David

Minha cabeça doía. Meus olhos ainda ainda fechados não me deixavam saber onde estava. Meu corpo doído estava enrolado em um cobertor. Eu sentia náuseas, como se estivesse em movimento, e não me lembrava de nada no momento. Minha cabeça estava embaralhada e eu tentava organizar meus pensamentos, e de vez em quando uma coisa ou outra me voltava a mente.

A menininha... os zumbis... a estrada... e enfim, o carro, o carro que me atropelou! Quando tudo começou a es esclarecer meu medo foi maior. Lembrar dos chutes da mulher louca fez minhas costelas doerem novamente. Com o olho meio aberto pude ver que estava na mala de um carro. Então ele parou. Alguém saiu do carro e eu pude ouvir passo atrás de passo. Então a mala se abriu liberando uma luz imensa que fez meus olhos lacrimejarem até fecharem novamente. Quando tentei atacar a pessoa que havia aberto a mala percebi que minhas mãos estavam amarradas. Ele, chamado Kevin, mandou eu me acalmar. Disse que não fariam mas mal nenhum, porque Mirella, a garotinha loira, havia contado tudo o que tinha acontecido.

— Já que é assim... — olhei pra ele desconfiado. — Me desamarra.

— E como a gente pode confiar em você? — Kevin perguntou.

— Ué, mas você não disse que a menininha contou tudo? — perguntei já começando a ficar com raiva.

— Sim, ela contou que você saiu da loja para salvá-la, e isso foi realmente heroico — ele disse normalmente. — Mas você não ficou sabendo de uma coisa: Por conta da loucura do tio da Letícia ela quase morreu. Ele iria matá-lo se Amy... se Amy não o matasse primeiro.

Não posso me ver no momento, mas tenho certeza que minha expressão mudou imediatamente. Estou realmente assustado, Letícia deve ter ficado com muita raiva.

— Enfim, vamos logo! — ele diz. Kevin apenas me puxa da mala e eu quase caio. Mesmo implorando para ele me desamarrar, Kevin não me deu bola, e até fingiu não estar me ouvindo. Amy, Letícia e a tal prima Alice, fizeram o mesmo, o que me deixou com muita raiva.

Mas o silêncio não permaneceu muito tempo. Logo que chegamos na clínica veterinária ouvimos pessoas. Dezenas ou até centenas. Não eram zumbis, eram pessoas. Isso porque elas corriam, falavam, gritavam. Mas era estranho, era o mesmo que não estivessem ali. Passávamos entre eles e eles não nos percebiam, não nos respondia.

Kevin colocou a mão no ombro de uma das pessoas que passavam.

— Oi moça, aqui não era pra ter animais? — Kevin perguntou, mas assim que a tocou a mulher soltou um grito alto. E começou a falar coisas sem sentido. — O que é que está acontecendo gente?

— Está acontecendo que vocês erraram feio na hora de virem pra cá. — eu disse me intrometendo. Sabia que dessa vez eles me ouviriam.

— Como assim? — Letícia perguntou. Todos olharam pra mim esperando uma resposta tão óbvia.

— Ali, bem na entrada, tem uma placa gigante onde está escrito "Manicômio Celeste" — Eles olharam pra mim como se aquilo nunca fosse esperado. — Parece que a senhora Alice confundiu "Clínica Veterinária", com "Hospício". Sinceramente!

— Alice, eu vou te matar! — Letícia disse vermelha de raiva. — Como você pode ter errado o caminho?

— Foi mal Lê, é sério — Alice abria um mini-mapa. — Eu jurava que era por aqui.

Eu observo bem o mapa e então percebo o que há alguma coisa bem errada com ele.

— Quem sabe se você o virasse — eu digo. Alice me olha sem entender. — O mapa! O mapa está de cabeça pra baixo!

Ela percebe, e mais uma vez é fulminada pelo olhar dos outros. Mas eu tenho certeza que nenhuma dor, nem a vergonha, dói mais do que a louca enfiando uma tesoura em sua perna enquanto outros loucos chegam para nos perturbar.