Fix Me In 45 - Part III Final escrita por Allie Blews


Capítulo 1
Me And My Plus One In The Afterlife


Notas iniciais do capítulo

Terceira e última parte! Boa Leitura.



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Fix Me In 45 – Part III Final

"I wanna outrace the speed of pain for another day" - The Speed Of Pain; Marilyn Manson

- Ei, Morgan! Vamos, levante, 'tá na hora!

Acordei assustada. O carcereiro bateu as chaves nas barras de ferro, me fazendo abrir os olhos contra minha vontade. Eu não fazia noção das horas naquele momento, mas sabia do que ele estava falando. Era a hora de ver os oficiais e resolver o fim de tudo isso. Cocei os olhos e levantei sentindo as dores nas costas costumeiras. Aquela plataforma de ferro que levava o nome de cama acabava comigo. Esperei o homem abrir a cela e me algemar antes de sairmos. Seguimos o corredor ainda silencioso até o escritório do policial chefe. A porta de madeira escura abriu após três batidas leves. Me sentaram na cadeira e só então levantei meu rosto para ver aqueles olhos azuis tão familiares. Sorri ironicamente, mas desfiz rapidamente. Eu sabia bem o que iria a acontecer depois dali. Após meus últimos pedidos serem atendidos, Charlie Morgan seria extinta da face da Terra. Eu estava mais do que ciente sobre o acontecimento.

- Charlie Morgan. - disse ele me encarando, como se tentasse me desvendar.

- Eu mesma, Derek Jones... - fiz o mesmo.

A diferença ali, era que eu conhecia Derek com a palma da mão. Ele era meu pai e, mesmo eu tendo que fugir de casa, minhas investigações sobre seu nome nunca foram interrompidas. Derek era como um livro aberto, cheio de linhas tortas.

O homem deu um longo suspiro antes de continuar.

- Quanto tempo, não acha?

Levantei uma sobrancelha como resposta. Idiota.

- Enfim, creio que esteja a par de sua sentença. Você foi condenada a morte, com direito a um pedido, uma ultima visita e a escolha.

Franzi levemente o cenho. O que foi aquilo? Percebi um pingo de mágoa e dor em suas palavras. Mas por quê? Derek Jones não queria que a filhinha morresse, então?

Podia até ser, mas acontece, Jones, que não é de sua filha que falamos aqui. Até porque a mesma esta mais do que morta e enterrada, está no mais profundo dos abismos, na escuridão de uma vida inteira, perdendo toda e qualquer humanidade restante. Charlie Morgan tomou sua forma completa e desconhece Hannah Jones.

Eu quis jogar as palavras em seu rosto, mas engoli. Para quê arrumar confusão se já estava acabado?

Balancei a cabeça positivamente para Derek.

- Ótimo. Pois bem, me diga: quais são seus últimos desejos? - Derek transbordava ironia. Eu estava com o sangue borbulhando.

Não pensei duas vezes.

- Eu quero ver meu marido. Meu ultimo pedido é poder ver a luz do dia fora desse lugar imundo. E eu escolho a cadeira elétrica para morrer.

- Uau. Admiro sua coragem. - mais um pouco e eu quebraria todos aqueles dentes brancos bem alinhados. - Que assim seja! Pronta para seu ultimo suspiro, Charlie? - Derek se aproximou da mesa e pronunciou as ultimas palavras em tom baixo, quase como um sussurro.

Desgraçado. Levantei as mãos algemadas e num movimento rápido acertei seu rosto. O sangue começou a escorrer na boca. Me senti aliviada. Fui arrancada da sala, antes que pudesse ser revidada. Fui levada de volta para a cela, porém não a que eu estava... Me trancaram na solitária. Bater em Derek fez algo crescer dentro de mim, algo mudar. O sentimento estava de volta, eu sentia tanta raiva! Minha respiração não normalizava por mais que eu tentasse. Respirei fundo umas mil vezes, mas meus batimentos estavam muito acelerados. E agora que a boca dele sangrava, eu duvidava ter meus pedidos atendidos. QUE DROGA! Soquei a parede. Meus dedos ficaram dormentes e sangravam um pouco. Sentei no chão da cela e encostei a cabeça na parede, esperando algo lá fora acontecer.

Eu esperava. Esperava de verdade que Derek não vetasse nada que pedi. Pelo contrario eu não teria como morrer sem tirar aquela coisa ruim que eu sentia. Eu precisava ver meu marido, ou eu morreria de desgosto. E se fosse para isso acontecer, eu preferia apodrecer ali dentro e não ser morta.

Horas se passaram. O calor dentro da cela era tão grande, eu suava em bicas, não aguentava mais. Ouvi mexerem no ferrolho da porta e então abriu. O mesmo carcereiro de antes me algemou de novo e me tirou dali sem falar uma palavra. Saímos e seguimos em direção a sala de visitas, reconheci. Meu coração bateu aliviado, quase sorri. Tantas perguntas me rodeavam; será que ele estava lá? Ele aceitara me ver? Como estava? Foram tantos anos longe...

Porém essas não eram as que me cortavam por dentro; ele ainda estava sozinho? Casou de novo? Ainda lembrava de mim?

Um frio subiu pela minha espinha. Sentei na cadeira de ferro e abadei a cabeça, sem coragem de olhar quando ele chegasse. Se é que ele viria...

Minha mão ainda estava machucada de horas trás quando soquei a parede da cela. Inchada, com sangue seco e muito roxa.

15h00min

Alguns minutos depois ouvi uma voz longe. Meu coração de acelerado foi para lento e o sangue correu quente em minhas veias. Levantei o olhar e o vi. O cabelo loiro ainda era o mesmo, balançava com o vento. Os olhos cobertos pelos óculos escuros, foram expostos quando ele entrou na sala; verdes como pedras preciosas. Os lábios avermelhados e cheios, as bochechas rosadas e as roupas que eu estava tão acostumada a cuidar. Como eu sentia falta! Meus olhos ameaçaram lacrimejar, mas me contive. Eu não podia chorar na frente dele, não depois de tudo o que aconteceu. Ele sentou e eu ainda estava focada naquelas esferas verdes que eu tanto amava.

Nada foi dito a princípio. Eu estava ficando incomodada, já que ele ainda não havia me olhado nos olhos. Com a cabeça baixa e as mãos cruzadas sobre a mesa, meu marido falou a primeira palavra em nove anos:

- Você não mudou muito... - disse ele em um fio de voz. Deu um sorrisinho e finamente me olhou.

- Nem você... - respondi da mesma maneira. Meus olhos marejados entregavam a felicidade que eu sentia naquele momento.

- Continua linda para mim, se quer saber. - o jeito tímido dele me encantava mesmo depois de anos.

Senti minhas bochechas queimarem. Me senti uma adolescente de quinze anos falando com o garoto que gosta pela primeira vez. Eu tinha 37 anos e era tudo igual.

- Você aceitou vir.

- Sim, eu... Eu precisava te ver! Droga, Charlie, foram nove anos! - ele passou as mãos no cabelo e suspirou.

- Você sabe o que eu fiz. Conhece a minha história depois daquele dia lá em casa. Não te julgo pelo que fez ou pretendia, não penso mais nisso. O que me destrói é te ver sofrer.

- Eu sabia de tudo desde o começo. Sobre a mulher, quero dizer. Sobre você eu só descobri depois, então talvez fosse melhor ir para o túmulo sem saber. Mas aí já era tarde demais, ela já não respirava e sangrava muito. Deu trabalho tirar a mancha do piso, sabe?!

Reprimi um riso. Ele não estava com raiva ou ódio de mim, ele me entendia. Assim como eu o fazia com ele.

- Eu não te culpo, Charlie. Por nada. O que eu quero que saiba é: eu não odeio você. - continuou ele. - Nunca passou isso pela minha cabeça, jamais! Pelo contrario. Eu te amo muito! Mais do que você pode imaginar. Já sei do que vai acontecer daqui a pouco, então eu preciso ser claro e objetivo agora. - sua voz embargada me fez suspirar pesado e deixar uma lagrima fina cair.

A mão dele sobre a minha trazia a paz mundial para dentro do meu peito. Seu toque macio era tudo o que eu queria sentir para o resto da vida.

- Eu também te amo tanto! Mas você não merece sofrer por mim, meu amor, não merece. Olha, eu desejaria poder voltar no tempo e mudar a minha história para poder te encontrar e fazer tudo de novo, mas do jeito certo. Nós não estaríamos aqui agora, não mesmo.

- Mas se você mudasse eu não teria te conhecido. Quem sabe onde estaríamos agora. Por favor, não pense assim! Ter tido a chance de me casar com você foi a coisa mais maravilhosa que já me aconteceu. Sim, eu queria muito mudar essa situação, mas não posso! E isso acaba comigo, Charlie, acaba comigo! - ele chorava. E eu também, apertando a mão dele como podia por conta das algemas.

- Cinco minutos! - o policial gritou e o desespero bateu em mim, comecei a tremer.

- Olha para mim! Olha! - pedi e ele me olhou no fundo dos olhos. - Você vai me prometer uma coisa: vai viver sua vida! Seguir em frente...

- Não, Charlie, não...

- Por favor! Por mim, por nós e por tudo o que aconteceu. Faz tudo isso ter valido a pena de verdade! Lembre-se de nós, mas lembre com alegria, não chore por tristeza. Arrume alguém que te faça feliz como você realmente merece, viva a sua vida! E o mais importante: Nunca se esqueça de que eu te amo mais que a minha própria vida.

- Charlie, não isso, por favor... - ele ainda chorava muito. - Você sabe que ninguém vai me fazer feliz como você faz! Eu não posso viver sem você... Eu te amo demais, Charlie.

- Shhh... Eu tenho que ir. - sussurrei e juntei nossos lábios por alguns segundos em um juramento eterno. - A gente se vê do outro lado, meu amor.

O carcereiro me puxou e só deu tempo olhar pela ultima vez naqueles olhos verdes, que eu guardaria em minha mente por toda a eternidade. Ele não parou de chorar em nenhum momento, eu me sentia leve, mas queria correr e abraça-lo dizendo que tudo ia ficar bem. Mesmo não ficando.

- CHARLIE! CHARLIE, VOLTA!

Fechei os olhos e respirei fundo. Assim como os olhos cheios de lagrimas, a voz dele também estaria guardada para sempre. Dali iríamos para o terraço, deduzi. Esperei chegar lá para refletir sobre o que acabara de acontecer, eu não conseguia pensar com muita clareza naquele instante. Chegamos a escada que nos levava ao meu ultimo pedido, subimos e faltando três degraus para chegar, o vento gelado bateu em meu rosto e a vontade de chorar minha vida me pegou de forma violenta. Eu sentia meu coração se rasgando em pedaços, sendo picotado, queimado. Minhas mãos ainda algemadas esconderam meus olhos que agora derramavam lagrimas grossas e infinitas. Me permiti chorar como nunca antes. Não me importei, afinal aquele era meu ultimo momento com vida.

Eu o vira. Disse que o amava. E então eu o deixara. Tudo o que ele me disse, e o que eu disse à ele, foi tudo tão verdadeiro e sincero... Foi como se os quatro anos juntos com ele viesse a tona em 15 minutos de visita. Chorei por tudo. Tudo o que fiz, falei, pensei de ruim. Tudo o que planejei e tudo o que fez mal para as pessoas. Não por arrependimento, mas porque eu apenas quis chorar. Chorei de dor, de agonia, aflição, saudade, medo. Chorei por amor. Eu o amava tanto que doía e, não tê-lo comigo, era pior do que a morte lenta na cadeira elétrica. Charlie! A voz dele ainda ecoava em minha mente. Chorei mais.

Com as lagrimas escorrendo no rosto, olhei para o céu e fechei os olhos. O sol daquele dia não estava tão forte, mas quente o suficiente para que eu sentisse os raios.

Charlie Morgan estava tão vulnerável, isso estava muito errado! Mas quem se importava? Eu havia perdido tudo. Tudo o que eu mais prezava no mundo, o que eu mais amava. O amor da minha vida. Por tudo o que diziam, Charlie amava como a Hannah o fazia. Conheci o amor de verdade quando o conheci. Depois que fugi de casa e passei por tanta coisa ruim achava que nunca capaz de amar alguém. Mas então ele mudou tudo. E agora eu havia estragado tudo e o deixado.

As lagrimas agora apenas escorriam. Me senti vazia, completamente oca, sem nada. Em questão de segundos, a realidade chocou contra mim e eu arfei. Eu iria morrer, certo?! Sim, mas... Por que tentariam me matar se eu já estava morta? Deixei este mundo no dia que deixei aquela mulher com o corpo aberto no chão da minha casa. No dia que me tiraram de perto do meu marido. Apesar de que mesmo se eu tivesse alguma salvação, eu não sabia o que seria de nossas vidas. Às vezes me pego pensando o porquê. Qual a razão dessa outra eu? Qual a verdadeira razão para Charlie Morgan? Eu já não sabia mais dizer.

Abri os olhos e observei as presas lá embaixo me olhando curiosamente. A altura era um pouco assustadora. Se eu pulasse, doeria menos? Eu duvidava. O que eu sentia era incomparável. Olhei para o céu mais uma vez e senti o vento gelado bater um pouco mais forte. Como um aviso.

Era a hora de ir.

Senti a presença do carcereiro atrás de mim e me virei.

- Ms. Morgan eu sinto muito, mas tenho que leva-la. - disse ele formalmente e eu estranhei.

Esse cara era sempre tão rude comigo. Com todas, alias. Será que eles tinham pena de quem estava para morrer? Que ridículo!

Assenti devagar e, admirando meus pés naqueles sapatos esquisitos, caminhamos até o corredor mais sombrio de toda a penitenciaria. O tão temido Corredor da Morte. Não tinha mais o que esperar para morrer. Subimos umas escadas e chegamos a um corredor muito comprido. O lugar era diferente dos outros corredores, como se apenas aquele pedaço tivesse sido abandonado. E tinha um cheiro muito ruim. Se meu olfato não estivesse errado, aquilo era cheiro de carne humana queimada. Não que eu soubesse, mas era o que eu sentia. As correntes presas em meus pulsos e calcanhares rangiam tirando o silencio mórbido. O carcereiro me puxava pelo braço direito e eu andava com dificuldade. Observei cada pedaço, memorizando tudo. Aquele era o andar onde as penas de morte aconteciam. Câmara de gás, fuzilamento, injeção letal, enforcamento e cadeira elétrica. A minha escolha foi a do final do corredor.

Primeiro fomos para uma sala onde havia apenas uma cadeira, um espelho e alguns materiais. Me sentei e ligaram uma maquina. Meu cabelo foi completamente raspado. Olhei no espelho à minha frente e desconheci o reflexo. Eu não era nada. E aquele era meu trágico fim. O Oficial que estava ajudando o carcereiro me fez vestir uma fralda por cima da calça. Saímos de lá e seguimos até a sala de execução.

Já havia pessoas me esperando lá dentro. Reconheci Derek e mais dois homens. Entrei na sala e olhei bem no fundo dos olhos azuis de Derek. Vi tanta coisa, a nostalgia me invadiu rapidamente. Eu era uma pequena menina sorridente correndo pelos corredores de nossa antiga casa, brincando de esconde-esconde com os pais. Depois eu estava feliz jantando em família. Em seguida escondida no quarto tentando abafar as vozes raivosas com as mãos enquanto segurava um ursinho de pelúcia roxo nos braços. Por fim a testemunha de crime horrendo, fugitiva e vitima de abuso sexual. E agora uma mulher casada condenada a morte por crimes semelhantes ao presenciado na infância.

Mudei o foco da minha visão e me vi sentada na cadeira, com algo estranhamente gelado no topo da minha cabeça. Uma esponja, deduzi, com cheiro de sal diluído. Minhas mãos foram presas na cadeira com cintas de couro, assim como meus pés e tórax. Senti um capuz me envolver, e a ultima visão que tive foi uma melancolia estranha nos olhos de Derek. Eu tive que concentrar em minha respiração para que eu não sufocasse. Um capacete de metal foi encaixado sobre minha cabeça e preso por tiras embaixo do meu queixo.

Com tudo pronto, - eu apenas ouvia - as pessoas da sala se posicionaram. Ouvi dizerem que Derek Jones era uma das testemunhas junto com os oficiais já que meu marido havia recusado. Eu o entendia, nem eu queria ver aquela cena por outro angulo a não ser apenas o meu. Agora eu precisava dizer algo para provar que estava viva. Escolhi bem as palavras por alguns segundos.

- Hannah Jones, mais conhecida como Charlie Morgan. Te vejo no inferno, Derek!

E ligaram a maquina de choque. Senti a pior das sensações já sentidas no universo e me debati tão forte na cadeira que apaguei no mesmo instante.

XXX

Third POV

O corpo da mulher ficou mole na cadeira. A corrente de 2.300v atingiu primeiro o cérebro, paralisando-o na primeira descarga elétrica. O coração ainda batia, mas em intensa arritmia. Oito segundos depois o oficial provocou a segunda descarga de, dessa vez de 1.000v por vinte e dois segundos. O coração havia parado. Todos os órgãos estavam fritando e dava para ver um pouco de fumaça saindo do corpo. Por ultimo, outra carga de 2.300v por oito segundos foi mandada e um pouco de sangue manchou o capuz. Então tiveram a certeza.

Eram 15h45min da tarde e Charlie Morgan estava oficialmente morta, tendo o próprio pai como testemunha e deixando o tão amado marido viúvo e sozinho.

FIM


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Notas finais do capítulo

Trilogia completa também em: books-and-bites.tumblr.com/fmi45thetrilogy
@partofgab_s



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