Sra. Roux falava inúmeras coisas à nós que Wright jamais havia contado.

Eu não podia negar, eu achava ela muito estranha e bizarra, mas ainda assim, eu estava até me simpatizando mais com ela do que com Wright. Em alguns minutos eu até cogitava em ir a Área 52 com ela, mas logo tirava esses pensamentos da minha mente. Eu não poderia confiar nela tão cedo assim.

E agora, ela finalmente havia deixado nos deixado sozinhos.

Eu só conseguia pensar em organizar minha mente, mesmo que isso parecesse uma tarefa impossível. Era mais do que necessário conseguir ficar com a cabeça calma e organizada, agir de um jeito bem menos emotivo e me preparar para o que iria por vir. Eu tinha toda a certeza que a cada segundo que passasse a situação iria piorar mil vezes mais.

Eu pensei que a minha cabeça fosse explodir. Eu não fazia ideia de como os The Owners iriam agir futuramente, mas sabia que iria ser algo completamente surpreso e que poderia me pegar de jeito. Nem eu sei mais descrever ou até tentar entender o que aconteceu naquele corredor. Eu me sentia completamente exposta, como se não pudesse controlar a minha mente e se tivesse uma força maior controlando todos meus pensamentos e sentimentos. Merda, eu estava com medo daquilo. Não era para eu sentir medo.

Eu pensei em Jeff, e também em sua irmã mais nova. Rapidamente, um sentimento de culpa misturado com uma pseudo afeição surgiu em mim, pensando em como eles estariam agora. Eu tinha medo que qualquer pessoa da Área 51 soubesse que Kristen dominava a água, porque isso iria afetar tanto a mim quanto a ela. Enquanto essas pessoas acharem que eu sou alguém importante e completamente única no mundo, eu ainda estarei viva. Pode parecer idiota, mas quando descobrirem que Kristen é uma dominadora de água mais jovem que eu, e que tem muitos anos para ser perfeitamente treinada, qualquer deslize meu pode significar a morte. E digamos que por enquanto, eu não quero isso.

Pensei nos lobos, e todas as matilhas que queriam me ver morta e provavelmente fariam isso o mais rápido possível. Eu não senti muito medo disso, mas para qualquer pessoa, isso deveria ser no mínimo, algo assustador e terrível. Lobos são perfeitos lutadores, sendo que só são facilmente levados pelos seus líderes de matilha, e também não esquecem de algo tão rápido assim. Não demoraria muito tempo até que eles dessem uma vingança no nível de um verdadeiro lobisomem.

Depois disso, o pensamento de Liam, o vampiro que eu havia enfrentado de madrugada veio a minha mente. Jeff estava certo, com isso, eu poderia concluir que de fato havia vampiros infiltrados nos The Owners, e Liam poderia ser até o mais fraco de todos eles. Eu já havia enfrentado vampiros antes, quando eu tinha doze anos em uma situação nada fácil de descrever — desde daquela época eu tenho meio que um “trauma” por vampiros —, eles eram frios, ágeis, possuíam uma voz completamente aveludada e de um certo ângulo, poderiam até ser lindos e sedutores. Todos eram assim, sem alguma exceção. Mas, caso sentissem um cheio completamente doce de algum humano, eles mostravam sua verdadeira face. Eles mostravam suas presas, como se fosse uma cobra próxima ao dar um bote, selvagem e completamente feroz.

O que se pode concluir com isso? Eu, a pessoa mais pacífica e adorada de todo o mundo havia conseguido despertar o ódio de Vampiros e Lobisomens ao mesmo tempo. Parabéns para mim, mereço uma salva de palmas.

— Wright nos disse que vamos treinar três vezes mais quando voltarmos a Área 51. — Matthew assassinou o silêncio.

— Qual a parte do ‘Não fale mais comigo’ você não entende? — eu disse.

— Certo, garota da água, entendi. — ele disse. — Mas eu não quero cumprir.

Revirei os olhos.

— Qual o seu problema?

— Eu sou saudável. Não tenho problema nenhum. — ele respondeu do jeito mais óbvio possível.

Revirei os olhos e bufei pela a segunda vez.

— Você é um estúpido. — eu disse, me levantando do sofá e ficando de pé.

— Vai para onde, garota da água? — ele disse.

— Para longe de você. — respondi, dando meia volta.

— Detalhes?

— Isso não importa. — resolvi não contar. Na verdade, eu iria talvez dar uma volta por Los Angeles sem me meter em nenhuma encrenca ou ficar com Travis e Helena. Qualquer coisa menos ficar com Matthew e aguentar mais idiotices que ele sempre falava ou fazia.

— Certo, pode ir, irritadinha. — ele disse. — Eu sei que você não aguenta ficar mais um minuto aqui sem se apaixonar pela a minha beleza.

Eu ri forçadamente e me virei para ele.

— Você é a pessoa mais feia e ridícula que eu já conheci em toda a minha vida. — eu disse. Me virei de novo e dei alguns passos até a porta.

— Eu gosto de mentiras, Watters, continue mentindo. — ele disse. Eu já estava abrindo a maçaneta. — Quero ver quem irá desistir primeiro.

Eu saí do quarto e rapidamente fechei a porta com força. Respirei fundo e tentei distrair a minha mente.

Se eu já estava uma bagunça, Matthew não ajudava nada naquilo.

Eu andei em direção ao elevador, iria dar uma volta em Los Angeles, aproveitando que Wright, Sr. Webb e Sra. Roux acabaram de partir agora. Ao menos não teria nenhum responsável aqui e eu poderia andar pela a cidade em paz, talvez pôr os meus pensamentos em algum lugar organizado da minha cabeça e finalmente conseguir me focar direito nas coisas.

Eu entrei no elevador e apenas me preocupei em que horas iria voltar.

Era estranho estar um elevador normal, sem toda aquela pressão toda que eu tinha na Área 51 descendo todos aqueles andares naquela super velocidade de uma vez. Havia aquela típica música de fundo do elevador dos anos 80, que era Like a Virgin da Madonna, automaticamente, o pensamento assustador dos gays daquela época dançando e rebolando aquela música veio a minha mente. Aquilo era lento demais para o que eu estava quase me acostumando lá, mas ao menos me trazia uma sensação de relaxamento que eu nunca senti enquanto estava lá.

Eu estava com saudades do mundo normal e nem percebia isso.

Eu poderia até não gostar de pessoas em 99% das vezes, mas ainda assim, eu sentia um pouco de saudades de andar no meio da rua e me encontrar com um monte de rostos, a maioria deles sempre estavam irritados ou com alguma expressão completamente fechada, mas ainda assim, era bem melhor daquele jeito. Eu tinha uma liberdade onde só eu poderia decretar o que eu deveria fazer ou não, onde eu ditava as minhas regras desde os meus nove anos de idade. Não existia um certo ou errado, apenas existia o que eu queria fazer e o que eu não iria fazer por tal razão e blá, blá, blá. Mesmo que eu não vivesse em condições não muito boas, e também fizesse inúmeros trabalhos que são encarados como ilegais, ainda assim tinha um livre arbítrio e não tinha meio mundo me caçando ou cuidando de qualquer coisa que eu fizesse.

Talvez eu pudesse aceitar a proposta de Louise Roux...

Não. Apenas... Não.

— Olá, dominadora de água. — eu ouvi uma voz quase familiar, pela a qual só consegui identificar pelo seu sotaque inglês.

Eu rapidamente me virei, percebendo quem era. Ótimo, agora eu não tenho nem um segundo sem ter alguma pessoa atrás de mim.

— Aaron Knight? — perguntei.

— Eu mesmo. — ele disse. — Ouvi dizer que você foi até os The Owners acompanhada com o dominador de fogo. É verdade?

— Como sabe disso? — perguntei.

— Então está afirmando?

— Responda a minha pergunta primeiro. — disse.

— Você afirmou. — ele disse. — Não custa admitir?

— Me responda. — disse quase que em um tom de autoridade.

— Meu irmão morreu. — ele disse. — Liam. Você o matou ou são apenas boatos? Caso sim, eu lhe dou meus parabéns.

Eu fiquei quase sem reação. Aaron falava como se aquilo fosse algo completamente normal, tipo, quando as adolescentes normais ficavam falando sobre a quantidade de curtidas que recebiam em suas fotos do Facebook ou discutindo sobre qual professor era o pior. Ele chegava a ser completamente frio e estranho.

— Liam era seu irmão? — perguntei confusa.

— Sim. Ano passado, ele saiu de casa e voltou um mês depois, transformado por Hector Kitter em um vampiro. Depois daquilo, eu queria vê-lo achar a morte verdadeira e você fez isso por mim. Obrigado, Watters.

— Eu não o matei. — eu falei. — Espere... Quem é Hector Kitter?

— Estamos quase chegando ao seu destino...

— Não mude de assunto. Quem é Hector Kitter? — perguntei.

— Seu pesadelo, dominadora. Seu maior pesadelo. Mas, de qualquer jeito, você irá enfrenta-lo, então, pode se preparar. — ele disse. O elevador parou no térreo e suas portas abriram automaticamente. — Fico surpreso por descobrir onde eu moro, dominadora. Mas creio que nossa conversa terminou. Você não viu nada disso, entendeu? — ele deu uma curta pausa. Eu fiquei sem saber o que dizer. — Pisque os olhos. Você ainda me deve um favor, mesmo que tenha ajudado a matar meu querido irmão.

Eu pisquei os olhos. Não porque ele mandou, mas foi meio que automaticamente.

E Aaron Night se fora. Desaparecendo daquele lugar.

Eu ainda estava em um estado de choque, sem saber o que fazer. Havia sido algo tão rápido e tão de surpresa que eu achei que o meu cérebro fosse um computador vagabundo que iria travar a qualquer instante.

É, isso é uma merda.

Assim que eu saí do elevador, dando de cara com a recepção eu pude ver só Helena, sentada no sofá da recepção com uma expressão nada boa em seu rosto. Eu poderia não ser boa em perceber emoções na maioria das vezes, mas eu pude ao menos conseguir identificá-las. Ela estava em estado de choque, com o seu rosto bem pálido e seu nariz e olhos vermelhos. Em suas mãos, carregava um papel, mas ela mal olhava para ele. Seus olhos castanhos estavam marejados. Certo, não era uma coisa lá muito boa.

Eu consegui identificar Wright e Sr. Webb, na frente dela e também falando com um homem que eu não reconhecia muito bem.

Eu rapidamente dei alguns passos, me aproximando deles e querendo ao menos ter uma ideia de que tipo de situação era aquela que estava acontecendo bem na minha mente. Adeus, descanso mental. Olá, mais problemas. Sejam muito mal vindos.

O homem era alto, e não parecia ter mais do que o seus trinta e oito anos. Seus cabelos eram bem lisos e cor de mel, em um corte bem curto, porém ainda tinha um jeito quase que perfeitamente bagunçado. Ele tinha um tom de pele meio que azeitonado, o que me fez lembrar um pouco de pessoas italianas e até do General Rodriguez. Seus olhos eram cor de mel, porém, não eram nada profundos, e pareciam ser os olhos mais falsos e superficiais que eu vi na minha vida, até superando os da minha falecida mãe. Ele usava um terno, e falava termos tão formais que me faziam me sentir muito burra. E, para completar, ele usava óculos meio que retangulares, em um estilo mais “moderninho”.

Eu cheguei silenciosamente perto de Helena, para que apenas ela pudesse notar minha presença.

— Quem é ele? — eu perguntei.

Ela respirou fundo, demorando um pouco para responder.

— Ben Jones. Empresário e filantropo muito famoso na Inglaterra. — ela deu uma pausa, como se fosse para segurar suas lágrimas. — Ele é o meu pai.