Enquanto andava de volta ao hotel,as pessoas na rua me encaravam.Eu devia estar com o rosto vermelho.

Após sentir culpa, e chorar por várias horas na igreja,consegui me recompor e finalmente sair e respirar um pouco de ar puro. Olhava para as pessoas nas ruas,principalmente as crianças,que brincavam,com seus pais,no parque do outro lado da calçada.

Me peguei imaginando como teria sido a minha vida, se eu tivesse feito diferente treze anos atrás.Eu teria sido igual uma daquelas mães no parque,que levam seus filhos para se divertirem.Eu,talvez,tivesse sido uma boa mãe para Renesme.

Suspirei com o pensamento.

Cheguei ao hotel,e dei de cara com Carlisle.Ele estava sentado em um dos muitos sofás da recepção,muito provavelmente me esperando.

– Vim avisa-la,de que amanhã pela manha,tem um exame marcado.-disse assim que cheguei perto dele.

– Tudo bem,estarei pronta as sete.

Nos despedimos,ele foi embora e eu para o meu quarto.Pedi um macarrão a bolonhesa para o jantar,e fui tomar um banho.

Jantei e dormi pesadamente.

Eu me via desesperada,andando pelos corredores do hospital de Forks,o único que aquela cidadezinha em que nasci possuía.Vi a mim mesma andando para todos os lados com aquela camisola típica de hospital.Procurava desesperadamente meu bebê que havia sumido.Gritava e chorava pelos corredores,perguntando se alguém havia visto meu bebezinho enrolado em uma manta cor de rosa.

Despertei sobressaltada,tremendo e com o rosto banhado de lágrimas.Droga,tinha tido um pesadelo,sobre á treze anos atrás,a noite em que Renesme nasceu.

Virei na cama para olhar as cortinas abertas da janela,elas revelaram um céu ainda escuro,esperando ansiosamente para o nascer de um novo dia.Foi só um pesadelo,mas foi o bastante para me assustar.Como não conseguia mais dormir,levantei-me e fui tomar um longo banho,para lavar todas aquelas lágrimas,que poderiam ser de arrependimento,tristeza,ou desespero.E até mesmo todas essas emoções juntas,eu não sei dizer ao certo o significado das lágrimas.

Levantei-me do sofá da recepção,em que estava sentada,assim que avistei Carlisle passando pela porta giratória de vidro.

– Estava me esperando a muito tempo?-perguntou assim que entramos em seu carro.

– Não,havia acabado de descer para esperá-lo.

– Bom.Esse é o ultimo exame antes da coleta de medula.-comentou.

Tremi com o termo: Coleta de medula.

Assim que chegamos ao St.Mary,Dr.Masen,que já nos aguardava,me levou para uma sala em que seria coletado o sangue,deixando Carlisle na sala de espera.

Estava sentada com o braço esticado,enquanto Dr.Masen me explica que seria ele quem coletaria meu sangue.

Enquanto o recipiente,acoplado a agulha em meu braço,começou a se encher, um silêncio mortal se instaurou na sala.

Vi uma ruga fincada bem no meio da testa do doutor,ele parecia querer me perguntar algo.E eu como sou curiosa,queria saber o que era que deixava aquele V no meio do rosto perfeito do medico.Resolvi perguntar:

– Quer me perguntar alguma coisa?

Ele se assustou, quando eu quebrei o silêncio do ambiente.Pigarreou e disse:

– Desculpe,mas eu queria lhe perguntar algo.Se for pessoal de mais e não quiser responder,eu entendo.-falou constrangido.

Ele ficava fofo e mais lindo do que já era,se é que isso é possível.

– Vá em frente,pergunte.-eu o encorajei.

– Por que você não a quis?.Tudo bem se não quiser responder,é só curiosidade,que está me matando por dentro.-disse e abriu um sorriso, se desculpando.

Não precisava perguntar para saber que ele falava de Renesme. Assim como também não precisava pensar na resposta,ela era clara em minha cabeça.

– Quando engravidei,era apenas uma adolescente,não tinha condições de ficar com um bebê.-lhe respondi calmamente.

– Então....você não fez por maldade,por ódio a criança.-ele concluiu.

–Deus,não claro que não.Eu não tinha ódio dela,de forma alguma.Um bebê não tem culpa das besteiras feitas por dois adolescentes irresponsáveis.Eu nunca pensei isso dela.E achei que ela ficaria melhor sendo criada por uma família estruturada e que quisesse um bebê,em vez de ser criada por mim.-desabafei,dizendo tudo aquilo que pensava.

Eu não pensava em mim mesma como um monstro.Não sou a melhor pessoa do mundo mas, eu dei uma vida melhor a Renesme,muito melhor do que se ela tivesse ficado comigo.Eu lhe dei sua família,pais amorosos e carinhosos,e com condições de dar-lhe tudo o que ela precisa.Eu não poderia ter feito nada disso por ela.

– Entendi.Desculpe,mas não pensei coisas boas a seu respeito quando te conheci.-ele confessou.

– Tudo bem,estou acostumada.A maioria das pessoas pensa assim,elas não param para ouvir minha versão da história.Eu sou sempre a irresponsável que não quis o bebê e o abandonou a própria sorte,te garanto que não foi assim.

– É bom ouvir a história dos dois lados.-respondeu por fim.

Não sabia onde ele queria chegar com tanta conversa.Não pensava que um médico teria tanto interesse na história de um paciente.

Saímos da sala em direção a recepção,onde Carlisle me aguardava,para me levar de volta o hotel.

– Só isso doutor?.Quando sai o resultado?-perguntou ao medico.

– Amanha mesmo.-respondeu Dr.Masen.

– Vamos Isabella?

– Vamos,deixe-me só pegar meu casaco.-respondi a Carlisle.

– Eu pego para a senhorita.-respondeu Dr.Masen,indo buscar meu casaco.

Estávamos nos despedindo,quando ouvimos um "papai"e um emaranhado de tons de pink passar voando entre nós e abraçar Carlisle.

Olhei para a pessoa grudada no Sr.Cullen,e não acreditei no que meu olhos estavam vendo.

Ali, parada ao meu lado,uma pessoa que só havia visto uma vez na vida,e a muito tempo atrás,que me assombrou durante anos,quando a única lembrança que tinha dela,era a mesma toda suja de sangue e embrulhada em uma manta rosa,nos braços da enfermeira.

Na minha frente,me fitando,estava a minha filha.