Era uma vez, quando eu ainda era uma criança e me chamava Lore, no pequeno lugar onde eu morava havia um lago. Ninguém sabia muito bem o que acontecia por lá; os vizinhos tentavam manter em segredo, chegaram a dizer que o lago havia sido encantado, ou que era simplesmente o tempo.
Mas mesmo assim, eu ainda conseguia ouvir as risadas.
Chegaram ao ponto de apelidarem o lago de "mingau" pois, de noite, a água se tornava tão espessa quanto manteiga.
Ninguém mais utilizava o lago para nadar, ou para beber. Estavam com medo. Mas os jovens nem se importavam. Nada para eles importava. Diziam que o mingau do lago escorrendo pelos dedos era quase tão bom quanto a propria água.
Diziam "se você segurar a respiração até emergir na outra borda, tudo vai ficar bem.", mas mamãe nunca me deixava chegar perto de lá.
E também, tinha um certo homem que morava nesse pequeno lugar. Alto, louro e de olhos claros. Sempre pensei que ele fosse um gênio. Não me perguntem porque, eu simplesmente achava. Talvez eu ainda ache, até.
Uma noite, sem que ninguém percebesse pois já estavam dormindo, eu escapuli de casa e fugi até o lago. O que eu não esperava, era encontrá-lo ali.
O Gênio, que era quase tão velho quanto aquele pequeno lugar e que, assim como ele, aparentava ser muito novo. Trabalhava num bar por aqui, foi o que me disseram. Ele montava as mesas, limpava os rótulos de ketchup e, quando ficava bêbado no fim do dia, balbuciava fabulas alemãs até todos se cansarem de ouvir.
E enquanto todos dormem, ele retira suas roupas e as joga junto às lixeiras, caminhando em direção ao mingau. Um segredo que, aquela noite, eu também fiquei sabendo.
Corri ao seu encontro, animada. Ele ia nadar? Eu também quero nadar no mingau! exclamo internamente.
Jogo minhas roupas junto às suas roupas e me encontro com ele. Com o olhar doce, ele me diz "Se você segurar a respiração até emergir na outra margem, tudo vai ficar bem."
"Apenas segure a respiração pelo tempo que julgar necessário, criança boba"
E lá, ele compartilhou do segredo dele comigo. Lá, ele me fez seu segredo, e me fez suas confissões, com o mingau escorrendo por nossa pele, frio como a própria água.
Quando a manhã chegou, chegaram também as filmadores. Com café, donuts e repórteres.
Os jovens acordavam com ressaca, e os outros ligavam os carros.
O lixeiro esvaziava a lata de lixo com nossas roupas, enquanto os ateus continuavam orando com sarcasmo.
E o meu vizinho gênio estava dormindo, sonhando que seu antidoto seria um orgasmo.
Na minha cama, eu continuava repetindo que tudo vai ficar bem, se eu segurar minha respiração pelo tempo necessário.