Noites de fogo escrita por Bella Black


Capítulo 3
Capítulo 2 - Ruivas são problemáticas


Notas iniciais do capítulo

Ops... Acho que ficou grande demais, desculpem, me empolguei.
Minhas aulas voltaram, então vamos combinar que postarei aos domingos porque fica melhor para mim. (ou antes se vocês me motivarem, haha)
Vejo vocês lá embaixo...



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A floresta não era muito bem iluminada, entretanto podíamos notar que estava entardecendo. Tínhamos duas opções: a) passar à noite nas habitações de Mystica, b) seguir caminho em busca de mais fadas/elfos/dríades para recrutá-los e acampar caso escureça. Optamos pela segunda alternativa.

Mystica trouxe com ela mais mantimentos, o que, a essa altura, estávamos desprovidos. Duce até tinha levado algumas coisas que acabaram nas primeiras horas de viagem.

– Eu conheço um vilarejo de fadas escondido ao sul antes dos Montes Imperiais. Não fica muito longe daqui. – convidou-nos na direção da grande folha.

Ignis voava alegremente dando giros no ar com suas famosas faíscas laranja ao seu redor e Duce parecia uma bomba de confetes prestes a explodir com seu cabelo rosa esvoaçante e suas vestes delicadamente verdes que lembravam a cheirosa grama dos Jardins da Colheita. Mas não durou até um silêncio desconfortável pairar sobre nós enquanto andávamos pelas florestas na direção oposta à que viemos. Esta parte era mais iluminada apesar das longas árvores que pareciam se distender até os deuses de tão altas.

O sol estava quase se ponto no horizonte colorindo o céu de laranja quando chegamos a um riacho violeta com cardumes estranhos que cortava de uma extremidade a outra. O elfo alertou que não podíamos passar por ali, por ser arriscado, e mencionou as lendas a respeito do lugar. Que inclusive, era muito bonito e por isso tão perigoso, geralmente hipnotizava os desavisados a beberem de sua fonte e/ou serem devorados por peixes carnívoros. Lembrei-me das lendas acerca das sereias, Ignis não acreditava, dizia ser pura baboseira para afastar pescadores humanos das Águas Mornas e de fato era uma boa teoria.

– Proponho que acampemos e sigamos caminho amanhã pela manhã. – acrescentou o elfo determinado a nos convencer.

– Já estamos próximos do vilarejo, tenha um pouco de fé, Klu! – discordou a fada de cabelos azuis.

– Iremos voando. – sugeriu Krieger. – Não temos tempo a perder.

Quando o elfo ia enfatizar que não pode voar, Krieger o segurou pelas vestes com a grande boca e o jogou em suas costas.

A espessura do riacho era pequena então em mais ou menos três minutos estávamos do outro lado.

– Fica logo depois daquelas Farligs – apontou Mystica. Farlig é uma espécie de árvores não confiáveis. Por vezes venenosa, por vezes amigável, depende das intenções dos viajantes. Ela pode inebriar os sentidos e causar alucinações, ou, por outro lado, mostrar-lhe o caminho correto.

Seguimo-la em direção da claridade que emanava o local. Era belo, muito belo. Nenhuma palavra poderia descrever aquele local. Flores das mais bonitas cresciam por todas as partes. Fontes de pedra com água luminosa banhava o local. Um lago cristalino se estendia no centro do vilarejo. Não era grande, não. Apenas bastante para nós sete conseguirmos nos acomodar confortavelmente. Pelo olhar de Duce, ela faria qualquer coisa para perguntar a algum deles sobre as formosas flores. Quando Mystica surgiu à frente da entrada, as fadas e dríades sorriram alegremente e alguns vieram cumprimentá-la. Ela retribuía afável cada cortejo. Mas, quando Klugh apareceu atrás dela, todos recuaram receosos.

– Está tudo bem, ele é um ótimo homem. – disse ela calmamente.

– Elfos. Não. São. Confiáveis. – disse uma dríade silabicamente do outro lado.

– Sim. Eles. São. – retrucou Ignis com seu ilustre tom irônico, como se aquilo fosse a coisa mais idiota que ela já ouvira.

A dríade sussurrou alguns palavrões, mas não respondeu.

– Vocês sabem por que viemos, imagino. – disse Mystica.

– Os Feindes estão atacando novamente – declarou Duce.

– Não nos encontrarão. – garantiu a dríade confiante.

– Isso é o que você pensa, gracinha. – Ignis caçoou.

– Ignis, por favor... – pensei para ela. Com a cauda a puxei de volta para perto de mim enquanto ela relutava inutilmente. Por fim, acabou cedendo e sentando no meu dorso.

– Vamos lutar, chegou a hora. Por tempos eles vêm nos exterminando, tirando o que nos é mais importante de nós. Isso precisa acabar. – ela disse e notei que era mais pessoal do que parecia.

– Quem estiver disposto venha comigo. – invitou Vormund. Ele as levaria aos Montes Imperiais onde estão os outros da Legião e nós seguiríamos viagem.

Algumas fadas vieram para o nosso lado e outras acanhadas permaneceram onde estavam.

– Não tenham medo, venham. Pelas nossas perdas... Vamos honrar os que morreram por nós, por um bem maior, isso não pode prolongar-se! Os Feindes não podem nos controlar! – disse a fada vidente de cabelos azuis com espírito aventureiro erguendo sua adaga no alto.

Mais fadas vieram para o nosso lado, quase todas na verdade. Apenas uma permaneceu sentada e então caminhou em nossa direção de cabeça baixa.

– O que foi, querida? – perguntou Mystica levantando o rosto da jovem de cabelos castanhos caindo sobre os olhos azuis.

– Minha asa é machucada e eu não posso voar. – lamentou tristemente.

– Nós podemos dar um jeito nisso! – disse Ignis voando em sua direção docemente.

– É! Eu conheço ótimos remédios naturais e vai sarar rapidinho! – completou Duce sorrindo.

– Sinto muito, Sweet. – respondeu Mystica abraçando a pequena fada. E virou-se para as garotas: - Ela nasceu assim, não há cura. Mas veja, minha jovem, você é belíssima e daí que não pode voar? Isso não te faz menos guerreira. – ela disse encostando o dedo no meio do tórax da garota. – É isso aqui que importa, o que você tem aí dentro. E se tem determinação, ah... Então você pode tudo!

A fada olhos azuis enxugou algumas lágrimas teimosas e a abraçou novamente.

– Eu posso ir com vocês? – perguntou Sweet entre soluços.

– Não podemos vencer sem você. – respondeu Ignis.

Ela sorriu e acho que foi a coisa mais feliz que já lhe acontecera.

– Você é um dragão muito lindo! – ela disse indo em minha direção e me abraçou.

Sem jeito, retribui passando a calda em seus cabelos.

– Você também é uma bela fada. – respondi mentalmente sentindo o calor dos seus braços ao redor do meu pescoço. Era uma fada do amor, conclui quando fui invadido por um bom sentimento. Fadas do amor são seguidas de bravura e honra, e eu soube que ela seria uma excelente soldada.

Uma dríade veio até nós e disse que elas gostariam de ajudar também, mas ficariam fracas demais longe de suas árvores vitais e não resistiriam, contudo, nos abençoaram com a benção da proteção terrena. Enquanto estivéssemos perto de fontes de colheitas e grandes plantações nas Florestas Misteriosas, os feitiços dos Feindes quase não surtiriam efeito. Não em nós. As árvores absorveriam a maior parte.

Então Sweet caminhou até Vormund e montou em suas costas. Quando Vormund já partia viagem em direção aos Montes Imperiais as outras fadas o seguiram rapidamente. Eles teriam que chegar antes de anoitecer completamente.

Mystica virou-se para nós e sorriu amavelmente.

– Bom trabalho, amigos! – ela parabenizou. – Agora temos que sair daqui, iremos acampar aos arredores das Águas Mornas.

Águas Mornas ficava a uns dez minutos dali, o elfo havia me informado.

Nos despedimos das dríades e caminhamos silenciosamente atrás de Klugh e Mystica na direção do rio.

– É de lá que vem a lenda das sereias. – cochichou Ignis para mim.

– Eu sei, e você odeia essa lenda. – lembrei-a.

– É patética! – ela revirou os olhos como se isso fosse óbvio.

Ao chegarmos, Duce sentou a beira do rio e Mystica mandou que ela recuasse na mesma hora. A água escura cintilava à luz da lua.

– Há um motivo porque os trouxe aqui. – ela disse cautelosa. – Não temos chance alguma de vencer sem... – pigarreou antes de continuar – A Espada de Dryadal.

– Pensei que era apenas uma história mentirosa qualquer, como a das sereias. – respondeu Ignis surpresa.

– Sereias são reais. – Duce contrapôs como se essa discussão já fosse comum demais entre as duas para repetir.

– Sim, elas são. – afirmou a fada de cabelos azuis.

– Quem disse que não somos? – disse uma voz desconhecida, que, quando virei para observar de onde viera, notei um ser apoiado na borda do rio.

A fada do fogo deu um salto para trás e Klugh riu divertindo-se.

Então outras quatro subiram também mostrando as caudas escamosas prateadas. A do garoto era dourada.

Ignis murmurou um palavrão pasma.

– Olha essa boca, garota! – repreendeu uma sereia de longos cabelos amarelos.

Ela ia responder com outro palavrão, mas foi cortada por Mystica que voltou a falar.

– Sereias são reais. A Espada de Dryadal é real. E a guerra também. Sugiro que seja mais controlada, Ignis. – disse voltando-se para ela e arqueando uma das sobrancelhas.

– Sereias não são confiáveis. – alertou Klugh.

– Como se elfos fossem. – respondeu o sereiano.

Klugh virou-se para Ignis com um olhar de “eu te entendo”.

Mystica pediu para que ficássemos quietos e sentou-se acerca do lado, mas não tão próxima a ele e explicou o que estava havendo aos seres que até então, eram apenas lendas para mim.

– Nem pensar que vamos entregar a espada! – bradou o sereiano que se apresentara como Untreu.

– Sim, nós vamos. – respondeu Nanti, uma sereia de cabelo cinzento e olhos dourados. A líder do grupo concordou. Nanti mergulhou novamente e desapareceu sob as águas.

– Não! Isso é ridículo! – a sereia loira protestou.

Mystica pegou em sua mochila viajante uma esfera de cristal com luzes roxas, como a da frente da sua casa, só que consideravelmente menor. Murmurou alguma coisa e as luzes se mexeram avidamente formando imagens. Uma delas foi de magos e bruxos invadindo territórios povoados por fadas e exterminando cada uma que encontravam. Outra levando dragões em grandes jaulas resistentes o suficiente para nenhum deles conseguir fugir. Por fim, mostrou-os trabalhando sem descanso ao redor do Vulcão Zestor, onde uma grande luz forte pairava sobre ele.

Isso – ela disse apontando para esfera – é ridículo.

A esta altura, Nanti já havia voltado com a espada. Era enorme e o mínimo toque em sua lâmina afiada poderia cortar. Havia algo muito mágico nela, tanto que não enferrujara no fundo do rio.

Dragões não podem ser mortos, exceto por outros dragões e... a Espada de Dryadal.

Mystica a guardou em algum lugar da sua mochila protegida por magia e recolocou o arco amarrado as costas. Passaríamos a noite ali e na manhã seguinte bem cedo, iríamos aos Montes Imperiais e por fim...

A iminente guerra.

Algo se mexeu próximo à entrada da floresta e nos posicionamos em ataque. Exceto Mystica. Uma linda mulher de cabelo vermelho-sangue aproximou-se em posição de rendição. Trajava uma capa cor de vinho que ia até os pés e sobre a cabeça um capuz quase lhe encobria a face.

– Posso juntar-me a vocês? – pediu.

A fada de cabelos azuis sorriu assentindo, deitada sob a grama observando as estrelas.

– Eu sou Blanda. – apresentou-se timidamente tirando o capuz. E pude ver, ela era tão linda quanto as Flores da Lua.

– Você é humana? – perguntou Ignis observando-a.

– Bruxa. – ela respondeu decepcionada.

Todos tinham algo a dizer sobre isso, mas ninguém falou absolutamente nada

– Sente-se. - convidou Mystica e ela obedeceu.

O resto do grupo, inclusive as sereias prestavam atenção atentamente.

– Não julgue alguém pelo que ele é. – disse Klugh por fim. Ele entendia, pois elfos tinham má fama, entretanto, isso não queria dizer que nenhum deles era bom. E nem sabíamos o motivo, afinal, de tal fama.

– Obrigada. – ela disse tirando uma mecha de cabelo dos olhos e colocando atrás da orelha.

– Podem ir. – disse Mystica serenamente às sereias que a contragosto, retornaram aos seus aposentos nas profundezas do rio.

– Quem é você? – perguntei temendo a resposta.

– Vocês querem mesmo saber? – ela perguntou receosa.

– Pode contar. – disse Mystica tranquila como se já soubesse, e eu aposto que sabia, toda história.

Nós nos aconchegamos ao seu redor e escutávamos cada respiração e suspiro hesitante antes de ela começar.

– Sou irmã de Vípera. – um grito abafado da fada do ar e da terra pôde ser ouvido, e a maioria arfava ansioso. – Eu não sou a mocinha, mas garanto que não sou vilã. – ela acrescentou esperançosa. – É uma longa história...

– Temos tempo. – insisti.

– Há muito tempo, tanto tempo que não lembro mais exatamente quanto, minha irmã se apaixonou perdidamente pela única vez em sua vida. – suspirou como se fosse torturante contar essa história. – Por um elfo. Weise, era seu nome e ele sentia o mesmo. Só que era terminantemente proibido elfos e bruxas se relacionarem, mas eles estavam tão apaixonados que nada mais importava. Todavia, algo muito pior aconteceu. Eu me apaixonei por ele também. – lamentou e eu pude ver algumas lágrimas luzentes escorrerem de seus lindos olhos castanhos que ela tentou disfarçar. – Em um ato de imaturidade, dei-lhe uma poção do amor dissolvida em suco e enquanto Vípera descansava, fugimos para as Florestas Misteriosas, onde vivemos por anos sem dar notícias a ninguém. Com o tempo a poção do amor dissipa-se naturalmente, mas ele se apaixonou por mim de verdade e eu podia jurar que era o ser mais feliz que existia. – a essa altura Duce suspirava entretida na história. Ela poderia facilmente ser uma fada do amor, com todo esse doce em seu coração. Mais algumas lágrimas escorreram, mas a bruxa ruiva decidida a continuar enxugou-as e respirou fundo. – Vípera ficou arrasada, como era de se esperar. Até conhecer Mali, um mago muito poderoso. Eles se casaram, ouvi os murmurinhos na floresta na época. Ela contou-lhe o que acontecera entre nós duas e, ele com sua áurea obscura, incentivou-a a vingar-se e assim livrar-se da dor. Então eles nos caçaram e, é claro, nos encontraram. E mataram Weise... Desculpem. – ela disse limpando os olhos. – Ainda é difícil para mim lembrar disso, mesmo depois de tanto tempo. – Duce voou em sua direção dando-lhe um grande abraço amigável e acariciando seu cabelo sentou-se ao seu lado.

“Ela me disse, ainda lembro do ódio em seus olhos, que não me mataria para que eu pudesse viver com essa dor para sempre, ver nosso mundo ser tomado por ela e ser sua escrava até o fim dos tempos.”

– Eu a odeio. Eu já odiava antes e agora isso só ganhou maior intensidade. – declarou Ignis semicerrando os olhos. E sentando-se ao outro lado de Blanda, encostou sua cabeça no ombro dela.

Klugh cochichava algo secretamente com Krieger e Mystica a olhava, não com pena nem compaixão, mas com orgulho.

– Vípera e Mali reuniram um exército de magos, bruxas e alguns dragões que traíram sua espécie e sua honra em troca de alguns benefícios. Escravizaram o resto deles e elfos, quase exterminaram a raça humana e desejam tomar todas as terras ainda não descobertas também. Denominando-se de Feindes. Com o tempo seus poderes só se fortificaram, e eles estão cada vez mais poderosos. Eu, no entanto, deixei a tristeza me corroer e com isso meus poderes enfraqueceram extremamente. - Blanda concluiu.

– Sinto muito. – manifestou-se Klugh solitariamente. – Sentimos muito, na verdade. – e Krieger assentiu balançando a grande cabeça.

Nesse momento, pontos no céu ficaram grandes demais para serem apenas pontos. Se aproximando de nós, vinham três dragões e um mago montado em um deles. Prontos para nos atacar.

– Oh, oh. – disse Klugh posicionando o arco e a flecha pronto para atirar.


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Notas finais do capítulo

Eu ia colocar essa batalha nesse capítulo, mas ia ficar maior ainda, então, fica pro próximo;
Beijos de fogo.



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