Pure Imagination escrita por Sweet Death, SaltedCaramel


Capítulo 24
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–Moyashi?

Eu sabia que Kanda estava me chamando. Apesar de estúpido, não era surdo.

Porém (sempre havia um porém), eu tinha uma sensação arrepiante, que tirava a fala diretamente da garganta, entorpecia os neurônios que comunicavam o cérebro, buzinava nos meus ouvidos, fechava a traqueia...mas movia minhas pernas.

Então eu levantei, o coração colado na garganta, batendo contra a pele. Querendo sair e pular, cair direto no chão e percorrer com as próprias pernas. Ou morrer tentando.

Sem pensar em Kanda, sem pensar se ele estava em meu encalço ou não, se ele estava tentando falar algo mais, andei até o cemitério.

Era tão frio quanto eu lembrava e nem ao menos nevava.

O mundo estava borrado, eu só via o caminho de concreto labiríntico e quebrado pelo tempo (o que ali dentro não estava assim?), era o único caminho. Podia ser a falta de sangue correndo para a cabeça, falta de descanso, meus olhos que não piscavam por medo que escurecesse permanentemente.

Não havia ninguém. Não havia nada.

Nem luz, nem vida.

As construções pareciam molhadas de tão gélidas, mas não havia uma gota de chuva brilhando no reflexo da lua fina.

E então o campo verde.

A grama era macia como eu lembrava. Verde, mas tão verde e eu não a via diante do escuro. Sentia os pés afundando na terra, mas era tudo negro abaixo da cintura, difícil de enxergar.

E o pulso correndo forte, crepitando minha boca trêmula de...de...

Assim que avistei as linhas de lápides eu ainda não sabia o que estava fazendo. Ainda não.

Pisei forte para não cair. Passo a passo. Direita e esquerda.

Que mentira. Eu estava no automático.

A sensação ruim descendo até o estômago, borbulhando meu sangue que não dava sinais de vida, eu mesmo pensei que talvez fosse a emoção do conforto. A emoção do amigo, que mesmo derrubado embaixo de quilos de terra, era o mais próximo que eu tivesse conhecido.

Lembra-se dele?

Talvez fosse a chave...de algo.

Ajoelhei na frente do pedaço de pedra. Eu reconhecia fileira e coluna, conhecia as árvores, os buracos na grama, sabia de cor a sensação quando o vento batia, o chamado da brisa nos galhos, reconhecia os cantos, conhecia os detalhes mesmo na escuridão. Só não conhecia seu nome.

Talvez por isso que os musgos fizessem falta, o tempo não mais desgastado na pedra fincada à força, as letras moldadas a cuidado.

Percebeu isso? Quando vai se deitar para dormir e o conforto da luz se dispensa. Tudo parece vazio. Passando tempo demais no escuro, nós podemos nos acostumar a falta de claridade.

E começamos a distinguir nossos pedaços de sombras.

Grandes e pequenas sombras que antes assombravam, nós assombramos.

Assim, desse jeito, por conta de tempo na escuridão. Por conta de olhos.

Simplesmente um engano por nós.

Simplesmente tão simples.

E tão simplesmente meu coração se esvaziou.

Por pedaços de sombra com formas.

Sabe o problema dos fantasmas?

Eles não precisam de lençóis para te assombrar.

MANA WALKER

1981-2014

Continuará andando para sempre


Mas precisam morrer para estar ao seu lado.


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