sentira um pouco melhor pegou a mão dele e a colocou sobre o ventre liso escondido por uma leve camada de pano verde escuro. - Teve uma mulher grávida tantas vezes e não consegue reconhecer uma?

O monge sentiu o coração pausar uma batida. Vivera tanto tempo esperando ouvir isso que apoiou o rosto no dela acariciando o local onde havia uma criança. Quase se esquecera que aquela criança era de outro homem, de seu irmão. Soltou o ar preso em seus pulmões.

– Grávida? Claro... Parabéns Lin, Bumi já sabe?

– Não, eu queria chegar ao fim do primeiro trimestre. – olhou para ele e viu o rosto tristonho dele. - Não sou tão jovem e não gostaria de dar falsas esperanças a ele… Vai que algo acontece…

– Não se preocupe, não direi nada. Também não vou mais lhe importunar. - beijou o rosto dela e tentou recompor seus sentimentos. - Agora respire fundo precisa colocar um pouco de cor em seu rosto.

– Obrigada por guardar segredo, se algo acontecesse Bumi ficaria arrasado demais. Mas acho que em poucas semanas tudo estará bem…

Quando sentiu os braços de Tenzin lhe abandonarem ela o segurou pela mão e o olhou com um sorriso pequeno.

– Foi eterno enquanto durou, Tenzin, mas agora estamos em outro tempo.

– Eu deveria ter feito algo antes e talvez fosse eu o homem feliz. - a ofereceu novamente sua mão. - Deixe eu lhe ajudar. Sem segundas intenções, apenas como nos velhos tempos.

Lin aceitou o gesto e assim caminharam juntos em direção a sala onde toda a família se reunia. Ela o parou antes de passarem pela porta.

– Não menospreze o que tem, não sabe se teríamos dado certo. Lembre-se que a vida nos oferece o que precisamos, não o que desejamos.

– Porém não me arrependo de tentar. – afastou-se e curvou seu corpo em cumprimento. - Eu sempre estarei aqui, para o que precisar. Já se sente melhor para voltar sozinha ou quer minha ajuda?

– Já estou melhor, foi só um mal estar passageiro. – passou por ele e foi recebida por Bumi.

– E a sala se ilumina novamente com a beleza de minha senhora.

Tenzin fechou os olhos sentindo a dor em seu peito aumentar. Mas ele não tinha direito de tentar reaver o passado. O melhor que tinha a fazer era continuar a viver a vida que havia escolhido.

“Non... rien de rien...
Non... je ne regrette rien
Car ma vie, car mes joies,
Aujourd'hui, ça commence avec toi!”


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Notas finais do capítulo

Não, nada de nada...
Não, não me arrependo de nada...
Está pago, varrido, esquecido
Não me importa o passado!

Com minhas recordações
Acendi o fogo
Minhas mágoas, meus prazeres
Não preciso mais deles!

Varridos os amores
E todos os seus temores
Varridos para sempre
Recomeço do zero.

Não, nada de nada...
Não, não me arrependo de nada...
Pois minha vida, pois minhas alegrias
Hoje, tudo isso começa contigo!



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