Pure Imagination escrita por Sweet Death, SaltedCaramel


Capítulo 13
Kicked out of the fight: what kind of fun do we have without clothes on?


Notas iniciais do capítulo

Yey! o/ tudo bem com vocês?? Feliz Páscoa!! Espero que ganhem muito chocolate!!! :3
Eu sei, desculpe pela super-demora, mas fiquei desesperada hoje e escrevi esse capítulo em poucos minutos.
—o que aconteceu foi: ocupações e ocupações. Vou estar atolada pelo menos até o fim de abril, nem os feriados foram poupados. Essa semana eu usaria para aproveitar e escrever bastante, mas o que aconteceu? Fiquei doente. Repouso por três dias, porque há muito caso de dengue (o que não foi meu caso, na verdade, mas foi uma precaução...). E meus pais resolveram que esse feriado era para sair TODO dia ¬¬ nhé.
—Também fiquei escrevendo Bad Boy por algum tempo e acabei deixando Pure. Confusão total haha. Bad Boy pode sair perto desse fim de semana, para aqueles que leem, fiquem atentos.
—O mas importante de tudo foi que eu GANHEI MAIS 1 RECOMENDAÇÃO!!!!! Teru, muitíssimo obrigadíssima eu amei cada palavra haha gostei da menção aos meus momentos filosóficos hahahahaha
—Não consegui escrever tanto quanto queria, mas meu pulso está doendo um pouco e eu acabei ficando com sono hehehe Confesso que essa definitivamente não é minha melhor escrita...prometo focar mais no próximo!
—Não estou acostumada a descrever cenas de ação. Melhoro com o tempo.
—Boa leitura o/



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Florestas são conhecidas como traiçoeiras. Amigas da escuridão, do silêncio, do desconhecido, do apertado, escondendo as verdades entre os laços de galhos espetantes, ou as folhas escurecidas e longas que logo passam a esconder o sol ou qualquer luz intrometida.

Não é a toa que os pais alertam filhos sobre idas e passeios por esses lugares. Troncos tortuosos ou altos tornam-se melhores muralhas que qualquer homem pode construir. Espere a noite, quando não há mais expectativa se não o escuro profundo erguendo-se dos cantos e dos olhos selvagens irrealmente reais. Observando. Observando. Ou não.

O labirinto verde. O pior de todos.

–Moyashi. Moyashi. Moyashi!

Quando a mão de Kanda me tocou foi quando tornei para a realidade, tirando os olhos do caminho atrás de mim. Árvores de troncos corroídos e despencantes. Como não percebi assim que passei por elas? Allen burro, burro! Só percebi depois, ao ver o líquido azul ácido escorrendo, algumas árvores atrás.

Não sei o que é. Então, sem ligar para pudores, chamarei de sêmen azul. Porque eu quero e eu posso, então eu chamo. Não tirem esse direito de mim.

Enfim, onde eu estava? AH, sim. A mão de Kanda no meu ombro.

–Hã? Sim, o que foi? Achou alguma coisa?

–Não- ele bateu na minha nuca- mas se você andar, talvez nós achemos alguma coisa, retardado.

–Ah, perdão, perdão. Só estava pensando em algumas coisas.

Passei a segui-lo, sempre tomando conta em verificar de o sol continuava ali em cima e calculando mentalmente o tempo restante para sua estadia nos céus. Era difícil olhar, evitar pisar em falso no terreno escorregadio e desorganizado e seguir Kanda ao mesmo tempo.

–Você não acha melhor que conversemos um pouco sobre o caso?- perguntei.

–Tsc. Se você quer falar, fale. Eu vou estar procurando o maldito akuma.

–Não sabemos se é um akuma.

–Claro, porque há outros animais que soltam líquido azul fluorescente ácido. Sempre há.

Girei os olhos. Desviando meu pé de um tronco caído.

–Quem sabe? Você decorou a enciclopédia de biologia?

Não me respondeu. Isso acontecia com frequência. Tomei como um “não,sou um ser inculto”. Babaca, eu li a enciclopédia na biblioteca da Ordem umas sete vezes, mas isso não quer dizer que eu conheça todos os animais.

Apesar disso, tinha quase certeza de que era um Akuma. Só não tinha “certeza” porque nunca a tenho. Em nenhum momento eu tenho possibilidades de 100%, talvez 99,99999999%, mas nunca por inteiro. Mania minha e com razões: sempre pode haver imprevistos. Mas eu “sabia” que era.

Aquilo que o Kanda tinha dito sobre meu olho apitar, ou algo do tipo, realmente tinha me deixado atento. Meu olho esquerdo, o cortado pela cicatriz bem contornada, coçava bastante.

–Acho estranho- ouvi-o resmungar- seu olho ainda não ter disparado.

Era estranho porque eu também achava isso estranho.

Estranho...

–Kanda, será que podemos ir falando sobre o caso? Só para descontrair. Eu estou me sentindo um pouco incerto.

Nenhuma resposta.

–Pode só ficar quieto e eu falo. Nunca pensei que fosse falar isso, mas o silêncio está me matando. Eu preciso pensar.

Ouvi algum resmungo de protesto, mas ignorei, fingindo que o galho que quebrei ao pisar em um monte de folhas fez barulho suficiente para encobrir sua resposta malcriada.

–Tudo bem. Então, estamos em uma vila isolada e pouco desenvolvida em questão de tecnologia, eles se isolaram, suas crianças sabem que estão perdendo algo e fogem, de repente, crianças que não deram sinais de quererem ir embora, sumiram. Quer dizer, aquela Emily claramente disse na noite em que teria desaparecido que queria sair com os pais. Ei, você notou que o pai dela encarava um quarto enquanto a gente conversava? Os olhos dele tremiam. Será que era o quarto da garota? Provavelmente. Há um akuma nas redondezas, que solta ácido com cheiro de doce. Ei, isso pode parecer estranho, mas você acha que o cheiro possa ter atraído crianças? Seria bem inusitado...

–Haviam pessoas mais velhas na contagem de desaparecidos, tipo dezenove anos. Você realmente acha que eles seriam atraídos? Tsc.

–Então deve ser uma característica sem bom motivo do monstro. Ah, talvez seja para deixar o ácido com aparência inofensiva. Eu quase toquei.

Verifiquei a imagem de mais líquido azul caindo de um tronco, enquanto ainda seguíamos o rastro.

Pensei sem falar por um tempo. Não riam, mas falar demais me deixa sem ar. Sim, é porque eu não estou acostumado a falar muito.

Por isso, penso demais. Sou um pensador, não um falador.

Examinei todos os detalhes que tinha acabado de falar. Se tinha algo que conseguia tomar minha atenção e vontade por bastante tempo, é resolver “quebra cabeças”.

Se tinha algo estranho naquela situação? Com certeza, ou não estaríamos ali. Mas tinha algo que batia na minha mente e eu não conseguia identificar.

–No fim –Kanda me surpreendeu, falando- nem sinal dos malditos finders. Aqueles inúteis.

Parei de andar. Aquilo me atingiu em cheio.

Cadê os finders? Era uma ótima pergunta.

Conseguiu encher ainda mais minha cabeça, Kanda. Obrigado.

–Vamos só seguir o caminho e ver o que encontramos- eu disse.

Percorremos o rastro azul nas árvores. O líquido tinha um cheiro mais forte a cada novo achado, o que simplesmente para mim significava uma única coisa: rastro recente.

–Kanda, você não acha que isso é uma armadilha, né?- perguntei, mais retoricamente, pois já conhecia a resposta.

–Com certeza que é uma.

Pensei ter vislumbrado um pequeno sorriso surgir nos seus lábios, mas não liguei. Também havia sentido minha boca sorrir e eu ignorava o porquê.

A emoção. O quebra cabeça.

Aquilo fazia meu corpo se mover praticamente sozinho. Em direção ao perigo. Estava me chamando ao serviço.

Distraído entre meus pensamentos, precisei do aviso de Kanda para perceber que o rastro tinha desaparecido. Andamos mais poucos metros: não havia nenhuma outra árvore manchada.

Mas o cheiro...ele continuava ali.

Um cheiro doce, para que não deixássemos o rastro escapar.

–Fique preparado. Não vou deixar que sua distração estrague a missão dessa vez, moyashi.

–Dessa vez...-resmunguei, sabendo que era implicância do moreno.

Vi seus dedos hábeis deslizarem até alcançarem sua tão amada espada. É, eu me irrito porque ele parece ser daqueles que tratam a espada como um bichinho de estimação. Mas não digo nada, porque sei que ela foi “treinada para fatiar”.

Andávamos com um mínimo de precaução, sempre tornando as cabeças aos lados para uma melhor visão de todo o ambiente. Sem gosma em nenhum lugar, definitivamente havia duas opções. Ou o Akuma/animal gosmento parou de soltar o líquido por algum motivo dele próprio, como ter acabado, ou ter fugido ou dormido. Ou parou porque atingiu seu objetivo: nos atrair.

Eu não acreditava na primeira opção.

Mas é sempre bom tê-las em mente.

Meu olho esquerdo latejava, mas minha mente estava apertando.

Minha cabeça estava agitada. Estava animada. E eu sabia o porquê.

Emoção.

Um farfalhar de folhas não muito longe de onde estava chamou minha atenção que estava tão espalhada.

Kanda já sacava sua espada, sussurrando algo para a lâmina ao passar dois dedos sobre sua superfície inteira.

Eu estava ocupado demais tentando observar os movimentos das folhas, cada vez mais próximos de nós dois.

Esperava o ataque rápido de um bom “predador”. Kanda franzia o cenho com cuidado enquanto as folhas a apenas 5 metros de nós começavam a se agitar.

Sussurrou-me alguma coisa, mas meus olhos estavam focados no movimento agitado e os ouvidos buscando quaisquer sinais estranhos.

Até que parou.

Pouco confuso, levantei as sobrancelhas para meu companheiro, mas recebi um aviso certeiro para “prestar atenção”.

Não havia grilos àquela hora do dia, mas os pássaros cantavam de algum lugar, preenchendo o silêncio com antecipação.

Meus dedos correram pelo braço esquerdo. Formigava.

Ouvi algum som grave e rosnado de algum lugar. Meu corpo assumiu sua melhor postura rígida.

Ouvi passos. Kanda me disse algo, mas estava concentrado demais para entender.

Foi quando aconteceu. Não foi um ataque corporal. Tampouco foi uma surpresa total, mas foi rápido.

Tive uma visão embaçada de algo azul voando em minha direção, direto do ponto de folhas antes agitado. O cheiro doce denunciou: ácido. Desviei para um lado enquanto o líquido despejava-se em uma pedra atrás de mim.

–O que está fazendo??- Kanda gritou para mim, arrumando sua espada- saque a innocence!

O Akuma saltou do arbusto. É, não era nenhum animal normal que por um acaso soltava ácido azul. Era um akuma, definitivamente. E não era sêmen ácido. Era saliva, como denunciava o fiapo fluorescente que escorregava de seus dentes.

Nojento.

Seguindo as ordens de Kanda, forcei algo na minha mente. Senti algo estranho no meu braço, um formigamento esquisito subindo e voltando. Eis que meus olhos descem para a minha esquerda e...estava brilhando. Senti algo se mexer no meu corpo inteiro. É uma sensação indescritível, como se meu braço amolecesse para tornar forma.

Mal percebi que tinha fechado os olhos, mas quando os abri eu era um Pierrot Branco. “Crown Clown”, lembrei do nome que dava a minha “fantasia-armadura”. Garras negras coroadas substituíam minha mão esquerda, uma máscara carnavalesca pendia da capa branca em minhas costas e minha mente...ela estava à mil!

Puxei a máscara para meu rosto, conseguia ver perfeitamente mesmo com ela. A capa esticava-se, esvoaçava-se, voltava, apertava, de acordo com minha necessidade. Meu braço se comunicava comigo em uma explicação que estava ao limite inexplicável àqueles que não o tinham. Ele me explicava e eu ordenava.

Não exatamente. Mas era isso.

Às vezes, eu era ordenado.

–Não fique aí parado!- Kanda gritou de algum lugar, o encontrei tentando enfiar a espada em um akuma qualquer.

Mas não era "O" akuma. Era outro.

Olhei ao redor, percebendo o quanto aquele lugar havia enchido em apenas alguns segundos de devaneios sobre minha innocence. Akumas, por todo lado, níveis 1 em sua maioria, ou seja, fracos, como ovos gigantes voadores com canhões capazes de te despedaçar ao infectar com seu vírus destrutivo. E o nosso nível 2 cuspidor de ácido azul. Tinha um corpo magro e alto, tanto que curvava-se para frente, salivando ácido que corroía a grama inocente aos seus pés, dentes branco esverdeado e pontiagudos, garras curvadas, olhos escondidos por um chapéu pontudo negro (?!), pele cinza...cara, aquilo era feio demais. Não me leva a mal, mas era.

–Ele é feio, né?

Ouvi o som cortante da mugen.

–É, é!- Kanda gritou impaciente, cortando outro inimigo no meio- Muito feio. Agora será que dá para se mover, inútil??

Franzi o cenho, mas obedeci. Eu SABIA o que fazer. Pelo menos, eu achava que sim.

Usei minha capa branca para destruir dois akumas próximos, tentando ser rápido e eficiente.

É, não deixaria Kanda me chamar de inútil.

Infelizmente (felizmente, na verdade), Kanda também era rápido e habilidoso, mesmo que só com sua espada. Na verdade, o jeito como ele cortava/dilacerava cada um era impressionante e assustador em seu próprio jeito.

Uma energia estranha passava pelo meu corpo enquanto eu corria até o akuma nível 2, derrubando alguns que cruzavam meu caminho. Era estranho, era muito estranho. Eu sorria.

A criatura estendeu seu melhor sorriso arrepiante para mim enquanto me aproximava.

Sério, arranjem um babador para esse cara.

–Venha, exorcista!- disse, com sua voz rasgada.

E eu fui. Estendi minhas garras para ele.

Vi o espirrar de ácido, apenas rolei para algum lado. Prendi minhas garras em um nível 1, causando sua explosão rápida. Corri na direção do nível 2 tentando ser veloz e desviar dos desníveis de terra. A bota da Ordem escorregava na lama, mas eu continuava a correr.

Passei direto por Kanda, desviando de outra rajada fluorescente que corroeu uma pedra ao lado. Minhas garras brilharam a luz do sol vacilante, assim que as estendi novamente. Desistindo de usar o ácido, ele mostrou-me seu punho cheio de garras ainda maiores. Engoli em seco, um pouco intimidado, mas a voz de Kanda chamando-me de “moyashi inútil” me fez engolir esse medo.

Seu golpe veio de cima, fincando as garras no ar em direção ao chão onde estava. Bati com minhas próprias em sua mão, desviando para rasgar alguma parte de seu corpo. Quando fui enfiar minhas garras coroadas em sua barriga, tentou me atingir com ácido. Eu tinha um problema: estava logo abaixo de sua boca.

“Droga”, pensei tarde demais, “ um erro terrível”.

Não senti nada queimar na minha cabeça, mas uma pancada forte na costela. No outro momento, estava voando em direção a um desnível no chão. Meu corpo rolou boas vezes antes de parar os giros com meus pés.

Kanda havia me chutado antes que pudesse morrer. Não sabia se o agradecia ou se devolvia o golpe. Aposto que ele estava feliz por ter me batido, apenas para usar meu erro como desculpa mais tarde no relatório para Komui.

Mal senti a dor quando levantei e tentei voltar para a luta, ouvindo tiros e choques de espada e corpo. Mas parei quando tropecei em algo no chão. Olhei para ver o que tinha me atrapalhado.

Foi como se o tempo tivesse parado.

Cinco tecidos brancos grossos, dobrados com cuidado e deixados ali, no chão. Aproximei-me com cautela, afinal, não é todo dia que encontramos roupas dobradas no meio da floresta, você tem que concordar comigo: aquilo não fazia muito sentido.

Não se eu não pensasse com cuidado.

Puxei um dos tecidos, que estavam enfileirados, porque eu reconhecia muito bem aquele tipo de roupa. O branco estava sujo de marrom, mas reconheceria em qualquer lugar.

A rose croix.

–O que acha que está fazendo????- Kanda gritou de algum lugar, mas não dei tanto ouvido às suas palavras. Ergui-me do chão com a roupa na mão.

Busquei os olhos do meu companheiro, em desespero. Foi com sorte que os olhos negros de Kanda estavam em minha direção.

Sua espada golpeou em arco uma última vez antes de ele começar a correr até mim. A essa altura, minha innocence já havia desativado.

Um tiro passou rápido de seu lado esquerdo, mas ele continuou estoico, com o olhar preso em mim.

Mal percebi o quanto ele havia se aproximado quando agarrou minha cabeça com a palma da mão. Estava distraído organizando os fatos. Antes que eu percebesse corria quase arrastado pelo moreno.

Deixamos os akumas para trás, carregando o manto de um finder desaparecido.

–X-

–É roupa de finder, não é?

Ele me perguntou assim que tínhamos nos estabelecido no casebre. Estávamos suados de tanto correr por um floresta.

Concordei com a cabeça.

Estava um pouco desconfortável, não por causa do que acabou de acontecer, mas porque o suor obrigou Kanda a tirar a camisa.

[Você já viu aquele corpo?? Já viu?? Ah, deus...Ele tem tanquinho, aquele maldito! Vai, humilha minha magreza! Humilha mesmo!! Aaah, óbvio que ele tem uma tatuagem maneira no peito. Óbvio. Droga, vou parar de olhar, ele está olhando esquisito de volta]

Meu rosto esquenta quando estou próximo a pessoas nuas...quer dizer! SEMI nuas. SEMI, ok? Mas vocês não ficam com vergonha?

Eu fico. Demais.

–Roupa de finders. Na floresta...- sussurrei, mais para mim, enquanto o moreno deitava na cama, sem camisa, mesmo- o que estaria fazendo lá?

–Talvez eles tenham ido se divertir a floresta...

–Divertir? Divertir como ficando pelado?...

Nunca recebi um olhar mais indignado na minha vida. Kanda riu rápido.

Foi quando minha inocência esmurrou minha cabeça e deixou meu rosto quente.

Ah...AQUELE tipo de diversão. Diversão inapropriada.

–Ah...- cocei minha nuca, tentando espantar a vergonha. Pigarreei- talvez estivessem seguindo os mesmos rastros que nós. Mas por que só as roupas?

Vi o elástico que o moreno usava no seu cabelo (sedoso, sedoso, como ele deixa o cabelo assim??) voar de seus dedos.

–Se akumas te atingem com suas balas, o vírus do sangue deles entra no seu sistema e te racha. Quebra você em pedaços. Só sobram as roupas.

–Tá, mas...se fosse isso...porque elas estariam dobradas? É muito incomum.

Cocei o queixo.

Meus olhos se desviaram da janela para a cama ao lado.

Ah, lá estava ele de novo. Encarando-me.

–O que foi?- perguntei, um pouco medroso e um pouco irritado.

–Nada- respondeu, sem desviá-los- absolutamente nada.

Meus olhos tremeram, tentando voltar para a análise do caso.

–Talvez- disse- eles tenham deixado lá. Tirado a roupa e depois dobrado. Sem sinal de sangue, nem pedaços de cadáver. Só roupas. Eles tiraram e deixaram lá, isso é certeza. Mas por quê?

–Porque foram obrigados.

Tamborilei meus dedos na cômoda, como sempre faço enquanto penso sobre algo. Ficamos em silêncio por um tempo longo, nem ao menos notei que apesar de estar fazendo algo que sempre o irrita, bater um ritmo na madeira, ele nem reclamou. Também devia estar imerso em algum pensamento.

O sol começava a se despedir no horizonte, pintando o céu de laranja. Podia ser bonito, mas eu sabia que para os moradores, era sombrio.

Meu dedos ainda batiam na madeira.

–Hm...moyashi...?

Desaparecimentos, crianças e adolescentes, ácido azul de cheiro doce, Emily, quarto, cansaço, cidades, finders, medo de fugas, fugas, roupas dobradas, floresta, akumas, pessoas tristes, noite, confusão...

–Moyashi...você...por um acaso você é...

Era isso. Eu precisava verificar algumas coisas.

Levantei-me em um pulo, agarrando o que eu esperava ser o pulso do meu companheiro e o puxei com rapidez até o lado de fora. Acho que ele tinha falado algo enquanto eu estava pensando e olhando a janela, mas não prestei atenção. Puxei-o pelo pulso no caminho, nem pensando no quanto ouviria quando o soltasse. Na verdade, já estava ouvindo agora.

–Oe...solta, solta, solta. Solta, moyashi! SOLTA! O que deu em você? Larga o meu pulso! Eu sou fraco demais para me soltar sozinho de um homem forte como você! Eu me rendo. Você é o mestre supremo.

...tá. Não foi EXATAMENTE isso que ele disse, mas deixe-me ser feliz por um momento! Eu não prestei atenção ao que ele falava. Estava pensando. Só sei que ele estava a reclamar bastante e puxar meu braço de volta.

Afinal, eu tinha tido um impulso surpresa, levantado, agarrado seu pulso e o arrastado para fora do quarto. Ele tinha razão em estar confuso e irritado.

Foi no meio do caminho que eu notei o porquê ele reclamava. Tive que concordar em voltar ao casebre por alguns minutos para não ficar corado toda vez que olhasse para ele.

Ele não tinha colocado a camisa ainda.

–X-

De roupa completa, voltei a arrastá-lo. Mas, agora preparado, ele desviou de meus dedos.

–Oe, eu consigo andar sozinho, idiota! Dá uma de maluco e depois voc-

Cortei a fala dele. Foi muito chata e entediante.

Então, enfim, aqui estávamos. Na prefeitura. O lugar, vazio provavelmente por estar perto da hora de jantar, estava aberto para que as pessoas pudessem ir e vir, apesar de só estarmos eu e Kanda àquela hora.

–Tá. E o que viemos fazer na prefeitura?- ele perguntou, enquanto eu abria a porta destrancada.

–Checar alguns documentos- abri e entrei na casa- nós não vimos os registros de crianças na cidade, certo? Acho que seria bom.

Ele não concordou nem nada, mas eu não fiquei esperando qualquer sinal dele, segui para a mesa do prefeito, procurando a gaveta certa.

–Ainda investigando? Tsc. É um akuma, não é? Ele tá atrás de uma innocence. Matamos ele, pegamos a innocence e vamos embora. Deixe os finders e é quase óbvio que as crianças morreram.

Nem estremeci com a frieza dele, examinava as pastas enfileiradas na gaveta de Aaron com os dedos.

–Tem certeza? Ótimo. Achamos um akuma. Mas como sabe que ele está causando isso? Eu não vejo motivo para raptar crianças.

–Não precisam de motivos. Matam por matar.

–Eu sei, eu sei- parei para coçar a testa- mas alguma coisa está me incomodando profundamente. Não estamos aqui só para completar a missão, estamos aqui para solucionar tudo isso. Por que, afinal, cadê a innocence? E não há nenhuma evidência de que o akuma esteja raptando crianças. Você mesmo disse, cheiro doce não serve para nada. Por que raptar as crianças e não os adultos? E também por qu...Achei!

Puxei uma pasta amarela da gaveta e a abri na mesa. Não tinha poeira como achei que talvez tivesse (afinal, o lugar é extremamente rústico), mas tinha exatamente o que procurava. O registro de moradores.

–Vamos para os registros mais recentes, precisamos ver as crianças. Verifique os anos de nascimento. Abaixo de 1994 não é tão necessário.

Passei os dedos sobre os nomes, já que Kanda pouco parecia interessado naquilo, estava sentado na poltrona mexendo na espada novamente.

A cada nome e data que encontrava, meu cenho se apertava mais. Olhei todos os mais recentes sem encontrar mais que 7 nomes, sendo todos próximos a 1994, ou seja, com quase 20 anos.

–Não vejo nome de crianças- sussurrei, alto o bastante para Kanda ouvir, mas talvez baixo o bastante para ele fingir ignorar.

Felizmente, dessa vez ele não ignorou. Senti minha visão vacilar por um segundo, apertando o machucado que tive na floresta.

–Talvez eles deixem de marcar os nomes de crianças, apenas quando elas completem...

–...hã...quinze anos, eu acho.

Fechei o arquivo com frustração.

–Ótimo. O que eles estão fazendo? Dificultando nossa investigação? Sinceramente...

Guardei as folhar de volta à gaveta, sentindo a frustração subir à cabeça.

Teria que investigar de outro jeito?

Dei a volta na mesa, querendo sentar no sofá ao lado de Kanda. Estava sentindo uma pontada difícil na costela e minhas pernas falhavam em dar seus passos. Coloquei minha mão sobre o lugar. Devia estar roxo, afinal, Kanda havia chutado com força total na floresta.

–Depois voltamos à floresta- ele disse.

–Amanhã- eu confirmei, me aproximando- eu estou totalmente quebrado.

–Rá- ele resmungou- aposto que está.

Ri pelas narinas. Sentindo uma pontada maior perto do peito que me obrigou a colocar a mão sobre o lugar.

De repente, não era mais apenas uma pontada. Era uma dor intensa. Uma dor que me levou de joelhos ao chão. Não escutei o baque e muito menos o questionamento do moreno. A dor não vinha das costelas, estava na minha cabeça, esmagando meu cérebro e espalhando o sofrimento por todos os órgãos. Acho que gritei, acho que não. Apertei meus dedos contra meu crânio, querendo que aquilo parasse.

Era excruciante. Enchia minha mente de imagens confusas, repassando e passando. Afogava meus olhos em lágrimas. Corria meu coração em batidas. Cortava minha garganta. Derretia o ambiente à minha volta. Eu tremia. Tremia bastante. Senti algo me tocar e eu tinha quse certeza ser a mão do meu companheiro, mas estava muito ocupado sentindo-me ser moído por dor extrema.

Parou.

Simplesmente parou.

As imagens voltavam ao lugar e eu não precisava mais apertar minha cabeça.

Enquanto limpava o rio de lágrimas que escorria, percebi. Ou melhor, lembrei de algo que me deixou em pânico.

Eu sentia aquele tipo de coisa muitas vezes antes.

Era comum aquele ataque acontecer comigo, várias vezes. De tempos em tempos.

Era comum sim. Quando eu era doente.


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Notas finais do capítulo

Não tem preview porque não escrevi o outro ainda :(
Reviews??? :) Eu realmente preciso da opinião de vocês! :)))))
Até o próximo e tomara que seja rápido...haha
o/