Divergente - por Tobias Eaton escrita por Willie Mellark, Anníssima


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Willy e eu ficamos tão contentes com o número de pessoas que comentaram o último capítulo que resolvemos adiantar esta postagem que só viria na próxima quinta.
Vcs são super especiais!
Não se acanhem em comentar, favoritar, recomendar ou nos mandar mp's. Nosso coração se alegra com as manifestações de vcs!
Para quem, como nós, ama Quatro e Seis, este capítulo está recheado do amado casal porque resolvemos fazer um só para a cena do trem! Levamos em conta para escrevê-lo, o livreto Free Four. Então, sem mais. Esperamos que gostem e que deixem suas impressões lá embaixo.

Beijos.



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Facção antes do sangue.

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“Tão Somente Temerei ao Senhor,”

Leio a frase pintada na parede de meu quarto. Há mais de um ano a escrevi ali, como um lembrete de que deveria ser forte e corajoso nesta facção, se quisesse sobreviver. Coisas como esta parecem estar tão afastadas de mim, quase como se referissem à vida de outra pessoa.

Horas já se passaram desde que me despedi de Tris com a promessa de que nos veríamos à noite. Como eu não queria conversar com ninguém, tamanha minha falta de paciência, não fui ao refeitório para jantar junto com os demais membros do Destemor. Aliás, estou sem fome. Efeito colateral deste dia.

Tomo um breve banho, passando os dedos em círculos em minha nuca como se isso pudesse aliviar a tensão que meu corpo ainda preserva. Aquela mensagem da Erudição foi um lembrete de que eles não desistiram. Apenas estão se estruturando para algo realmente grande. Terrivelmente grande, para ser mais exato.

Sento na cama e aguardo o momento em que me encontrarei com ela para conversarmos em paz. E o melhor jeito de fazer isto é sair do Complexo. Desta forma, poderemos conversar sem sermos flagrados por alguém. Aproveito ainda para mostrar-lhe as luzes da Erudição.

Hoje eu passei do inferno ao paraíso quando Tris levantou-se nas pontas dos pés para me beijar. Mas uma coisa ainda me incomoda, o real propósito dela se arriscar hoje mais cedo, a ponto de quase ser expulsa ou coisa pior por Eric. Foi só para ver seu irmão que agora era um iniciando da Erudição e desabafar? Não faz nenhum sentido.

Só que pensar nisto acaba me levando a imaginar que ela não confia plenamente em mim, assim como em ninguém aqui. Ela não confia também em seus amigos. Só em sua família e eles nem sequer são da mesma facção.

Não posso dizer que entendo esta sua devoção por eles. Tenho poucas lembranças da minha própria família e ela não ela é bem o que se pode concluir como uma modelo de confiança. Com um pai cruel e opressor e uma mãe que se submete a uma morte forjada para manter um caso com outro homem, não sei como avaliar o sentimento de Tris para com seus pais e irmão.

Acredito que ela sempre teve amor e segurança. Tudo o que espera de um verdadeiro lar. Por isso, ela somente se sente segura com eles. Comigo não.

Penso melhor sobre isso e sorrio.

Ainda não.

Tempo é o que precisamos para que ela adquira confiança em mim e possa me contar coisas que julgue importantes. Quero conhecer seu passado, estar junto dela no presente para quem sabe, um dia, pensarmos num futuro.

Com algum esforço eu consigo me recordar de flashes em que vi Beatrice Prior na minha época na Abnegação.

É como se fossem duas pessoas diferentes, a Beatrice e a Tris. Nunca olhei uma segunda vez para Beatrice, a garota de vestes simples e cinzas que caminhava de forma delicada e determinada pelos corredores da escola. A garota que se esgueirava próxima à sua mãe, enquanto eu sequer conseguia prantear pela minha, que acreditava estar morta.

Tris, por sua vez, é a dona dos olhos mais lindos e brilhantes que já vi. A profundidade e o mistério que neles decantam é o que mais me fazia querer conhece-la. Desvendá-la. Seus olhos são como polos de ímãs para o metal dos meus, me atraindo. Ela é aquele tipo raro de chama que se ilumina mais forte quando tentam apagá-la. Na verdade, ela se acende quando a pressionam e é lindo de ver. E como metal, sinto que pouco a pouco estou sendo forjado e até transformado, pelo calor dela.

Olho novamente para o relógio e está perto do horário marcado. Eu me visto com uma simples e fina jaqueta preta e sigo até o corredor principal, tomando cuidado com as câmeras instaladas logo acima de mim.

Segundos depois que chego ao local marcado para nosso encontro, ouço passos de alguém se aproximando. Eu me viro e a vejo. Ela continua linda, vestida com roupas simples como sempre.

"Olhar para ela é como acordar.”

Caminho até Tris e entrelaço nossos dedos, gesto que me dá paz instantânea. A coisa toda sobre a guerra e a Abnegação tem me preocupado desde antes da iniciação, mas como tudo estava parado dentro de mim, meus problemas se resumiam em ir embora daqui e procurar uma forma de tentar ajudar o maior número de pessoas que corressem risco.

Eu não me preocupava com rostos específicos.

Claro que me importo com Zeke, Shauna e tantas outras pessoas que conheci no Destemor e até na Abnegação. A diferença é que, agora, a proteção de Tris e da sua família são fundamentais para mim. E tudo fica mais difícil.

Mal me recordo de Andrew e Caleb Prior. Conversei com Natalie Prior somente no Dia da Visita. Entretanto, o medo que Tris sente em perdê-los me faz entender que sua felicidade está diretamente associada a eles e como a minha é ligada à dela, deixá-los todos seguros é a única coisa que faz sentido. Um instinto de autopreservação.

Eu a conduzo até a saída do Complexo, em direção aos trilhos. Fazemos o percurso silenciosamente. Eu perdido em meus pensamentos e ela nos dela.

O próximo trem passará aqui, a qualquer momento. Assim que o ouço chegar, miro no terceiro vagão, soltando lentamente a mão dela, e me impulsiono para dentro. Cravo meus joelhos com uma das mãos e puxo Tris até mim com a outra mão livre. Ela vacila um passo e choca seu corpo contra o meu. Sua bochecha apoiada em meu peito.

Deslizo meus dedos sobre seus braços e penso que se não fosse a jaqueta que ela está usando, minhas mãos estariam em contato irrestrito com sua pele.

Eu realmente gostaria que ela não estivesse com esta jaqueta...

Afasto tais ideias um pouco inseguro quanto ao rumo que elas estavam tomando e olho para ela com certo receio pelos meus pensamentos.

Como se ela tivesse o dom de ler seus pensamentos, Tobias. - minha consciência me recorda.

Seguro em seus cotovelos. Ela se apoia em seus pés e se vira para olhar o edifício de vidro sobre o complexo do Destemor, sumindo atrás da gente.

Ela se vira para mim.

“O que você precisava me dizer?” - ela grita acima o barulho do vento.

“Ainda não.” – eu digo. Sei que ela está ansiosa e, principalmente curiosa, mas antes eu preciso senti-la mais junto de mim e matar a saudade que senti dela o dia inteiro.

Eu me abaixo e a puxo junto comigo. Assim fico sentado com as costas apoiadas contra a parede do vagão e de frente para ela. Tris se senta dobrando suas pernas de lado enquanto observo seus movimentos.

Tris é pequena e forte. Cada vez que olho para ela ou ouço suas palavras sempre tão inteligentes e sensatas para sua idade, eu fico mais e mais certo do que sinto.

O vento brinca com uma mecha do seu cabelo, atirando-a em seu rosto. Ela me encara e seus olhos sempre tão azuis sob os poucos fachos de luz que atravessam o complexo do Destemor agora estão mais escuros. Assombreados pela escuridão de dentro do vagão, banhado somente pela luz da lua ao longe.

Seus olhos são contraditórios. O céu quando se fixam afetuosos nos meus - como agora - e o inferno quando frios e distantes como quando ela me deu aquele tapa.

Apoio minhas mãos no seu rosto, e escorrego meus dedos na parte de trás da sua orelha. Eu a puxo para mim, para minha boca, e carinhosamente beijo seus lábios macios e doces. Por um momento me perco neles. A falta que senti disso era inexplicável.

Não percebo como, mas sou dominado por uma onda potente de calor que esquenta em meu rosto e é irradiado para toda a extensão do meu corpo, até as pontas dos meus dedos. Desço uma das mãos para seu ombro e mantenho a outra em seu rosto. Eu me inclino e beijo seu pescoço e subo até sua mandíbula.

E eu não quero parar.

O vagão vacila sobre os trilhos e Tris se desequilibra. Ela apoia sua mão em meu quadril e eu gosto dela ali, mas é inevitável não sentir medo de assustá-la. Eu mesmo já estou assustado com isto. Nossa criação na Abnegação não permitia contatos deste tipo. Só que este não parece o momento em que teremos pensamentos racionais.

Ela passa as pernas ao redor de mim, sentando em meu colo e se inclina até meus lábios pressionando-os com os seus outra vez.

Fico surpreso. Mas, por outro lado, a sensação que sinto não tem comparação. É como se o céu todo se abrisse após uma longa tempestade; como tomar um banho gelado e refrescante depois de um dia muito quente de verão; como sentir o vento bater em minha face em alta velocidade, dissipando meu medo e acelerando meus batimentos.

Eu me endireito e a aperto um pouco mais para perto de mim.

Depois de passar tanto tempo paralisado pela dor e pelo medo, ela representa a esperança de que posso ser feliz. Afinal, estou feliz agora, sentindo essa liberdade incrível e, ao mesmo tempo, sufocante porque meu coração bate tão depressa que parece prestes a explodir em meu peito.

Minhas mãos deslizam para a sua coluna em um movimento calmo, para tentar obrigar meu coração e minha respiração a se estabilizarem em um ritmo normal.

Coloco minhas mãos sobre sua jaqueta e desço o zíper alguns centímetros. Não sei quando resolvi fazer isso, mas algo sobre a pressão de seus lábios quentes nos meus, me fazendo perder a razão, indicam que nossos corpos parecem saber bem o que fazem, por conta própria. Penso isso porque não estou certo de que Tris decidiu realizar qualquer um dos seus movimentos de há pouco. Contudo, não posso reclamar de não termos um exato controle.

Eu afasto sua jaqueta, somente o suficiente para deixar suas tatuagens expostas. Lembro vagamente da primeira vez em que as vi. Eu estava bêbado, mas isto não me impediu de ser sincero com ela quando a disse que estava bonita. Quer dizer, não tão sincero já que na verdade ela é linda e eu estava consciente deste fato.

Passo meus dedos sobre as pequeninas aves negras e vejo que pontinhos se formam sob elas como consequência do arrepio que passou pela pele dela assim que a toquei. Sorrio por poder causar essas reações em seu corpo.

“Pássaros.” - eu digo. “São gralhas? Sempre me esqueço de perguntar.”

Ela sorri.

“São corvos. Um para cada membro da minha família. Você gosta deles?”

Sim Tris, eu gosto. Você fica, usando as palavras de Zeke, atraente, com estas tatuagens. Mas é melhor que eu não responda isso.

Três. Um para cada membro da sua família. Tris sempre se preocupou com os seus. E mesmo aqui, onde o lema é de que a facção vem antes do sangue, ela os gravou em sua pele, para que todos vejam que sua lealdade não está só em seu coração. Está reproduzida em seu corpo.

Inclino-me e pressiono meus lábios em cada um dos pássaros, fechando meus olhos. Tudo o que é importante para ela, também é importante para mim.

O trem desacelera um pouco e sei que chegou a hora de conversarmos. Coloco as mãos em suas bochechas.

“Odeio dizer isso, mas temos que no levantar agora.”

Ela assente e se levanta comigo. Eu a conduzo para a porta aberta do vagão. A princípio tudo está escuro, até aparecer borrões longos, como se fossem luzinhas piscando no meio de um túnel escuro. Chego mais próximo a ela e aponto para as luzes da sede da Erudição.

“Parece que os regulamentos da cidade não se aplicam a eles porque costumam deixar as luzes acesa a noite inteira.”

“Ninguém mais notou?” - ela pergunta ainda olhando para as luzes.

“Tenho certeza que sim, mas eles não fizeram nada para impedi-los. Talvez porque não queiram criar problemas por algo tão insignificante.” - dou de ombros para demonstrar a irrelevância da situação diante dos olhos das outras pessoas. “Mas me fez pensar no que a Erudição está fazendo para precisar tanto de luzes a noite.”

Viro para ela e me apoio contra a parede.

“Há duas coisas que você precisa saber a meu respeito. A primeira é que sou muito desconfiado das pessoas de uma maneira geral. Eu costumo esperar o pior delas. E a segunda é que sou mais habilidoso com computadores do que as pessoas costumam imaginar.”

Ela concorda pedindo para eu continuar.

“Algumas semanas atrás, antes do treinamento começar, eu estava trabalhando e consegui entrar nos arquivos protegidos do Destemor. Aparentemente o Destemor não é tão eficiente quanto a Erudição quando o assunto é segurança. Eu descobri arquivos que pareciam ser planos de guerra. Ordens pouco veladas, listas de suprimentos, mapas. Coisas desse tipo. E esses arquivos foram enviados a Erudição.”

“Guerra?” - Tris franze o cenho, e tira uma mecha do seu cabelo do rosto. Ela observa as luzes novamente e fica por alguns instantes pensativa. - “Uma guerra contra a Abnegação?”

Como eu imaginei ela deduziu o certo. Eu precisei ler vários arquivos para chegar nesta conclusão, enquanto que ela com apenas algumas palavras. Certamente ela pensou em sua família. Pego sua mão e entrelaço meus dedos nos seus.

“É, contra a facção que controla o governo.”

Ela continua pensativa. Viro-me para as luzes tentando esconder meu sentimento de impotência por não poder confortá-la ou poupá-la da verdade. Ela precisava saber, de toda forma.

“O propósito de todos aqueles relatórios era levantar suspeitas contra a Abnegação. Parece que a Erudição agora quer acelerar o processo. Eu não tenho ideia do que fazer sobre isso... ou até mesmo o que qualquer um poderia fazer.”

“Mas...” - ela começa, volto meus olhos para seu rosto, ela ainda está pensando algo - “porque a Erudição se aliaria ao Destemor?” - Então ela se vira. Sua expressão séria e pensativa foi tomada por um olhar de raiva.

“Eles vão nos usar.” – ela completa seu raciocínio, sozinha outra vez.

Sim, nos usar, mas para o quê, e de que forma, não entendo. Existem pessoas más no Destemor, assim como existe Marcus na Abnegação. O número, entretanto, de pessoas boas é muito maior. Como seria feito para que todos nós nos coloquemos a ceifar vidas de inocentes? Isso não faz o menor sentido para mim. Não imagino Shauna, Zeke, Lauren, Guigo, Tori outros membros e alguns dos iniciandos, assassinando pessoas.

“Eu me pergunto como eles planejam nos convencer a lutar.”

Ela retorna a sua expressão pensativa, e suspira ainda escondendo algo.

“Eu não sei.” - E volta a olhar a imensidão no escuro.

Depois de alguns minutos, seus olhos se desviam para os próprios pés.

“Tobias, me desculpe por aquele tapa. Você não merecia aquilo. Agora eu entendo que tudo o que você fez foi para nos manter seguros.” - Ela suspira antes de continuar. - “Eu geralmente não sou tão descontrolada assim.”

“Tudo bem” – eu digo, me aproximando dela. - “Eu sei como é ser um iniciando transferido, mas eu gostaria que você não tirasse conclusões precipitadas sobre mim novamente.”

Ela se mantém em silêncio, olhando para baixo, como que envergonhada. Chego mais perto dela e seguro seu queixo para que ela olhe para mim.

“Tris, pode ser que eu a machuque, considerando tudo que está acontecendo. E, de certa forma, você também me machucou hoje e não me refiro ao tapa. Não quero que você volte a duvidar do que eu te disse ontem e tudo o que estou dizendo aqui e agora. Isto se chama compromisso. Então, preste atenção: Eu gosto de você e quero ficar com você.”

Ela esboça um sorriso tão lindo que não consigo não sorrir de volta. Seus braços envolvem meu tronco e sua cabeça descansa em meu peito. Ela ouve meu coração.

“Desculpa. De verdade.” – ela diz.

“Pronto. Você está desculpada, eu estou desculpado, mas eu quero saber. O que você foi fazer no Complexo da Erudição? Não acredito que foi para chorar ou abrir o coração com seu irmão por nossa discussão, como Eric acreditou.” – digo.

Ela afasta seu rosto, mas mantém os braços à minha volta enquanto analisa se deve ou não me dizer algo.

“Tris, você pode confiar em mim. Afinal...” - Ela me interrompe. - “Eu sei, Tobias. Confio em você, mas é que... bem, trata-se de uma promessa que fiz à minha mãe, isto é, quando ela veio me visitar algumas semanas atrás. Você se lembra disso? – Tris me pergunta.

“Claro que me lembro. Eu fiquei com receio de que ela me reconhecesse. E também por ela ser a sua mãe.” – falo e dou um beijo entre suas sobrancelhas. Ela fica corada, mas me dá um sorriso fraco.

Eu nos separo do abraço, pego sua mão e a conduzo para sentar-se comigo novamente.

“E que promessa seria esta?” – volto ao assunto.

“Ela me disse que os membros da Abnegação estavam impedidos de entrar nas instalações da sede da Erudição, mas que eu poderia ir. Claro que ela disse que eu deveria ir quando terminasse a iniciação, mas você entendeu o ponto, né?” – ela diz.

Era óbvio que sua mãe não a pediria para se colocar em risco.

“Tris, você faz ideia do perigo que correu? Você foi espontaneamente e sozinha para o terreno inimigo.” – digo um pouco nervoso por ela se expor tanto. “Além do mais, você já pensou que eles estão de olho em você? Com certeza eles estranharam a falha na primeira simulação que lhe apliquei, mas você sabe que eu precisei deletar o arquivo.”

Ela sacode a cabeça.

“Jeanine disse algo respeito. E não foi somente você quem apagou arquivos das minhas simulações. Tori também o fez quando dos testes de aptidão. Isso despertou a suspeita dela.” – ela diz em tom resignado.

“Eu supus alguma coisa do tipo.” - Eu sabia que dado o grau de divergência que ela apresenta, Tris não teria conseguido disfarça-la, principalmente sem ao menos saber que deveria ter este cuidado.

Eu seguro a mão direita dela e peço para que ela prossiga.

“Então, minha mãe pediu que eu dissesse ao Caleb para pesquisar a respeito do soro da simulação.” – ela me diz, pensativa. - “Sabe, Tobias, meu irmão Caleb estava usando óculos e a visão dele é perfeita. Ele estava diferente. Mas talvez eu também esteja.”

"Facção antes do sangue, Tris. É assim que nossa sociedade funciona, lembra?" - a expressão dela é de pesar. - “O que houve?”

“Nada, a verdade é que queria voltar pelo menos um pouco para a minha casa, e Caleb era quem estava mais próximo disso. Ele disse que na Abnegação nos escondiam coisas e que na Erudição a ‘informação é livre.’” – ela diz isso fazendo aspas imaginárias com os dedos. - “Tobias, ele deu a entender que não acreditava em nossos pais.”

Tris suspira e uma lágrima brilha no canto de seu olho.

“Caleb sempre foi o filho forte e perfeito da Abnegação. Não tenho mais certeza de tantas coisas.”

Coloco meus braços em volta de seus ombros e ela se aninha do meu lado, com a cabeça apoiada em meu peito enquanto o trem dava a volta à caminho do complexo do Destemor. Penso em algumas coisas que eu poderia dizer a ela. Mas o que se diz para alguém que teve o coração partido pelo próprio irmão?

Nunca tive sentimentos como os que ela tem por sua família. Eu amava Evelyn. Amei aquela a quem eu chamava de mãe até o dia em que descobri que sua morte era uma mentira. Ela me abandonou. Marcus era um monstro e minha família se resumia a eles. Não posso consolá-la, então, espero que meu abraço valha por todas as palavras que não posso dizer.

Se eu não tivesse me apaixonado por Tris, certamente eu teria me poupado de uma péssima manhã e tarde como as de hoje. Eu não viveria com a constante preocupação acerca da segurança de alguém que não fosse eu mesmo e nem sentiria sempre o medo de perdê-la.

Eu poderia ter abandonado o Destemor e me tornado um sem-facção junto com Evelyn. Poderia ter ficado e continuar sendo o Quatro, instrutor intimidante e sozinho.

Só que agora eu tenho outro sentido para minhas escolhas. Um dia não é só mais um dia. Hoje, quando acordo eu penso nela e me alegro porque sei que a verei e só de olhar para ela e saber que ela está ali, comigo, eu sinto que eu não poderia ser mais feliz.

Haverá dias ruins, claro. O temor que eu senti quando pensei que a tivesse perdido, pareceu ser demais para mim. Nem mesmo quando Marcus fustigava meu corpo com o cinto, doía tanto. Foi como se um dia claro e feliz fosse apagado de repente, me deixando no escuro e sem opções para onde correr.

Aperto-a com mais força para senti-la comigo.

Ela levanta a cabeça e me olha confusa. Desço minha mão até sua nuca e a puxo para unir nossos lábios. Com a outra mão em sua cintura, eu a puxo para bem próximo de mim. Eu podia sentir seu coração contra a minha pele.

Se não fosse pelos arquivos da Erudição anunciando uma possível guerra eu toparia o que ela me propusesse. Continuarmos com as vestes pretas do Destemor; as trocarmos pelo cinza simples da Abnegação ou até mesmo nos vestirmos com a multiplicidade de cores rotas, típicas dos sem-facção.

Em qualquer lugar, com ela, eu seria feliz.

Ficamos apenas nos sentindo por alguns instantes. Mas logo me lembro de uma coisa e interrompo o silêncio.

“O que Jeanine Mathews lhe disse? Eric me contou algo sobre você e uma resposta desaforada.” – eu a pergunto assim que percebo que estamos próximos ao complexo do Destemor.

“Ah, isso.” – ela dá uma risada profunda. – “Ela é uma mulher arrogante e maníaca por controle. Acho que não está acostumada em ser contrariada. Não gostava da imagem dela, mas conhece-la pessoalmente superou meu desagrado.”

O sorriso dela morre aos poucos.

“Eu tive que criticar a Abnegação e a minha criação. Disse a ela que estava cansada de ser boazinha, que queria dar o fora e que foi por isso que escolhi o Destemor.”

“Tris, tenho certeza de que isto foi o melhor. Você pensou rápido e fez o que tinha que fazer. Isso não te transforma numa traidora.” – eu digo.

“Eu sei.” – Ela afirma, mas sei que não está totalmente certa disto. Tento desviar um pouco o foco do assunto.

“Você acha que ela desconfiou de você?”

“Talvez. O caso é que ela disse que houve falhas no meu teste de aptidão e na simulação que você aplicou.”

Eu perguntaria mais, só que o trem desacelera mais uma vez esta noite, indicando que chegamos ao complexo do Destemor.

Nós descemos, mas antes de entrarmos seguro seu rosto entre minhas palmas.

“Você entra primeiro que eu vou logo em seguida.” – Ela sacode a cabeça eu beijo a ponta de seu nariz.

Ela se vira para entrar.

“Tris.” – eu digo. - “Boa sorte amanhã. É só uma simulação e eu estarei do lado de fora, tão ou mais ansioso que você.”

Ela sorri, beija minha bochecha e atravessa as portas.

Amanhã eu serei como um iniciando novamente. Meu futuro, aqui, será decidido junto com o dela.


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Notas finais do capítulo

Heeey Gostaram???
Bom agora nos gostaríamos de agradecer aos leitores mais lindos do mundo
filha de Hades
Cristal Cipriano Potter
Bianca Grace Everdeen
LayHerondale
jhubis
Palavras Incertas
Clove di Angelo
ThamyLomiel
Izzy Eaton
srtaeaton
Rebeca Woset
Miss Death
Aquaria
Karina Mocchi
Obrigadinho por nos acompanhar, favoritar e claro por comentar
isso nos inspira e nos motiva a continuar^^
Beijús^^