Chegando na casa de Cristal, Polly deu logo de cara com uma moldura enorme na sala, que tinha uma imagem de Cristal desfilando pintada.

Cristal estava tão linda, que Polly perdeu a fala.

 - Gostou?

- C-C-claro. Você está tão... linda.

- Obrigada. Venha. 

Cristal puxou Polly gentilmente pela mão e a levou até seu quarto.

Logo ao abrir a porta, Polly percebeu a presença de alguém conhecida na cabeceira de sua cama ao lado de Cristal.

Era ela, e essa foto tinha sido tirada pouco depois do início do namoro.

Polly ficou extremamente emocionada, e fez uma observação.

- Nós estávamos tão felizes.

- É verdade. Mas nós fomos muito feliz, não fomos?

- Sim, de fato. 

Cristal sorriu, parecia que era tudo o que ela queria ouvir. Fez Polly se sentar na cama, e cobriu seus olhos com algum pano. Pediu que ela esperasse pois queria lhe mostrar algo. Algum tempo depois, Polly ja nem aguentava mais de tanta curiosidade, Cristal tirou o pano de seu rosto e os olhos de Polly viram uma caixa. 

- O que tem aí?

- Olha. 

Polly nem perdeu tempo fazendo charminho, ou querendo uma confirmação, foi imediatamente até a caixa e abriu. Tinha coisas de todo o namoro delas, desde presentes, às cartas, fotos, declarações de amor, desenhos, além de vídeos gravados dos programas favoritos que elas viam juntas na TV.

- Quando você gravou isso?

- Quando voltei de viagem. Precisava ter algo para lembrar de você.

- Você ainda gostava de mim nessa época? 

Polly perguntou incrédula, realmente nunca pensou que Cristal ainda gostasse dela, depois da viagem.

- Não...

- Então por que você disse...? Eu não ent... 

Cristal colocou a ponta de um dedo por cima dos lábios de Polly, sorriu, olhando fixamente para a garota, que se calou imediatamente. De repente, esse toque tinha significado muito mais do que o que ela tinha dito. Polly tinha certeza que as palavras poderiam ter uma explicação, apesar de não conseguir pensar em uma.

Passado alguns instantes Cristal lhe perguntou:

- Vamos assistir uma das fitas?

- Vamos sim. 

As duas deitaram na cama e começaram a assistir uma das fitas. As duas estavam muito emocionadas e pela primeira vez Cristal se deixava sentir suas emoções após ficar muito tempo reprimindo-as.

Porém Polly, muito cansada, durmiu na metade.

Cristal percebeu pouco depois e lhe cobriu.

Se sentia tão feliz em dormir hoje a noite na mesma cama que ela, e por isso nem pensou em acordá-la.

Desligou também a televisão para que nenhum barulho viesse incomodá-la.

Queria Polly ao seu lado por toda a noite, e pouco tempo depois, com o silêncio, Cristal também dormiu.

Com o tardar da noite, Cristal foi se virando e acabou dormindo de frente para Polly, com os rostos muito próximos.

*************

Pela manhã, Polly acordou e se viu diante do lindo rosto quase infantil de Cristal dormindo. Pensou em como pôde esquecer que Cristal ainda tem aquele mesmo rosto inocente, por quem se apaixonou. Na verdade elas não mudaram nada, apenas as contingências se transformaram.

O sentimento continuava o mesmo, pelo menos da parte dela. Polly não conseguia mais ter os lábios de Cristal em sua frente, sem poder tocá-los, por isso resolveu se levantar logo, e aproveitar para fazer um café da manhã para a amada.

Pouco depois foi a vez de Cristal acordar, e imediatamente se levantar para ver onde Polly estava. Temia que Polly tivesse ido embora ao ver o horário, porém essa seria a última coisa que a outra faria. Ao chegar na sala, a primeira coisa que viu foi o sorriso de Polly para ela, e uma mesa posta. Assim, tudo ficou de repente maravilhoso.

Depois do café, as duas se sentaram no sofá, uma ao lado da outra.

Permaneceram em silêncio, até que Cristal resolvesse lhe contar mais algumas coisas. 

- Acho que devo dizer algo a você.

- Como assim acha?

- É por que eu acho que acabei não dizendo.

- Então diz.

- Eu também não tive mais ninguém depois de você. 

Polly não imaginou que seria isso, e ao ouvir, entendeu o que Cristal sentiu ao ouvir isso da boca dela. Parecia tão estranho imaginar que uma pessoa resistiria tantos anos sem ter nem ao menos um afeto. Entretanto, algo ainda não estava claro.

- P-Por que não?

- Bom, não tive tempo para pensar nessas coisas... 

Polly acabou por sentir um tiro pelas costas, de tanta decepção com o que ouviu.
Mas logo depois percebeu ter sido de raspão:

- Mas eu também não queria te esquecer.

- E por que? 

Cristal tinha a chance agora de dizer tudo que estava em seu coração.
Com o coração na mão, respondeu.

- Por que ninguém poderia te substituir. Nunca.

- Você ainda me ama? 

A pergunta de Polly foi tão imediata e inconsciente que as duas se assustaram. No entanto, Cristal tinha aquele olhar tranqüilo para Polly lhe indicando que estava tudo bem Pegou em uma das mãos da outra, e apertou forte. E olhando nos olhos dela, disse.

- Eu nunca conseguiria te esquecer. Mesmo com todo o trabalho do mundo. E mesmo com todo o tempo do mundo. E sabe por que? 

Os olhos de Polly se encheram de lágrimas, à medida que Cristal continuava.

Estava tão feliz por ouvir essas palavras de sua amada.

- P-por que?

Cristal se aproximou de Polly, rosto a rosto, com uma distância mínima de centímetros. Polly desejava tanto um beijo, que já se decidia entre esperar a atitude da garota, ou em ser espontânea, e fazer o que estava com vontade. Cristal pensava a mesma coisa, e resolveu beijar Polly no cantinho da boca. Depois sorriu, e abraçou Polly. Ao ir se afastando, a outra segurou-a no seu ombro, como forma de impedir o afastamento, sorriu para a menina, e uma lágrima caiu do seus olhos. Cristal também parecia emocionada. E finalmente lhe respondeu.- Porque você é um pedaço de mim.