[...] Durante toda a minha jornada, eternamente me lembrarei das palavras daquela gentil cocheira que me estendeu a sua mão quando precisei. A caminhada pelo deserto do nada e do vazio fora longa, longa demais... Não fora só minha boca que secara, parecia que ela ainda tentava sugar algo mais, parecia sugar os últimos suspiros de meu eu de minhas entranhas. Ainda lembro-me como se fosse ontem, os dois belos e magníficos cavalos brancos abrindo caminho através da poeira mortal daquele deserto sem fim, puxando uma igualmente bela carruagem dourada, esta parecia brilhar mais do que o próprio sol, este empalidecera.
- Suba jovem bardo! Não é saudável caminhar acompanhado somente de suas ilusões...
Ao subir na carruagem, me surpreendi com uma bela jovem á bordo, ela sorriu receptivamente para mim.
Pelo caminho a cocheira pediu-me para que cantasse algo, porém que cantasse o motivo para qual eu havia adentrado aquele mar de areia negra e sol escaldante. Atendi o seu pedido.
- Porque sonetos tão tristes, jovem bardo? Não sabes que somente um amor pode curar um coração ferido por mágoas de outro amor?
Não, não sabia. A jovem á minha frente continuava a sorrir, desejava ouvir a sua voz, porém nada vinha.
- A vida é demais para ser resumida á somente uma loba em pele de cordeira, lembre-se disso.
Finalizava ela. Aquelas palavras penetraram minha alma mais que o próprio punhal que havia sido cravado nela por aquela que um dia disse amar. Ao sair da carruagem virei-me para a jovem á bordo, ela ainda sorria para mim, seu sorriso parecia revigorar a minha alma cansada, percebi ela balbuciar algo, algo que não entendi. Porém o que quer que ela tivesse me dito jamais será perdido no mar de lembranças, algum dia a encontrarei novamente, e lhe perguntarei o que me disse quando suas palavras não saíram da carruagem dos sonhos. [...]