O Renascer dos Saiyajins escrita por jdredalert


Capítulo 5
Capítulo 5: Uma promessa de vingança!


Notas iniciais do capítulo

Spark começa com seu treinamento intensivo com o Mestre Khan, repleto de misticismo e ensinamentos que o Saiyajin não consegue entender direito. Enquanto ele aumenta seus poderes no Templo Kelfo, o clima esquenta na Fortaleza. Lenia continua a investigar o sumiço de seu aluno, e se a situação para ela já não é boa, tudo pode ficar ainda pior depois de uma perda de controle emocional...



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Eles chegaram a uma área mais isolada nos fundos do templo, onde haviam nada mais que árvores e grandes rochas. O solo era coberto com uma relva macia e o vento gélido das montanhas soprava no rosto de ambos. Enquanto Spark olhava o local, surpreso com o que via, Simon tirou sua espada das costas, fincando-a no chão. Soltou também a bainha, por não precisaria dela enquanto se aquecia. À princípio, sentou-se no chão e fechou os olhos, ficando de pernas cruzadas por um tempo. Porém foi tirado de seu estado meditativo por um irritante som eletrônico, um rápido apitar contínuo.

- Ei você! Que barulho é esse? – perguntou o soldado ao Saiyajin, recusando-se a dizer seu nome de propósito.

- Hun? Ah, é verdade! Meu rastreador!

O jovem levou uma das mãos para dentro de suas vestes e puxou de lá o aparelho com a lente verde rachada. Mesmo assim o pequeno aparelho ainda parecia funcionar, uma vez que estava captando o poder de luta de Simon. Rapidamente, ele o colocou no rosto e apertou um botão, mas ficou decepcionado ao ver que o poder de luta que aparecia na tela era de apenas 5.

- Que estranho... será que ele está quebrado? Aqui diz que você tem apenas 5 de poder de luta!

- Que eu tenho o que? E o que é esse aparelho, afinal? – perguntou Simon, em meio a um sorriso zombeteiro, porém curioso.

- Este aparelho é usado pelos Saiyajins para medir o poder de luta de seus adversários. Com ele descobrimos que todo ser vivo tem um poder de luta fixo, que aumenta com o tempo e com os treinos. E você tem apenas 5 de poder de luta. Se o rastreador estiver funcionando direito, então você é desprezivelmente fraco.

Simon sorriu abertamente, quase gargalhando do comentário de Spark, o que gerou uma certa irritação no Saiyajin.

- Posso saber do que você está rindo?

- Vocês Saiyajins... são mais limitados do que eu pensei. Então vocês não conseguem sentir o Ki de seus adversários e para dar suporte a essa fraqueza, utilizam-se de aparelhos eletrônicos. Escute garoto, já que serei seu instrutor juntamente com o Mestre Khan por um mês, considere isto como sua primeira aula. O poder de luta que você se refere é apenas uma variação de energia no meu corpo. É a quantidade de Ki que está circulando, mas isso não implica que este seja o meu limite. O Ki é uma energia que pode ser aumentada infinitamente, dependendo apenas dos padrões de treinamento do seu usuário.

- Você fala muito nesse tal Ki... o que é isso?

- O Ki é a energia vital que circula no corpo de todos os seres vivos. É a nossa essência, vem da nossa alma e uma vez que este Ki cessar, é porque aquele corpo já não possui mais vida. Vou te contar uma história, garoto. No princípio dos tempos, quando o Universo era vazio e ainda não existiam formas de vida, pensamentos ou mesmo o bem e o mal, já existia a energia. Ela era chamada de Wu Chi, o Mundo em Perfeita Harmonia. Mas por algum motivo, que nem mesmo nós com todo nosso conhecimento podemos dizer qual foi, esta energia chamada Wu Chi se expandiu, gerando o Ki Primordial ou Yuan Chi. E, a partir desta energia primordial surgiu a bipolaridade energética, ou o bem e o mal como estamos acostumados a falar.

- O bem e o mal... – repetiu Spark, a fim de memorizar.

- Cada pessoa no mundo carrega um pouco dessa bipolaridade dentro de si. Todos nós possuímos o bem e o mal dentro de nós e nosso objetivo tem que ser o de encontrar o equilíbrio para estas energias. O Ki é uma manifestação dessas energias que carregamos dentro de nós. Se você aprender a controlar seu Ki com perfeição, poderá utilizá-lo das mais variadas formas possíveis. Imagino que você como guerreiro alguma vez tenha disparado um raio de pura energia com a palma da mão, correto?

- Sim, várias vezes...

- Pois bem. Aquela energia disparada, nunca parou para pensar de onde veio aquele poder?

- Minha instrutora me ensinou sobre isso. Ela dizia que eu tinha de me concentrar e buscar a força no meu interior e que assim seria capaz de coisas incríveis.

- E como você acha que se chama essa “força interior”? – Simon perguntou, tentando conduzir Spark à resposta correta.

- Então quer dizer que eu... ou melhor, todos nós temos um Ki?

- Sim. Mas alguns aprendem a controlá-lo melhor que outros. Mas estamos sempre utilizando ele, quer percebamos isto ou não. Um exemplo... alguma vez você já teve a sensação de que algo iria acontecer e quando olhou para trás, realmente aconteceu? Algo que beirasse uma premonição?

- Sim!

- Então, isto é o Ki. Bom... chega de conversa, acho que eu terei de te mostrar o que o Ki é, se quiser que você entenda melhor. Prepare-se... e ligue seu aparelhinho se quiser ver uma coisa...

Spark manteve o rastreador ligado, sem saber exatamente o que esperar. Ficou olhando para o guerreiro Kelfo, que ainda estava sentado na posição de lótus. Ele fechou os olhos e começou a meditar e a medida que se concentrava, o rastreador no rosto de Spark começou a apitar incessantemente.

Era simplesmente inacreditável. O poder de luta que antes era de apenas 5 logo se transformou em 1.000, 10.000, 50.000, 90.000 e continuou a crescer, espantosamente. Spark nunca tinha visto nada como aquilo, ficando altamente espantado com o que estava vendo acontecer diante de seus olhos. O guerreiro ficou envolvido por uma aura azulada, ficou de pé e travou os punhos. “Agora é que começaremos de verdade...” ele disse a Spark, sorrindo da expressão de espanto do Saiyajin.

O soldado Kelfo expandiu ainda mais o seu poder, a aura azulada ficando ainda maior e o rastreador, que já marcava 150.000 deu um salto para os 285.000 num instante.

- E agora, Spark... qual o número que aparece aí na sua tela?

- Du... duzentos e oitenta e cinco mil... você, você é quase tão poderoso quanto a Mestra Lenia!!

- Olhe garoto... este é o meu limite atual. Duzentos e oitenta e cinco mil. Com treinamento e trabalho duro, este limite pode ser superado, essa marca pulverizada completamente. Se eu, durante uma batalha, tiver de usar alguma das minhas técnicas especiais, este poder vai aumentar ainda mais. Por isso que você não pode, nem deve se apegar à números para determinar a força de seu oponente. Porque os números, assim como a energia do Ki, são infinitos, mas é puro cálculo e teoria. Você vai aprender a sentir seu próprio Ki e o de seu adversário... e então, vai entender como esse seu aparelhinho é inútil.

Os olhos de Spark brilharam. Estava diante de um guerreiro altamente poderoso, que conhecia a técnica mais incrível que já tinha visto em toda sua vida e o melhor: ele iria ensiná-la para ele. Sem perceber, Spark sorriu abertamente, imaginando o orgulho que daria a sua tutora quando voltasse para casa, em um mês.

 

* * *

 

Já era de tardinha quando o Mestre Khan decidiu que iria treinar com Spark, dirigindo-se aos fundos do templo, com as mãos para trás. Spark estava sentado no chão de pernas cruzadas e olhos fechados, tentando inutilmente realizar o mesmo feito de Simon. O guerreiro Kelfo meditava pacificamente encostado numa rocha, parecendo cochilar tamanha era sua expressão de paz. O Mestre tocou o ombro de Spark, fazendo-o voltar sua atenção para ele.

- Não é assim que faz isso, meu jovem. Apenas fechar os olhos não vai aumentar o seu poder, e sim te deixar sonolento. É preciso limpar a sua mente antes de querer trabalhar o Ki. Desprender-se de todas as coisas mundanas, de todos os pensamentos e emoções. É preciso se desprender do rancor, da ira, do ódio e do desejo de vingança. É também preciso se desprender da saudade, da tristeza, da amargura. Em resumo, a primeira coisa que tem que fazer é se libertar de tudo isso que está passando por sua cabeça agora e pesando seu coração.

- Como... como o senhor sabe destas coisas? – questionou o Saiyajin, surpreso pelas palavras do velho Khan. Será que este era um dos poderes do velho, ler a mente das outras pessoas?

- Através da energia do Ki você será capaz de sentir as coisas que as pessoas ao seu redor estão sentindo. Você logo descobrirá que tudo no Universo se baseia no Ki. Desde a compreensão do mundo e de si próprio, até mesmo numa luta. O combatente que conseguir antecipar os movimentos de seu adversário pelo Ki com certeza sairá vencedor de uma batalha.

- Mas como trabalhar isto senhor? Como eu posso exercitar esta energia que existe dentro de mim se eu sequer sabia de sua existência?

- Tolice! Você com certeza já utilizou do Ki anteriormente, em batalhas ou mesmo para utilizar a habilidade de voar. O princípio é o mesmo, deixe essas suas duvidas de lado e acredite que para você isso é possível. Você verá que expandir a energia e controlar seu Ki é extremamente fácil. A não ser que... deixe-me dar uma olhada em você, sim?

- Tá, se o senhor insiste...

O velho Mestre parou diante de Spark por uns segundos, fechando os próprios olhos por um segundo e respirando de uma forma diferente do normal. Uma respiração suave, diafragmática e silenciosa. Em seguida reabriu os olhos, encarando Spark nos olhos de uma forma tão segura que o Saiyajin teve certeza que o velho conseguia enxergar a sua alma.

- Me responda uma coisa, jovem aprendiz... alguma vez em sua vida você foi mal cotado como lutador, ou pareceu demorar para aprender novas técnicas? Aumentava seu poder muito lentamente, talvez, num ritmo aquém do esperado pelas outras pessoas?

Credo. Esse velho me dá calafrios. Será que ele quer mesmo que eu responda isso?

- Bom... sim. Segundo minha mestra Lenia, em cinco anos minha evolução foi muito baixa, ela queria que eu tivesse pelo menos o triplo da minha força atual. Mesmo quando eu me recuperava de uma ferida mortal, o meu poder aumentava muito pouco, ao contrário dos outros Saiyajins que ficavam absurdamente mais fortes...

- Eu já esperava por isso – respondeu o velho, sorrindo e passando a mão pela barba fina e prateada – Garoto, antes de começarmos a treinar, tem algo que eu preciso fazer por você. Considere isto como um grande favor, ou mesmo um pontapé inicial.

- Tem algo que precisa fazer por mim? E o que seria isso? – Spark estava cada vez mais curioso. O que poderia ser aquilo que o velho Kelfo queria fazer por ele?

- Veja bem, meu jovem. O corpo possui sete pontos principais, de onde flui o Ki para que possamos utilizar. No entanto, algumas pessoas possuem estes pontos mais abertos que outras. Este é o seu caso, eles são extremamente fechados. Eu vou tratar de abri-los para você. Vai ser tão rápido que você nem vai perceber quando acabar, exceto pelo aumento de sua própria energia.

Khan tocou levemente a cabeça de Spark e com um pensamento fez sua energia se concentrar na mesma. O jovem Saiyajin sentiu um imenso calor percorrer seu corpo, como uma descarga elétrica que se fazia sentir em cada milímetro de sua pele, cada poro, cada fio de cabelo que possuía. Sentiu que aquilo, fosse o que fosse, parecia aumentar dentro de si descontroladamente. O calor aumentava também e junto com ele veio uma breve sensação de mal-estar. Depois de alguns segundos, porém, o velho tirou a mão de sua cabeça.

- Pronto. Assim está melhor. Eu forcei que seus sete pontos se abrissem e a energia fluísse por seu corpo. Não se sente mais forte, talvez? Além do aumento natural que vem junto com a circulação de energia, eu resolvi também libertar uma parte de seu poder oculto. Agora sim você vai poder acompanhar meu treinamento.

Spark levantou-se, liberando uma grande quantidade de seu Ki e ficando envolto por uma aura clara. Seus cabelos ficaram agitados com o ar que se desprendia de sua aura de energia, assim como a grama em seus pés. Porém nada se comparava com a sensação de Spark. Surpresa, alegria, gratidão, excitação, tudo isso passou pela cabeça do garoto, que tremia, assombrado diante de tanto poder.

- Isso tudo é inacreditável!! Sou eu mesmo?

- Claro que é você. Quem mais seria? Agora que vamos começar com o treinamento real. Melhor se preparar. Não sei como a sua mestra anterior lidava com você, mas eu sou um professor extremamente rígido e espero o máximo de dedicação daqueles que eu treino. Se você não apresentar desempenho, eu te chuto daqui de cima da montanha. Estamos entendidos?

- Sim senhor, pode deixar comigo, que não vai se arrepender! – respondeu o Saiyajin, sorrindo e pensando que, anteriormente, Lenia havia lhe dito as mesmas palavras. Agora, o jovem estava disposto a dedicar corpo e alma àquele treinamento para não só honrar aquela promessa com o velho Kelfo e com sua mestra, mas porque estava vendo que, muito próximo de si encontrava-se a chave para se tornar forte o bastante para fazer Asus engolir todas as vezes que o havia chamado de fraco ou o menosprezado por ser um guerreiro de terceira classe.

Vejamos quem vai ser o verme de classe baixa agora!

 

* * *

 

Quando o sol começava a tingir de dourado os céus do planeta Omega-003, Lenia já estava pronta para sair em busca de seu pupilo desaparecido. Havia tomado um longo banho de água gelada para se acalmar e tentar esquecer tudo que havia acontecido no decorrer daquele dia. O estresse com Gyules havia abalado-a de tal maneira que ela havia chorado, algo que não acontecia a muitos anos. Lenia sempre evitava chorar, mesmo sozinha. Sabia que tinha uma grande responsabilidade em mãos, era uma mulher guerreira muito mais poderosa que a maioria dos homens da Fortaleza e não podia se dar ao luxo de demonstrar sentimentos de fraqueza diante deles. Sabia que a sociedade dos Saiyajins era tipicamente machista, mesmo havendo mulheres guerreiras e poderosas, elas sempre tinham que abaixar a cabeça diante dos homens, que ocupavam sempre os melhores cargos, as melhores patentes e eram sempre condecorados e tinham seus nomes escritos na história da raça. Ela sabia que era uma vitoriosa, a primeira mulher a se destacar entre os homens e ainda por cima treiná-los. Então, para ela seria uma desonra para si própria deixar suas emoções aflorarem-se daquela maneira, culminando em choro. Um erro que ela não queria cometer de novo tão cedo.

Sabia que deveria encontrar-se com Tank no terraço para que juntos fossem procurar por Spark. Mas porque não uma bebida primeiro, para acalmar um pouco mais os ânimos?, ela pensou e foi rumo ao bar, que ficava um andar abaixo do refeitório.

O bar, assim como todo o resto da Fortaleza, parecia o interior de um submarino. A porta que dava acesso era uma escotilha e as mesas, cadeiras e até mesmo o balcão eram feitos de metal fundido, rústicos porém extremamente resistentes.

O primeiro arrependimento de Lenia em ter ido ao bar foi topar logo de cara com Asus, que como de costume estava bebendo com seus comparsas. Suas bochechas levemente coradas e a forma como falava alto denunciava que ele estava bêbado e talvez por isso ele não notou a presença de Lenia no recinto. Ela se aproximou do balcão, mas sem tirar os olhos do jovem pupilo de Tank.

- Quero um Vermelho por favor, Rommel. – disse ela ao barman, ainda fulminando Asus com seu olhar de raiva e desprezo.

O Vermelho era um vinho feito pelos Saiyajins, utilizando-se de frutas silvestres do planeta Omega-003. Uma bebida gelada, porém levemente picante e que era bastante forte, graças ao alto nível de fermentação daquelas curiosas frutas nativas do planeta.

Sua caneca veio estupidamente gelada. Os canecões de Rommel eram todos com capacidade superior à 500ml. A caneca de Lenia possuía 750ml, que era a dose favorita da guerreira, freguesa de longa data do barman. Já no primeiro gole, ela consumiu quase metade da caneca, prestando atenção a cada movimento, cada piscada de olhos de Asus. E percebeu que eles estavam conversando justamente do assunto que mais a deixaria louca naquele momento: Spark.

- Mas então, ficou sabendo que o merdinha do Gyules deu com a língua nos dentes? – perguntou Dirk, que estava de costas para Lenia – soube que aquela tutora do fracote de classe baixa quase explodiu sua cabeça em mil pedaços hoje mais cedo.

- Hmpf, teria sido bem feito se aquele verme insignificante tivesse morrido. Agora eu é que terei de me encarregar dele outra hora – falou Asus após dar um gole em sua caneca – Verme imprestável, aquele inseto complicou bastante a minha vida fazendo isso!

- Asus, e se a Lenia resolver vir atrás de você para um acerto de contas? – questionou Dieter, que também bebia bastante, como se não fosse haver um amanhã.

- E porque ela viria atrás de mim? Ninguém se importa com aquele inseto desgraçado e metido do pupilo dela, nem ela mesma! – rebateu Asus, rapidamente – Nem mesmo ela o suporta. Todas as vezes que a vi voltar dos treinos com ele, o desgraçado estava agonizando nos braços dela. Puxe o registro médico da enfermaria e vai ver que o nome do bastardo é recordista lá.

- Olha, não é bem isso que chegou aos meus ouvidos, Asus – Dieter retrucou – É bem verdade que ela sempre pega pesado com ele nos treinos, mas pelo que eu fiquei sabendo, ela está furiosa com o fato de terem armado para o aluno dela. E ela quase matou o Gyules, se não fosse por seu tutor agora estaríamos catando os miolos dele por toda a Fortaleza. A mulher ta com fome de justiça.

- Pro diabo com você e com ela, Dieter!! – Asus parecia irritadíssimo, com toda sua tensão se revelando numa artéria pulsante e saliente em sua têmpora – O que está querendo dizer, que ela vai vir numa cruzada por vingança para cima de mim? Hein, é isso?

- Encare os fatos, Asus... – foi a vez de Klaus se manifestar, sentado e de braços cruzados – Você é realmente muito forte, um prodígio e isso é inegável. Mas se a Lenia quiser arrebentar você, você sabe que não vai ter a menor chance.

O Saiyajin terminou sua caneca e a bateu com violência em cima da mesa. Era óbvio que aquele assunto o tirava do sério.

- Escuta aqui, seu miserável, eu não sou um Saiyajin poderoso qualquer! Eu sou aquele que vai se tornar o Super Saiyajin, o mais cotado e capacitado entre todos os guerreiros de primeira classe a conseguir chegar neste nível! E se ela quiser vir lutar contra mim, que ela faça isso de frente para que possa receber o dela! Eu, o grande Asus, não irei perder para ninguém que cruzar o meu caminho, muito menos para uma mulher, uma vadia que treinou durante cinco anos um verme fracassado como Spark!

O silêncio se fez no bar, uma vez que os únicos ali que ainda não haviam se dado conta da presença de Lenia no recinto eram Asus e seus comparsas, e ainda por cima o pupilo de Tank dizia aquelas palavras em plenos pulmões. Lenia, que já não estava mais suportando todo aquele falatório de Asus, deixou que o sangue lhe subisse à cabeça ao ser chamada de vadia e seu aluno de verme fracassado. Arremessou sua caneca com toda força, mantendo o conteúdo interno – o resto do vinho – para que ela pesasse mais ao atingir em cheio a cabeça de Asus. Em seguida levantou-se e parou diante dos quatro, que olharam para ela com espanto e terror, a tensão estampada no rosto de todos eles.

- Você tem a língua grande como um réptil, Asus... e imagino que também tenha o cérebro minúsculo como eles tem. – disse Lenia, com os punhos cerrados de raiva – Você não queria que eu viesse aqui? Pois aqui estou eu. Quero ver se o grande candidato ao Super Saiyajin é tudo isso mesmo que dizem, ou se trata-se apenas de um imbecil prepotente.

- Ora, sua maldita!! Quem te deu a liberdade de ficar ai ouvindo a minha conversa!?

- Corte esse seu papo furado, Asus. Você não vai ganhar tempo, tampouco fugir de mim. Agora que eu ouvi você dizer que eu “teria o meu”, estou curiosa para ver se você tem todo esse potencial que dizem.

Mais artérias se incharam por toda extensão das têmporas direita e esquerda de Asus, que cerrou os dentes de raiva e se levantou de sua cadeira bruscamente, arremessando longe a mesa em sua frente juntamente com as canecas de todos os seus colegas.

-  Fugir de você? Você acha mesmo... QUE EU...VOU...FUGIR...DE...VOCÊ?!

O movimento de Asus foi extremamente veloz, ao erguer amas as mãos e disparar um poderoso raio de pura energia brilhante em Lenia, ali dentro do bar mesmo. No entanto o movimento da instrutora Saiyajin foi muito rápido, rebatendo o ataque para o lado com as costas da mão direita, como se toda a energia não passasse de uma simples bola de vôlei de praia. O poder atravessou a parede da Fortaleza, indo se perder no horizonte, à distância. Dirk, Dieter e Klaus pareciam estupefatos com aquilo. Asus também não esperava que ela fosse escapar daquele golpe, ainda mais com tamanha velocidade.

- Apenas com isso você não vai poder me vencer... fedelho!

Com um velocíssimo movimento, Lenia desapareceu no ar, ressurgindo meio palmo de distância de Asus e enterrando o punho direito em seu estômago, deixando-o completamente sem ar. Em seguida acertou-lhe um poderoso chute giratório no rosto do seu adversário, que o arremessou longe, em direção à parede oposta do bar. Antes que a atingisse, porém, Lenia desapareceu novamente e reapareceu às costas do guerreiro, desferindo uma cotovelada, mandando-o de volta aonde se encontravam seus capangas. O rosto de Asus raspou no chão frio do bar e antes mesmo que ele pudesse pensar em alguma coisa, foi atingido novamente por Lenia, com um fortíssimo chute em suas costelas, lançando seu corpo para fora da Fortaleza, pelo mesmo buraco que seu ataque de energia havia feito na parede anteriormente.

A instrutora liberou sua energia e voou em direção ao corpo de Asus, acertando-lhe diversos socos e chutes em alta velocidade deixando-o incapaz de reagir ou defender-se, terminando sua sequência recuando no ar e disparando uma poderosa esfera de energia que o acertou em cheio no peito, fragmentando sua armadura.

Lenia parecia uma incansável máquina de bater. Ainda inconformada, achando que aquela surra era pouca, ela desapareceu em alta velocidade novamente, ressurgindo em frente à Asus e lhe acertando um poderosíssimo chute no queixo que o mandou para cima, mas antes que seu corpo atingisse a total distância que a potência do golpe poderia lançá-lo, Lenia o atingiu mais uma vez, com ambos os pés no meio de suas costas. O corpo de Asus despencou como um peso morto em altíssima velocidade, perfurando outra parede da Fortaleza e indo parar dentro do bar novamente, tendo atingido o balcão metálico com a cabeça e permanecendo jogado no chão, respirando pesadamente. A instrutora voltou para o recinto, deslizando suavemente no ar. Ao tocar seus pés no chão, foi até o corpo inerte de seu adversário, carregando-o pela gola interna de sua armadura Saiyajin.

- Espero que reconheça a sua mediocridade, moleque. Você é tão poderoso, tão cotado a ser o Super Saiyajin que nem sequer conseguiu reagir a meus ataques. Aumente seus poderes de verdade para depois sair contando vantagem para os outros. E acima de tudo... nunca insulte, nem provoque um inimigo que estiver tão acima de você a ponto de poder te matar sem que ao menos lute. Você tem sorte que eu preciso de você vivo para encontrar o Spark... agora suma da minha frente, ou você por acaso quer que eu continue a te dar esta deliciosa surra?

Os demais correram para o amparo de Asus, porém foram interrompidos por Lenia.

- Ele vai se levantar sozinho, ou então é melhor nem se levantar mais.

De repente, a mão de Asus expressou um leve movimento. Suas cordas vocais emitiram um leve gemido de dor e ele foi recobrando a consciência. Havia sangue lhe escorrendo da boca, extremamente ferida e da testa, com um corte considerável. O resto do corpo também estava coberto de marcas de pancadas e escoriações, porém nada disso conseguiria vencer o orgulho de Asus, que mesmo com dificuldade, se pôs de pé. Sua respiração estava pesadíssima e sua postura estava curvada, como se ele fosse cair a qualquer momento. Mesmo assim, ele teve forças para falar.

- Você... se acha muito boa... não é Lenia...? Mas eu te digo uma coisa... mesmo com todos estes seus poderes... Seu aluno era um fraco... aquele verme idiota, se tiver sobrevivido... não voltou para cá ainda porque é um covarde... um covarde que tem medo de me enfrentar... eu vou me fortalecer, Lenia... um mês... um mês e eu vou te devolver cada um de seus golpes... essa humilhação não vai passar em branco!

- Você realmente acredita que vai superar meus poderes em um mês!? Por favor Asus, não me faça rir. Você pode treinar incessantemente por anos à fio que você nunca irá me superar, sabe porque? A cada dez flexões de braço que você fizer, eu já fiz cem. Cada nível que você ultrapassar de você mesmo, eu já terei ultrapassado dezenas meus. Eu não vou ficar simplesmente sentada de braços cruzados assistindo você se fortalecer. No entanto, se você por milagre mesmo fizer valer as suas palavras, pode vir me enfrentar onde e quando quiser. Estarei sempre pronta para amassar esse seu focinho!

- Um mês... um mês... me aguarde! – rosnou Asus que em seguida cuspiu no chão, um misto de saliva e sangue e retirou-se da presença da mulher, recusando grosseira e arrogantemente todas as tentativas de auxílio de seus colegas.

Um mês é? Então vamos esperar este mês passar e ver até onde ele consegue ficar mais forte!

 

* * *

 

A primeira semana de treinamento de Spark no templo do Mestre Khan havia sido bastante puxada. Nos primeiros dias, ele havia descido e subido aquelas imensas escadarias quinhentas vezes seguidas e como havia contado ao mestre sobre seu ponto fraco natural, a cauda, ele tinha que realizar aquela tarefa árdua com pesos amarrados na mesma. Durante a tarde, treinava o controle de seu próprio Ki, aprendia a expandir a minimizar toda sua energia, a fim de esconder por completo sua presença. E ao cair da noite, Spark treinava exercícios de resistência física ao extremo, como fazer centenas de flexões de cabeça para baixo com apenas um braço, por exemplo. Khan percebeu que o Saiyajin agora já não parecia mais o guerreiro que tinha conhecido sete dias atrás. A cada dia que passava ele se adaptava melhor aos treinamentos e manipulava seu Ki melhor do que antes. Seu progresso estava sendo surpreendente. Simon também se dava conta disso e, embora ainda não gostasse muito da idéia de estar treinando um Saiyajin, ficava feliz ao ver que o garoto absorvia aquilo que lhe era ensinado. A disciplina e a dedicação de Spark conseguiram fazer com que, no entardecer do sétimo dia, o guerreiro Kelfo se unisse a ele nos treinos, a fim de que juntos pudessem aumentar suas forças.

Durante à tarde do oitavo dia, Spark foi surpreendido por uma visita inesperada, que encheu seu coração de alegria. Parada diante dele estava Lily, usando um belo vestido azul claro e com seus longos cabelos loiros presos a um rabo de cavalo. Ela correu para abraçar o Saiyajin, sem se importar com o fato dele estar sujo e suado e se jogou em seus braços, apertando-o com força. Todo aquele calor que ele havia sentido no primeiro olhar que ambos trocaram voltou a percorrer seu corpo com toda a intensidade. Seu Mestre ainda não o havia ensinado a lidar com aquela sensação, mas sinceramente, para que lidar com ela?

- Eu senti saudades de você! Senti que deveria vir aqui te ver, te ajudar um pouco no treinamento. – disse Lily, ao se soltar dele – Aproveitei que não vou mais ter aulas durante um tempo, e resolvi que ficaria aqui em cima da montanha, com você... isto é, se não te incomodar, claro.

- Ah, mas é claro que não, Lily! Eu adoraria ter você aqui! – respondeu o Saiyajin, sorrindo. – Mas não sei se o Mestre Khan permitiria... ele tem pegado bastante pesado comigo...

- É dá pra notar – ela respondeu, olhando-o como uma criança que admira alguém – Além de seu corpo estar um pouco ferido e suas mãos calejadas, o mais notável de tudo é como seu Ki aumentou! Nem parece o frágil garotinho que eu encontrei por ai.

Lily deu um risinho abafado, deixando Spark bastante desconcertado. “Frágil garotinho? Então é assim que ela me enxergava?”, o Saiyajin pensou, envergonhado consigo mesmo. Ora, querendo ou não ele era um membro da raça de guerreiros mais poderosa do Universo, sem contar que os anos de treinamento contribuíram bastante com a formação de seu corpo, cuja musculatura era altamente definida. Ao olhar sua imagem refletida num espelho ele pensaria qualquer coisa de si mesmo, menos um “frágil garotinho”. No entanto, mesmo tendo tanto seu orgulho de guerreiro Saiyajin quanto seu lado machista completamente esmagado por uma garota – e ela sim lhe parecia ser frágil -, porque ainda assim não conseguia ficar bravo com ela? Ele apenas queria ficar olhando-a rir entre suas próprias mãos, parado o dia inteiro. Mas a voz do Mestre Khan o trouxe de volta à realidade, num puxão brusco e repentino.

- Spark!? Por um acaso você veio aqui para o alto desta montanha para ficar de conversinhas com a senhorita Lily?

- Não senhor, eu apenas estava falando com ela uma vez que...

- Não tente discutir. Estava falando, estava conversando... qual a diferença? Seu objetivo aqui é apenas um, treinar! Fortalecer não apenas os seus músculos, mas também sua mente! De que adianta o guerreiro possuir braços bem desenvolvidos, se sua mente é atrofiada? Agora adiante-se, vá treinar! Você ainda tem uma rotina de exercícios pela frente, então faça-os!

Spark ainda direcionou um último olhar à Lily antes de deixar a presença dos dois, prestando uma reverência ao Mestre primeiro e depois voltando aos fundos do templo,  absorto em seus pensamentos e divagações.

Mestre Khan é muito severo... mais até do que a Mestra Lenia. E eu que pensei que estava ruim nas mãos dela... Sempre achei a Mestra Lenia o ser vivo que mais me transmitia respeito, que eu mais reverenciava, mas de algum modo, o Mestre Khan consegue me intimidar muito mais. Sei que ele é bem poderoso, mas não é todo o poder que ele guarda que me intimida. Serão seus olhares, ou a forma severa, quase rude como ele me trata? Droga... um Saiyajin sendo treinado por Kelfos, a maior raça guerreira do Universo em contato com a mais pacífica, como poderei compreender seus métodos? Ainda não consigo aceitar a idéia de desenvolver as melhores e mais eficientes técnicas de combate e simplesmente não usá-las para nada, por opção própria. Que tipo de guerreiro iria querer algo desse tipo? Qual a graça de ter tanto poder se eu nunca vou poder usufruir dele num combate? Bom, não preciso perder meu tempo pensando nessas coisas. Eu sou um Saiyajin e depois que deixar esta montanha e voltar à Fortaleza, poderei voltar a viver como um Saiyajin... embora eu ache que depois que eu sair daqui, eu vou me sentir um pouco vazio... e eu vá sentir muito a falta de...


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Notas finais do capítulo

Olá a todos! Gostaria de falar um pouco sobre o povo Kelfo, de minha criação!
Os Kelfos são seres poderosos e sábios, que utilizam-se do misticismo e da magia para viver seu dia-a-dia. Vivem num extenso Império que se estende por grande parte de Omega-003 e que detestam abrir os portões de sua civilização para receber outras raças de seres inteligentes, principalmente os Saiyajins, que são vistos como selvagens e destruidores. No entanto, sempre existe alguém que tem a coragem de vencer certos tabus, e no caso dos Kelfos é a família Güte Seele, composta pelo Chanceler Kopf e sua filha, Lily. Não vou falar muita coisa sobre ela ainda, pois senão irei comprometer a narrativa mais à frente, entretanto, não há nada de mais em falar um pouco sobre seu povo.

Os Kelfos são na minha mente a fusão de muita, MUITA coisa que eu já vi em vários universos do cinema, televisão e quadrinhos. Fonéticamente, o nome da raça e também o fato de serem ligados à misticismo, magia e sabedoria derivam dos Elfos, presentes em tantos e tantos filmes, livros, jogos (Senhor dos Anéis e Warcraft são apenas exemplos mais comuns de onde encontrá-los); A cidade de Himmel nasceu tanto das ruas da Capital de Naboo (Star Wars) quanto de cidades de antigas civilizações pré-colombianas. Já o lado misantropo da sociedade Kelfa vem do Japão da era dos Xoguns, completamente isolado de tudo e de todos, procurando dar mais importância à própria cultura e tradições. E como já foi mencionado anteriormente no capítulo quatro, o Templo do Mestre Khan é uma referência aos templos Shaolins da China.

Os Kelfos ainda terão grande importância na saga (sim, saga, pois esta Fic quando completa será apenas metade do que eu tenho em mente) e estarão sempre diretamente ligados aos eventos principais. E, posso adiantar aqui que eles possuíram no passado uma coisa em comum com o nosso planeta Terra, mas que atualmente se perde apenas nas lembranças dos mais idosos ou nos arquivos empoeirados de alguma biblioteca de Himmel...



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