"Quer saber de uma coisa?

Não.

Sabia que o café é quente?"

Essa foi uma das lindas observações do meu irmão. Muito inteligente, não acha?

— Zender, todos sabemos que o café é quente! - digo revirando os olhos para ele.

— Sim, sei disso... Só queria ressaltar que...

Só que naquele momento eu parei de ouvir. Minha mãe estava triste no jantar, não como todos nós. Passamos dificuldades esses tempos, meu pai tem trabalhado em dobro, minha mãe não para em casa e meu irmão arrumou um emprego de meio período no hospital local. Todos trabalhando para uma única razão, o tratamento da doença da minha avó. Ela tem piorado cada vez mais. Seus problemas cardíacos só aumentam a pressão aqui em casa.

Meu pai estava com minha mãe agora. Eles provavelmente estavam falando da minha avó. Minha mãe, quando está nervosa, vive passando as mãos na calça e meu pai estava tentando acalmá-la. Sem sucesso.

Meus avós por parte de pai já haviam ido embora. Eles foram logo após o bolo e meus tios foram embora logo em seguida deles. Agora eu estava na mesa com o meu irmão, ele me enchendo com os seus interessantes, porém chatos "factoides".

— Zender - Digo interrompendo-o de um fato sobre café. - Eu não estou interessada em café! Eu odeio café!

— Está bem! Então sobre o que você quer falar? - Pergunta ele com os olhos cerrados.

— Não sei. Estou preocupada com tudo o que está acontecendo. - Digo a ele com as mãos no rosto.

— Não fique! Saiba que tudo isso vai se resolver. Nós vamos sair dessa situação logo.

— Ás vezes eu só queria que tudo parasse. Para não viver essas preocupações que só tiram nossas paz. - levanto meu rosto e vejo que meus pais estão voltando para mesa. Minha mãe com seu rosto preocupado.

Ela era alguns centímetros mais baixa que meu pai. Seus cabelos de um loiro natural cortado até o ombro, balançando ao vento que entrava pela janela. Seus olhos com uma cor de mel, brilhando pelo choro e pela luz da sala. Havia rugas em sua testa devido ao cansaço. Ela é bonita.

— Precisamos conversar - Disse

Ela se sentou em frente ao meu irmão e meu pai em seu lado. Ele olhou para mim e me deu um sorriso.

Sorri de volta.

— O estado de sua avó piorou ainda mais e os remédios são muito caros para nós. - Disse ela desviando os olhos de Zender para mim. - Eu, seu pai e Zender vamos aumentar a nossa carga horária no trabalho, fazendo com que nós fiquemos fora de casa por mais tempo. Você vai ter que aumentar suas responsabilidades, Annie. Nós vamos tirar você da sua escola atual e colocá-la em outra.

— Não tem problema! Só me digam que ela está bem, por favor! - Digo a olhando agora.

Um longo silêncio se espalhou entre nós e eu soube que ela não estava bem. Dessa vez eu não consegui me controlar e desabei no choro. Odeio chorar, muito mais na frente das pessoas! Levantei meus joelhos até meu rosto, para que eles não vissem meu choro. Sem sucesso. Meu irmão começou a alisar as minhas costas com suas mãos grandes para me confortar.

Ele era alto assim como meu pai. Tinha cabelos loiros como os da minha mãe e seus olhos eram verdes. Era corpulento para um menino tão delicado como ele. Porém não se engane, quando ele fica bravo vira outro! Ele era bonito, mas como irmã dele não poderia admitir isso.

Meu pai sentou-se ao meu lado.

— Não se preocupe com isso, ela vai ficar bem. Acredite!

— Não, não vai. - Digo levantando o rosto para ele. - Por que todos continuam dizendo isso? A cada dia ela piora, pai! Estou com medo! - Volto meu rosto aos meus joelhos. - Só queria que tudo isso parasse! — A última palavra, eu digo com tanta vontade que chega a doer em minha cabeça e algo acontece.

Por um momento acho que todos se calaram. Olho em volta, tudo está em completo silêncio. Inclusive os insetos que fazem barulho geralmente.

Levanto-me da cadeira sem olhar para os meus pais e vou até a cozinha. Abro a torneira da pia. Espero alguns segundos, mas nada cai. De primeiro, penso que talvez a água acabou, mas então vejo um copo da pia. Ele estava prestes a cair, mais isso não aconteceu. Havia água para fora do copo, mas ela não caiu! Estava suspensa no ar, como se tivesse presa em algo, assim como o copo. Fui até ele e o peguei, mexi-o diversas vezes, mais a água que estava dentro do copo não se mexia.

O que estava acontecendo? Olho para minhas mãos e não há nada nelas.

— Tudo parou! - Digo em voz alta - Tudo.

Volto para a mesa e encaro meus pais e Zender. Parecem estátuas.

— O que está acontecendo? - Pergunto, mas não há resposta.

Vou até meu pai e toco seu ombro.

— Volte, pai - Peço.

Nada acontece.

— Por favor voltem!

— Não fiq... Annie? - Suspiro aliviada. Mas o que diabos acabou de acontecer?! - Como foi parar ai? - Perguntou ele me tirando do devaneio.

— Eu já estava aqui, pai. - Digo olhando para ele e fingindo preocupação.

— Não, você estava sentada aqui do meu lado em instantes. O que aconteceu?

— Realmente eu não sei, pai. - E é verdade, o que acabou de acontecer? Tudo havia parado... Tudo. – Estou cansada... Posso me retirar?

— Tem certeza de que está bem com tudo isso, Annie? - Pergunta minha mãe

— Eu só... Eu só preciso dormir. Foi muito para digerir por hoje. - Digo com sinceridade.

Ela acena com a cabeça e me retiro entrando no meu quarto.

Não penso, só deito. Posso ter tido uma alucinação por causa do choque sobre minha avó.

Afundo meu rosto no meu travesseiro e logo durmo.