A Filha de Ártemis escrita por Karol Mezzomo


Capítulo 5
A Hidra de Lerna e o Javali de Erimanto




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Continuamos caminhando por mais alguns quilômetros até que avistamos uma grande cidade à frente.

– Finalmente, civilização. – disse Annabeth caminhando em direção a cidade.

Nós a seguimos, Jéssica tirou um pedaço de Ambrosia (comida dos deuses) da mochila e dividiu entre Annabeth, Percy e eu. Se algum mortal chegasse a experimentar Ambrosia seu corpo queimaria até os ossos, mas como nós semideuses éramos metade deus e metade mortal a Ambrosia não nos fazia mal desde que não fosse consumida em excesso.

Ao colocar a Ambrosia na boca senti um calor percorrer meu corpo e senti-me bem no mesmo instante, como se minhas forças tivessem sido renovadas.

Já era final de tarde então todas as lojas e mercados estavam fechando. Eu tinha consciência de que devíamos parecer adolescentes de rua com nossas roupas rasgadas e sujas. Ouvi e barriga de Jéssica roncando ao meu lado. Nós havíamos comido a Ambrosia e por isso não estávamos com muita fome, mas Jéssica não era uma meio-sangue então ela não tinha comido nada desde que saímos do acampamento, devia estar morta de fome.

Eu olhei para o outro lado da rua e vi um museu que ainda estava aberto. Até onde eu sabia museus tinham restaurantes.

Falei com meus amigos e decidimos entrar no museu para descansar e comer alguma coisa. Achamos um pequeno restaurante ao lado da seção dos répteis.

O museu também estava fechando e havia poucas pessoas nele. Deixei Jéssica, Percy e Annabeth comendo e fui dar uma olhada nos répteis (não que eu gostasse deles, na verdade queria só arranjar algo para fazer).

Na mesma seção em que eu estava tinha apenas uma mulher com uma cobra enrolada ao pescoço. Imaginei se ela seria algum tipo de atração do museu ou se os seguranças a tinham deixado entrar com aquele animal.

– Vai ficar tudo bem filhinha, só espere mais um tempo. – sussurrou a mulher para a cobra.

Filhinha?

– Ai, ai, tudo bem, se você insiste. – a mulher largou a cobra no chão.

Comecei a me afastar, olhei ao redor, mas não havia mais ninguém, todos já deviam estar saindo do museu.

A cobra começou a arrastar-se em minha direção.

– Só não a machuque muito meu amor, você sabe que Zeus a quer viva para que ele mesmo possa matá-la. – falou a mulher.

A cobra começou a crescer e se transformar, sua pele foi esticando-se e nasceram quatro patas, seu corpo transformou-se em um corpo de dragão, sua cabeça começou a dividir-se e sugiram nove novas cabeças de serpente.

A Hidra de Lerna começou a crescer e suas cabeças encostaram-se ao teto a seis metros de altura.

– Vamos lá meu bebê, deixe a mamãe Equidna orgulhosa. – incentivou a mulher.

Esse nome lembrou-me alguma coisa, a não ser que eu estivesse enganada Equidna era o nome da mãe de todos os monstros da mitologia. Bom, isso explicava bastante principalmente o fato da sua cintura para baixo ter se transformado em uma cauda de serpente.

Tirei a mochila das costas e puxei minha espada prateada. Uma das cabeças da serpente atacou, eu desviei e cortei sua cabeça. Foi a coisa errada a se fazer, ela começou a regenerar-se e em seu lugar surgiram duas novas cabeças.

Ótimo, agora eram dez cabeças para eu tomar conta. Uma das novas cabeças abriu a boca e lançou um gás verde, eu corri e me escondi atrás de um pilar no momento em que o veneno atingia a estátua de uma Jibóia que estava atrás de mim e ela derretia como plástico no fogo.

Eu não sabia o que fazer ou como iria matar um monstro desses se para cada cabeça que eu cortasse surgiam duas.

Ouvi Percy, Annabeth e Jéssica entrarem na briga e me juntei a eles, mas era inútil, tudo o que podíamos fazer era desviar doas ataques e do veneno lançado pela Hidra. Minha cabeça trabalhava a mil tentando lembrar-se de como Hércules havia matado a Hidra na mitologia.

Annabeth puxou da mochila o boné que tinha ganhado de sua mãe Atena e o colocou na cabeça tornando-se invisível. Quis saber o que ela pensava que estava fazendo, mas não tinha tempo para isso duas das cabeças da Hidra não tiravam os olhos de mim e eu precisava de toda minha concentração se quisesse continuar viva.

– Gabrielle aqui! – disse Annabeth acenando para mim, pelo canto do olho eu vi uma fogueira que ela havia começado a acender usando pedaços de cadeira do restaurante. Atrás dela a garçonete corria para chamar a segurança. Pensei no que Quíron tinha me dito sobre a Névoa que encobria a visão dos mortais e imaginei o que a mulher estaria vendo.

Annabeth correu até mim e começou a atrair a atenção de algumas cabeças enquanto gritava ao meu lado.

– Corra até a fogueira e coloque a ponta de suas flechas no fogo, nós iremos cortar as cabeças e você atira logo em seguida para impedir que elas cresçam.

Agora eu consegui lembrar-me da história, Hércules matou a Hidra com a ajuda de seu sobrinho Iolau, ele cortava as cabeças da Hidra enquanto Iolau impedia sua reprodução queimando suas feridas com tições em brasa para que elas cicatrizassem antes do nascimento de uma nova cabeça.

Dei a minha espada a Annabeth e corri o máximo que podia em direção a fogueira. Puxei minha caneta do bolso e a destampei, em segundos eu segurava um arco de prata em minhas mãos.

Ouvi um grito, Percy havia sido jogando contra um pilar pelo rabo da Hidra. Eu precisava agir rápido, puxei uma flecha e coloquei sua ponta no fogo, no mesmo momento a ponta ardeu em brasa e uma pequena labareda surgiu.

– Agora! – gritei para Annabeth.

Era o sinal que ela estava esperando. Percy conseguiu recuperar-se da batida e avançou para a Hidra.

– Cortem as cabeças. – ordenou Annabeth para Percy enquanto jogava uma faca de bronze para Jéssica.

Não era nada fácil, as cabeças desviavam e atacavam lançando o gás venenoso. Percy, Annabeth e Jéssica estavam ficando com problemas, suas roupas estavam chamuscadas (menos as de Jéssica que usava a pele de leão) e havia vários cortes dos ataques que pegavam de raspão seus corpos.

Atirei uma flecha no corpo da Hidra mesmo sabendo que não teria efeito a não ser deixá-la zangada, mas pelo menos a distraiu o que deu tempo suficiente para que Percy cortasse uma de suas cabeças.

Preparei outra flecha em brasa, onde Percy tinha cortado a cabeça da Hidra se via agora um buraco que pingava sangue e se sacudia loucamente.

Tentei mirar, mas era difícil com aquela coisa mexendo-se rapidamente, se eu demorasse mais um pouco a cabeça iria acabar regenerando-se, concentrei-me e de repente soube o que fazer. Atirei e a flecha acertou em cheio o alvo, o fogo consumiu rapidamente a ferida, a cicatrizando e impedindo o nascimento de mais duas cabeças.

Percy, Annabeth e Jéssica continuaram lutando, a cada vez que eles cortavam uma cabeça eu imediatamente atirava uma flecha não deixando que ela se reproduzisse. Até que apenas uma cabeça sobrou, segundo a lenda essa cabeça era invencível, como única solução Hércules acabara enterrando-a e colocou uma pedra por cima para que ela não retornasse mais.

Mas nunca conseguiríamos fazer isso. A cabeça cuspiu um grande jato de gás venenoso, Annabeth e Percy desviaram, mas foram pegos de surpresa pela calda da Hidra que com uma rabada os jogou a metros de distância, eles bateram na parede e foram ao chão, inconscientes.

Ouvi passos ao longe, parecia que a garçonete havia conseguido chamar a segurança, eu tinha que fazer algo depressa ou além da Hidra teríamos que nos preocupar com as autoridades.

A Hidra virou-se para Jéssica, eu olhei ao redor procurando alguma coisa que me ajudasse a salvá-la quando meus olhos bateram em um das cabeças decepadas da Hidra que estava no chão com um líquido verde escorrendo de sua boca: o veneno.

Hércules havia mergulhado suas flechas no veneno da Hidra as tornando venenosas. Sem perder tempo corri até a cabeça de serpente e ajoelhei-me no chão. A minha frente Jéssica tentava resistir como conseguia. Peguei uma flecha e encostei sua ponta na poça de veneno que se formava das gotas que escorriam da boca da Hidra.

No instante em que a ponta da flecha entrou em contato com o veneno da Hidra a flecha começou a sugá-lo como se estivesse esperando por isso, as pontas das outras flechas que estavam em minhas costas brilharam em um tom verde e depois voltaram ao normal.

Eu puxei outra flecha e consegui ver o veneno dentro dela, como o remédio dentro de uma seringa. Todas as flechas tornaram-se venenosas. Imaginei se era esse o plano de minha mãe quando decidiu me dar o arco.

– Jéssica, saia daí. – eu gritei enquanto levantava-me e mirava o corpo da Hidra.

Ela correu para o meu lado e a Hidra começou a avançar em nossa direção. Sem pensar duas vezes eu atirei. A flecha cravou-se no peito do monstro e por um momento aterrorizante nada aconteceu, mas aos poucos linhas verdes surgiram do ponto em que a flecha estava e começaram a espalhar-se.

Percy e Annabeth começaram a recobrar os sentidos enquanto a cabeça da Hidra soltava um som agudo parecido com um berro e explodia transformando-se em pó igual areia embaixo de um ventilador.

Então eu entendi que ao mergulhar as flechas no veneno da Hidra elas haviam tornado-se como a espada de Percy.

– Ali estão eles policiais. – falou uma mulher apontando para nós quatro, reconheci ser a garçonete do restaurante. Encostei a tampa da caneta no arco e ele voltou a ser uma caneta.

Equidna que tinha observado toda luta urrou em frustração por termos matado sua filha.

– Malditos filhotes de deuses, isso não vai ficar assim. Ainda não terminou. – disse ela, logo depois desapareceu deixando para trás uma risada fria e cruel.

– Hei crianças. Vocês estão muito encrencados. – disse um dos policiais.

Annabeth e Percy juntaram-se a mim e Jéssica.

– Algum plano? – sussurrei.

– Sim. – respondeu Percy. – Corram!

Ele não precisou falar duas vezes, nos pusemos a correr com os policiais em nosso encalço.

Chegamos à saída do museu e disparamos para a noite que caía sobre a cidade. Annabeth fez sinal para um táxi, nós entramos no veículo e mandamos o motorista pisar fundo. Olhei pelo retrovisor e vi os policiais parados à frente do museu procurando por nós. Pelo menos havíamos conseguido despistá-los. Suspirei aliviada e deixamos que o táxi seguisse.

Olhamos uns para os outros com o mesmo pensamento em mente, para onde iríamos agora? Olhei pela janela com um salto, já não estávamos mais na cidade, corríamos por uma autoestrada. E quando eu disse corríamos é porque corríamos mesmo, o mostrador do táxi marcava 250 Km/h.

Agora que eu prestava atenção no motorista me dei conta de como ele era esquisito, nunca tinha visto motoristas de táxi usando óculos de sol (á noite), mascando chiclete, vestindo jeans, sapatos do tipo mocassin e camiseta sem manga.

Nós nos entreolhamos, Percy começou a puxar sua caneta do bolso, em poucos dias eu havia aprendido em não confiar em ninguém. O motorista sorriu, seus dentes eram tão brancos e brilhantes que imaginei que ele deveria escovar os dentes umas seis vezes por dia.

– Vamos com calma crianças eu só quero ajudar.

Ele parou o carro na frente de um bar daqueles que se encontram na beira de estradas. Nós descemos do carro e meu queixo caiu ao olhar para o táxi, porque na verdade não era mais um táxi, era um Maserati Spyder conversível, vermelho. Era tão impressionante que resplandecia. Percebi que reluzia porque o metal estava quente. Só de estar perto do carro comecei a sentir calor.

O motorista parecia ter dezessete ou dezoito anos, ele sorriu para nós de um jeito brincalhão. Seus cabelos eram claros e tinha uma beleza esportiva. Nunca tinha visto alguém tão bonito pessoalmente.

Annabeth corou, Percy recolocou a caneta no bolso com um sorriso e Jéssica parecia prestes a desmaiar. Eu não entendia o que estava acontecendo.

– Sobrinha! E aí como é que vai? – ele perguntou olhando para mim.

– O que? – eu perguntei perplexa. Mas então a ficha caiu e de repente senti o calor em meu corpo aumentar.

Aquele era Apolo o deus do sol, das profecias e irmão gêmeo de Ártemis o que me tornava sua sobrinha.

– Sr. Apolo. – disse Annabeth o cumprimentando.

– Hei docinho, não precisa me chamar de senhor. – ele disse apertando a mão de Annabeth.

Apolo era o segundo deus que eu conhecia, diferente de Dionísio ele não se importava em mostrar-se poderoso, parecia mais com um adolescente rebelde.

– Prazer em conhecê-lo tio. – eu disse estendendo a mão. – Obrigado por nos ajudar lá no museu.

Ele a apertou com um sorriso e senti como sua mão era quente, era como se Apolo fosse o próprio sol.

– E então criança, é difícil para minha irmã caçula confessar, mas ela esta orgulhosa de você.

Eu corei esperando que Apolo não tivesse visto isso.

– Irmã caçula? Mas vocês são gêmeos. – disse Annabeth.

– Na verdade não sabemos quem nasceu entes, embora Ártemis diga que foi ela gosto de chamá-la de caçula. É uma discussão que já dura alguns milênios. - respondeu ele. – Puxa vocês estão péssimos.

Apolo abriu a porta do carro e jogou uma mochila para cada um de nós.

– Peguem, tem roupas novas para todo mundo.

Eu não sabia como agradecer e nem o que dar em troca para um deus que poderia ter tudo que quisesse.

– Obrigado senh... Tio. – eu disse. – Mas por que está nos ajudando?

Percy, Annabeth e Jéssica prenderam a respiração, acho que não foi a coisa certa a perguntar. Apolo ficou sério. Lembrei-me que na mitologia os deuses eram conhecidos por irritarem-se facilmente. Mas quando Apolo falou sua voz estava calma.

– Minha irmã gosta de você sobrinha, embora ela seja durona de mais para admitir, não quero ver minha irmã triste.

Eu concordei, ele passou a mão quente por minha testa com um sorriso e me entregou um saco com algumas moedas.

– Espero que vocês sobrevivam, e se voltarem ao acampamento digam aos meus filhos que eu mandei um abraço.

Achei que ele só podia estar brincando, como deus das profecias ele deveria saber o que iria acontecer conosco, mas os deuses tinham essa mania de serem enigmáticos.

Ele entrou no carro, acenou e ligou o motor.

– Não olhe! – advertiu-me Annabeth virando o rosto.

Eu a imitei e senti um calor insuportável no corpo, ouvi o carro dando a partida e uma luz amarela ofuscante iluminou o lugar onde estávamos como um flash e desapareceu.

Abri os olhos e olhei para o céu estrelado, tinha certeza de que se tivesse mantido os olhos abertos teria sido reduzida a pó em frente ao tamanho poder que emanava dos deuses. O carro de Apolo agora estava longe, mas não era mais um carro e sim uma carruagem.

Lembrei-me das lendas gregas de que Apolo guiava o sol com sua carruagem puxada por quatro cavalos em chamas, ainda era estranho pensar que tudo isso era real.

Entramos no bar, na TV passava uma notícia que me chamou atenção, quatro adolescentes eram procurados por destruir a seção dos répteis de um museu, quebrar os vidros e os monumentos históricos.

Então era isso que os mortais haviam visto quatro adolescentes perturbados destruindo um museu, isso era ridículo. Estávamos cansados, inventamos uma história para o dono do bar e ele deixou que nos hospedássemos em sua casa por uma noite.

Enquanto preparava-me para dormir repassei meu dia, em um único dia quase havia sido morta duas vezes, se continuássemos assim seria difícil concluir a missão.

Olhei para a lua e lembrei-me das palavras de Apolo, minha mãe gostava de mim e estava orgulhosa de meus feitos. Eu não podia decepcioná-la.

– Eu vou conseguir, vou sobreviver e salvar as Caçadoras, prometo. – eu disse enquanto olhava para a lua.

Talvez fosse minha imaginação, mas ouvi o uivo de um lobo vindo do interior da floresta.

Acordamos cedo, agradecemos ao dono do bar pela hospedagem e começamos a caminhar pela floresta que se estendia como um enorme cobertor verde.

Estávamos usando as roupas que Apolo nos dera. Eu estava treinando meus sentidos maravilhada com tudo que podia ouvir ao meu redor quando me lembrei que não havia lido qual seria a terceira tarefa, pedi então o pergaminho das tarefas a Annabeth.

Logo abaixo da segunda tarefa lia-se a terceira.

“3º tarefa: capturar o javali de Erimanto”

Até onde eu sabia essa tinha sido a tarefa mais fácil de Hércules. O javali de Erimanto era apenas um javali maior que o normal que aterrorizava uma pequena aldeia da Grécia Antiga.

– Bom pelo menos não pode ser pior do que a Hidra. – brinquei.

Nós começamos a rir por uma bobagem eu sei, mas enquanto ríamos era como se esquecêssemos do mundo por um tempo.

Chegamos a uma clareira onde as árvores tinham sido desmatadas formando um perfeito e enorme círculo.

– Vamos nos sentar aqui um pouco, não aguento mais meus pés de tanto caminhar. – disse Jéssica.

Sentamos-nos em alguns troncos de árvore enquanto Percy abria a mochila e passava uma garrafa de água para cada um.

Eu estava tomando um grande gole quando um grito me fez pular.

– O que foi isso? – perguntei.

– Parece que foi um homem. – respondeu Annabeth.

– Mas de onde está vindo? – perguntou Jéssica.

– Gabrielle você pode identificar a direção? – perguntou Percy.

Annabeth e Jéssica me olharam sem entender.

Fechei os olhos e concentrei-me. Escutei os berros desesperados de um homem que vinham diretamente da minha direita e eu sabia que minha direita significava no sentido oeste (não me pergunte como eu possuía esses sentidos de direção, eles simplesmente estavam na minha cabeça).

– Por aqui. – eu disse enquanto começava a correr. Annabeth, Percy e Jéssica me seguiram.

Chegamos à beira de um rio, mais adiante um pescador gritava na medida em que um enorme javali aproximava-se dele.

Corremos na direção do pescador, eu peguei uma pedra e a joguei no animal, a pedra deu em cheio em sua cabeça, ele virou-se para mim e começou a avançar em alta velocidade.

A primeira parte havia dado certo, afastar o javali do pescador.

– Tirem ele daqui. – pedi a Percy e Annabeth.

O javali aproximava-se rapidamente, me dei conta de que não podia matá-lo Zeus queria que eu apenas o capturasse.

Encostei-me no tronco de uma árvore e no ultimo instante desviei para o lado, o javali bateu com toda força no tronco da árvore e ficou desnorteado.

– Jéssica temos que capturá-lo, não podemos matá-lo. – eu disse a ela.

– Eu tenho uma ideia. – ela falou.

Então fechou os olhos e raízes começaram a brotar do chão e enrolar-se no javali, quando ele recobrou os sentidos estava completamente preso.

Havia me esquecido que Jéssica, como ninfa, podia contar com a ajuda da natureza.

O javali começou a debater-se, as raízes não iam aguentar por muito tempo. Peguei minha espada da mochila, avancei devagar para perto do javali e usei o punho da espada para bater com toda força que consegui reunir (o que não é pouca coisa no caso de um semideus) na cabeça do javali e ele desmaiou imediatamente, eu não sabia como explicar, mas sabia o ponto certo que deveria bater para que ele ficasse inconsciente, era como se eu conhecesse tudo sobre animais.

– O pescador fugiu não quis a nossa ajuda. – explicou Percy.

– Você esqueceu-se de mencionar a parte em que ele nos chamou de loucos. – lembrou Annabeth.

Ela olhou para o javali inconsciente.

– Ele esta morto?

– Não. – eu respondi, podia ouvir seu coração.

Nesse momento uma luz surgiu do nada e quando ela se foi revelou um sujeito que usava um short de corrida de náilon e camiseta da Maratona de Nova York. Era magro, estava em boa forma, tinha um cabelo grisalho e um sorriso zombeteiro.

Parecia muito familiar, mas não tive como perguntar quem era, pois ele estava muito ocupado falando no telefone.

– Sim eu sei. Olha, eu não posso fazer nada, peça a Perséfone para que ela fale com a Medusa, eu não entendo de estátuas. OK, tchau.

Ele então desligou o celular e observou-nos.

– Nunca consigo arranjar tempo para nada, toda hora estão mandando mensagens. – ele resmungou, então seus olhos pousaram no javali desacordado. – Ha! Vejo que capturaram o javali de Erimanto. Zeus mandou-me aqui para que o levasse. – ele virou-se para Percy. – Olá rapaz, faz muito tempo que não o vejo.

– Olá Sr. Hermes. – cumprimentou Percy.

À minha frente estava Hermes o deus dos viajantes, mensageiros e ladrões, agora sabia por que ele me parecia familiar, eu conhecia seus filhos e eles eram muito parecidos com ele. Eu o cumprimentei, afinal era no chalé dele que eu me hospedara no acampamento.

O que era engraçado eram as roupas que os deuses usavam principalmente as de Hermes, eu sempre os imaginei com túnicas gregas brancas, no caso de Hermes com as sandálias e o capacete com asas, não com camisa de maratona e short de corrida.

Um sorriso brincou nos lábios do deus, odiava essa sensação de estarem lendo meus pensamentos.

– Os tempos mudam criança. – disse Hermes olhando-me nos olhos. – E nós mudamos também, mas é claro que em reuniões oficiais do Olimpo precisamos is a caráter como antigamente, com túnicas e etc. Não que eu goste, mas meu pai Zeus gosta de respeitar as tradições.

Percy, Annabeth e Jéssica me olharam sem entender sobre o que ele estava falando.

Hermes apertou seu celular e ele transformou-se em um caduceu com duas cobras enroladas.

– Você tem duas novas mensagens. – disse uma das cobras.

– Eu sei, eu sei. – falou Hermes impaciente. – Que saudades dos tempos de Aristóteles.

– Hei, se acalma Mercúrio. – disse a outra cobra.

– Você sabe que eu não gosto desse nome, que mania essa dos romanos antigos mudarem nossos nomes, Afrodite para Vênus, Ares para Marte, Zeus para Júpiter, ninguém merece. – resmungou Hermes.

Ele olhou para o javali.

– Bom, vou levá-lo. – ele estalou os dedos e o javali desapareceu. – Até mais crianças, cuidem-se.

Ele começou a brilhar e dessa vez não precisei do aviso de Annabeth, fechei os olhos para não ser transformada em pó enquanto Hermes revelava sua verdadeira forma divina.

– Até que não estamos indo mal. – falou Jéssica depois que Hermes havia ido embora.

Uma flecha passou voando e cravou-se no chão a três centímetros do seu pé. Nós olhamos para a floresta procurando o autor da flecha, quando meia dúzia de meninas surgiram de trás das árvores.

– Quem são elas? – perguntei.

Tus fious nas: o kimerros. – disse Annabeth em grego antigo.

O estranho foi que eu entendi perfeitamente, o que ela havia dito. “Nossas amigas: as Caçadoras.”

Parecia que finalmente eu iria conhecer minha mãe.


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