— Então você é o misterioso T que me enviou esta carta! - Digo sem tirar os olhos dele.

— Sim, sou eu. Agora, nós temos que sair daqui, eles podem voltar. - Disse ele me pegando pelo braço e me puxando corredor a fora.

— E meus pais Luca? - Pergunto para ele enquanto saímos de minha casa.

— Não se preocupe. Para a segurança deles, nós teremos de apagar todas as lembranças que eles tem de você.

— O que?— Minha voz sai abafada pelo choque.

Como assim esquecer de quem eu sou? Sou a filha deles, não podem simplesmente me esquecer assim, não é?

— Sinto muito mesmo Annie, mas isso precisa ser feito! Sua casa já foi revirada por eles a sua procura. Eles sabem sobre seus pais e isso é muito perigoso para eles. - Se era para a segurança de minha família, não podia fazer coisa melhor a não ser protegê-los e se isso era necessário, eu faria.

— Quem são eles afinal?

— Eles são um projeto do governo que manda nos caçar. Eles acham que nós somos imperfeições no meio de sua sociedade. Para mim eles são um bando de malucos sem ter o que fazer. Chamam A Origem e são os únicos imunes ao nosso poder.

Luca me levou até uma antiga estação de metrô, que já estava fechada até mesmo antes de eu nascer. Ele arrombou o portão da frente e nós saltamos. Seguimos pela parte dos trilhos por um bom tempo, até ele entrar numa cova muito bem escondida. A cova era bem maior por dentro do que aparentava ser por fora e estava cheia de gente. Luca subiu em cima da pequena mesa que ficava no centro da cova e gritou:

— Pessoal, atenção aqui por favor! Quero apresentar à vocês a novata. Annie...

— Cianci, Annie Cianci. - Digo à ele.

— Annie Cianci. Achamos ela há alguns dias depois da ocorrência que tivemos. Sua casa já fora atacada pel'A Origem e agora esse é o seu novo lar. Annie - Ele olhou para mim agora.- Bem vinda ao refúgio. - Disse ele mostrando com os braços o lugar e no rosto um lindo sorriso que eu nunca havia antes reparado.

Assim que Luca deu a mim boas vindas, todos repetiram as palavras com a mesma alegria. Um por um, eles vieram me cumprimentar. Consegui guardar o máximo de nomes que pude, havia uns 10 homens e umas 5 mulheres. 17 pessoas ao todo.

Depois de todos os cumprimentos, Luca me levou até o meu quarto novo. Era um cubículo branco e azul, com uma cama bege e uma cômoda. O suficiente para mim.

— O banheiro fica no final do corredor à direita. - Disse ele apoiado na porta. Aceno com a cabeça. - Gostou? Pode ser meio pequeno, mas você se acostuma.

— Está ótimo, Luca - Digo. - Pode me contar agora o que está acontecendo? O que eu sou? - Meus olhos pesam, estou cansada e confusa com tudo. Luca entra no quarto e se senta na cama de frente para mim.

— Você faz parte de uma avançada espécie de seres humanos. Nós podemos parar o tempo e dizem que um de nós pode parar um único objeto ou humano sem afetar o resto das coisas, ou seja parar A Origem e isso é o que nós mais queremos.

— Por que A Origem estava atrás de mim? - Pergunto o olhando

— Assim que seu poder se manifesta, nós sentimos algo incomum em nossos corpos, tipo um sussurro em nossos ouvidos, uma pressão no estômago. Eles também, por um sensor que inventaram e é por isso que estavam atrás de você. Se não conseguem te achar, vão atrás de alguém próximo seu, mas não se preocupe sua família está a salvo.

— E o que significa o símbolo em meu pulso? - Mostro meu pulso para ele, mas é inútil porque o símbolo não está mais lá.

— Aquele símbolo significa que você é uma de nós. Ele aparece depois de cada manifestação de seu poder, mas some logo em seguida.

Acabei fazendo um monte de perguntas que dormi em seu colo. Eu estava realmente cansada e Luca me contou tudo o que eu queria saber. Aquele menino misterioso que estava em meu antigo quarto há algumas horas sumiu e no seu lugar apareceu um menino destemido que faria de tudo para proteger aqueles de quem se importa e ama.

No dia seguinte acordo com meu corpo dolorido. Luca não estava mais aqui, provavelmente havia ido embora logo após que eu dormi. Me troquei e saí do quarto. De algum jeito alguém conseguiu arranjar roupas para mim.

Me encaminhei até a sala. Chegando lá, havia várias mesas postas, das quais muita gente estava sentada tomando o café da manhã. Me apoiei na parede e fiquei observando à todos, até uma menina me chamar. Ela tinha cabelos curtos e enrolados como os meus, mas o seus eram loiros, era magra e usava óculos grandes demais para seu rosto. Fui até ela.

— Oi. - Disse ela com certa empolgação que me incomodava. - Você é a Annie Cianci, certo?

— Sim e você é? - Digo apertando a sua mão que havia estendido.

— Megan Torres ou conhecida como a irmã mais velha de Luca. - Respondeu ela revirando os olhos.

— Não sabia que Luca tinha uma irmã.

— É, normalmente ele não fala muito sobre mim com ninguém, principalmente com uma namorada - Ela disse com tranquilidade. Ao ouvir aquilo quase engasguei. Namorada dele? De Luca?

— Eu não sou a namorada dele. - Digo tentando esconder meu rubor.

— Ah qual é! Ele não para de falar de você e ontem vocês ficaram no quarto sozinhos a noite inteira. - Disse ela com um sorriso malicioso.

— Só estávamos conversando, Megan. Acabei dormindo e, talvez, ele também. Não somos namorados. Acabei de conhecê-lo. - Ela deu de ombros.

— Como queira! Vamos ver se isso dura.

Megan era maluca. Luca e eu não eramos nada além de amigos. Decidi então subir para o térreo e ficar lá. Um monte de coisas haviam acontecido, um monte de coisas estavam acontecendo e algo me diz que mais coisas vão acontecer, coisas que não espero que sejam boas e a última coisa que preciso me preocupar é em Luca.