POV. Jake.

Acordei segunda de manhã com uma vontade de estudar... Sentiu a ironia? Mas como é o primeiro dia de aula, eu acho que seja importante ir, ou não, mas minha mãe nunca acreditaria que estou morrendo mesmo. Com esse pensamente positivo fui tomar banho e fazer minha higiene pessoal. Escolhi colocar uma jeans azul escura, uma camiseta qualquer e um casaco –já que estava chovendo– e saí do quarto.Andei em direção ao quarto de Alex, já que iríamos juntos para escola. Bati na porta.

Knock Knock Knock ~batida na porta~...

Depois de alguns instantes, Alex abriu a porta sonolenta. Estava com uma calça jeans clara, uma bota bege e pelo que consegui ver, um moletom branco por cima de uma blusa. Na mão e nos braços ela equilibrava os materiais, um cachecol, uma bolsa e o celular.

–Quer ajuda?

Ela assentiu. E com esse pequeno sinal, tomei a liberdade de pegar seus livros e seguir reto no corredor em direção as escadas. Não sei dizer se ela me seguiu imediatamente ou não, se tiver, não ouvi. Só percebi que estava ali quando cheguei na sala.

–Alex, pode deixar suas coisas ali em cima- disse apontando para o sofá- e depois você pode ir tomar café da manhã, se quiser.

Ela revirou os olhos e colocou a bolsa no sofá e depois seguiu para a cozinha. Enquanto ela andava percebi uma coisa, ela não faz barulho quando anda, é como se não pesasse um quilo. Fui atrás dela. Na cozinha a mesa estava posta, como sempre havia café, leite, achocolatado, pãezinhos e torradas, e coisas para passar neles. Ela se sentou na mesa, e eu sentei de frente para ela, que estava servindo uma xíraca de café. Imagino que para si mesma.

–Se importa de servir para mim também?

–Você quer a verdade ou o café?

–Café.

–Dá a xícara- disse ela estendendo a mão.

Eu a entreguei a xícara e fiquei a observando enquanto ela servia. O líquido escuro e quente escorreu para dentro de minha xícara, logo depois cubos de açúcar mergulharam e se misturaram com o conteúdo. Nem percebi que fiquei encarando o processo por tão pouco tempo, para mim pareciam horas. Deve ser o sono. Só “acordei” quando Alex colocou a xícara na minha frente.

–Valeu.

Ela apenas acenou com a cabeça enquanto bebericava seu próprio café. Servi dois pãezinhos franceses para mim mesmo e passei cream cheese neles. Enquanto isso Alex servi torradinhas com cream cheese para ela. Nesses minutos que se passaram, Lilian apareceu na cozinha.

–Bom dia Alex, Jake- disse Lily dando um beijo estalado na bochecha da Alex e se sentando ao seu lado.

–Dia linda!- disse Alex sorrindo para ela.

–Bom dia minha princesa- disse piscando para ela.

Lily riu.

–Suas tentativas de seduzir de manhã falharam meu caro irmão.

Ambas riram.

–Vão rindo ingratas- disse sorrindo maligno- sou eu quem tenho a chave do carro!

–Oh, minhas desculpas milorde, não queria irritá-lo.

–O que seriamos sem você?- perguntou Alex rindo.

–Seriam pessoas sem carona- disse mostrando a língua, que ambas retribuíram.

–Bom dia meninos- disse meu pai entrando na cozinha e bagunçando os cabelos de Lily.

–Pai!- disse Lily indignada- sabe quanto tempo eu demorei para arrumar meu cabelo?

–Não faço idéia. Quanto tempo você demorou Alex?

–Arrumar o cabelo? Puft - Alex riu debochada- eu penteio e pronto, nada mais.

–Viu filha? Tem que ser como ela, e o cabelo dela é muito bonito.

–Pai, o cabelo dela é bonito, bagunçado ou não. Meu cabelo é um caso perdido, ele é liso, e se bagunçar ficar armado.

–Graças a Deus nasci homem- disse.

–Concordo, Jake.

–Hmm, Lily e Alex, eu só vou escovar os dentes e já estou indo.

–Tudo bem, já terminei, licença- ela se levantou tirou o prato e levou para a pia.

Lily se levantou e fez o mesmo.

–Quantas vezes você viu a sua irmã fazer isso sem que ninguém pedisse?

–Sinceramente- disse- nenhuma, tchau pai.

–Tchau Jake.

Me levantei e segui em direção a porta.

– Filho- meu pai me chamou antes que eu deixasse a cozinha- cuide bem dela, é uma boa garota.

–Eu sei pai- disse saindo da cozinha de vez.

Ele não estava completamente errado, ela não é uma pessoa ruim. Mas mesmo assim, ela consegue ser muito irritante. Segui para meu quarto, a fim de escovar os dentes. Quando fiquei realmente pronto, joguei a mochila nas costas, desci as escadas e segui para a garagem. Logo que encostei na chave –que se encontrava pendurada em seu lugar.

Logo em seguida, Alex e Lily apareceram ali, gesticulei para que subissem no carro, e assim nós três já estávamos lá dentro. Liguei o som e conectei meu celular, estava tocando “Wake Me Up” do Avicii, Lily começou a balançar a cabeça no ritmo da música, enquanto Alex cantarolava baixinho –quase inaudível, QUASE.

–“Feeling my way trough the darkness. Guided by a beating heart. I can’t tell where the journey will end. But I know where to start.”

–Você canta bem Alex- minha irmã disse sorrindo.

–Obrigada linda!

Sorri com isso, Lily nunca estava bem humorada de manhã, o que essa menina estava fazendo com ela mesmo?

***

5... 4... 3... 2... 1... E o barulho ensurdecedor do sino toca, o sinal mais lindo que já ouvi na vida. É impressionante como você mata a saudade da escola já no primeiro dia... O meu dia foi ótimo, obrigado por perguntar, caro leitor... Só que não, cara, como eu sou estúpido! Eu tinha que ser grosso justo com ela? Justo com quem eu tinha feito um acordo? Justo com a Alex? Really?

Flashback On:

Hora do almoço. Por enquanto ainda não tive nenhum contato com Alex, pelo visto a escola não vai ser tão turbulenta assim. Espera, aquele por acaso é o Luke? Com a Alex? Eles estão rindo?

–Oi meu amor!- disse Stephanie, a menina mais doce dessa escola, é sério, ela é tão doce que me dá diabetes!

–Olá- disse sorrindo amarelo.

Ela inclinou a cabeça em minha direção e me deu um beijo estalado na minha bochecha.

–Como foram as suas férias?

–Foram boas, e as suas?

–Foram ótimas, querido. Obrigada por perguntar.

–Não foi nada.

–Siiim! Meu amor, você já conheceu a aluna nova?

–Ah, já.

–Ela é um amorzinho, não é?

–É, é sim.

–Ela foi muito fofa comigo, e ela veio dos EUA!

–Eu sei.

–Imagino que devo estar incomodando, me desculpa.

–Imagina.

–Oh desculpe querido, bem, de qualquer forma já vou indo- ela disse se levantando e me dando um beijinho na testa- tenha um ótimo dia!

–Você também.

E ela saiu sorrindo e cumprimentando todo mundo que sorria para ela. É difícil achar uma pessoa que não goste dela, ela pode ser doce e tals, mas ela é um ótima amiga e sempre, SEMPRE, vai se preocupar com você antes de pensar nela, claro, se você for amigo dela.

Os meninos finalmente apareceram e se sentaram do meu lado na mesa, menos Luke, que continuou com Alex –que nem sequer percebeu minha presença. O grupinho de meninas populares da escola se aproxima da nossa mesa, deuses, me livrem disso.

–Olá meus amores- disse Courtney com sua voz docemente falsa.

–Oi meninas –dissemos em uníssono.

–Quanto animo, eu ouvi que o ano iria ser agitadíssimo, muitas provas e festas.

–E claro, muita fofoca.

Bem, as meninas são parecidas, todas muito magras e de cabelos claros, nem sempre natural, os olhos claros e pele clarinha, nada que chame minha atenção, não sei se é pelo simples fato de que elas são insuportáveis e fúteis, ou pelo fato de que estudo com elas desde sempre. E não mudam nunca.

Quando voltei para a realidade elas estavam apontando para alguém, quando eu fui ver quem era, descobri que eram Alex e Luke. Eles estavam rindo e sentados em uma mesa perto da porta. Ela está roubando meu amigo? Levantei-me e andei em direção a eles. Quando cheguei na mesa ambos pararam de rir e me encararam.

–Luke, por que você não senta com a gente?

–Porque eu estou aqui com a Alex- ele disse como se fosse óbvio.

–E?

–E ele não quer me deixar sozinha.

–Por que você não faz amigos e deixa o meu em paz?

–Ah, me desculpa se o seu amigo quis se sentar do meu lado por vontade própria.

–Não precisa se desculpar, ele fez isso por dó.

–Dó? De mim? Ah por favor, Jake se enxerga, por que você acha que ele tem dó de mim? Algum motivo que eu não possa saber? A sua namoradinha disse alguma coisa de mim?

–Eu não tenho namoradinha, e a dó seria pelo simples fato de que você é novata então ainda não conhece ninguém. Então ele não quis te deixar sozinha chorando pelos cantos como uma garotinha.

–Primeiro, eu não choro como uma criancinha assustada Jake, acho que me confundiu com outra pessoa, e segundo, eu não sou uma pessoa excluída, e se fosse não iria me importar querido- ela disse a ultima palavra carregada de uma ironia cruel- e terceiro, eu já conheço pessoas que não estejam eu seu grupinho de amigos, okay?

–Então por que não está com eles?

–Porque eu não os achei, e como Luke sentou aqui comigo, nem me preocupei em procurar, mas já que você faz tanta questão da presença do seu amiguinho querido, chame ele para sentar com você ao invés de esperar que ele simplesmente saia correndo para você, já que eu não quero estragar o seu almoço, eu vou atrás dos meus amigos, com licença- ela disse se levantando com os olhos brilhando –não sei se de raiva ou tristeza mesmo, e se virando em direção a uma mesa ali perto, onde cumprimentou algumas pessoas que estavam sentadas ali.

–Obrigado Jake, se você fizesse tanta questão que eu sentasse com você, bastava apenas me chamar- ele disse se levantando.

–Onde vai?

–Para sala, perdi a fome- disse e saiu andando.

Flashback Off.

Finalmente sai da sala, Luke ainda não falou comigo, tudo bem que ele não é da minha sala, mas mesmo assim, isso é estranho. Eu já mandei mensagem e ele não respondeu, eu acho que ele realmente ficou bravo, mas ele não tnha motivos, tecnicamente falando a única pessoa que tinha o direito de ficar putinha é a Alex, não ele.

Segui para o estacionamento e encostei no meu carro esperando por Alex e por Lily, que logo apareceu sorrindo e entrou no carro sem dizer uma palavra. Continuei encostado no capô por uns dez minutos até Alex aparecer com Isabelle, Rick e Jason rindo e conversando. Quando o olhar de Alex cruzou com o meu ela se despediu deles e veio andando em minha direção com a cabeça baixa.

Ela passou reto por mim e entrou no carro. O caminho para casa foi muito quieto, Alex disse que estava com muita dor de cabeça, então Lily ficou sentada no seu banco mexendo em seu celular e eu fui dirigindo para casa.

Chegando em casa, desci do carro e fui dar uma geral na bancada da garagem enquanto elas desciam pois eu precisava trancar o carro e guardar a chave. Lily deu um beijo nos cabelos de Alex e disse algo como “melhoras” e saiu do carro e Alex respirou fundo e fui juntando todo o material, e assim saiu do carro.

Quando ela desceu, tropeçou em alguma coisa e caiu no chão, junto com todos os livros, fui tentar ajuda-la a levantar mas ela já estava de joelhos recolhendo seu material em uma velocidade incrível e levantou, mas antes que passasse por mim, vi um filete vermelho escorrendo de sua mão.

–Alex- a chamei e ela ignorou- Alex!- dessa vez a segurei pelo braço, fazendo com que ela quase caísse novamente, mas antes que sequer chegasse perto do chão a segurei pela cintura e a levantei.

–Está tudo bem, só quero ir para o meu quarto.

–Não está não, você se machucou.

–Eu não...

–Não foi uma pergunta- peguei seu material e os apoiei na bancada- vem aqui.

Ela se sentou em um dos banquinhos que tinha ali e estendeu a mão para mim, enquanto ela fazia isso eu peguei o kit de primeiros socorros e me sentei de frente para ela. Com um pano limpo e com um pouquinho de água oxigenada eu comecei a limpar o corte, que realmente não era algo muito bonito.

Alex estremeceu com o primeiro toque do pano em sua mão, mas eu continuei tirando o excesso de sague ao redor. Depois de limpo Segurei novamente a mão de Alex e a enrolei com as ataduras, depois de incontáveis voltas eu as prendi com dois pedaços de esparadrapo. Eu era até que bom nisso.

–Consegue mexer a mão?

Ela assentiu com a cabeça, sem dizer uma única palavra e ainda encarando o chão.

–Olha, Alex, eu sei que o que eu fiz foi errado e eu queria te pedir desculpas por ter sido um completo babaca. Eu não queria brigar com você, é que eu estou acostumado a sempre ter Luke do meu lado, sabe? Sempre tive, e do nada ele nem aprece para o almoço. E eu sei que a minha reação foi exagerada e completamente sem sentido, mas eu queria que você soubesse que eu nunca tive a real intenção de dizer que você é incapaz de fazer amigos nem nada do gênero, só que eu fui estúpido e me deixei levar pelo calor do momento. E eu fico feliz que você tenha feito amigos e tals, mas você sempre será bem vinda na nossa mesa de almoço.

Alex finalmente olhou para cima e eu pude ver que ela estava com os olhos marejados.

–Jake, eu também queria te pedir desculpas, eu peguei meio pesado hoje, mas eu nunca tive a intenção de tirar o Luke de você e...- ela iria começar a chorar, aconteceu tão rápido que eu não percebi que o tinha feito até nossos corpos estarem completamente encaixados.

Minhas mãos voaram para sua cintura e seu pescoço, enquanto as de Alex foram de encontro com meu cabelo, nossos lábios se chocaram quase que imediatamente. Estremeci quando senti suas mãos brincando com meu cabelo, fazendo com que ela sorrisse durante o beijo. Nossas bocas travavam uma batalha. Minhas mãos pareciam ter vida própria. Alex parecia saber exatamente o que fazer com o meu cabelo. Foi como se fizéssemos isso nossa vida inteira.

Nos separamos ofegantes, porque o maldito oxigênio é necessário. Mas minhas mãos continuavam em sua cintura e as mãos dela estavam apoiadas no meu pescoço.

–Obrigada Jake- ela disse com um fio de voz restante- pelo curativo.

–Não foi nada- disse meio, completamente, sem reação.

Ela se desvencilhou rapidamente de mim, pegou suas coisas e saiu da garagem, me deixando completamente embasbacado.

***

O resto do dia passou normal e sem nada de bom para fazer. Não tive notícias da Alex, mas eu realmente não fiquei pensando nela. Agora, quando eu finalmente deitei para dormir, não conseguia parar pensar no quanto tinha sido babaca com ela e que mesmo assim ela me perdoou.

Qual o meu problema? Por que eu sou grosso com ela? Ela nunca me fez nada de errado, ela nunca fez nada para me ofender diretamente. Então por que diabos eu não consigo ser uma cara legal com ela? Damn!

Me levantei e fui para a cozinha pegar um copo de água, mas quando cheguei lá, vi que Alex estava falando com alguém no telefone, e a voz dela não parecia feliz ou animada.

–Eu não sei o que você pode fazer, Jer, você sabe o porquê? E o que ela fez quando ela descobriu? Não estúpido, é claro que ela chorou, mas o que ela fez para tentar consertar? Ta, ta, eu sei que você não quer se met... Sim eu sei, tá Jer, vai dormir, amanhã eu tenho aula. Duh, eu sei. Boa noite. Olha, achei que nunca fosse ouvir isso de você. Babaca, eu também te amo.

Ela desligou o telefone e finalmente percebeu que eu estava aqui e limpou a lágrima que escorria de seu olho. Ela se levantou e pegou o copo que provavelmente tinha vindo buscar. E seguiu em direção a porta, como se não tivesse me visto.

–Alex- a chamei e ela finalmente olhou para mim com os olhos completamente marejados- o que aconteceu?

–Nada não- ela disse fungando.

–Você pode contar para mim, eu não quero te ver assim.

–São só problemas em casa, nada que você precise saber.

Eu a encarei por alguns segundos.

–Okay Jake- disse ela respirando fundo- meus pais brigaram e aparentemente meu pai saiu de casa ontem e ainda não deu notícias.

–Eu sinto muito.

–A, a culpa não é sua- ela disse dando de ombros e fungando novamente.

–Também não é sua, e nem do “Jer” pelo que parece. By the way, quem é “Jer”?

–Meu irmão mais novo.

–Ah ta.

–Posso ir?

–Você vai ficar bem- disse me aproximando.

–Já passei por coisas piores.

–Apenas aguente firme, pelos seus pais, pelo seu irmão e por si mesma, okay?

Ela assentiu e eu dei um beijo em sua testa. Alex sorriu de um jeito tão sincero que fez com que eu sorrisse de volta, e quando eu voltei a realidade, ela já estava na metade da escada.

Peguei meu copo d’água e voltei para minha cama, finalmente consegui adormecer e só acordaria novamente com o barulho irritante do despertador no dia seguinte.